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- tem algo de errado acontecendo, hyung? - jeongin indagou no banco de passageiro, inquieto com a ansiedade nítida do mais velho ao seu lado.
Chan instantaneamente parou de batucar os dedos no volante do carro, arrumando a postura desleixada pela falta de atenção quanto a seus modos.
- não é nada, gin. - esclareceu a fim de não preocupar o menino. - só nervosismo com nossa apresentação. - mentiu parcialmente sem coragem de tocar no assunto que estava o deixando tão aflito. - e você, como se sente? - indagou de volta, espiando o menino pelo cantinho do olho.
- bem, eu acho. - jeongin deu de ombros, desligando o celular e o deixando repousar no colo. Chan sabia que aquele era um sinal, o platinado sempre agia desta forma quando tinha algo a mais para dizer, seja pessoal ou algo que o deixou desconfortável certo momento. - você acha que eu tenho chances com o felix? Você acha que ele... mudaria por mim?
De início, o ruivo apenas deixou que o ambiente ventilado fosse preenchido pelo silêncio, inconformado com a ausência de palavras para explicar ao garoto que felix era um caso sem solução. Embora amasse muito o lee, todos sabiam que ele não mudaria, seu comportamento imaturo, mesmo com seus próprios esforços para se redimir, nunca sumiriam completamente. Chan não o culpava por isso, embora às vezes entrassem em discussões por conta dos comportamentos inadequados do rosado.
Felix teve uma criação difícil, fora pouco educado pelos pais que sempre o deram tudo que queria, seja brinquedos ou qualquer outra coisa que o dinheiro pudesse pagar. Quando se conheceram, felix era completamente esnobe e mesquinho, alguém que inicialmente chan não suportava sua mera presença, mas ele era um menino bom apesar de todos seus defeitos, e embora seu comportamento infantil e egocêntrico, felix aos poucos corrigiu isso e se tornou quem era hoje, mesmo que ainda agisse irresponsavelmente.
Mesmo que todo seu passado ainda esteja pesando nas costas, jeongin era o único que ainda tinha esperanças que o lee mudaria, que ele de alguma forma fosse retribuir seus sentimentos românticos. Mas chan mais do que ninguém tinha noção que era impossível.
- innie, não me leve a mal, mas você sabe quem é o felix. Você sabe que ele nunca demonstrou atração por homens ou qualquer pessoa alinhada ao masculino. E eu não acho que isso mudaria do dia para noite. - não quis desviar os olhos do caminho, pois sabia que acabaria desistindo do que queria falar. Jeongin era seu ponto fraco, tinha um carinho enorme pelo garoto, e a última coisa que queria era vê-lo sofrer mais do que já estava sofrendo a anos nutrindo aquilo pelo lee. Já tinha o visto apanhar por felix, ser xingado tanto na internet quanto pessoalmente por ex namoradas do rosado que afirmavam que o yang era quem o convencia a deixá-las. Não queria passar mais alguns bons anos vendo um amigo sofrer por um cara que nunca seria capaz de retribuir tudo que sentia.
- eu sou um idiota. - murmurou rindo fraco, quase uma lufada de vento. Jeongin se encolheu ao seu lado, com as mãos escondendo o rosto, incapaz de encarar o bang. - por que eu tenho que ser assim? Seria tudo bem mais simples se eu não fosse tão nojento. Felix deve ter nojo de mim.
- innie, não diga isso. - se rendeu a tentação de fita-lo, seu coração sendo esmagado em milhares de pesados por ver o yang quase chorando. - você não é nojento, e nem tem culpa de gostar do felix. Não controlamos nosso coração, só acontece. Tenho certeza que se você pudesse, teria amado outra pessoa, teria gastado seu tempo em outro relacionamento, se envolvendo com alguém que possa te retribuir, mas você não teve escolhas. Nós nunca temos, na verdade. Escute o hyung, não seja tão mal consigo mesmo, seus sentimentos são tão puros quanto você, e o felix nunca teria nojo de você. Se ele tivesse, não se atrasaria quase todos os dias só pra ir te buscar em casa pra ensaiar com a gente, ele não passaria a tarde contigo em semana de prova só pra jogar um videogame novo que você achou. Ele te valoriza como amigo, e te ama do mesmo jeito que eu e os meninos te amamos. Tá tudo bem sentir essa dorzinha, ele vai passar. - esticou o braço até sua mão tocar no cabelo macio dele, acariciando levemente as mechas branquinhas. - vai ficar tudo bem.
