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Por um milagre, o ensaio correu tudo bem.
Depois que eles foram liberados pela faculdade, regressaram a residência de chan e enfim puderam ter uma conversa decente quanto a banda e seus respectivos lugares.
— eu toco baixo e sou vocal de apoio. — chris disse de pé na frente dos garotos. — jisung. — apontou para o han sentado entre as coxas de jeongin, descansando a cabeça em seu ombro. — ele tá aprendendo a tocar guitarra e é o nosso vocalista. — voltou sua atenção a minho que estava ao lado do yang, conversava baixinho com seungmin, talvez contando mais uma fofoca que descobriu por aí. — bom, essa coisa é nosso guitarrista.
— "essa coisa"? — minho olhou para chan, aparentando estar muito ofendido. — quando você me comia não falava isso. — cruzou os braços, virando o rosto injustiçado.
— lee minho! — christopher o repreendeu constrangido. Os garotos ao redor riram pela vermelhidão que preencheu o rosto do rapaz.
— ops. — ele colocou as mãos na frente da boca. — é brincadeira, changbin. — chan franziu as sobrancelhas igualmente ao seo, que olhou para seungmin, como se estivesse perguntando o que ele andava falando ao lee.
— de qualquer forma. — o ruivo prosseguiu, ignorando minho. — felix toca teclado e jeongin é nosso substituto geral, ele sabe tocar de tudo um pouco na banda, menos bateria. Por isso precisamos de você. — se dirigiu diretamente ao azulado, que assentiu vagamente. — tem algo que vocês queiram falar? — olhou para os garotos.
— eu! — felix levantou a mão, ficando de pé. Chan deixou que ele tomasse a frente, ocupando o espaço ao lado de changbin no chão. — são coisinhas básicas que você, meu querido changbin, deve saber sobre nosso líder cabeça de bagre.
— eu. não. sou. o. líder. — o ruivo sibilou, forçando um sorriso com a mandíbula apertada.
— caladinho, aí. — ele fez um sinal para que chan ficasse quieto, o que despertou uma vontade enlouquecedora nele em arrancar os fios rosados da cabeça de felix. — ele se irrita muito fácil, tipo, MUITO fácil. Olha agora, tá ficando vermelho já! — changbin mirou no rosto do australiano, percebendo a cor carmesim que começava a surgir por suas orelhas. Chan desviou atenção tímido, o jeito que o azulado sorriu ladino fez suas mãos comichar. — e também, ele nunca namor-
— tá bom, já chega, você só tá enrolando pra passar a hora do ensaio. — puxou felix pela mão, impedindo que ele terminasse aquela frase.
Afinal, o que sua vida pessoal tinha a ver com os assuntos da banda? O lee com certeza apenas queria vê-lo ainda mais irritado.
Após esse pequeno começo catastrófico, chan deu prosseguimento ao ensaio, pedindo que cada garoto pegasse seu instrumento e ajustasse. Changbin ainda tocou a mesma música que mostrou ao bang no dia da audição ao restante dos meninos, comprovando que era um exímio baterista. Lá para às três e meia da tarde, minho pediu uma pausa para descansar, vendo que eles se mantiveram no mesmo ritmo por quase duas horas tocando somente uma música. Breed do Nirvana foi a música escolhida de forma mútua, changbin sabia na bateria, minho conseguia executá-la na guitarra e jisung sabia a letra de trás pra frente, por sempre escutar com jeongin essa música e algumas outra da banda escolhida na época em que eles iam juntos pro colégio.
Chan deixou que os meninos comessem algo enquanto tentava não prestar tanta atenção na forma atraente que changbin ficava enquanto tocava bateria, sentado em seu respectivo lugar atrás da bateria, o azulado mostrava a jeongin o que cada parte do grande instrumento fazia, ensinando a seungmin e a jisung em seguida a girar a baqueta nos dedos daquele jeito ágil e impressionante que somente ele conseguia fazer. Seus fios azuis grudavam na testa e chan não sabia dizer se ele estava deixando o cabelo crescer para cortar um mullet, mas esperava que sim, ele realmente combinaria com esse estilo de cabelo. Independente, o ruivo desviou os olhos e tentou prestar atenção em outra coisa que não fosse o sorriso cegante do rapaz. Havia sentido aquela mesma energia intimidadora na primeira vez que o viu tocar bateria, como se fosse um comichão em suas mãos e um nervosismo instalado no pé da barriga. Fazia cócegas e ao mesmo tempo era doloroso.
