Chào các bạn! Vì nhiều lý do từ nay Truyen2U chính thức đổi tên là Truyen247.Pro. Mong các bạn tiếp tục ủng hộ truy cập tên miền mới này nhé! Mãi yêu... ♥

8. Quatro anos.




Depois de chegar em casa e tomar um banho, ainda com meus pés doloridos dos patins, lá estava eu: batendo à porta de Enzo. Por mais que eu dissesse a mim mesma que seria estranho, que seria incômodo, eu não consegui evitar.

Ele abriu a porta com um sorriso no rosto.

- Que bom que você veio! - ele exclamou - Entre.

- Sua casa realmente cheira a bolo - eu disse, rindo

Eu reparei discretamente na sala de estar. Apesar dessa casa ser bem menor do que a na qual eu estava morando agora, eu podia ver que ele manteve o mesmo estilo. A maior parte dos móveis era de madeira escura e a parede num tom cinza não tão claro. Havia quadros abstratos na parede em tons terrosos e algumas fotografias. Pareceria um chalé se as paredes também fossem de madeira.

- Eu vou buscar um para você - ele falou

- Não precisa, você já me deu um hoje.

- Mas esse é de outro sabor, oras!

Ele riu e eu concordei. Segui seu caminho, chegando à cozinha e me encostando na porta, sem entrar. A cozinha era diferente do resto da sala. O cromado dos fornos e instrumentos culinários dominava o ambiente.

- Uau, quer dizer que você tem uma cozinha industrial aqui? - falei, impressionada

- Não chega nem perto de ser industrial, mas eu não conseguiria atender à demanda com fornos convencionais.

Ele colocou uma luva de silicone e abriu a porta de um dos fornos, tirando de lá uma travessa de bolinhos. O cheiro se espalhou pelo ambiente e eu podia ver o vapor saindo dos bolinhos. Ele retirou um de dentro das cavidades específicas da travessa e colocou em um prato. Pegou uma faca e o cortou ao meio.

- Venha ver mais de perto - ele falou a mim

Eu fiquei ao seu lado e vi o chocolate de dentro da massa escorregar pelo prato. Aquilo parecia delicioso. Eu olhei para sua face, vendo seus olhos brilharem. Ele parecia completamente apaixonado.

- Isso está perfeito, Enzo. Você tem muito talento - eu falei

- Isso na verdade é de família. Meu avô, um italiano daqueles bem presos à cultura, era um dos melhores pizzaiolos da cidade.

- E você não quis ser pizzaiolo também?

- Eu comi tanta pizza quando criança que me enjoei. Até hoje não consigo comer mais que dois pedaços. Mas os doces sempre foram minha paixão.

Eu sorri, vendo-o olhar o chocolate escorrendo com um brilho diferente nos olhos.

- Bom, não vamos ficar na cozinha. Se quiser ir para a sala enquanto eu termino aqui... - ele falou e eu aceitei

Passei ao lado escada, voltando à sala. Comecei a reparar nas fotografias na parede. Em uma das fotos, tirada em uma cachoeira, eu finalmente pude saber como era Catherine. Ela tinha cabelos pretos bem escuros na altura do ombro. Não eram completamente lisos e isso a deixava mais jovem. Tinha olhos verdes, pelo menos parecia na foto. Seu rosto era redondo e corado e ela não era magra, seu corpo tinha volume e se encaixava bem com sua face. Ela era linda. E ele também era, com o rosto mais feliz, os olhos menos abatidos. Eu senti meu coração pesar ao vê-los.

- Pronto, espero que goste - ele disse, trazendo dois pratos

- Tem alguém nesse mundo que não goste de petit gateau? Se existir, deve estar no hospício - eu disse a ele, rindo

- Bon appetit! - ele exclamou em francês, me dando uma colher

Saboreei o primeiro pedaço, me sentando no sofá.

- Como você consegue ser tão bom assim?

Ele me encarou, suspeito.

- Eu estou falando da sobremesa, só para deixar claro - me expliquei

- Eu sei, só estava brincando - ele riu - Eu não sei explicar como consigo ser bom nisso. Tente você me explicar como você é tão boa com fotografia.

- Enzo - foi tudo o que falei, repreendendo-o

- Tudo bem, já entendi que você não gosta de elogios, mas não entendo por quê! Mas, me diga, como foi o resto do dia no restaurante?

- Deu tudo certo. Mas foi apenas o primeiro dia, muita coisa pode dar errado ainda. Ah, obrigada mesmo por ter feito aquilo pela Karina, salvou o emprego dela.

- Não há de quê, afinal não concordo com o jeito que tratam vocês naquele restaurante.

