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Era manhã e chan não tinha conseguido dormir.
Apoiado no balcão da pia, ele despejava um pouco de café em sua xícara, olhando através da janela. O dia estava lindo, injustamente lindo para uma quinta feira. Depois que deixou changbin em um táxi, chris retornou até sua residência com a ideia de tomar um banho para se livrar do suor acumulado do ensaio e dormir até tarde, mas assim que deitou na cama, sua mente foi preenchida por pensamentos confusos e retóricos, mesmo quando o rapaz largou o celular pela cama espaçosa e decidiu tentar cochilar, já era tarde, a manhã raiou através da janela do quarto.
Chan estava tão estressado que sentia seu olho pulsar na parte inferior, bebericando o café a fim de se livrar da irritação que subia por sua garganta. Ele fitou ao redor. Vazio. Como sempre. Quis afugentar a dor em seu peito, no entanto, ela sempre voltava, como uma visita indesejada. Ponderou sobre a ideia de ir para faculdade, jogando-a no lixo assim que terminou seu café puro e subiu as escadas até o quarto, se trancando lá e fechando as janelas, passando as cortinas para impedir que o sol invadisse o ambiente. Sem motivação, o ruivo deitou e observou o teto, cogitando a ideia de ligar para alguém, mas era cedo demais e todos deviam estar dormindo.
Era o que pensava, na verdade. Assim que christopher buscou seu celular embaixo do travesseiro, uma dúzia de mensagens de Minho surgiram. No começo, apenas as olhou pela barra de notificação, e teria ficado somente nisso se o loiro não tivesse ligado depois de avisar que, se o mais velho não respondesse, ele encheria seu celular de recados, o xingando em todas as línguas que conhecia.
Um fato interessante, minho era poliglota.
Se arrastou até estar debaixo do lençol, atendendo a ligação do mais novo assim que teve a confirmação que sua voz não se parecia com a de um garoto que tinha acabado de entrar na puberdade. Os primeiros cinco segundos da chamada foi tomada pelo silêncio, o que para chan foi a paz antes do furacão.
— por que você tá acordado tão cedo? — minho indagou, sendo possível ouvir o barulho de plástico abrindo. O ruivo deduziu que minho estava mais uma vez se rendendo ao vício de doces, ele era imparável, principalmente quando se sentia ansioso. — sabe que hora é, velhote? Seis da manhã! De uma quinta feira! — exclamou incansavelmente, mastigando em seguida. Chan afastou o telefone da orelha, era cedo demais para um asmr exclusivo do loiro.
— você que tá ligando e me incomodando. — resmungou mal humorado.
— ingrato. — resmungou de volta. — tem algo acontecendo? Felix te disse alguma besteira de novo? Pode dizer pro marujo know, eu resolvo rapidinho.
— marujo know? Sério?
— o que? Era nosso codinome pirata, lembra? — chan esfregou uma das mãos no rosto, tentando não rir pelas lembranças que o atingiram. Quando criança, ele e minho eram obcecados por piratas. — você era o capitão bangnaldo. Ah! Faz tanto tempo. — havia emoção em sua voz, o que fez o ruivo rir um pouco.
— esquece isso. — pediu.
— nunquinha. — chan revirou os olhos. — pergunta porque eu tô acordado até agora.
— não quero.
— vamos lá, não seja chato, capitão bangnaldo.
— eu te odeio.
— também te odeio. Agora pergunta.
— por que você tá acordado até agora, marujo know? — indagou com nítido sarcasmo na voz, mas Minho não ficou afetado pelo mal humor do seu melhor amigo, ao contrário, ele parecia estonteante ao juntar fôlego para responder.
Chan teve a confirmação que tinha muito açúcar no sangue do lee assim que ele começou a falar.
— lembra que prometi que ia ajudar o pessoal na organização do show? Então, tô atolado de trabalho. E ainda tem umas coisas do meu curso pra resolver. E também tenho que levar jisung na terapia mais tarde, na verdade, daqui duas horas, quarenta e dois minutos e vinte segundos… vinte um… vinte e dois…
— minho, quanto de açúcar você ingeriu até agora?
— você quer saber desde ontem ou de agora a pouco?
— desde ontem.
— três sacos de jujuba, uma panela de brigadeiro e algumas barras de chocolate branco.