A pausa acabou e eles ensaiaram a última música do dia, desta vez sendo jeongin quem escolheu.
Chan ficou surpreso pelo jeito que a banda se conectou rapidamente, lembrava que quando mingyu chegou demorou cerca de dois meses para que o som dele tivesse sintonia com o restante dos meninos, mas com changbin era diferente. Precisou apenas alguns ajustes aqui e ali, umas pausas para quando jisung errava a melodia ou quando o azulado ia mais rápido que o restante dos meninos, mas rapidamente ele se adaptou e tudo correu bem. Tinham poucas semanas até o concurso e na próxima semana uma apresentação em um bar local, no entanto, chan tinha certeza que conseguiria colocar tudo em ordem apesar do prazo apertado.
Reptilia do The Strokes foi a última música que eles tocaram, lá pelas sete e meia da noite. Minho, jisung e jeongin foram os primeiros a ir embora, felix e seungmin foram em seguida, tendo em vista que o rosado ficou responsável em levar o kim para casa uma vez que changbin ainda estava ensaiando com chan no porão. Ele parecia que não queria desgrudar da bateria, mesmo nas pausas, enquanto degustava de algum saco de pipoca junto com refrigerante, ele sentava atrás do instrumento e comia silenciosamente, às vezes conversando com seungmin ou apenas observando christopher de longe. Fora isso, o azulado continuava lá, sentado atrás da bateria como se estivesse preso a um ímã nela.
Chan se despediu dos seus amigos e pediu para felix dirigir com cuidado, voltando para o porão em seguida. Ele seguiu o som agressivo da bateria e observou no pé da escada do porão changbin interno em seu solo, completamente alheio. Christopher prendeu o ar quando ele acertou a sequência de Psychosocial do Slipknot, respirando fundo e devagar quando decidiu parar ao errar na última parte.
— água? — chan mostrou a garrafa plástica ao garoto, caminhando até ele em passos lentos.
— obrigado. — agradeceu, pegando a garrafa. — foi mal ficar até tarde aqui te incomodando, é que eu queria tentar essa música na bateria, andei vendo uns tutoriais. — changbin explicou, bebendo alguns goles direto do gargalo da garrafinha. Chan umedeceu os lábios quando o azulado ajeitou os fios grandinhos que caíam por seu rosto, penteando o cabelo com os dedos.
— não esquenta, você não incomoda.
— tá com fome? — ele deixou as baquetas em cima do banco, indo até sua bolsa.
— sempre tô. — o azulado riu, vestindo a jaqueta jeans com bottons e uma pintura atrás em vermelho, algo relacionado ao movimento punk. Chan não sabia dizer direito. Ele se virou na direção do ruivo com a bolsa no ombro. — vai me levar pra comer?
— vou, como uma troca de favores. Você me deixa tocar bateria até depois do ensaio e eu te levo pra jantar. O que acha? — ele deu aquele tipo de sorriso charmoso e ladino, trazendo ao australiano um arrepio. Céus, ele estava tão bonito vestindo aquela jaqueta personalizada e calça preta apertada, fora o cabelo azul escuro e bagunçado.
— combinado. — estendeu a mão, e changbin retribuiu em um aperto firme.
Eles saíram do porão ainda conversando sobre o ensaio de mais cedo, chan escutou atentamente todas as opiniões de changbin sobre formas de melhoraria em relação a banda. Ele até mesmo se ofereceu para ajudar o han com a guitarra, mesmo que soubesse só os acordes básicos. Aquilo trouxe um certo alívio para a mente turbulosa do ruivo, ficou com um certo receio do seo ser uma cópia de mingyu, onde ele seria extremamente intolerante e impaciente, mas changbin se mostrou melhor e muito respeitoso, não comentando nada sobre as roupas que jisung optava por usar ao estar entre amigos — como preferir não colocar o binder, já que ele às vezes o deixava sem ar pelo aperto em seus seios. Somente aquela atitude era capaz de trazer ao australiano um pouco mais de conforto, já que ele não precisaria ficar atento se o azulado iria fazer alguma "piada" transfobica ou homofóbica em relação a seus amigos. Digamos que sua última experiência com um baterista fora da sua roda de conhecidos não foi tão agradável.
— conheço uma barraquinha de lamen aqui perto, a gente podia ir lá. — changbin sugeriu enquanto esperava chan vestir um casaco. Mesmo que fosse verão, hoje especificamente estava um pouco frio. — se você estiver de dieta ou algo do tipo, podemos escolher outro lugar.
