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33. Espera, o que você disse?




- Onde ele está? O que aconteceu? - eu cheguei já um pouco desesperada na delegacia, interrogando a primeira pessoa que encontrei por lá

Eu carregava Isa no colo sem perceber que estava assustando-a. Estar em uma delegacia já não era o melhor lugar para uma criança cheia de traumas, mas estar nesse lugar enquanto eu estava em desespero conseguia ser pior.

- Por quem você está procurando? - uma jovem policial me perguntou, sorrindo para nós

- Enzo. Enzo Scopelli - eu disse - Ele me ligou, falou que está aqui, o que ele fez, por que ele ainda está aqui? - eu embolava as palavras

- Eu vou ver onde ele está. Sei que você não vai ficar tranquila até vê-lo, mas a melhor coisa a se fazer agora é manter a calma - ela falou, olhando para Isa

Percebi que ela estava assustada em meus braços.

- Eu vou ver se você pode vê-lo. Se quiser se sentar... - ela falou novamente em um sorriso
Sua expressão me acalmou um pouco. E eu percebi que tinha que manter o equilíbrio por causa de Isa. Acabei me sentando nas cadeiras vazias da entrada. Não havia ninguém ali a não ser nós duas.

Respirei fundo, tentando não pensar em coisas ruins.

- Papai tá bem? - a menina me perguntou do meu colo olhando para cima

- Tenho certeza que sim. Já já vamos ver ele e voltamos para casa, ok? - eu não pareci muito convincente, mas ela não perguntou mais nada

Meu coração batia cada vez mais angustiado a cada segundo de espera. Já havia lido todos os cartazes e avisos pregados na parede. Eu não sabia direito o que esperar. Enzo não havia me dito o motivo, apenas que era para eu não me preocupar. Como? Como ele queria que eu não me preocupasse? E se ele estivesse sido interrogado pelo acidente da piscina? E nossa adoção? Eu imaginei todos os piores cenários dentro de minha mente.

- Você pode vê-lo se quiser - a mesma policial falou ao aparecer no balcão de atendimento novamente

Eu levantei, levando Isa, sem saber o que dizer a ela.

- Se quiser, pode deixar ela aqui comigo. Tenho caneta e papel de sobra, acho que a conversa vai ser mais adulta - ela sugeriu

- Claro, claro - eu concordei sem pensar muito - Perdão, mas qual o seu nome?

- Claire - ela falou no sorriso de sempre

- Montreal - me apresentei - Isadora, você fica com a Claire por um minuto enquanto eu falo com o papai?

A menina virou para mim e parecia querer dizer que não, que queria ir comigo, mas não tinha coragem de falar em voz alta.

- Eu devo ter umas balas aqui também se te interessar - a policial comentou

- Fica um pouquinho, amor. Eu juro que já volto. Qualquer coisa você grita, aqui tá cheio de policial para te proteger - sorri, e ela pareceu se convencer

Outro policial se encarregou de me levar mais a fundo na delegacia. Meu peito estava queimando de nervosismo: em primeiro lugar para saber o que havia acontecido, e em segundo lugar por ter deixado Isa com um estranho.

Encontrei Enzo sentado em uma cadeira, a cabeça encostada na parede atrás dele, olhando para o teto, perdido em pensamentos. Ele se virou e se assustou ao me ver entrando no cômodo.

- Mon, o que você está fazendo aqui? E a Isa?

- Você me liga dizendo que está na delegacia e quer que eu fique em casa esperando você chegar? - eu me sentei ao lado dele - A Isa está aqui, uma policial está cuidando dela, deve estar desenhando. Mas esse não é o ponto. O que aconteceu, Enzo? Por que você está aqui?

Ele respirou fundo.

- Daniel - soltou, respirando ainda indignado - Apareceu aqui cheio de hematomas e disse que fui eu quem lhe dei um surra. O que fez a polícia ir atrás de mim e me chamar para prestar depoimento.

- O quê? - eu devo ter expressado um pouco alto demais

Enzo apenas voltou seu olhar pro teto, com raiva. Eu sussurrei, desconfiada.

