d e z o i t o
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Da janela do meu quarto, observo Dylan sentado em uma espreguiçadeira na borda da piscina. Ele está com seu violão em mãos, igual a ontem.
Fecho a cortina e saio do quarto, desço as escadas calmamente e vou em direção ao fundo da casa e, assim que passo pela porta, ouço a melodia tocada no violão e a voz de Dylan cantando Perfectly Wrong, Shawn Mendes.
— Taste the poison from your lips, Lately, we're as good as gone, Oh, our love is drunk and it's, Singing me my favorite song, Me and you, We were made to break, I know that's true, But it's much too late.
Pelo fora de estar sentado como índio, me sento aos pés da espreguiçadeira. Só então, o rapaz nota a minha presença ali, o fazendo parar tanto de tocar quanto de cantar.
— Me desculpe, não quis atrapalhar. – digo totalmente sem jeito.
— Tudo bem. – ele sorri fraco e fica me olhando por segundos que se parecem horas. — Mell. – Dylan me chama.
— Oi. – repondo, já sabendo que sempre que ele me chama, surge uma conversa séria.
— A gente não tem uma conversa descente faz tempo, Mell. – as palavras saem de sua boca calmamente.
— É verdade. – confirmo, pois sempre que há uma oportunidade para conversa, eu dou um jeito de correr.
Eu e Dylan ficamos nos olhando por um tempo, até alguém perguntar ou começar a dizer algo.
— Me conta como tá sendo seu intercâmbio. – ele pede e respiro aliviada por não ter que puxar assunto.
— Sua mãe me perguntou a mesma coisa esses dias. – conto.
— Sério? – ele pergunta demonstrando interesse.
— Sim. – sorrio. — Antes de chegar aqui, eu estava achando que seria algo totalmente diferente. – vejo então ele colocar o violão em cima da cama do mesmo no chão, ao seu lado. — Estava achando que não me daria bem com a família na qual eu iria ficar durante esse um ano, achava que me sentiria um peixe fora d'água. – desabafo, afinal, eu tinha esse medo.
Já vi histórias de pessoas que fizeram intercâmbio e suas host family eram pessoas horríveis.
— Eu sei que ainda é bem cedo para eu dizer que está sendo tudo diferente ou que está sendo tudo mil maravilhas, mas nesse pequeno espaço de tempo em que fiquei aqui, eu gostei muito. – sorrio. Por um instante, vejo que Dylan também sorri. — Eu amei, pode se dizer. – falo sentindo meu coração palpitar. — E a melhor coisa que eu posso dizer que aconteceu, foi ter conhecido vocês. Eu ganhei uma nova família, ganhei novos amigos, irmãos. – finalizo.
O rapaz passa a mão nos seus cabelos os levando para trás e no ato eles ficam totalmente bagunçados, mas um bagunçado bonito. Dylan respira fundo e da um pequeno sorriso.
— Quando minha mãe disse que você viria para cá, eu fiquei sem jeito de receber você aqui em casa. – ele da de ombros. — É estranho, do nada, você receber uma pessoa na sua casa e na sua vida. E eu me sinto péssimo por ter te tratado mal no dia em que nos conhecemos. – diz com uma cara engraçada. — Era para ter sido diferente, eu estava me preparando para aquilo e acabei fazendo merda, como sempre. – ele bufa, parecendo arrependido.
— Mas vamos combinar que eu fui bem intromentida. – confesso tentando deixar ele se sentir melhor. — Eu achei que nunca seríamos... – me calo quando percebo que não consigo dizer a palavra que se refere a mim e Dylan, mas ele sorri.
— Na minha cabeça, eu pensava que você seria uma irmã do meio, sabe? – ele segura o riso, ao contrário de mim, que gargalho alto. — Ficava pensando em você me chamando de irmão e tudo mais. – termina.
— Desculpa, Dylan, não consigo imaginar. – faço uma careta.
— Agora, eu também não consigo. – ele diz se aproximando e me encara. — Eu também não imaginaria a gente assim. – ele faz a mesma coisa que fiz agora à pouco, não dar uma palavra para o que somos.
— Amigos. – deixo escapulir.
— É, Mellanie, amigos. – ele diz, dá uma risada sarcástica e se levanta, indo embora.
— Parabéns, Mellanie Idiota Clarke. – falo com meus dentes serrados.
Fiquei uma semana me sentindo uma boba pela conversa descente com Dylan. Pensei nisso 24 horas por dia. Pensei em maneiras de ter feito das certo, mas, como o povo diz, não adianta chorar pelo leite derramado.
— Tem certeza que vai sozinha? – Ani pergunta pela terceira vez desde que disse a ela que iria a pracinha.
— Sim. – respondo.
Assim que saio de casa, sinto um brisa fria do começo da noite passar pelo meus rosto e meus braços descobertos.
Dou passos firmes, observando algumas casas com suas luzes ligadas, algumas pessoas saindo outras chegando.
Não demora muito até eu chegar na pracinha. Me sento num banquinho próximo a um carrinho de pipoca, peço uma de doce e me sento, logo a frente à alguns brinquedos. Não havia nenhuma criança ali, apenas alguns idosos, adolescentes.
Sinto tanta falta do Brasil, dos meus pais, amigos, de tudo afinal.
Eu nunca pensei que passaria mais de uma ou duas semanas longe dos meus pais, mesmo que o sonho de fazer intercâmbio estava em minha mente. Apesar de querer muito, eu não imaginava que de fato aconteceria.
Sempre que me deito para dormir, eu lembro muito bem de quando eu dava um beijo nos meus pais, riamos bastante e sempre falávamos que amávamos uns aos outros antes de dormir.
