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Chan nunca foi de acordar cedo.
Por mais que tivesse um tipo de rotina estabelecida em casa, quando possuía a oportunidade, ele adorava burlar aquilo. Era verão, então quando o sol nasceu através dos prédios próximos e seus raios atravessam a janela do quarto, a primeira coisa que atingiu foi o rosto pálido do australiano, ele despertou de imediato e assustou-se por changbin estar perto. Muito perto, devo recitar. Perto o suficiente para chris notar o jeito que ele franzia o nariz enquanto tinha um sonho bobo ou como sua pele tinha uma cor tão pura e bonita, como mel brilhante. O australiano quis correr o risco e deslizar os dedos por suas sobrancelhas, e acariciar suas bochechas, mas não podia, o azulado o odiaria se fizesse isso.
Será que changbin já chegou a odiá-lo alguma vez? Bom, ele não era alguém muito agradável para se lidar vez ou outra, seu temperamento era oscilante e meio frágil. Minho dissera uma vez que chan era como uma bomba relógio fingindo ser um cãozinho dócil, mas o ruivo não levou como ofensa, ele tinha razão, seu jeito era explosivo às vezes e não sabia controlar sua raiva, por mais que odiasse se mostrar tão fragilizado a seus amigos. Sempre foi o mais velho em suas rodas de amizade, tinha um senso de responsabilidade horrível correndo em suas veias. Se ele perdesse o controle, perderia sua credibilidade como adulto responsável que sempre tentou parecer.
Mas quem queria enganar? Às vezes desejava agir como um adolescente tolo e rebelde. Quebraria regras e não se importaria com as consequências, mas sempre foi muito preocupado com suas ações e tinha medo de afetar as pessoas ao seu redor, então passou sua adolescência apenas agindo como alguém que estava prestes a se tornar um adulto, ignorando toda a parte boa — seja lá qual fosse — da sua vida antes da maioridade.
Changbin despertou suavemente, ele esticou os braços para cima e grunhiu ao se espreguiçar, seus olhos piscaram até se acostumar com a luz da manhã e repousaram em christopher que ainda o analisava, mesmo que estivesse com a cabeça nas nuvens. Eles trocaram um olhar rápido antes do menor virar, encarando a parede e dando as costas ao ruivo. Chan notou um rabisco deslizando para fora da camiseta larga que changbin vestia, parecia uma borboleta ou algo parecido, era colorida, como a de liam, mas não dava para ver direito, uma vez que ele ajeitou a roupa antes que chan pudesse bisbilhotar mais um pouco da sua clavícula.
— você tem aula hoje? — changbin indagou sem nem ao menos se virar. Por cima do seu ombro, chan observou o menor mexer nos tentáculos do polvo roxo, parecia apenas distraído com sua velha pelúcia assustadora.
— só ensaio para palestra. Você vai ajudar a gente hoje? Tipo, seu curso num todo.
— provavelmente, os veteranos decidiram não fazer nada esse ano pro festival pela falta de verba então eles dividiram a gente em dois grupos e mandou um pra ajudar vocês de biologia marinha e o outro para ajudar medicina.
— que sorte que você não ficou com os de medicina, eles são insuportáveis.
— maioria é filhinhos de papai, você não pode esperar muito.
Chan balançou a cabeça concordando.
Em poucos minutos, changbin sentou na cama, o cabelo azul esvoaçado e o rosto inchado pelo sono, ele se arrastou para fora do colchão e puxou o pé do australiano que vazava pelo lençol. Chris resmungou mas seguiu ele porta afora.
Não devia ser mais do que oito horas da manhã mas Estela já estava em ação na cozinha junto com liam que cochilava sentada no balcão ao lado da pia. Changbin aconselhou chan a vestir suas roupas do dia anterior e lavar o rosto, entregando a ele uma escova de dentes nova e creme dental. O ruivo se organizou no banheiro e saiu para o café da manhã, sendo algo rápido preparado pela mulher de fios loiros. Changbin se ajeitou depois do café e eles partiram com liam pedindo para o australiano colocar juízo na cabeça do menor.
Ainda precisou passar em casa para trocar de roupa e pegar a bolsa da faculdade, o que para sua surpresa, changbin esperou pacientemente sentado no sofá da sala. Chan se trocou, optando agora por uma camisa preta de mangas curtas e um shorts da mesma cor, o tecido era um pouco mais grosso mas não chegava a ser um jeans. Ele se perfumou e saiu do quarto, descendo as escadas com a mochila nas costas, changbin ainda o esperava mexendo no celular e rindo de algo que ele quis saber o que era, porém não seria intrometido. Pelo menos enquanto não tivesse intimidade com o mais novo.
