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Nos próximos três dias, chan se multiplicou para tentar conseguir realizar várias tarefas. Ainda estavam entregando panfletos, mesmo que tivesse duas pessoas confirmadas para realizar a audição, um garoto de economia e uma garota de psicologia. Ainda assim o australiano não conseguia relaxar com a data do festival cada semana mais perto, ainda estavam no começo do mês, mas sua ansiedade não o deixava pensar com razão e ignorar o passar lento das semanas.
Enquanto ensaiava com seus colegas no teatro, os encontros da banda foram adiados já que todos pareciam ocupados com seus próprios assuntos. Jisung e jeongin tinham sido chamados para ajudar na organização do concurso, mesmo que fossem um dos concorrentes. Minho tinha sido obrigado por seus veteranos a apresentar um tipo de palestra sobre a importância da literatura na vida das pessoas. Felix sumiu durante os últimos três dias, chan deduzia que ele estava mais uma vez atrás das líderes de torcida, ou pior, seu pai tinha descoberto que ele havia quebrado o carro dele numa festa e agora tinha o mandado de volta à Austrália com apenas passagem de ida.
Fora isso, o quinteto apenas se encontrava para almoçar de vez em quando, às vezes o australiano não conseguia arranjar tempo entre os ensaios do curso e acabava por pular uma das refeições. Quando um dos garotos descobria isso, sempre iam atrás do ruivo para entregar algum doce ou sanduíche que tinham comprado no refeitório. Jeongin era quem mais fazia junto com jisung.
Agora, chan descansava um pouco fora do teatro, era mais um daqueles dias que boa parte dos alunos faltavam por optarem não apresentar nada no festival anual. Mesmo assim, o corredor mantinha um ritmo de pessoas frequente, quem passava ali contemplava o ruivo deitado no chão — bem no meio da porta do teatro — com estranheza, alguns de seus colegas até mesmo passavam por cima do corpo adormecido do rapaz para sair ou entrar na sala. Chan não movia um músculo para sair dali, era ventilado e o dia estava realmente quente. Alguns até mesmo se acostumaram com aquelas esquisitices vindas do baixista.
Com toda aquela correria em sua vida, mal tinha tempo de ir atrás de changbin. Não tinha desistido de tentar encaixar o garoto no grupo, queria tocar com ele pelo menos uma vez, sentia que podiam ter uma boa conexão se ele cedesse de uma vez ao convite de fazer parte da 3rd Eye. Dinheiro não seria um problema caso ele aceitasse, estava disposto a tudo se ele realmente quisesse fazer parte daquilo.
— ei, maluco. — nayeon, sua veterana de biologia marinha, se abaixou rente ao corpo esticado e molenga do ruivo. Chan tirou o antebraço da frente dos olhos e fitou a loira. Sabia que ele iria pedir algo. — me faz um favor.
— tenho a opção de negar?
— você nunca tem essa opção. — ela sorriu daquele jeitinho poderoso e soberbo que deixava o australiano irritado. Ele juntou coragem para se sentar e com tédio esperou que ele dissesse de uma vez o que queria. — sabe, nós estamos com fome, então você podia ir comprar umas coisas pra gente, certo?
— no refeitório?
— na lanchonete aqui do lado da faculdade, é claro.
— vocês querem me escravizar. — chan ficou de pé, espantando a poeira da roupa com algumas batidinhas. Nayeon ainda sorria divertida enquanto entregava uma quantia consideravelmente grande ao maior, para que ele pudesse ir comprar tudo, fora o dinheiro ela também entregou uma notinha com o que seus colegas pediram. — eu realmente não tenho a escolha de negar isso? — olhou piedoso, mas sabia que era em vão.
— seja um bom garoto para seus colegas e vá comprar nossa comida, nem é tanta coisa. — ele afastou a mão dela do seu cabelo de forma sutil, guardando o dinheiro no bolso da bermuda e deu uma olhadinha na nota, tinha tanta coisa ali que nem sabia como faria para trazer tendo apenas dois braços.
