Hora 3
Estou com sono, mas não sou nem um pouco maluco em dormir agora. Na verdade ainda estou pensando se vou dormir pela noite ou utilizá-la para vasculhar esta casa. Eu sei que é mais seguro descansar quando o Z estiver dormindo, o problema é que o tempo em que ele dorme eu fico seguro para investigar e tentar achar alguma informação.
Assim que terminei a sopa, Z chamou K para entrar no quarto, mas a qualquer momento eles podem sair. Decido então deitar no sofá por um momento, só pra tirar um cochilo rápido e estar mais disposto para passar a noite acordado.
⌛
— Alli, você está me ouvindo? Por favor, eu não aguento mais te ver dessa forma. Você não me atende, não abre os olhos. Eu queria tanto que você desse ao menos um sinal. Por favor, você precisa lembrar de tudo que eu já te disse. Deus não te deixou, ele te ama, ele ainda quer te usar. Não se esqueça dele, Ele é tudo que você precisa agora. Ele não me deixou desistir de você.
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Abro os olhos abruptamente e percebo que meu coração está acelerado demais. Não como alguém que acaba de correr um quilômetro, mas como alguém que acaba de ver a pessoa amada piscando pra si.
Olho ao redor e constato a calmaria desse lugar. Não há ninguém, K não está aqui, então com certeza a voz não foi real. Aquela voz não era real. Era um sonho.
Ah, eu estava sonhando! Entendi agora.
Levo a mão direita ao coração e sorrio. Esse sonho realmente mexeu comigo. Aquela voz era tão doce, tão gentil! Era a voz de uma mulher, e ela me causava alguma sensação diferente, me trazia uma esperança. Lembro que ela falou alguma coisa sobre um deus. Mas deuses só existem na mitologia, deuses são apenas uma invenção da mente humana.
Argh! Eu não acredito que estou realmente perdendo meu tempo com um sonho sendo que tenho assuntos muito mais sérios pra resolver agora.
Levo as mãos aos bolsos da minha bermuda, mas não consigo achar meu celular. Procuro no sofá e na mesa da cozinha, mas não há nenhum resquício dele por aqui.
Eu não posso acreditar que o Z roubou meu celular. Ele não pode ser tão cara de pau assim. Pode?
Em um ímpeto de coragem ando em direção ao quarto e puxo a maçaneta na intenção de discutir com ele, mas como esperado: está fechada.
— Droga! — Exclamo em voz baixa. Eu sei que meu celular está sem área, mas como eu vou saber as horas? Assim não vou conseguir nem me programar! Preciso contar exatamente o tempo até a provável chegada da neve. Não é seguro acreditar que Z me deixará ficar aqui durante o inverno.
Ando em direção à porta da frente e vejo que a fábrica de cadeados está aberta. O que ele pensa que vai acontecer? Um urso polar vai chegar e tentar abrir essa porcaria de porta?
Bufo e ando até o compartimento na cozinha, onde há uma outra porta, mas também está trancada com uns trezentos cadeados. Ou ele é muito medroso ou esconde algo muito sério aqui.
Uma sobrancelha se ergue quando minha mente brilhante finalmente descobre o mistério. Z é corajoso demais para temer algum animal ou outro perigo da floresta, mas é desconfiado o suficiente para guardar um segredo muito sério nessa casa. E com certeza é no quarto.
Sua desconfiança e síndrome de segurança, se é que isso existe, não o permitiriam deixar-me sozinho nesta casa se eu pudesse descobrir algo. Então anoto mentalmente a primeira pista: seja o que for que eu deva descobrir, está no quarto.
Vamos agora à pergunta que não quer calar: como é que eu vou conseguir entrar nesse bendito quarto? Aproximo meu ouvido da porta e ouço uma coisa assustadora: o silêncio. Argh! Nunca pensei que fosse tão difícil descobrir um segredo.
Decido ir até os únicos armários da casa, na cozinha, mas só encontro grãos, raízes, frutas, verduras e legumes; ouço minha barriga reclamar ao perceber que é apenas isso que vou comer durante esses dias.