— eu quem deveria perguntar isso, você é o nutricionista aqui. — chan abriu a porta, deixando que o azulado passasse primeiro. Apagou as luzes da sala e saiu, acompanhando o garoto pela calçada.
— comer uma porcaria de vez em quando não faz mal. — eles trocaram um sorriso cúmplice, seguindo até a barraquinha que o menor havia dito.
Era meio de semana, assim as ruas estavam um pouco movimentadas, em sua grande maioria por pessoas engravatadas que voltavam do serviço, parecendo estressadas com seus empregos. Chan vez ou outra tinha medo que se tornasse daquele jeito, um adulto amargo que odiava seu próprio trabalho. Por mais que biologia marinha fosse algo que ele sempre estimou, às vezes pensava se aquilo era mesmo o que queria seguir. Seus pais eram médicos, então trilhar algo relacionado era esperado por eles. Por mais que chan nunca tivesse tido esse tipo de pressão por parte dos mais velhos, ele sabia que seus pais esperavam isso. Então, após tanto pensar, decidiu virar biólogo, e não podia voltar atrás, estava quase se formando e até mesmo trabalhava em um laboratório regional que estudava a vida marinha. Apesar de toda sua indecisão, seria isso e ele já tinha se conformado.
A barraquinha escolhida por changbin era realmente perto, alguns minutinhos de caminhada e eles já estariam em um tipo de feira onde serviam uma variedade de comidas locais e até mesmo de outros países. O azulado o conduziu até a tal barranca, sorrindo ao cumprimentar uma senhora que trabalhava lá, ela pediu para que eles esperassem em uma das mesas espalhadas pelo ambiente que em alguns minutos seu lamen estaria pronto.
— como você descobriu esse lugar? — chan indagou, se sentando numa mesa de dois lugares, ficando de frente para changbin.
— quando tava no colégio vinha aqui sempre com seungmin, era nosso lugar preferido. — ele olhou ao redor, como se estivesse lembrando daquela época.
— então você me trouxe no seu lugar preferido? — chan custou a não rir da carinha de entediado que changbin fez, mas fora impossível. — ah, gatinho, você é um fofo! — se esticou para apertar as bochechas do garoto, mas ele o afastou, segurando em seus pulsos e o empurrou para trás.
— se você não calar a boca não pago seu jantar.
— tô caladinho. — fez menção de estar fechando os lábios com um zíper, que ocasionou em um revirar de olhos vindo do azulado. Chan sorriu quando ele decidiu ignorá-lo.
Eles se mantiveram quietos até um rapaz trazer seus jantares, distribuindo-os na mesa com atenção e desejando a eles uma boa refeição. Chan esperou que changbin comesse primeiro, indo em seguida depois da sua primeira colherada. O gosto era exuberante, bem melhor do que a comida enlatada que estava em seu armário. O ruivo comeu com gosto, como se aquela fosse sua última refeição. Estar com fome sempre dava um toque a mais na comida.
— come devagar, ruivo. — changbin alertou em tom de diversão, ele parecia estar adorando ver o outro se sujar como uma criança enquanto comia. — toma, limpa a boca. — estendeu a ele um guardanapo.
— é tão bom, marrentinho. — aceitou de bom grado o guardanapo, limpando os cantinhos dos lábios.
— tô vendo. — changbin ainda possuía aquele sorriso divertido, e chan ficou tímido por um instante. Devia estar parecendo um selvagem comendo daquele jeito, mas era tudo fruto do costume, seus amigos nem se incomodavam pelo jeito entusiasmado que christopher sempre ficava quando experimentava algo novo. Jisung até mesmo dizia que era bonitinho. Mas na frente de changbin era diferente, não queria que ele pensasse que era um esquisito. — vai ficar só me olhando ou vai comer?
— comer você?
— a comida, christopher!
— há! Você me chamou de christopher!
— não enche o saco, ruivo. — levou uma porção de macarrão a boca, desviando a atenção.
— nem vem, você me chamou de christopher. — changbin virou a cara. — diz de novo.
— não.
— por favor, gatinho.
— come logo isso, seu merda. — chutou a perna do ruivo por debaixo da mesa, ocasionando num espasmo surpreso vindo dele. Chan fez bico e voltou a comer.
— chato. — resmungou.