- Você não bateu nele, né?

- Não, Mon. Eu sei que vontade não me falta, mas eu tenho o mínimo de caráter. Eu sei o que isso implicaria no processo de adoção da Isa. Pelo visto, o delinquente também.

- E agora? O que vai acontecer? Até quando você vai ficar aqui? Eles não vão te prender, não é? É absurdo!

- Calma, Mon. Eu já fui basicamente interrogado hoje, não preciso de outra sessão.
Eu não soube se isso era para ser uma piada, já que seu tom de voz estava diferente. Enzo estava exausto, desanimado.

- Eu só tô esperando alguma papelada sair para eu assinar meu depoimento, algo assim. Não tem razão para me manterem aqui, eu não fiz nada, nem ao menos tenho marcas na mão para justificar todos os cortes e roxos na cara do moleque. Ele provavelmente se meteu numa briga e está tentando me culpar.

Indignada, eu também respirei fundo e olhei para o mesmo teto.

- Acho que a gente precisa se mudar - eu falei, olhando pra cima

- E eu acho que a gente não pode se render. Isso é exatamente o que ele quer, tirar tudo da gente.

- Mas se ficarmos perto dessa confusão, aí sim podemos perder tudo, Enzo!

Agradeci por estar olhando pra cima, assim, as lágrimas acumuladas não estavam rolando pelos meus olhos.

- Charlie e Kate estão aí. Eu espero que resolvam, mandem o garoto pra longe da gente antes que mandem ele de uma vez para prisão.

Respirei fundo. Sua mão procurou pela minha e a encontrou. Nossos dedos se apertaram e meus olhos também, fazendo algumas lágrimas fugirem. Eu não queria chorar.

- Sabe o que a gente estava fazendo quando eu recebi sua ligação? - eu mudei de assunto

Ele finalmente virou seu pescoço e me olhou, querendo saber. Seus olhos também estavam marejados.

- Participando de um reality show de vestidos de noivas.

Ele franziu a testa, tirou suas costas da parede. Riu sem entender.

- Como assim?

- Sim, eu fui a uma loja de vestidos de noivas ver as minhas opções - admiti - E eles estavam gravando um reality show e acharam minha história interessante, afinal, quem leva a filha adotiva de quatro anos para julgar o seu vestido?

Ele riu, segurando minha mão mais forte. Estava sem acreditar na minha história.

- No momento que você ligou, eu estava experimentando um vestido. Fiquei tão atordoada com essa história de delegacia que quase saí da loja com o vestido no corpo.

- Eu ia mesmo te dizer que sua blusa está ao avesso - Enzo riu

Olhei para baixo, era verdade. Ele continuou incrédulo.

- O quanto eu não pagaria para ver essa gravação!

Ele estava genuinamente alegre com a história, mas como seus olhos estavam cheios de lágrimas de tristeza, estas estava escorregando pelas suas bochechas. Era uma cena inusitada de se ver. Meu rosto provavelmente estava do mesmo jeito.

- Senhor Scopelli? - um policial nos interrompeu - Você pode me acompanhar? Precisamos da sua assinatura.

Ele se levantou, me levando junto pelas nossas mãos já dadas. Passei por um corredor e pude enxergar rapidamente pelas cortinas venezianas de uma sala Charlie, Kate e Daniel. Kate estava bem diferente da primeira vez que eu a vi. Seu cabelo estava penteado e ela parecia bem mais jovem. Daniel estava inchado, com os dois olhos roxos e um corte na sobrancelha. Eu senti pena por seus pais.

Enquanto Enzo assinava alguns documentos para legitimar seu depoimento, pensei comigo mesma que eu poderia tentar ajudar.

- Eu posso depor também? Não dá pra deixar acusarem um inocente assim. E eu estive com ele ontem o dia e a noite inteira, isso não seria um álibi? - perguntei

Um policial estava prestes a me responder quando outro entrou na sala.

- Não precisa mais investigar, o garoto confessou.