De repente penso nos meus amigos que com certeza sentirão a minha falta, e se eles contarem para os meus pais, então, que moram em outra cidade, é capaz até de eles chamarem o FBI para vir atrás de mim. Respiro fundo e assinto a mim mesmo que sou capaz de enfrentar tudo isso pra descobrir quem é realmente esse Z e que perigo ele pode fazer para a K. Eu sei que a conheci agora, mas ela é indefesa demais pra enfrentar o Z. E eu não me importo se eles moram juntos há 157 anos, um bom predador sempre sabe a hora certa de atacar; como vou saber se todo esse tempo ele apenas a enganou para fazer algum mal a ela?
Decido voltar ao quarto deles pronto para dar qualquer desculpa para entrar ou então sair de vez da casa. Assim que me aproximo puxo a maçaneta mais uma vez e desisto, logo começando a bater desesperadamente na porta. Z abre de uma vez com a testa enrugada e aproveito para tentar olhar o que há lá dentro, mas ele sai imediatamente e bate a porta atrás de si.
— Algum problema? — Sua voz soa chateada como se ele realmente estivesse dormindo, o que significa que já tenho mais um ponto garantido.
— A menos que você queira esta casa fedendo, abra a porta. Eu preciso mesmo me retirar.
Ele faz uma careta e diz para que eu o siga, então vai destrancando os cadeados da porta da cozinha. Enquanto isso bate em mim a vontade enorme de correr até o quarto e ver o que ele tanto esconde lá, porém eu perderia qualquer resquício de confiança que eu já tenha conseguido; e ele me expulsaria de casa, isto é, se não me matasse antes. Noto que ele finamente termina o que estava fazendo e coloca as chaves no bolso.
— Quando terminar entre e feche os cadeados novamente. — Fala autoritário e eu apenas assinto com a cabeça e passo pela porta. — E faça o favor de ficar longe o suficiente para ninguém ser prejudicado.
— Pode ficar tranquilo. — Respondo.
Assim que ele encosta a porta começo a andar ao redor da casa tentando descobrir alguma coisa. Qualquer indício, provas ou pistas que me deem direcionamento quanto a ele. Não vejo nada de interessante nas redondezas, portanto decido andar para um pouco mais longe. O sol ainda está forte, me fazendo ter a ideia de que sejam 14 ou 15 horas aproximadamente.
Estou absolutamente calmo até que ouço o barulho de folhas sendo mexidas. Torço para que seja algum esquilo ou coelho, mas é um som muito compassado para que sejam de um animal tão rápido e assustado. Paro de andar para verificar se são os meus próprios pés que estão fazendo esse barulho, mas não são.
Sinto meus pelos se eriçarem e um medo muito forte toma conta de mim. Minhas mãos tremem e eu olho assustado para todos os lados. O que mais me assusta não é pensar que há alguém por aqui, o que me assusta é olhar e ver que realmente não há ninguém e nenhum animal por aqui. Minha mente vaga para a existência de almas e espíritos porque os meus pelos continuam eriçados e estou cada vez com mais medo, e mais medo, e mais medo...
Inconscientemente me pego pedindo ajuda a Deus. Não ao Deus que todo mundo fala por aí, que é o possível criador de tudo, mas a qualquer divindade que possa me proteger agora.
— Ore. — Meu coração acelera ainda mais ao, de repente, ouvir essa voz. Eu não consigo dizer uma só palavra e o medo é maior ainda porque eu não sei de onde ela vem. Não há um ser vivente aqui a não ser eu, mas a voz é tão clara e audível como se estivesse atrás de mim, exatamente por isso eu não consigo virar para verificar quem está atrás de mim e acabou de me dizer isso. Estou sem saída e sem nenhuma ajuda possível. Todas as minhas forças vão embora e eu só consigo pensar uma coisa.
Deus, se você existe mesmo por favor me ajude.
— Ore. — A voz repete atrás de mim e por um momento eu penso que seja Deus, mas repreendo a mim mesmo. Onde estou com a cabeça?! Deus não existe!
Olho ao redor e vejo rápidas sombras pretas passarem entre as árvores. Congelo. Que lugar é esse, meu Deus?! Inconscientemente todos os pensamentos que tenho agora me levam a Deus.
— Você não consegue obedecer a Deus. — Ouço uma outra voz, mas essa é estranha. É rouca, dura, ríspida: amedrontadora.
— Você é orgulhoso, covarde.