— lee minho! — o repreendeu, pois sabia o quanto aquilo deixava o garoto completamente fora de si. — vai lavar o rosto pra dormir, você precisa descansar. Se necessário, eu levo o hannie na terapia, só vai dormir e para de comer doce, seu maluco inconsequente.
— já vou, já vou. — prolongou as palavras com tédio. — você é muito mandão, sabia? Não sei como o changbin pode gostar de você.
— o que? — chris enrugou as sobrancelhas, duvidando da sua própria audição por um segundo. Teria escutado aquilo certo? — o que você disse?
— que te amo, channie. Você é lindo. Beijo, minha balinha de café. — e desligou sem mais nem menos, deixando christopher atônito para trás.
Ele ainda fitou o celular por um breve momento, então decidiu ignorar. Devia ser só o açúcar afetando o cérebro ruim do lee, como sempre acontecia. Mandou algumas mensagens, pedindo para ele se cuidar e avisar caso não tivesse condição de levar jisung ao psicólogo, estava com tempo e faria aquilo de boa vontade.
(...)
Minho parecia ótimo quando chegou para o ensaio acompanhado de jisung.
Chan ainda estava um pouco desconfiado em relação ao que ele disse mais cedo, sobre changbin. Contudo, talvez fosse só mais uma das besteiras do loiro, dificilmente ele falava sério.
Afastando isso da mente, ele reuniu os garotos que iam chegando lentamente no porão. Para sua surpresa, felix fora o primeiro a chegar acompanhado de jeongin, e posteriormente minho chegou com jisung, por fim, changbin surgiu desta vez sozinho. Para decepção do lee mais velho presente, que ansiava pelo garoto de fios castanhos e sorriso de aparelho. Chan esperou que os ânimos fossem acalmados e começou a reunião antes do ensaio.
— como vocês bem sabem, temos uma apresentação pra esse final de semana em um bar local. — o ruivo iniciou cruzando os braços, demonstrando uma postura um pouco rígida. Não ter dormido realmente estava afetando sua condição atual, mas ele apenas respirou fundo e observou os meninos sentados no chão, o olhando a espera da conclusão. — eles passaram as músicas que vão querer. — entregou a cada um papel com as músicas escritas.
Digamos que ele esteve com bastante tempo desde a manhã, até agora, assim conseguiu organizar tudo sem pressa.
— R U Mine? — minho franziu as sobrancelhas ao ler o nome da terceira música. — não aguento mais essa música. — resmungou, lendo o restante da lista.
— tem até Do I Wanna Know. — jisung olhou para christopher. — onde você enfiou a gente, hyung?
— não reclamem e pensem no dinheiro. — empurrou de levinho a testa do garoto.
— essa gente não tem a menor criatividade. — felix resmungou também.
— não temos muita escolha. — chan mostrou uma postura indiferente, no entanto, pelo canto do olho ele fitou changbin quieto, imerso na leitura. Ele não parecia incomodado com a escolha das músicas. Queria saber mesmo qual era sua opinião sobre a apresentação. — changbin? — chamou atenção do azulado, que o encarou no mesmo instante.
— são músicas genéricas, mas se estiverem pagando bem, não me importo de tocar isso. — ele deu de ombros no final.
— changbin hyung tem um ponto. — jeongin disse. — vocês são muito reclamões.
— não toca na banda, não tem local de fala. — minho implicou, recebendo um beliscão do han que estava ao seu lado. O moreno inflou as bochechas na direção do lee e o ameaçou, algo como "vou te morder se você falar assim de novo com ele".
Depois de uma pequena briga entre minho e jisung, o ensaio finalmente começou. Eles tocaram as três músicas escolhidas pelo bar, sendo elas: R U Mine, Do I Wanna Know e Prey. No entanto, essa tarde, eles não estavam tão em sintonia, para o descontentamento nítido de christopher. Primeiro, ele errou sua vez nas músicas, começando antes do tempo. Depois, jisung se perdeu na letra e eles perderam algum tempo recomeçando em cada erro do menino, mas chan não quis reclamar, sabia o quanto o mais novo se cobrava, então assumiu um semblante complacente e o incentivou a começar de novo. Até mesmo minho parecia desatento, com pequenos erros aqui e ali.
Tendo em vista que eles não teriam nada produtivo continuando a ensaiar dessa forma, o ruivo os dispensou mais cedo, pedindo para que eles viessem na manhã seguinte cedo, precisavam decorar as músicas até o prazo. Como de costume, felix levou jeongin e deu carona ao lee e ao han, deixando apenas changbin na residência, que permanecia no porão, tentando pegar sua parte em R U Mine.