- Confessou? - perguntamos quase na mesma hora

- Disse que foi uma briga de bar, que ele provocou. Ligamos para o bar que ele mencionou e confirmaram a história. Ele mal têm idade para estar em bares!

- Mas ele vai ser condenado por falso testemunho, não? - eu logo perguntei, não querendo que Daniel saísse impune

- Sim, mas acho que se eu fosse ele teria mais medo é do sermão que a mãe dele está dando - o policial disse com humor antes de se retirar

Eu sorri. Fiquei feliz, feliz por ele ter confessado e não termos que lidar com mais esse problema, mas também feliz porque Kate estava sendo a mãe que ela não foi esse tempo todo. Ela estava sendo a mãe que ama e sabe que amar não é achar tudo o que filho faz lindo e sim guiá-lo pelo caminho certo, sem desistir dele.

- Bom, então estou liberado? - Enzo questionou

- É melhor mesmo a gente sair antes deles, pode evitar uma briga - comentei

- Claro, fiquem à vontade. E desculpem por esse transtorno.

Comentamos que a culpa não era deles, que eles só estavam fazendo seu trabalho, mas essa era a palavra chave: transtorno.

Procurei por Isa e a achei na mesa da mesma policial, pintando algo com caneta azul. Sua mão já estava toda azulada também.

- Vamos embora, Isa? - perguntei

- Ih, ela nem vai querer vir. Vai ficar desenhando por aqui - Enzo comentou

- Por que você não mostra o que você desenhou? - Claire, a policial que ficara com ela, disse

A menina estendeu a folha a mim. Tentei adivinhar o que era, mas ela me explicou melhor.

- Eu desenhei seu vestido de noiva!

- Uau! E olha que você acertou! - eu disse, brincando, mas para ela era sério - Ele tem um decote aqui pegando no pescoço? E essa calda é grande assim?

Ela confirmou com a cabeça, mas, de repente, pareceu levar um susto.

- Papai, você não pode ver! - ela exclamou a Enzo, que observada a folha de papel

- Eu juro que eu não vi nada - Enzo disse, fechando os olhos na mesma hora e nos fazendo rir
Dobrei o papel e o coloquei em minha bolsa, guardando segredo com Isa.

- Antes de ir embora, que tal agradecer a Claire por ter sido tão gentil com você e ter deixado você desenhar? - eu sugeri

A menina se virou à policial e a agradeceu, um pouco mais tímida agora.

- Não há de quê! - Claire disse - Mal posso esperar pela minha vez.

Nós tentamos decifrar esse comentário, mas ela logo se explicou.

- Também estou na fila, mas não é fácil. Ainda mais sendo solteira e policial. Acabo me desanimando.

- Não perca a esperança, é sério. Eu também era solteira quando entrei na fila e também era solteira para eles quando me chamaram. E você ainda tem um emprego bom! Eu era garçonete! - eu brinquei, tentando encorajá-la

- Não desista, você tem um ótimo jeito com crianças. Vai ser uma ótima mãe - Enzo completou

Ouvi uma agitação na parte de trás da delegacia e quis que nos despedíssemos logo, não queria dar de cara com Daniel. Eu seria capaz de deixar seu olho ainda mais roxo do que já estava.


- Claire parece uma ótima pessoa. Vou torcer para que ela consiga ser chamada - comentei, já no carro

- Será que Olga não pode ajudar? Talvez ela tenha uma criança em mente para ela?

- Boa ideia! Quando tiver a chance, falo com ela - eu sorri

Era bom nos distrair do real motivo pelo qual estávamos na delegacia.

- E eu gostei do que você falou para ela.

- Do que? - fiquei curiosa

- Que você era garçonete - ele deu ênfase no "era"

- Eu não disse isso.

- Disse sim, exatamente isso. "Era", como se já fosse coisa do passado - ele estava segurando o sorriso

- Sei que você quer me ver livre desse restaurante, mas eu quero aproveitar meus últimos dias de férias, ok? Então bora para casa, eu quero me jogar na piscina!