— Nós vamos te matar. — As vozes começam a falar ao mesmo tempo e o barulho se torna algo infernal, muito pior do que qualquer outro som que já ouvi na minha vida. Olho para as sobras negras e elas se movem rapidamente, até que começam a vim em direção a mim com uma velocidade incrível enquanto gritam coisas terríveis.
Não consigo mais distinguir suas palavras, são muitas ao mesmo tempo. Até que entre todo esse som ensurdecedor ouço aquela voz tão calmade antes.
— Ore. —Ele fala pela última vez, quando as sombras estão tão perto de mim que posso até tocá-las. Preciso fechar os olhos ao perceber que essa é mesmo a única esperança que tenho agora: orar. Respiro fundo enquanto sinto mãos me tocarem e finalmente grito com todas as minhas forças.
— Deus, me ajuda! — Me jogo de joelhos no chão e cubro meu rosto com os braços. Não aguento, começo a chorar. — Eu confio em ti, confio, confio. Me ajuda, por favor, me ajuda. Eu não posso ficar sozinho, fica comigo! — Grito mais alto e as lágrimas descem descontroladamente. — Socorro, você é o único que pode me ajudar! Eu sei que não mereço, nunca acreditei em ti; mas se o Senhor é real mesmo só te peço que me proteja, por favor.
— Eu só queria ouvir isso. — A voz calma fala e eu finalmente percebo que é Deus. Ouço gritos ao meu redor, mas eles ficam cada vez mais distantes e menos audíveis, e não sinto mais seus toques quentes. Eu finalmente assumo a mim mesmo que aquele Deus que eu já até xinguei realmente existe, e sei disso não porque alguém me informou, mas porque ouvi sua voz; ele não é uma ilusão, nem uma fantasia, ele é real. Real! Real! Deus é real! Deus existe, e eu o conheci!
Esses pensamentos que antes eram um absurdo para mim agora fazem tanto sentido quanto os ossos que estão em meu corpo. Começo a rir e por um momento esqueço que estava sendo atormentado por todas aquelas sombras.
É incrível o fato de eu estar com os olhos fechados e enxergar. Isso nunca aconteceu comigo. Estou realmente com os olhos fechados, mas vejo que estou em um quarto totalmente branco, deitado em uma cama, e há um homem ao meu lado. Ele segura minha mão e ri para mim de uma maneira tão calma que mais parece um pai; seu riso é tão contagiante que eu só consigo fazer uma coisa: rir de volta.
Crio coragem então para abrir os olhos e constato que realmente estou na floresta, mas está tudo calmo. Eu estou calmo. Olho ao redor e não há mais sombra alguma, até o medo foi embora. Respiro fundo e levanto, enxugando minhas lágrimas. Enquanto caminho para casa sinto um conforto tão grande e uma calmaria tão profunda que me faz relaxar.
Diante de tudo o que aconteceu agora eu seria louco se não me arrependesse por tudo que já falei de errado para Deus. Franzo as sobrancelhas sentindo minha própria consciência pesar sobre mim e acabo falando em voz alta, porque não quero mais esconder de ninguém o que sinto, muito menos dele.
— Me desculpa por nunca ter acreditado em você, Deus. Você foi o único que me ajudou nessa hora em que ninguém mais estava ao meu lado. Por favor, nunca mais me deixe sozinho.
Penso que vai ficar por isso mesmo, mas meus pelos novamente se eriçam e ouço o barulho das folhas se mexendo ao meu lado, com uma diferença: agora eu sei quem é.
— Nunca te deixei sozinho, Aisle. Você quem me deixou.
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Oi, oi amores! Tudo bem?
Vim só anunciar a minha nova parceria: a Sofia, do blog Fã Romance. Ela é uma ótima crítica e faz ótimas postagens. Visitem lá e sigam; em breve ela irá postar uma crítica sobre ADI. Pra quem logou pelo PC vou deixar o link aqui em baixo pra vocês pegarem; e pra quem está no app pelo celular vou deixar o link nos comentários, onde vocês podem copiar. Visitem, vocês não vão se arrepender (ainda mais quem escreve ou planeja escrever um livro).
Link: inloveromance.blogspot.com
Se estiverem gostando da leitura comentem aqui, podem colocar críticas construtivas também, irei amar e agradecer de coração a vocês. Continuem acompanhando e divulguem o livro pra quem vocês conhecerem.
Beijoos,
- SophiieM.
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