Deixou que o outro chorasse para expelir toda a dor que vinha sentindo, às vezes proferindo palavras para confortá-lo. Tinha noção que um coração partido doía, mas era melhor sofrer com a verdade do que passar anos nutrindo um sentimento que nunca seria retribuído. E quanto mais galhos a árvore tivesse, mais alto seria o tombo. Chan já tinha visto jeongin sofrer o suficiente, ele não merecia passar por isso.
O restante do caminho até o bar em que tocariam foi silêncio, o yang se acalmou vinte minutos antes de chegarem no destino previsto pelo GPS. Chan estacionou o carro e novamente fitou o menino ainda encolhido em seu assento, o motor desligado e as portas destrancadas.
- posso ficar um pouquinho aqui? - jeongin indagou, os olhos ainda vermelhos pelas lágrimas que permaneciam em seus olhos inchados.
- sem problemas, gin. Vá quando se sentir pronto, vamos estar te esperando. - novamente acariciou o topo da sua cabeça, descendo do automóvel e deixando a chave com ele.
- hyung! - se virou antes de entrar no local. - se o jisung tiver aí, você pode pedir pra ele vir aqui?
- claro.
- obrigado.
O bar em que fariam a apresentação era consideravelmente pequeno, embora pudesse ser ocupado por uma boa quantidade de pessoas, sejam jovens ou adultos com suas vidas formadas. As mesas eram espalhadas pelo salão iluminado por luzes em formato de balão, que fora penduradas no teto de forma que o ambiente tivesse uma iluminação confortável. O balcão onde serviam bebidas e petiscos era resguardado por dois barman, que eram os proprietários do local. Mais para o canto, em frente a todas as mesas de quatro e seis lugares havia um pequeno palco, onde duas vezes na semana alguma atração vinha divertir os clientes, seja músicos ou até stand up.
Enquanto andava pelo labirinto de mesas e cadeiras, chan avistou minho e jisung no bar, conversando com um dos rapazes que trabalhavam para o dono. Ele rapidamente se aproximou dos garotos, que já tinham deixado seus equipamentos a postos, adiantando boa parte do trabalho que chan teria.
- hannie. - tocou no ombro do menino de vestido floral e jaqueta de couro sintético, que se virou na sua direção no mesmo instante, surpreso pela abordagem repentina. - jeongin precisa de você lá no carro.
Jisung nem ao menos perguntou o que tinha acontecido, ele apenas desceu do banquinho em frente ao balcão e caminhou apressado até a porta, deixando os dois mais velhos para trás. Em segredo, o ruivo torcia para que, de alguma forma, o yang percebesse que todo aquele carinho que o han nutria por ele era bem mais do que apenas amor fraternal.
- o que rolou com o menino raposa? - minho indagou assim que chan acomodou-se do seu lado. Ele vestia um suéter em tons de azul pastel e uma calça jeans clara, o cabelo loiro meio desbotado pelo tempo em que ele não reaplicava o produto permanecia desarrumado como sempre.
- acho que ele desistiu do felix.
- finalmente minhas orações foram atendidas. - o lee juntou as mãos em forma de oração. - não via a hora dele se livrar desse encosto.
- não fala assim, o lix é nosso amigo também.
- por ele ser meu amigo que eu tô falando isso. Inclusive, o flor de cerejeira só atendeu o celular agora de noite, tô desde manhã ligando pro cretino e ele com o telefone socado no cu. E sabe o pior? - minho fez uma pausa dramática, como se esperasse uma resposta do bang, mas ele nem ao menos o deixou dizer. - o filho de uma puta acabou de acordar, e de ressaca ainda por cima. Mandei ele vir nem que seja pelado ou eu ia passar a faca naquela coisa que ele chama de pau.
- me pergunto até quando ele vai continuar desse jeito. - chris coçou a área entre as sobrancelhas, sua enxaqueca de todos os dias surgindo lentamente.