- A gente vai na piscina? - Isa perguntou no banco de trás, mostrando que estava prestando atenção em tudo

- Sim, e você vai com todas as boias dessa vez, ein?

Era apenas uma brincadeira, mas isso deixou a menina pensativa. Ela não havia entrado na piscina desde o ocorrido e eu não iria tirar meus olhos dela.


Levantei com cuidado. A sala estava quieta a não ser pelo barulho da TV e do ventilador. Isa havia dormido ao meu lado, assistindo TV no sofá. Eu não quis acordá-la e nem estava com coragem de arriscar pegá-la no colo e acabar despertando-a.

Fui até a cozinha, onde Enzo estava sentado, mexendo no computador, concentrado.

- O que você tanto faz aí? - falei baixo, mas ele levo um susto

- Achei que você ainda estava vendo TV.

- Isa dormiu. Vim aqui perguntar se você não quer carregá-la pro quarto.

- Foi um dia cansativo pra ela, tadinha.

- É, participar de um reality show, ir pra delegacia e depois ainda passar o resto do dia na piscina não é algo que se faz toda a semana - brinquei

Enzo parecia concentrado demais na tela, quase não me olhando.

- O que você está fazendo? - perguntei novamente

Ele relaxou os ombros, se afastando da tela.

- Eu estava lendo sobre aquela exposição que o cara da galeria de Charlotte disse.

- A de fotografia instantânea?

- Sim. Parece ser legal.

- Por que você não envia então as fotos que tirou?

Ele me olhou, um pouco curioso.

- Não teria problema? São... Fotos suas - ele falou com receio

- Eu sei. Ainda bem que são minhas, ai de você fotografando outra mulher assim - tentei descontraí-lo - Mas eu não teria vergonha de vê-las expostas. São uma obra de arte.

- Sério?

- É impressão minha ou alguém está inseguro?

- Sim, admito. Estou. Não é a mesma coisa que fazer um bolo. Um bolo eu posso provar, ver se está bom. Como eu vou saber se vão gostar?

- Bom, o dono de uma galeria em Charlotte gostou e disse que o amigo dele na Alemanha iria gostar... Então eu acho que você tem alguma chance!

Ele não estava muito confiante para entrar na minha brincadeira.

- Manda, Enzo. Não tem como descobrir se vão gostar se você não mandar.

- É que... Fotografia é sua área, eu não quero competir! Além do mais, são fotos suas e eu não...

Eu cheguei mais perto dele, passando minha mão pelo seu pescoço e o beijando sem pensar duas vezes. Ele demorou para reagir, como se sua boca quisesse continuar argumentando.

- Eu sou uma garçonete que cursa turismo e fotografa de vez em quando. É ridículo você falar que vai roubar uma profissão de mim - eu disse perto de seus lábios quando soltei sua boca
Ele concordou sem dizer uma palavra: apenas balançou positivamente a cabeça, um pouco ainda perdido com a situação.

- Falando em faculdade...

- O que? - eu me afastei

- Eu falei com o Phillip para ver essa historia de estágio.

Demorei um pouco para ligar o nome Phillip ao Sr. Henke. Tinha esquecido que ele e Enzo haviam ganhado intimidade durante minha exposição.

- Enzo, eu não gosto de pedir favores - falei já irritada

- Eu sei, eu sei. Eu só comentei, para ver se ele não sabia de uma vaga, já que tava apertado para você correr atrás disso agora.

- E aí?

- Ele disse que conhece alguém que pode ajudar, mas precisa conversar com esse alguém antes, para ver se tem como. Disse que seria a vaga perfeita para você.

Arqueei a sobrancelha.

- Eu quero só ver.

- Se for algo remunerado, você bem que pode sim largar o emprego de garçonete, ein...

- Eu não vou falar sobre isso mais hoje, ok? Não quero me irritar com você.

Ele balançou a cabeça, rindo consigo, mas voltou a olhar pro computador concentrado.

- Você coloca Isa na cama? Tenho medo de acordá-la.

Ele resmungou que sim, mas não parecia ter ouvido.