Parecia que nada entre ele e o azulado tinha mudado, o seo o ignorou durante todo percurso, ocupado demais com o telefone para notar as olhadas que recebia do australiano. Chan não se cansava de observá-lo, nem sabia de onde desenvolveu isso, gostava de observar as pessoas quando ficava interessado nelas, seja porque as achou intrigante ou atraentes, mas era difícil definir porque não conseguia desprender os olhos do baterista: talvez fosse pela forma como suas mãos sempre pareciam atentas e ágeis, ou como seu rosto era firme mas ainda de traços delicados, como uma escultura grega antiga. Seja lá o que fosse, chan achava changbin estupidamente bonito e atraente, no entanto isso ficaria somente em sua cabeça e seus pensamentos. Afinal, era só uma admiração singela.
Eles chegaram nos portões da faculdade às dez horas em ponto, o caminho tinha sido longo e angustiante. Chan nunca foi o maior fã do silêncio. Ele deixou o carro na vaga reservada e saiu com o azulado, pensou que changbin o deixaria para trás depois da carona, mas ele esperou chan trancar o automóvel e ligar os alarmes, caminhando ao seu lado até o prédio principal, onde o lobby ficava. Ele já não mexia no celular como antes, porém os fones de ouvidos tamparam seus tímpanos e o ruivo não via uma brecha para chamar sua atenção, e não queria incomodá-lo. Eles pegaram as escadas até o terceiro andar onde era localizado o teatro, mas a aproximação de hyunjin fez chan estagnar, e automaticamente, changbin também parou.
— oi, hyung! — hyunjin o saudou com entusiasmo, um sorriso brilhante desenhado em seus lábios rosados. Chan retribuiu o sorriso com educação. — como você tá? Ontem a gente nem conseguiu conversar direito por causa de tudo aquilo com o felix.
— pois, é. Mas eu tô bem, e você? — mesmo que estivesse olhando para hyunjin, chan sentiu changbin ao seu lado retrair, como se estivesse apressado para continuar andando.
— estou bem, talvez até melhor agora. — ele tocou seu antebraço com intimidade, os dedos longos e macios roçando em seu cotovelo.
— foi mal atrapalhar, mas a gente precisa ir. — changbin interviu, afastando a mão dele do bang ao começar a puxar o mais velho pelo chaveiro de dragão que estava em sua bolsa.
Demorou um tempinho para o cérebro lento do australiano se organizar e entender a situação, e quando notou, hyunjin estava parado a metros de distância, encarando changbin como se ele fosse uma presa prestes a ser atacada por seu predador natural. E o azulado, bom, ele apenas continuava puxando chris como uma boneca de pano.
— eu não levantei da cama pra aguentar esse tipo de coisa. — resmungou como um velho rabugento, subindo mais um lance pequeno de escadas até o próximo andar. Chan o acompanhou com cautela, não movendo um dedo para impedir o menor de arrastá-lo para lá e pra cá. Era engraçado.
— que tipo de coisa?
— esse mauricinho te cantando em plena dez da manhã! — exclamou como se aquilo fosse um completo absurdo. O ruivo não conseguia se conter ao rir, changbin estava tão irritado por algo tão bobo. — tenha santa paciência.
— mas por que você tá tão puto? Hyunjin só tava brincando, ele sempre faz isso.
— eu não tô puto. — exprimiu entre os lábios, uma veia pulsando em seu pescoço. Chan mordeu o lábio para não rir mais. — e outra, você é um lerdo, esse cara tava nitidamente dando em cima de você. — changbin disse, andando um pouco mais devagar. — você é do tipo que não enxerga quando alguém quer algo com você. — proferiu suas últimas palavras em um tom quase de sussurro, como se temesse ser ouvido.
Mas chan escutou, porém antes que pudesse questionar alguma coisa o azulado entrou na sala de teatro e sumiu ao se misturar com seus colegas de curso. Agora ele estava tão curioso que sentia sua ansiedade subir até o pescoço. O que changbin quis dizer com aquilo? Chan não era lerdo. Quer dizer, diferenciar flerte com interesse de flerte entre amigos era uma baita dificuldade pra ele, não negava, afinal tinha minho como amigo, e ele vivia lhe dando cantadas. Será que ele se referiu a hyunjin e suas cartadas baratas? Desde que conheceu o hwang ele era daquele jeito, todo íntimo e cheio de charmes, mas nunca passou disso, pelo menos para o australiano era tudo uma grande brincadeira.
