Hora 14
- Posso te pedir uma coisa? - Pergunto e sinto-o balançar a cabeça, sem me soltar. - Preciso sair daqui. - Peço, então ele se afasta um pouco, segura minha mão e caminha comigo até a porta; sua mão brilhante gira a maçaneta e vejo várias pessoas caminhando pelos corredores, mas nenhuma delas olha em minha direção, o que me deixa mais tranquilo.
Começamos a caminhar em direção a algum lugar, mas quando um homem de verde abre uma porta preta onde está escrito "Acesso restrito" rapidamente vejo uma mulher em pé dentro de um vidro. Meu coração acelera.
Não é uma mulher qualquer.
Ele fecha rapidamente a porta e lanço um olhar suplicante para Deus: ele me entende como mais ninguém.
Sem soltar minha mão Deus abre a porta, e quando o homem de verde me vê se assusta e logo vem em minha direção, empurrando-me.
- Senhor, você não pode entrar, não leu a placa?
- O que estão fazendo com ela?! - Pergunto atônito.
- Por favor, senhor, retire-se ou terei que chamar os policiais. - Ele diz, então sinto a raiva e o nervosismo tomar conta de mim, mas Deus aperta um pouco minha mão e entendo que devo me acalmar.
Deus solta a minha mão e anda em direção ao homem. - Durma. - Ele diz, e vejo o homem cair em seus braços imediatamente, com os olhos fechados. Deus o carrega no colo e o põe sobre uma cadeira, então ele se aproxima de mim e beija minha testa. - Estarei aqui. - Ele fala, logo o brilho de seu corpo se intensifica, fazendo com que meus olhos doam e se fechem.
Quando abro os olhos novamente não o vejo mais. Olho para o homem desmaiado na cadeira e para a garota a poucos metros de distância.
Estarei aqui. Sua voz ecoa em minha mente e um sorriso repentino surge em mim.
Há por volta de cinco computadores no cômodo, todos com demasiados números e informações sobre algo; me aproximo do primeiro e consigo ler algumas coisas, mas não entendo muito bem. Então começo a olhar um por um, e na última tela encontro uma informação que faz meu corpo inteiro congelar.
IGU - 0001: Illicit Guinea pig for Use 0001,
The first successful human cloning for research. By Zion James Bishop, 51, wanted for breaking political, moral and social norms. Dropped cloning Nein Fox Bishop at 3 months of age. Wanted for 19 years by the international police.*
Meu coração dispara ao ler todas essas informações. Um clone?! Eu nem sabia que isso era possível!
Olho para a garota que agora imagino que nem tenha nome e penso na tal Nein, essa sim, deve ser a filha do Z, e deve ser por isso que ele não hesitou em "matar" a clone, afinal, além de não ser sua filha real, já era uma experiência descartada, devia servir "apenas para ocupar espaço".
Respiro fundo, pisco os olhos e volto a encarar a garota. (Preciso criar um nome pra ela, deve ser chato ser conhecido como "a pessoa", "o alguém", nossa, como se fosse um zero à esquerda).
Ando até o vidro e constato que não há nenhuma chave ou cadeado para mantê-lo fechado, mas existe uma espécie de ímã que mantém a porta firme e fixa, e mesmo quando a puxo com força continua presa ao resto do aparelho.
Ando pela sala procurando por algum botão que possa abri-lo, mas não encontro nada que indique essa informação. É então que me surge a brilhante ideia de procurar algum objeto que poderia ser utilizado pelo homem de verde para tal fim. Caminho até ele e procuro entre suas mãos e na sua camisa, mas é quando quando ponho as mãos dentro de um dos bolsos da sua calça que sinto uma espécie de cartão.
Sua cor é preta e possui apenas algumas linhas verdes centralizadas que provavelmente são para decodificar uma senha. Levo-o até o vidro e finalmente acho, na parte inferior, um quadrado preto que emana uma luz verde a laser. Aproximo o cartão e um pequeno barulho acompanha a abertura da porta de vidro.
Puxo-a até que eu possa ter acesso ao corpo da Nein 2: ela está segura em pé por vários suportes de ferro, que com certeza também servem para estudar seu corpo. Subo na plataforma de vidro e me aproximo. Que linda!
Nein 2 chega a ser quase perfeita de tanta beleza: lábios bem contornados, rosto fino, nariz fino, magra, com pei... Concentra, Alli, concentra!
Aperto um botão minúsculo que encontrei nas barras de ferro para abrirem as algemas que prendem seus pés e mãos e a pego por debaixo dos braços com muito cuidado. Ela é magra e pequena, e isso a deixa tão absolutamente vulnerável que me faz pensar que qualquer movimento errôneo que eu fizer poderá machucá-la.
Ponho-a no chão e visto-a com um jaleco branco que estava pendurado em uma cadeira giratória, porque vê-la apenas de peças íntimas é muito descaso para um rapaz tão cavalheiro e educado como eu.
Toco seu rosto delicadamente. - Ei! - Chamo, mas creio que ela não deve estar me ouvindo. - Nein 2? - Aperto seu ombro, mas nenhuma reação. Com certeza ela foi sedada para que a prendessem daquela maneira. Ela nunca aceitaria isso, só queria ser livre!
Deixo-a deitada no chão e ponho minha mente para trabalhar. Como nós vamos sair daqui sem que ninguém perceba?
É então que me vem à mente a ideia mais clichê do mundo, mas a única que me parece ter chances de dar certo nesse momento.