- E amanhã eu preciso comprar algumas coisas no mercado, já que eu volto a trabalhar segunda. A gente podia ir logo de manhã, não?

Ele resmungou novamente, sem prestar muita atenção. Isso me deixava irritada.

- Você não deveria mandar as fotos para exposição, ninguém vai querer me ver nua.

- Uhum.

Cerrei meus olhos.

- Então você coloca Isa para dormir enquanto eu tomo um banho? Depois eu podia pular a parte em que eu coloco uma camisola e assim ficar deitada na cama te esperando, o que você acha? - eu joguei um pouco sujo

- Ok.

Silêncio. Ele não tinha prestado atenção. Por causa do silêncio, ele acabou levantando os olhos do computador e me olhando.

- Espera, o que você disse?

- Eu disse para você levar Isa pro quarto dela enquanto eu tomo banho. Depois você pode ficar aí nesse computador, afinal, você já perdeu a chance de qualquer coisa interessante acontecer hoje entre a gente.

Eu pisquei e me afastei, em direção às escadas. Ele entendeu o que havia acontecido e sua expressão foi exatamente a mesma de uma criança que assiste ao seu sorvete cair no chão, ou, em seu caso específico, seu cupcake.


- Oi, tudo bem? Vai parecer estranho, mas vocês teriam um vestido parecido com esse aqui?

Eu segurava o desenho de Isa na mão. A vendedora me olhou um pouco desconfiada.

- Assim como? Azul? - ela se referiu à tinta da caneta

- Não, o modelo. Mais justo na cintura, com o decote assim pegando na cintura.

Ela tentou decifrar o desenho de criança. Eu havia me transformado em uma mãe tão boba assim que conseguia ver além dos desenhos simples e sem proporção de uma criança?

- É que minha filha desenhou pra mim, queria fazer uma surpresa.

- Espera, você é a moça que veio aqui ontem com a filha pra gravar o reality?

- Bom, eu não vim aqui pra isso, eu cheguei e fui convidada a participar, mas acabei tendo que sair às pressas.

- Ah, então é você mesma! Você não pode vir na segunda? Vamos ter mais gravações pela manhã e a sua história é uma das melhores.

Pensei por um momento. Eu não sabia se devia seguir a diante com essa história de reality show e expor Isa assim, mas ao mesmo tempo seria bom ter esse momento gravado, ter essa personalidade toda dela em vídeo. Além do mais, se eu tivesse um vídeo do momento da escolha do vestido, talvez minha mãe me perdoaria por ela ter perdido a chance de ver isso.

- Ok. Eu volto na segunda. Mas eu posso pelo menos ver alguns modelos agora? Sem provar?

- Querendo fazer uma pesquisa antes da gravação, né? - ela riu

Eu confirmei. Ela me mostrou alguns vestidos que cobriam meus requisitos e eu gostei de um de seda, com um decote reto no pescoço, com renda transparente. Ele era aberto nas costas e eu quis experimentá-lo na hora, mas contive minha ansiedade e deixei para segunda. Eu esperava que Isa gostasse.

Meu telefone vibrou dentro de minha bolsa enquanto eu me dirigia ao carro. Vi o nome de Enzo na tela.

- Não me fala que você está na delegacia, por favor - eu disse em tom de brincadeira

- Não, estou na cozinha mesmo - ele respondeu rindo - Liguei pra saber se você pode passar no mercado. Preciso de chocolate.

- Está fazendo bolo pra encomenda? Trabalhando no sábado, Enzo?

- Não, eu prometo! - riu - É que vamos ter uma visita e eu queria fazer um bolo, mas eu só iria comprar chocolate na segunda.

- Visita? Quem?

- Phillip.

- O Sr. Henke?! - indaguei

- Exato. Ele falou que tem algumas ideias que podem te ajudar e eu o convidei. Sei que você está de férias, mas achei que ele pode te ajudar nesse próximo semestre. Desculpa, eu sei que não deveria convidá-lo sem falar com você antes.