Tinham marcado de se encontrarem todos as oito e meia, e embora ainda fosse sete e quarenta, chan já estava enlouquecendo de ansiedade. Ele organizou junto com minho todo o palco para apresentação, colocou seu baixo no suporte e o teclado de felix, deixando a bateria de changbin logo atrás de onde jisung e minho ficariam. Embora fosse tudo muito pequeno, conseguia arrumar tudo em um lugarzinho para não atrapalhar quem estivesse caminhando pelo local. As oito horas em ponto, sua bunda já não aguentava mais ficar prensada contra o banquinho do balcão de bebidas, havia bebido cinco copos de água e comido alguns petiscos que o cozinheiro fez somente para ele e os garotos da banda provar. Sua barriga doía somente com a ideia de changbin não vir, ou de felix sumir novamente, ou até mesmo de jeongin não querer sair do carro, uma vez que ele tinha passado os últimos quarenta minutos com jisung trancafiado no seu carro. E se ele não viesse, jisung não viria, e todos os preparativos iriam para o buraco.
Estava uma pilha de nervos.
Somente conseguiu respirar com alívio quando sentiu uma presença em suas costas, se virando no mesmo instante em que changbin surgiu com seungmin e liam. Não foi capaz de esconder o ânimo em ver o baterista caminhando na sua direção, embora seu semblante não demonstrasse nenhum tipo de animação. Ele vestia uma regata preta com a logo da banda AC/DC estampada no peito, uma calça da mesma cor com um cinto de spikes ao redor da cintura, ajudando no caimento da vestimenta por suas pernas, seu cabelo azul parecia ter sido retocado a cor e estava arrepiado propositalmente, ajudando na formação do conjunto e a estética que queria mostrar.
Seungmin fora o primeiro a cumprimentar chan, logo correndo para os braços do - quase - namorado. Era a primeira vez que o ruivo via minho agir com tanta delicadeza ao estar em um relacionamento, ele se limitou a gestos pequenos e apenas abraçou o castanho e beijou sua testa, elogiando seungmin de forma sutil e até mesmo tímida. Chan quase fez uma careta pela melosidade que seu amigo tinha se tornado, mas estava mais ocupado dando atenção ao baterista recém chegado e sua mãe.
- há quanto tempo, christopher. - liam disse, apertando a mão do australiano de forma educada.
- vai ficar pra ver o show? - indagou tentando não notar muito o azulado ao lado da canadense, embora fosse quase impossível não observar seus grandes braços naquela regata justa e até um pouco curta.
- bem que eu queria, mas eu e estela vamos aproveitar que nosso menino vai ficar fora hoje e vamos ter uma noite só nossa. - ela parecia entusiasmada pela ideia de uma noite a sós com a esposa. - bom, deixo meu garoto em suas mãos. - liam incentivou changbin a ir para perto do bang com um aperto sutil no ombro, mas ele apenas cruzou os braços como uma criança birrenta. Vendo isto, a mulher suspirou, olhando para chris como se desejasse a ele boa sorte. - tenho que ir. - informou, pegando a chave do carro no bolso da calça jeans escura. - minnie, fique de olho no changbin. - o menino citado assentiu prontamente.
Mesmo bicudo, changbin a abraçou antes da sua partida e a observou sair. Quando se virou para chan, ele ainda estava com o mesmo bico e atitude fechada, mostrando que seu humor não era um dos melhores.
- era a sua mãe? - minho indagou de repente, trazendo atenção de changbin para ele, enfim livrando o ruivo dos olhos pequenos e mortíferos de changbin.
- sim. - ele respondeu, se enfiando entre o banquinho giratório de christopher e o lee, a fim de pedir uma água ao barman.
- vocês não se parecem nem um pouco. - chan o olhou brevemente, o repreendendo para que não dissesse nenhuma besteira. Até mesmo seungmin apertou seu braço de levinho, como um aviso da iminente falta de paciência do menor.
- me fale algo que eu não sei.
- chan até os dezoito anos dormia comigo porque tinha medo de ficar em casa sozinho.