Ele saiu de lá com calma, não pretendia correr, era como um castigo para o que estavam fazendo com ele. Chan saiu do prédio principal e pediu autorização ao porteiro para sair, sendo logo cedido quando ele explicou o que iria fazer. Já na rua, o ruivo olhou ao redor para tentar localizar a tal lanchonete, rapidamente vendo um pequeno prédio de coloração roxa bem ao lado de uma lan house. Ele entrou no ambiente e observou ao redor, o salão era pequeno e preenchido com penas de dois lugares, logo a frente havia um balcão largo com bancos giratórios de assento roxo. Chan esperou pacientemente na fila até chegar sua vez de ser atendendo, o rosto em direção ao celular.
— qual seu pedido, senhor? — aquela voz. Chan ergueu os olhos e encarou changbin, ele vestia a camisa da lanchonete — preta com detalhes em roxo escuro —, e o avental com a logotipo do estabelecimento, seus fios azuis estavam sem cuidado e escorridos pela testa, os fios grandinhos tocando suavemente em seus cílios pequenos.
— changbin?
— não, o papa Francisco. — chan piscou confuso. — você por acaso é burro? Deixa pra lá, nem responde. Qual é o seu pedido?
— pedido?
— meu anjo, eu não sei se notou mas a gente tá numa lanchonete, você é o cliente e eu quero saber seu pedido. Tá confuso pra entender ainda? Quer que eu desenhe? — ele realmente parecia disposto a pegar o bloco de notas no bolso do avental e desenhar para o australiano entender, porém não foi preciso, ele mesmo se colocou nos eixos depois de balançar a cabeça e coçar a orelha constrangido.
— me desculpa, eu só não esperava que você trabalhasse aqui. — riu um pouco sem graça e entregou ao menor o papel com os pedidos dos seus veteranos.
Changbin leu a notinha em silêncio e depois entrou na cozinha para entregar o que tinha sido requisitado. Quando retornou, chan tinha tomado o espaço de um dos bancos de estofamento roxo, sorrindo para ele como um tolo.
— tem umas mesas disponíveis ali. — changbin apontou. Chan apenas continuou sentado onde estava, mãos sobre o balcão limpo e sorriso persistente.
— tô bem aqui. — o garoto assentiu. — então. — tentou chamar sua atenção do menor, no entanto ele parecia bem mais ocupado lendo um livro de capa azul e uma ilustração de duas pessoas caminhando. — pensou sobre o que eu falei?
De início, changbin apenas o encarou, os olhos analíticos observando chan como um gavião espertalhão, depois ele revirou os olhos e voltou a sua leitura. Bom, o ruivo não esperaria menos dele, changbin já tinha se mostrado bem arisco nas últimas vezes que se encontraram, sempre ignorando o mais velho ou apenas respondendo ele secamente. "Estou pensando sobre" e "não enche o meu saco" fazia parte do curto diálogo que eles tinham às vezes nos corredores da faculdade ou até mesmo no refeitório da instituição. Chan não reagia de má forma com a atitude dele, até entendia, era bem irritante quando queria, no entanto, desejava que o azulado pensasse de verdade sobre a proposta, porque estava disposto a tudo para tê-lo na banda.
Antes que pudesse retornar a falar sobre a audição, o barulho da porta do estabelecimento fez o ruivo mudar sua atenção, se voltando a entrada do lugar. De lá um garoto alto e de cabelo castanho surgiu, ele carregava uma bolsa estilo mensageiro e usava óculos e aparelho na parte superior dos dentes. Ele entrou na lanchonete bem atrapalhado, os cadarços estavam desamarrados e ele parecia ofegante. Lembrou de minho e sua tendência ao sedentarismo, pensou que ele e esse garoto desconhecido poderiam ser bons amigos de ala hospitalar, já que vira e mexe e o loiro parava em um pronto-socorro por desmaiar com a pressão baixa.
— desculpa a demora, a galera do jornal me prendeu com as coisas do festival eu não consegui sair mais cedo. — o garoto disse a changbin, entrando no balcão e deixando a bolsa em algum lugar não visível pelo ruivo, logo após colocou o avental e enxugou o rosto suado com a gola da camiseta.
— fica tranquilo, Estela abriu agora. — o de fios azuis respondeu, ainda lendo.
— eu conheço você. — chan olhou para o garoto. — você não é da 3rd Eye? Aquela banda de cover famosinha da SNU?
— sim. — ele admitiu, coçando a pontinha da orelha com timidez.
— que legal, eu gosto bastante dos seus covers, eles são incríveis. — o recém chegado disse com deslumbre, se aproximando do ruivo que ainda estava vermelho. — sou seungmin, kim seungmin. Faço literatura na universidade nacional de Seul também. — chan apertou a mão do garoto quando ele estendeu, sorrindo ainda acanhado.