Chan massageou a área entre as sobrancelhas, esfregando a testa em seguida, como uma sequência que fazia as vezes para aliviar a dor de cabeça. Pretendia dormir no porão quando o menor fosse embora, seu quarto lhe deixava claustrofóbico e deduzia que talvez seja por isso que não tenha conseguido pregar o olho. Geralmente o bang dormia no porão, onde era frio e ele se sentia um pouco mais seguro.
Ele sentou no penúltimo degrau da escada do porão enquanto observava changbin silenciosamente, seu toque na bateria não era tão agressivo quanto antes, mas ainda tinha uma rigidez em suas íris que prendia atenção do ruivo. Chan não sabia dizer o porquê, mas gostava de vê-lo tocando bateria. Talvez fosse pelos fatores que faziam sua beleza prosperar, uma vez que achava o azulado estupidamente bonito. Seja lá o que fosse, poderia passar a noite ali, no cantinho o vendo imerso em seu mundo. Distante, mas ainda perto, como uma escultura grega. Na verdade, christopher inesperadamente imaginou como seria a sensação de estar em um palco com changbin do seu lado, um arrepio correu entre suas entranhas e ele ficou repentinamente excitado com a ideia. Queria se apresentar logo com ele.
Changbin cantarolou algumas vezes, os versos da música soando em sua voz alguns timbres mais baixos do que o de costume. A voz de changbin não era tão ruidosa como a de Felix, nem tão baixa quanto a de jeongin, mas ela era perfeita para personalidade "passiva-agressiva" que o garoto possuía. Mas cantando era diferente. Soava melodiosa, calma. Chan se encolheu, encostando a cabeça na parede, apreciando o seo remexendo as baquetas em uma sequência perfeita, cantando em seu próprio ritmo.
Não sabia dizer se o menor tinha visto ele ali antes, mas assim que tirou os fones e mirou em chan, algo passou em seu rosto, como o vislumbre de um sorriso. Christopher derreteu de repente, notando a sombra de um sorriso perante os lábios do azulado. Subitamente, quis fazê-lo sorrir de verdade.
— devo te cobrar pelo show? — changbin indagou com graça, deixando as baquetas sobre o instrumento grande na sua frente.
Ele caminhou até christopher e se sentou ao seu lado, naquele lugar, a luz era bem fraca, tornando um pouco escuro a visão do bang, mas pouco importou, de certa forma changbin brilhava.
— posso te pagar com um beijo. — provocou de brincadeira, vendo o outro fingir uma ânsia.
— prefiro beijar sabão.
— sem graça. — empurrou o azulado de levinho.
— o que aconteceu contigo hoje? Parecia distante e irritado.
— então você repara em mim?
— não muda de assunto, cabeça de pimentão. — changbin deu um peteleco em seu nariz, mas não forte o suficiente para doer.
— não dormi noite passada. — declarou por fim, ainda com a cabeça encostada na parede laranja desbotada. Precisava mesmo reformar aquele lugar. — e isso me deixa de mau humor. — concluiu.
— por que você não dormiu? — indagou repentinamente interessado.
De início, chan não soube o que responder. Na maioria das ocasiões, era somente sua insônia agindo. Às vezes sua ansiedade aparecia dando olá. De vez em quando ele somente se sentia inquieto demais e não conseguia pensar em algo que não fosse seus pais, então passava a madrugada acordado, mas sempre havia aquele momento onde ele despencava de sono e só acordava na tarde seguinte, porém desta vez parecia diferente. Seja lá o que fosse, o ruivo esperava que não prolongasse, não queria aparecer todos os dias assim para ensaiar, sabia que era insuportável com o ânimo nas profundezas do tártaro.
— não sei direito. — ele olhou para changbin. — você acha que eu sou problemático?
— acho.
— será que você pode ser um pouco gentil? Eu tô meio mal, sabia?
— realmente lastimável, novinho. — ele ficou de pé, estalando as costas ao se alongar para trás. — agora levanta a bunda daí, a gente vai sair pra comer. Comer sempre resolve meus problemas, e também deve servir pra você. Mente vazia oficina do diabo, liam sempre diz isso. — o azulado buscou sua mochila no chão e a jogou sobre o ombro, indo em direção ao bang para puxá-lo pelo braço e obrigá-lo a subir as escadas com ele.
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