- Sem problemas. Não estava esperando por isso, mas vamos ver no que ele pode me ajudar.
Eu desliguei o celular um pouco desanimada. Não estava com vontade de sermões do Sr. Henke em plenas férias, então esperava que ele não viesse como meu professor e sim como colega viúvo de Enzo.


A casa estava cheirando a bolo, obviamente. Isa estava de saia e com a parte de cima do biquíni. Ela estava usando uma coroa e meias coloridas, segurando um bichinho de pelúcia pela mão enquanto a TV estava ligada en um canal de músicas infantis. Eu a olhei e não pude deixar de rir.

- Alguém resolveu se fantasiar de princesa Ariel e ir para uma festa do pijama tudo ao mesmo tempo? - eu disse colocando as compras na cozinha

- Eu disse que ela poderia se vestir como quisesse, deu nisso - Enzo comentou, mas a menina somente ria de volta, adorando a atenção - Obrigado pelo chocolate.

- Achei que você ia usar na massa, já está assando o bolo?

- É pra cobertura - ele sorriu - Phillip deve passar aqui umas quatro

- Você e essa mania de chamar o Sr. Henke de Phillip.

- Ué, ele é seu professor, não meu.

- Ok, vejamos como vai ser isso. Isa - eu chamei atenção da menina que estava correndo em círculos de mãos das com Lolo, o cachorro de pelúcia - Que tal tomarmos um banho de banheira com bastante espuma? Podemos dar um banho no Lolo primeiro, ele bem que está precisando. Deve estar cheio de pulgas - eu disse, brincando e tampando o nariz

Ela o largou no mesmo momento, com nojo. Enzo gargalhou.


Era bom esquecermos um pouco do grande problema que poderíamos enfrentar. Estávamos dispostos a fazer do tempo com Isadora o melhor possível ao invés de nos preocuparmos com um futuro que não podíamos prever, apesar das aflições sempre nos atingirem quando menos esperávamos. Por exemplo, antes de dirigir para casa, passei pela rua toda, vendo se a família do fim da rua estava em casa e seu filho trancado no seu quarto e não tentando algum contato com Isa. Enzo estava todas as manhãs conferindo as gravações da babá eletrônica e estava tudo normal: Isa não acordava mais cedo para ver a janela e nem saía do quarto. Isso nos acalmava um pouco.


- Sem querer ser interesseiro, mas eu fiquei mesmo esperando pelo bolo assim que você me convidou - Sr. Henke disse assim que nós o convidamos para entrar e ele sentiu o cheio de baunilha e chocolate pela casa

Ele entrou, antes limpando a sola de seus sapatos no tapete.

- Essa é a mesma menininha que eu conheci na exposição? Comeu o que pra crescer tanto? - ele brincou e Isa se escondeu de vergonha atrás das minhas pernas

- Bem que eu queria que ela ficasse pequena assim pra sempre - eu disse

- Todos queremos, mas ainda não achamos a Terra do Nunca.

- Você gosta de Peter Pan? - Isa perguntou, tímida

- Gosto sim, é um história antiga, o autor doou todos os direitos autorais para um hospital na Inglaterra! Não é legal?

Ela ficou um pouco confusa.

- Direitos tourais? - ela tentou repetir

- Todo o dinheiro que a história rendeu! Eu esqueço que sou velho e fico falando de coisas que só eu acho interessante, deixa pra lá.

- Phillip! Como vai? Não quer se sentar? - Enzo apareceu com um pano de prato no ombro, provavelmente tinha acabado de decorar o bolo

Eles se cumprimentaram com um abraço daqueles com um pequeno tapa nas costas. Eu não entendido de onde tanta amizade tinha surgido, talvez porque era estranho essas duas partes da minha vida se cruzando.

A conversa foi normal, nossa viagem, Isadora, previsão do tempo, assuntos banais entre uma mordida de bolo e outro. Eu estava um pouco ansiosa, esperando o real motivo da visita ser discutido, mas a ansiedade logo alcançou seu pico quando o Sr. Henke começou a falar sobre o próximo semestre e o estágio que eu precisava fazer.