Depois de terminarem, eles deram lugar para outra dupla de pessoas que estavam à espera, andando a fim de fazer digestão. Novamente, changbin estava de fones, ele parecia ouvir alguma das suas bandas de rock preferidas, levando em consideração o barulhão que vinha dele. Chan coçou as mãos e as guardou nos bolsos, aquele silêncio sempre o deixava hiperativo. Não estava acostumado, levando em consideração que jisung e minho podiam falar por uma multidão inteira, apesar de serem introvertidos. Nada que a convivência não faça as pessoas mostrarem seus melhores lados, ou até os piores. Conviver com o lee já trouxe a chris experiência horríveis, como vê-lo vomitar um quarteirão quase inteiro após a balada ou quando ele tropeçou e quebrou a maquete de um veterano de arte, que acarretou em um mês todo gasto refazendo o trabalho do rapaz.
Se perguntava se changbin também tinha esse tipo de história para contar. Queria saber mais sobre o baixinho, mas ele nunca abaixava a guarda. Surgiam momentos que pensava que talvez devesse dar espaço a ele, mostrá-lo que não queria invadir sua privacidade.
Eles caminharam mais um pouco e pararam em um parque aberto, perto de um rio famoso que tinha originado o nome de jisung. Quando o moreno escolheu, ele disse que foi ali onde teve suas primeiras experiências, por um rolê estranho que foi obrigado a ir com minho, onde ele teve contato com outras pessoas transgêneros e bissexuais. Foi bem no início da sua adolescência, o ruivo lembrava como tinha sido confuso para seu amigo ter todo aquele choque de realidade, uma vez que os pais do han eram bem conservadores. Recordava as vezes que abrigou o menor em sua casa, o afastando de toda aquela confusão que seus pais arrumaram quando ele se assumiu um homem trans. Teve tanto medo por ele, e tanto ele quanto minho passaram por muitas coisas a fim de defender o mais novo. Mas no final, sabia que jisung tinha orgulho de quem era e não se arrependia de ter se descoberto e se assumido, ele sempre dizia que era como tirar um peso das costas, coisa que chan nunca teve oportunidade de fazer. Seus pais já não eram presentes quando se descobriu bissexual, único apoio que teve além dos seus amigos foi da família de minho, já que eles eram bem aberta em relação a isso.
A dupla se acomodou na grama, sentando um do lado do outro. Estava um pouco frio e já era tarde, não devia passar das dez horas, mas chan estava um tanto cansado. Ele olhou para changbin, o vendo encolher as pernas em direção ao peito, encostando o queixo entre os joelhos, seus olhos cor de turmalina negra miravam na paisagem a sua frente, onde as luzes da cidade piscavam junto com toda vida atribulada dos cidadãos. Chan também encolheu as pernas, deitando a bochecha nos braços a fim de estudar todos os pequenos detalhes que o seo possuía. Se perguntava pelo que aquele garoto já tinha passado. Queria saber até mesmo seus piores pesadelos. Queria confortá-lo pelos prováveis contatos com pessoas homofóbicas, defendê-lo de todo mal que ele já tinha sido exposto.
Tomou um leve susto quando ele virou o rosto em sua direção, seus olhos brilhavam em contraste com toda luz próxima, pareciam mágicos. O coração de chan vacilou e tudo ao redor escureceu, sendo changbin seu único ponto de luz. Ele sorriu levemente e o ruivo quis afagar seus fios cor de oceano, abraçá-lo com cuidado e dizer que ele podia descansar um pouco. Que estava em segurança consigo. Mas tudo que fez foi apenas fita-lo, como um romancista observa sua obra. Quis fazer seu coração parar de bater tão energeticamente.
— quer dividir? — changbin tirou o fone esquerdo da orelha, estendendo em direção ao australiano.
Chan apenas concordou em um manusear de cabeça, pegando o pequeno aparelho e colocando-o em sua orelha. This Charming Man de The Smiths o invadiu, e um sorriso tomou seu rosto. Changbin retribuiu um pouco tímido, mordendo o cantinho da boca antes de se arrastar levemente em sua direção, o suficiente para seus ombros se encostarem e ele ficar a centímetros de distância. O ruivo tomou postura, esticando as pernas e o menor fez o mesmo, decidindo demolir um pouquinho aquela barreira que estava entre eles, deitando a cabeça no ombro do ruivo, enquanto a música ainda ressoava em seus ouvidos. Chan passou o braço pelas costas do azulado, o fazendo aninhar em seu corpo. Não disse nada e nem mesmo ousou comentar sobre seu cheirinho agradável de lavanda, não queria que ele se afastasse porque novamente o bang não conseguia controlar sua própria língua.
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