Começo a despir a mim e ao possível médico ou enfermeiro. Visto suas roupas em mim e o deixo no chão assim como Nein 2; apenas jogo minha roupa suja por cima dele: não tenho tempo de vestir homens inconscientes agora. Caminho em direção à porta, respiro fundo e abro-a, tentando manter a calma. Vai dar tudo certo, tudo certo! Ele está comigo nessa!
Ando pelo hospital à procura de uma maca, até que a uns dois corredores de distância encontro uma vazia. Graças a Deus!
Caminho de volta levando-a até o quarto e por incrível que pareça ninguém desconfia de mim. Encontro os dois da mesma maneira que os deixei, então pego Nein 2 em meus braços e a coloco sobre a maca, cobrindo-a com um lençol branco que achei dentro de um dos armários desse cômodo.
Abro a porta novamente e começo meu mais novo desafio: conseguir sair deste hospital sem que ninguém me impeça; o que, sem dúvidas, não é muito difícil, porque avisto no final desse mesmo corredor uma porta vermelha grande onde se lê "Saída de Emergência". Basta abri-la e já não estarei mais no hospital.
Dou um sorriso. Caramba, nunca passei por isso em toda a minha vida!
Me deparo com uma rua sem saída e deserta, então tiro Nein 2 da maca e caminho até a avenida. Minha intenção é que consiga carona - e não um escândalo - com alguém. Assim que apareço na avenida vejo que está muito movimentada, mas não terei muito trabalho, pois consigo avistar um posto de táxi não muito distante.
Corro até lá tentando controlar minha respiração - e meu medo de machucar Nein 2 - e pensando em uma desculpa.
Assim que entro no cubículo amarelo com um banco de madeira e uma televisão pequena que eles chamam de sala, me deparo com um grupo de três homens velhos.
- Licença, senhores, estou precisando de ajuda!
- O que aconteceu, filho? - Um deles pergunta, preocupado, ao olhar para a menina.
- Minha irmã estava passando mal, então a levei ao hospital e deram uma injeção nela, mas ela acabou desmaiando. Estou muito longe de casa e não tenho mais dinheiro, mas preciso leva-la, nossa mãe deve estar muito preocupada. - Digo e eles me encaram por um momento.
- Mas você não é enfermeiro? - Outro pergunta.
- Bom, é... Na verdade não, eu... Ajudo na limpeza mas eles já me liberaram para ir com ela pra casa. Por favor, me ajudem!
- Tudo bem, fique calmo. Onde você mora? - Droga, agora ele me pegou de jeito; não sei nem o lugar onde estamos, e também não posso voltar com ela para a casa do Zion. O que eu faço?!
Poderia chamar os policiais para me ajudarem, mas eles não permitiriam que ela fosse comigo para onde o Z, ou melhor, eles nem deixariam que eu fosse.
- Podem me deixar na entrada de Hairwels? - Falo, me referindo ao local onde iniciei minha trilha.
Eles se entreolham.
- Hairwels, a floresta?! - Um dos velhos pergunta, se aproxima de mim e passa a mão no rosto da Nein 2, fazendo com que uma raiva repentina dele surja. Dou um passo para trás imediatamente.
- Sim. - Confirmo, encarando-o com um olhar mortal, mas ele simplesmente ignora.
- Está falando sério? - O outro pergunta como se eu estivesse brincando e dá uma risada fraca ao perceber a cena que ouve há poucos segundos.
- Claro que sim, por quê?
Eles riem. - Hairwels é proibida há anos desde que turistas e aventureiros desapareciam frequentemente ao passar por lá, não é possível que você more naquele local. - Essa notícia me causa impacto instantâneo. Como eu não me informei de que aquela trilha era proibida?!
Se eu soubesse dessa informação estaria livre de toda essa confusão com Zion, K, polícia, Nein's, médicos, estudos, clones... Nossa!
Olho para Nein 2.
Mas talvez...
Linda e inocente, doce e indefesa. Inteligente, porém prisioneira. Como K. Mas vou acabar com isso.
Talvez foi algo bom. Talvez...
A encaro. A admiro.
Talvez foi a melhor trilha que já fiz na vida!
- Não. - Rio desconfiado. - Não moro lá, quero dizer, na floresta; nosso pai pediu para que déssemos um jeito de ir para lá e ele nos buscaria.
- Tudo bem, jovem, venha comigo. - Um deles fala e se dirige a um carro vazio.
Entro cuidadosamente na parte traseira do carro, coloco sentada a Nein 2, ponho o sinto nela e apoio sua cabeça em meu ombro, segurando seu rosto com uma das mãos para que não se machuque. Logo ele dá a partida no carro.
- Muito obrigada por estar fazendo isso, senhor, que Deus lhe recompense!
- Amém! - Ele diz. Depois de uns minutos move o retrovisor central e olha para nós dois. - Sua irmã é muito bonita, rapaz! Não sente ciúmes? - Pergunta com um sorriso.
Penso um pouco. Lembro do outro taxista. - Sinto. Muito.
* IGU - 0001: Cobaia ilícita para uso 0001.
A primeira clonagem humana bem sucedida para estudos. Por Zion James Bishop, 51 anos, procurado por quebra de normas políticas, morais e sociais. Clonagem descartada de Nein Fox Bishop aos 3 meses de idade. Procurados há 19 anos pela polícia internacional.
Bạn đang đọc truyện trên: Truyen247.Pro