- Karina ficou realmente agradecida. Ela falou que até está pensando em te chamar para sair! - disse, de brincadeira

Ele gargalhou, jogando o pescoço para trás.

- Já te disse que ela deixou o número dela em um papel quando eu pedi a conta?

- Sim! - eu ri - Ela realmente me envergonha.

- Diga a ela que ela parece ser uma ótima pessoa, mas... Eu não sei se estou pronto.

De repente a conversa mudou de humor.

- Ela não faz essas coisas a sério, não se preocupe.

- Ah, é que... Eu não namorei ou fiquei ou me envolvi com mais ninguém desde Catherine.

Eu fiquei calada, vendo-o olhar para o prato e mexer no sorvete com a colher. Parecia que ele estava confessando isso a mim.

- Eu entendo. Deve ser difícil - o que mais eu tinha para falar que não fossem frases feitas?

- Você provavelmente viu as fotos, não é? - seu olhar se virou à parede - Eu não consigo nem tirá-las daqui. Eu não sei viver um dia sem olhar essas fotos e sentir saudade.

- Vocês faziam um casal muito bonito - comentei

Eu gostava de quando ele se abria assim comigo, por mais que aos poucos e por mais que minhas palavras e frases feitas de consolo fossem pobres.

- Nós construímos essa casa aqui para alugar, para nos dar uma renda extra, já que estávamos terminando de construir nossa casa. Tivemos a ideia de comprar o terreno ao lado, construir essa casa e fazer uma piscina bem no meio do quintal. Só que, quando terminamos, todo o caos aconteceu e de repente eu me vi sem ela e com duas casas e uma piscina.

- É bom finalmente saber por que a piscina foi cortada ao meio - tentei fazer um comentário engraçado para levantar seu humor

Ele olhou para a parede das fotos de novo.

- Você devia emoldurar suas fotos e olhar para elas todos os dias. Talvez assim você se convença de que é realmente boa, porque você é.

Eu me encolhi no sofá, sem nada para dizer. Terminamos nosso petit gateau e eu voltei para a minha casa, pois já estava tarde. Só que, antes de dormir, todas suas palavras e gestos se repetiam em minha mente.


Nada de interessante realmente aconteceu depois disso. Eu tentava manter a minha concentração praticamente todo o dia. De manhã, na faculdade, para não dormir. De tarde até anoitecer, na lanchonete, para não cair com os patins. De noite, em casa, para conseguir estudar e ainda ter um tempo para mim. Meus pais estavam planejando me visitar em breve. A distância entre nós era grande e eu sabia que uma viagem longa na idade deles era algo cansativo. Eu estava apreensiva. Até quando eu conseguiria guardar o segredo de por que comprei essa casa deles?

Mais uma semana havia se passado e o barulho da contagem regressiva para que eu finalmente contasse a eles o meu plano ficava cada vez mais alto. Mas o domingo chegou, o dia mais esperado: meu dia de folga. E, com o domingo, veio um tempo aberto, um sol escaldante e um céu azul. Era só uma amostra grátis do verão que teríamos aquele ano. Eu resolvi usar a piscina, desta vez sem ser para provocar ninguém.

Estava deitada no piso que contornava a piscina, tentando pegar uma cor. Tudo bem, eu mal gostava de ficar com marca de biquíni, mas não havia nenhuma sombra por perto. Virei minha cabeça para o outro lado e reparei que Enzo estava se afastando, como se tivesse se arrependido de ir à piscina.

- Ei, vizinho! - eu falei

Ele se virou e acenou.

- Desistiu de entrar? Por favor, a sua metade ainda é sua.

- É que... - ele hesitou - Esqueci o filtro solar.

- Pode usar o meu - eu falei, me sentando - Afinal compartilhar as coisas já é rotina para gente.

Ele riu do meu comentário e veio até mim, pegando o filtro solar de minhas mãos. Eu mergulhei na piscina, mas ele continuava calado, passando o filtro solar.

- O que aconteceu? - perguntei

- Nada. Não foi nada - foi tudo o que ele respondeu antes de também mergulhar

Nossa estadia na piscina estava se resumindo a conversas bobas sobre o tempo e o trabalho. Eu estava incomodada porque ele parecia incomodado.

- Muita gente desistiu de comprar a casa por causa dessa divisão? - eu perguntei, de repente, mudando de assunto

Ele não esperava minha pergunta, mas me respondeu.

- Muita gente. E isso me fez abaixar o valor cada vez mais. É estranho como as pessoas preferem pagar por uma casa mais cara do que compartilhar a piscina. Acho que, até se tivesse um muro que passasse aqui em cima, as pessoas não comprariam porque a água é compartilhada. E olha que eu estou sempre cuidando dessa água.