— christopher bang, ou bang chan. Chame como preferir.
— tá vendo que ele é simpático, seu insensível. — seungmin bateu seu ombro no azulado, que olhou ligeiramente para ele antes de voltar a ignorar a conversa ao seu redor. Não tinha muitos clientes naquele horário, se bem contou, apenas uma mesa estava sendo ocupada por um homem engravatado que mexia no notebook enquanto degustava um milkshake com batata frita. — fiquei sabendo que você chamou o binnie pra tocar com vocês, é verdade?
— sim, mas ele não quer.
— você não quer?! — o castanho exclamou desacreditado, tão alto que changbin se assustou. — seo changbin, se explique agora.
— não te devo satisfação.
— eu vou contar pra sua mãe que você tá de novo se excluindo das coisas pra não fazer amizade.
— quem você pensa que é? Meu pai? Não me enche o saco.
— tia Estela! — seungmin gritou mas antes que pudesse ir até a cozinha, o azulado o segurou pelo braço com força.
Chan apenas assistiu o baixinho arrastando seungmin até um canto, sussurrando para ele entre os dentes algo que parecia referente ao australiano. O ruivo realmente queria saber ler lábios para entender do que se tratava, mas era péssimo nisso, então apenas ficou lá sentado observando cautelosamente eles dois discutindo entre cochichos e caretas. Não negava que as vezes era engraçado o jeito que changbin gesticulava e franzia a testa, batendo no peito do castanho usando o dedo indicador para provar algum ponto em seus argumentos. Ele parecia bravo e adorável, mas ainda muito bravo.
Uma mulher um tanto alta e de cabelo loiro surgiu da cozinha da lanchonete, e instantaneamente a dupla parou de discutir e voltou até o balcão. Ela depositou a lista de pedidos do australiano sobre a superfície espaçosa, pedindo para os garotos embalarem.
— chang. — a mulher de olhos claros — algo entre o azul, mas ainda um pouco escuro — e cabelo preso em um coque alto chamou pelo menor, e ele rapidamente virou em sua direção. Chan notou uma grande diferença no jeito que changbin agia perto dela, parecia um pouco mais amoroso e calmo. Talvez fosse sua mãe, mesmo que não tivesse nenhuma semelhança entre eles. Pra começo de conversa, a loira parecia estrangeira — talvez americana ou europeia —, e changbin apenas era mais um garoto coreano de vinte e dois anos. Eles eram muito diferentes, mas não se viu no direito de questionar, talvez o seo tivesse puxado ao pai.
— sim, mãe?
— quando liam chegar, peça para ela ir me ajudar na cozinha. — o azulado assentiu. — seja um bom menino com os clientes, okay? — ele novamente balançou a cabeça, e ela sumiu em seguida passando pela porta.
Quando changbin se virou para chan, sua expressão de tédio voltou, seus olhos ficaram nublados como de costume e ele não parecia tão empático. Com ajuda do castanho, eles embalaram a comida pedida pelo mais velho e a distribuíram em sacolas, cerca de cinco completamente cheias. O ruivo as pegou a contragosto, já imaginando o esporro que levaria pela demora.
— obrigado. — agradeceu, pagando por tudo com o dinheiro que sua sênior deu. Estava prestes a sair quando seungmin o chamou, ele mantinha uma mão firme no ombro de changbin que parecia querer falecer ali mesmo no chão de cerâmica quadriculada.
— fala, projeto de gente. — o kim exprimiu entre os dentes.
— vou pensar sobre sua proposta, dessa vez de verdade. — chan esboçou um grande sorriso, tão largo que doeu em suas bochechas. Estava tão feliz que poderia sair dali pulando. — mas não espere muito, posso mudar de ideia a qualquer momento.
— não tem problema, o fato que você já vai pensar sobre me deixa feliz.
— tá vendo? Ele é esquisito. — resmungou para seungmin, virando a cara.
— volte sempre, chan. — o castanho acenou, ignorando o seo que parecia querer fugir dali como um ratinho assustado.
Chan se limitou a balançar a cabeça, suas mãos estavam ocupadas com as várias sacolas. Ele partiu em seguida, cintilando de tão feliz. Tinha um bom pressentimento para o dia seguinte.
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