- não tira meu nome da boca, hein. - o citado o olhou com raiva tangente, mas desistiu de prosseguir com sua manifestação de irritação quando o azulado riu, caçoando da sua antiga mania. - eu te odeio. - sibiliou pro lee, que apenas balançou a mão com desleixo, num gesto de pouca importância, logo voltando a abraçar o kim.
Changbin permaneceu no meio entre as cadeiras, bebendo da garrafa diretamente do gargalo. Estava tão próximo de christopher que o rapaz conseguia sentir o cheiro forte do seu perfume, não sabia dizer ao certo com o que se parecia, mas era agradável e poderia facilmente senti-lo por horas a fio sem ter uma dor de cabeça: era doce na medida certa e forte sem ser desagradável. E visto mais de perto, chan notará as sombras pretas embaixo dos olhos do seo, como também o simples delineado em suas pálpebras, seguindo uma linha curvada. Ele estava tão bonito que um elogio quase irrompeu sua boca, mas desistiu quando avistou jisung e jeongin entrando com felix logo atrás.
- meu deus cara, você tá horrível. - minho comentou assim que o rosado esteve próximo o suficiente para que o restante da banda notasse a nítida embriaguez nele. Suas roupas eram uma bagunça, todo seu cabelo estava desarrumado e completamente seco, além da cara de quem estava enfrentando a pior ressaca da vida. Chan teve que massagear a área entre as sobrancelhas para não acabar tendo um derrame prematura bem ali no meio do salão.
- fala baixinho. - felix fez um sinal para que o loiro não aumentasse o tom da voz, esfregando as têmporas atrás de paz. - e eu sei que tô horrível, não precisa falar.
- eu deveria afundar sua cabeça num tanque d'água. - chan exprimiu, cedendo seu lugar para que jeongin ocupasse. Ele nem ao menos conseguia fitar o lee, se mantendo de cabeça baixa durante toda sua chegada, mesmo com jisung ao seu lado tentando arrancar dele uma risada.
- obrigado pela parte que me toca.
- não vou discutir com você hoje, felix.
- poxa, mas que pena, tava tão ansioso pra ouvir seu sermão de pai responsável que não deixa o filho viver.
- felix, cala a boca, sinceramente. - jisung se pronunciou, olhando para o lee irritado. - se for pra ficar de gracinha, a gente se apresenta sem você.
- desculpa, hannie. - afagou o cabelo do menor, sorrindo meio abalado pela dor de cabeça e a tontura. - vou ficar quieto. - prometeu de dedinho, enfim notando a estranha postura de jeongin, completamente acanhado e sem expressar uma palavra, mas não quis comentar nada sobre por enquanto.
- acabaram a dr? - changbin se pronunciou, os braços ainda cruzados e a postura impaciente. Chan quase suspirou quando os músculos dos braços dele tencionaram pela força usada pelo ato, mas conseguiu se conter, por mais que minho tenha notado e soltado uma risadinha debochada.
- caramba bin hyung, seu carro bateu? - o azulado enrugou a testa sem entender a pergunta do han. - e esses airbags aí?
- olha aqui, seu merdinha! - tentou avançar do moreno, mas chan se enfiou no meio e conseguiu segurar o seo antes de todo escarcéu acontecer.
- han jisung! - o repreendeu, mas jisung apenas riu escondidinho atrás de jeongin.
- o que? Ele colocou as tetas pra jogo e a culpa é minha? Eu só comentei! - tentou se defender.
- changbin, tô vendendo sutiã, será que posso tirar as medidas do seu peito pra vê se algum cabe em você? - minho esticou a mão, dando a entender que encostaria em changbin, mas chan rapidamente o escondeu atrás das costas e com auxílio de seungmin que bateu em minho e o mandou ficar quieto, conseguiu livrar todos de uma grande situação.
- que tal a gente começar a tocar ao invés de tá aqui falando bobagem? - chan sorriu nervoso, sentindo as mãos do azulado nas suas costas, apertando sua camisa e quase rosnando pro lee logo a frente.
- vão logo antes que o hyung mate vocês dois. - seungmin empurrou minho, escapando dos seus abraços.
- vocês só me faz passar vergonha. - jeongin murmurou, notando a atenção dos clientes neles por toda barulheira.
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