Ele tinha razão, a piscina estava sempre impecável. Agradeci, pois não sei se teria a mesma paciência.

- Mas teve gente que comprou e depois desistiu? - voltei a perguntar

- Sim. Claro que isso foi depois que pedi para a imobiliária não falar mais sobre a divisão.

- Espera! Você é quem decidiu por esconder essa informação dos possíveis compradores?

- Sim! Se não eu não venderia isso nunca.

Eu abri minha boca em protesto.

- Fala sério, Montreal! Você não ia ficar receosa em comprar se soubesse?

- Talvez eu comprasse.

- Você não me convence depois da cena que fez pensando que eu era um intruso.

- Era exatamente porque eu não sabia! Eu pensei que você fosse um ladrão!

Naquele momento, lembrei de quando fui visitar a casa e discutir preços. O proprietário havia feito "um preço especial" para mim.

- Você fez um preço especial para mim - eu sussurrei a mim mesma

- O quê?

- Você estava espiando e vendo quem estava visitando a casa quando a corretora te ligou, não é? Por isso você fez outra proposta!

- Eu não vou mentir. Eu te vi e queria que você viesse morar aqui. Eu queria vender a casa, ué. E também estava curioso sobre por que alguém como você resolveu comprar uma casa desse tamanho, sozinha. Afinal, por que você decidiu comprar uma casa?

- Inacreditável! - eu falei - Eu achando que eu havia escolhido uma casa, mas na verdade fui escolhida? Você tem noção do quão assustador é isso? Você me espionou, você me induziu a comprar essa casa com seu preço especial.

- Ei, espera aí. Foi você que concordou e fechou contrato. Eu não daria a casa de graça para ninguém, mas decidi oferecer um preço abaixo do que eu pedia para ver se finalmente vendia.

Aquela história me deixou completamente irritada e eu mal sabia ao certo a razão. Talvez me senti invadida por ter sido observada antes mesmo de comprar a casa. Talvez porque ele falou que queria que eu morasse ali, igual a Daniel. Talvez porque ele me perguntara sobre os motivos deu ter comprado uma casa e agora eu queria desviar o assunto para não ter que responder. Eu coloquei meus braços à borda, pronta para sair dali.

- Por favor, não vá embora. Eu prometo que fico calado - ele disse e aquilo me intrigou - A única coisa que eu não quero agora é ficar sozinho.

Eu voltei meus braços para dentro d'água e o encontrei olhando tristonho para baixo enquanto mexia na água.

- O que está acontecendo, Enzo? Sei que não te conheço tão bem assim, mas você nunca agiu desse jeito nessas últimas semanas. Tão... pra baixo.

Ele voltou seus olhos a mim. Ele estava prestes a chorar?

- Hoje completam quatro anos.

Ele não precisou falar mais nada. Eu logo entendi todo o seu comportamento hoje por aquela simples frase. Faziam exatos quatro anos que Catherine tinha morrido.

- Eu... Sinto muito. Eu não sabia.

- Eu sei que você não sabia, não se preocupe.

Eu não sabia é mais o que dizer depois daquilo.

- Eu só preciso de algo para me distrair, que me impeça de pensar nisso, especialmente hoje.

- O que você sempre quis fazer e nunca fez? - perguntei

- Como? - ele falou, sem entender

- Vamos! Diga algo que você sempre quis fazer, mas nunca fez!

- Tudo bem... - ele pensou - Pular de para-quedas.

- Algo menos perigoso, por favor.

- Bungee jumping? Pilotar um helicóptero?

- Enzo - o repreendi

- Comida japonesa. Nunca comi comida japonesa.

- Nunca?

- Eu sempre tenho vontade, mas me sinto um paspalho porque não sei o que pedir. Todos aqueles nomes e ingredientes complicados me assustam.

Eu ri, achando aquilo inusitado. Um confeiteiro neto de pizzaiolo que nunca comeu comida japonesa.

- Vá pensando em mais. Eu vou tomar um banho e te espero aqui. Nós vamos sair.

Ele riu, mas não discordou.


- Mais uma coisa que eu nunca fiz - ele falou quando paramos em um semáforo vermelho

- O quê? Parar no sinal vermelho? Você sabia que é proibido não parar? - eu falei rindo

- Claro que não, engraçadinha. Quis dizer estar no banco do carona enquanto uma mulher dirige.

- Nem mesmo sua mãe?

- Tudo bem, tirando minha mãe - ele riu

Eu ia perguntar se nem mesmo com Catherine, se ela não dirigia ou algo do tipo. Mas depois lembrei que o sentido disso tudo era fazê-lo esquecer que ele a perdeu há quatro anos e deixei a pergunta de lado.