Nossa família não é perfeita, nenhuma é, mas fazemos de tudo para ser a melhor. Sinto falta até das brigas, nunca era por algo absurdo, mas lembrar da minha mãe ou do meu pai me chamar pelo nome completo sempre que fazia algo é incrível.
— Oi. – sou arrancada de meus pensamentos por alguém que se aproxima.
Levanto meus olhos para ver de quem se trata, e vejo um rapaz, 20 anos mais ou menos, pela negra, cabelo cortado bem baixo com uma camiseta azul, em pé ao lado do banco em que estou sentada.
— Oi. – respondo por educação. Me sinto totalmente desconfortável em continuar olhando para ele, então desço meu olhar para o saquinho de pipoca, sem mexer, em minhas mãos.
— O que uma moça, bonita como você, faz aqui sozinha? – ele pergunta e então posso notar seu sotaque arrastado.
— Brasileiro? – semicerro meus olhos olhando para o rapaz que dá um sorriso de orelha a orelha.
— Sim, você também? – pergunta já falando em português.
— Sim. – sorrio ainda desconfortável. Passo minhas mãos pelos meus braços, na intensão de me esquentar, mas não dá muito certo.
— Aqui. – o rapaz tira a jaqueta que está usando e coloca a mesma nos meus ombros.
— Obrigada, mas não precisa. – agradeço já tirando a mesma, mas ele não deixa.
— Lógico que precisa, você está com frio. – diz. Visto a jaqueta, está realmente frio. O rapaz, que não sei o nome, se senta ao meu lado, fazendo eu me afastar disfarçadamente do mesmo. — Meu nome é Bernardo. – fala.
— Mellanie. – desconfiada, coloco uma pipoca em minha boca. — Aceita? – pergunto e Bernardo apenas nega com a cabeça.
— Você é de onde? – ele pergunta, percebendo que não vou puxar assunto.
— Brasília. – falo somente. Ele me olha e ergue suas sobrancelhas grossas, mas bem feitas, e espera um pouco, até eu perguntar de onde o mesmo é.
— Nasci em São Paulo, mas me mudei para cá quando tinha 15 anos de idade. – explica. Se eu estiver certa, faz cinco anos que o mesmo mora aqui. — Você mora aqui também ou...? – começa dizendo e dou um suspiro.
— Intercâmbio. – digo exasperada.— Já está tarde, acho melhor eu ir. – falo, já me levantando do banco e o rapaz me acompanha.
— Eu te acompanho. – se apressa em dizer, me fazendo negar com a cabeça.
— Não precisa, de verdade. – digo tudo muito rápido, fazendo o rapaz me olhar um tanto espantado.
— Mas... – começa dizendo.
— Foi um prazer te conhecer, mas já vou. – não deixo Bernardo responder e já saio de perto do mesmo, andando apressada, olhando para o chão, para fora fora da pracinha.
Assim que ergo meu olhar, vejo a imagem de Dylan parado me olhando, como se estivesse me esperando.
— Dylan, o que está fazendo aqui? – pergunto um pouco alto, a alguns metros de distância.
— O que? – ouço ele dizer em inglês e percebo que acabei falando em português com o mesmo, já que conversava com Bernardo em meu idioma.
— O que você está fazendo aqui? – pergunto, dessa vez em inglês, já bem próxima do mesmo, que está com suas mãos no bolsa da calça de moletom cinza.
— Quem era aquele cara? – fala, não respondendo a minha pergunta. — Eu estava preocupado com você. – diz.
— Um rapaz que conheci. – falo.
— O que estava fazendo com ele? – Dylan continua me olhando nos olhos, sem nenhuma impressão.
— Conversando? – digo como se fosse óbvio.
— Você nem conhece ele. Ele poderia ter feito algo com você. – relata, com um tom de irritação na voz.
— Mas não fez. – o repreendo. — Eu já estou aqui, não estou? – ergo minhas sobrancelhas e Dylan parece soltar o ar que nem eu nem ele sabia que estava segurando.
— Vamos embora. – ele diz. Olho para trás e, de longe, vejo Bernardo sentado no banco que agora a pouco eu estava.
Dylan começa a andar e eu o acompanho. Lado a lado, andamos em um silêncio ensurdecedor.
— Podia ter me chamado. – ouço sua voz dizer, quebrando o silêncio. Dylan me olha com calma, engole em seco, como se quisesse fazer algo.
Antes mesmo de responder ou dele falar algo, eu entrelaço nossos braços, nos deixamos bem próximos. Ele com suas mãos ainda no bolso da calça, deixa um empregado entre seu braço e a lateral de seu corpo e lá que meu braço está.
Ele me olha ainda mais, parecendo querer gravar aquele momento. Por fim, encosto minha cabeça em seu ombro, onde a deixo por lá e isso não atrapalha em nada nós dois caminhar, até porque Dylan é alto e eu, praticamente, sou da altura de seu ombro.
Não demora muito para chegarmos em casa, passamos então pelo Jardim e logo chegamos até a porta da frente.
Para abrir a porta, me afasto de Dylan. Ele a abre, me permitindo entrar primeiro e ele logo atrás de mim.
— Boa noite. – digo. Ele não me responde de imediato, fica apenas me olhando e isso faz meu rosto esquentar.
— Boa noite. – finalmente responde. Eu, sem saber muito o que fazer, me aproximo um pouco dele e isso me faz acabar com o espaço que entre nós, então fico na ponta dos pés e lhe dou um beijo, que era para ser na bochecha, mas que saiu no canto da boca.
Me afasto de Dylan e percebo que ele está sorrindo, então sinto meu rosto esquentar mais ainda.
Sem dizer nada, me viro, indo em direção às escadas e assim subo as mesmas, logo entrando em meu quarto e, só assim, percebo que ainda estou com a jaqueta de Bernardo.
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