O restante da manhã changbin passou distante, às vezes trocando um olhar rápido com o bang mas nunca passava disso. Então o sinal tocou e todos saíram, desta vez o ruivo conseguiu pegar o menor antes que ele sumisse igual da última vez, e juntos seguiram até o refeitório.
Passou na fila da cantina antes de ir com o menor até a mesa dos seus amigos, até seungmin estava lá marcando presença, ao lado de minho, eles mantinham uma conversa animada sobre algo que viam no celular. Jeongin e jisung comiam em silêncio, como se algo estivesse incomodando eles. Chan tinha uma dedução quanto aquilo, e essa dedução estava bem ali, sentado numa mesa antes da deles, de cabeça baixa e miúdo na cadeira. Felix apenas ergueu o queixo quando viu o australiano, ele estava com aquela típica cara de arrependido que o ruivo conhecia bem. Não era a primeira vez que eles discutiam daquela forma, e algo entre suas entranhas dizia que também não seria a última vez.
Ele deixou o azulado junto ao restante dos meninos, afagando o cabelo de jeongin antes de caminhar até o outro australiano com as mãos no bolso. De início, chan apenas tomou a cadeira ao lado de felix, esperando que ele falasse primeiro. O que demorou bastante.
— felix. — decidiu chamar sua atenção, vendo que ele não parecia pronto. Estava com fome e queria resolver isso de uma vez por todas, não suportava o clima horrível que estava em sua mesa, mesmo que minho fingisse que nada estava fora do lugar. A cara de desapontado e chateado de jeongin deixava o ruivo angustiado, e jisung não estava tão diferente do mais novo.
— me desculpa. — o rosado enfim disse, erguendo os olhos castanhos em sua direção. — eu não queria ter dito tudo aquilo, tava de cabeça quente e acabei descontando em você e em todo mundo. Me desculpa por ser tão idiota e imaturo, juro que se pudesse ser alguém diferente, eu seria. — felix se embolou e escondeu o rosto nas mãos, soluçando contra a palma. Chan suspirou, se aproximando para confortá-lo.
— tá tudo bem, já passou.
— não tá, eu te deixei chateado com o que disse ontem. Deixei o jeongin assustado por me ver todo machucado. Deixei o minho irritado comigo porque eu sempre tô fazendo merda e o jisung nem olhou na minha cara hoje.
— apenas um pedido de desculpas resolve isso. — deu leves tapinhas em seu ombro, para convencê-lo a parar de soluçar e choramingar. — eu também errei ontem em querer mandar na sua vida, você já é um homem crescido, sabe muito bem o que faz. Mas eu me preocupo com você, mais do que você merece. — puxou sua orelha devagar, como uma breve punição. O lee riu baixinho, ainda com o rosto escondido entre as palmas. — vamos esquecer isso e seguir em frente,
— você não tá chateado comigo?
— não mais. — garantiu com um sorriso pequeno. — e nem os meninos estão. Um doce e você terá o perdão do hannie. Agora levante e enxugue o rosto, tem um monte de gente olhando agora na nossa direção.
Felix fez isso, limpando as bochechas com a gola da camisa. Chan o puxou pela mão, levando o garoto de fios rosados até a mesa que todos estavam reunidos. E como o australiano mais velho disse, um sincero pedido de desculpas pelo dia anterior e alguns pirulitos fizeram os outros integrantes da banda esquecerem o que aconteceu. Felix se sentou ao lado de jeongin, e eles rapidamente se acertaram. Para felicidade do ruivo.
Finalmente chris conseguiu comer, sem reclamar do quão barulhentos seus amigos estavam sendo. Até changbin estava se enturmando com jeongin, eles conversavam sobre seus livros favoritos e trocavam recomendação. Minho ainda estava grudado em seungmin, rindo das suas piadas ruins. E jisung importunava felix, pedindo para ele comprar mais doces e lanches. Nada fora do comum.
Quando terminou de comer, empurrou a bandeja com seu almoço, chamando atenção de todos presentes.
— então, acho que tá na hora da gente ter nosso primeiro grande ensaio. — chan anunciou sorridente e entusiasmado.
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