- Vamos riscar isso da lista então, seu machista - ele virou os olhos - O que mais você nunca fez? - falei enquanto acelerava, já que o sinal abrira

- Sabe aquela loja caríssima de ternos perto da prefeitura?

- Sei, a que cheira a perfume francês só de você passar em frente.

- Essa mesma. Sempre tive vontade de entrar, mas nunca tive a coragem porque eu não tenho dinheiro para comprar nem uma gravata daquele lugar.

- Então hoje vai ser o dia em que vamos ignorar os vendedores arrogantes! Logo após te fazer comer sushi.

Ele riu mais uma vez, me fazendo rir também. Era um dia incomum e eu estava adorando. Qualquer dia compartilhado com alguém por opção própria era um dia incomum para mim. Isto é, qualquer dia que não consistia em ficar sozinha em casa ocupando meu tempo.

Saindo do restaurante japonês, ele parecia ainda um pouco preocupado.

- Aconteceu alguma coisa? - perguntei

- Não, só não achava que ia gostar tanto de arroz e peixe cru.

- É bom, não é?

- Eu não sabia o que estava perdendo. Ei!

- O que foi? - perguntei quando ele parou de andar e apontou para algum lugar do outro lado da rua

- Um fliperama!

- No que você está pensando? - eu o olhei de lado, já sabendo a resposta

- Venha!

Ele me puxou pelas mãos para dentro do lugar e entramos naquele ambiente.

- Vai dizer que você nunca foi a um fliperama?

- Claro que já, mas eu nunca brinquei naquilo ali.

Minha visão seguiu o que o seu dedo apontou. Eu rolei os olhos.

- Eu sabia que ia sobrar pra mim - falei e ele gargalhou

Compramos uma ficha e eu subi uma escadinha do lado do brinquedo, me sentando na cadeira acima da enorme piscina de bolinhas. Ele estava à minha frente, com outra bolinha menor, prestes a acertar o alvo. Para a minha alegria, ele havia errado a primeira bola que tinha.

- Isso é tudo o que consegue fazer? - eu o provoquei

Ele jogou a segunda bolinha com mais força, mas não acertou o centro do alvo.

- Última chance! - eu disse, confiante - Não acredito que você é tão - e nesse momento, antes de completar a frase com "ruim assim", eu caí naquele mar de esferas plásticas coloridas

- Você ainda me paga por isso - eu sussurrei, mas ele gargalhou, me ajudando a sair

- Podia ser pior, podia ser água, ou gelatina.

- Você acha que eu aceitaria cair em uma piscina de gelatina para o seu divertimento? Nunca!

- Vamos, já riscamos isso da lista! - ele passou as mãos pelos meus ombros de leve, mas logo as retirou dali

- Você acha que vamos embora antes de eu te fazer cair na piscina de bolinhas também? Está muito enganado.

Ele reclamou. No meu caso, ele desabou em encontro às bolinhas coloridas na minha primeira tentativa de acertar o alvo.


Fomos a pé até a loja chique do lado da prefeitura. O perfume já estava me enjoando e nós ainda nem havíamos entrado.

- Pronto para isso? - falei

- Sim!

Entramos e já encaramos os olhares esnobes do vendedor que nos atendeu com má-vontade. Seguramos nosso riso.

- Posso ajudar? - o vendedor disse, nos analisando do pé à cabeça

- Sim! Qual o melhor terno desse lugar? - Enzo perguntou

O vendedor, com muita má vontade, nos levou até uma arara de ternos pretos de grife.

- Vou experimentar esse, esse, esse e esse aqui - Enzo disse, apontando

O vendedor nos olhou desconfiado, mas não se negou a fazer.

Eu sentei nas poltronas perto do provador e aproveitei para pegar uns biscoitinhos de leite que estavam à disposição do cliente na mesa ao lado. Queria dizer que fui educada e peguei apenas um, mas não era nosso intuito ali. Então, enchi minhas mãos deles enquanto o vendedor usava uma fita métrica em Enzo para saber seu tamanho.

- Eu já volto - o vendedor se retirou, nos olhando de lado

Nós caímos na risada depois disso.

- Ei, isso aí é bom? - Enzo perguntou, se referindo aos biscoitos

- O que importa? São de graça! - eu falei com a boca cheia, tirando uma gargalhada alta dele

O vendedor voltou e se segurou para não falar nada sobre nós devorando os biscoitos. Se estava ali, era para ser comido, certo?

Enzo entrou em um dos provadores e eu fiquei esperando. Estava distraída, olhando o interior daquela loja, e nem percebi quando ele saiu. Apenas me virei quando o ouvi pedir sua opinião.

- Como estou? - ele disse, dando uma volta

Se eu tivesse sido sincera, iria falar que eu nunca vi um homem tão elegante e bem apresentado em toda a minha vida. Meus olhos simplesmente não conseguiam largar a sua imagem à minha frente. Eu quase engasguei com os biscoitos de nata.

- Está ótimo! - foi tudo o que eu consegui falar - James Bond deve estar se remoendo de inveja agora!

- É incrível como isso te dá um poder - ele falou, se olhando no espelho

Ele estava incrível. O colarinho estava ajustado, assim como as mangas. A camisa por baixo era branca e usava uma gravata azul com pequenos detalhes em cinza. Eu mal conseguia achar adjetivos. Era tão diferente vê-lo assim. Ele entrou de novo no provador e saiu de lá vestindo suas antigas roupas.

- Eu vou levar - ele disse ao vendedor - Mande embrulhar.

O vendedor, apesar de tudo, atendeu seu pedido. Eu o olhei sem entender.

- Anda, vamos embora, rápido! - ele sussurrou, me puxando para fora dali assim que o vendedor saiu carregando o terno para colocar em alguma embalagem

Nós corremos até a porta principal e não paramos de correr até termos virado a esquina da rua.

- Ótima estratégia - eu falei, ofegante de tanto correr

- Aquele terno ficou ótimo em mim, mas não vale o que custava.

- Você viu o preço? - perguntei

- Daria para ir em Paris sentir aquele perfume de novo e voltar.

- Imagina a cara do vendedor quando voltar - eu comentei e nós rimos

- Aonde vamos agora?

- Você me diga!

- Podemos ir àquela paisagem da sua foto? Eu realmente queria ver onde é.

- Seu pedido é uma ordem.

Voltamos ao carro e eu dirigi até lá. Ele se debruçou sobre a grade que o prevenia de cair dentro do rio.

- Como eu nunca havia notado isso?

- Eu me perguntei a mesma coisa.

Estava entardecendo e o sol fazia com que as flores das arvores às margens do rio adquirissem um tom mais amarelado. A água começou a brilhar e refletir mais o céu.

Eu levei minhas mãos à bolsa, tirando minha câmera ali de dentro e me posicionando para tirar uma foto dele, de costas. Ao ouvir o barulho do obturador, ele riu.

- Eu não sou um bom modelo, mas eu estou curioso para ver essa foto.

- Você realmente acha que eu sou boa?

- Eu acho que você devia é mostrar ao mundo o quanto é boa.

Eu sorri, encabulada. Ele suspirou, olhando a paisagem mais uma vez, perdido em sentimentos que eu podia imaginar quais eram.

Quando já estávamos de volta à nossa vizinhança, parei com o carro em minha garagem, só que não saímos do veículo.

- Eu mal sei como te agradecer - ele disse

- Não foi um favor. Foi divertido para mim também.

- Mas, para mim, foi o melhor dia que eu tive em quatro anos. Obrigado.

Suas mãos encontraram as minhas num gesto carinhoso. Todavia, durou pouco demais.

Ele sorriu, tirando o cinto e saindo do carro. Eu continuei lá dentro, parada, pensando em tudo e querendo não estar sentindo tanto a diferença que seu toque fez em minha pele. Somente saí do carro quando lembrei que meu uniforme estava na máquina de levar e precisava secar. Como havia esquecido de colocá-lo no varal enquanto estava sol, já que passara o dia inteiro fora, pensei em secá-lo com o conhecido truque de pendurar atrás da geladeira.

Arrastei a geladeira, tentando fazer espaço para que eu pendurasse o uniforme azul bebê ali. Ao arrastar, vi um pequeno papel entre a parede e o armário da cozinha. Arrastei mais a geladeira e meu braço alcançou o papel. "Saí, mas volto já", escrito com caneta azul e acompanhado de um pequeno coração desenhado. Foi o que eu li naquele papel. Eu logo imaginei de quem era. E pensei que não devesse mostrá-lo a Enzo, pelo menos não hoje. Seria um desperdício ter passado o dia inteiro tentando destraí-lo e depois entregar esse pequeno bilhete e fazê-lo lembrar de tudo.

Naquela noite, eu não consegui dormir. Minha mente planejou várias coisas e, no meio da madrugada, eu senti uma auto confiança nunca antes experimentada. E eu mal podia esperar para a manhã chegar e colocar o que eu tinha em mente em prática.

Bạn đang đọc truyện trên: Truyen247.Pro