- Eu falei com o Enzo sobre uma possibilidade que me veio em mente, mas eu não tinha nada certo, ainda tinha que conversar com meu colega, então não quis levantar suas esperanças - ele me falou

- E deu certo? Porque eu sinceramente estou perdida, não sei o que eu faço ou o que procurar.

- Bom, meio que deu. Ele quer conversar com você.

- Ele quem? - minha curiosidade estava evidente

- Eu tenho um amigo que tem uma agência de turismo. Bom, na verdade eu tenho vários amigos que tem - ele riu - Mas esse em específico serviria muito bem a você. Além de planejarem viagens e tours pelas cidades, eles produzem um site e uma revista mensal sobre viagens. Ele vive comentando que não tem muito tempo de atualizar esses projetos, que a demanda de outros serviços é maior. Pensei logo em você.

- Então... Eu atualizaria o site e essa revista? - arqueei a sobrancelha

- Você escreveria sobre destinos e experiências, pesquisaria e escolheria fotos, ou no seu caso, até tiraria elas você mesma!

- Isso parece ótimo, Sr. Henke! - exclamei

- Eu fico me lembrando sobre aquele projeto que você fez, aquele de ir em uma cidade que você nunca havia visitado e depois tentar me convencer a visitá-la. Foi esplêndido!

- Não queria dizer nada, mas eu acompanhei o processo de perto e ela estava mesmo inspirada - Enzo comentou, me deixando vermelha

- Só uma coisa me preocupa. Eu ainda tenho meu trabalho, eu tenho Isa pra cuidar, eu não sei se ia conseguir conciliar tudo isso.

- Se esse estágio for remunerado, acho que ela pode considerar deixar as gorjetas e os cabelos engordurados para lá, não? - Enzo se intrometeu, me fazendo virar os olhos

- Talvez não pague tanto quanto seu trabalho, mas com certeza vai ser mais prazeroso. E olha a sorte de você ter alguém para te ajudar com a Isa! - Sr. Henke tentou me convencer

- Ok - eu disse, desconfiada - Quando eu posso conversar com esse seu amigo?

Eu não sabia no que eu estava entrando, não sabia se teria que escolher entre o restaurante ou um estágio que mal me paga, mas escrever sobre viagens e experiências turísticas parecia incrível, eu tinha que admitir.


Sr. Henke foi embora convidado para o nosso casamento que mal tinha data certa e carregando um pedaço de bolo para mais tarde. Eu fiquei confusa, mas acalmei meu coração e decidi esperar o que iria acontecer. De noite, o calor do verão nos fez pular o jantar e fazer um milk-shake de pasta de amendoim e banana. Enquanto eu preparava os copos, o computador de Enzo, aberto em cima do balcão começou a apitar. O som dele foi ouvido claramente quando o liquidificador preparando o milk-shake foi desligado.

- O que é isso? - eu perguntei enquanto ele corria para olhar a tela

- Isso são meus pais ligando pra mim agora - ele encarou a tela - Estranho. Está bem tarde na Itália.

- Talvez seja alguma emergência... - comentei

O toque durou mais alguns segundos até que Enzo resolveu atender.

- Mamma, pappa, come stai? Bene?

Foi algo estranho ele falando italiano tão naturalmente, como se Enzo tivesse essa segunda voz que nunca me mostrava. Eu devo ter demonstrado minha surpresa, porque ele me olhou um pouco sem graça. Eu estava entendendo pouca coisa da conversa até ele começar a falar algumas coisas em inglês no meio.

- La mia fidanzata? - ele falou, mas olhou pra mim - Ela está aqui, calma.

Eu o olhei perguntando o que estava acontecendo.

- Eles querem te conhecer, mas estão em uma festa com todos os meus tios e tias. Tudo bem você aparecer aqui um pouco? - ele sussurrou

Talvez Enzo tenha achado que seria muita pressão para mim conhecer todo mundo de uma vez, ainda mais quando eles já estavam em uma festa de madrugada, mas eu aceitei. Não tinha como fugir e eu não queria passar uma imagem ruim. Ajeitei meu cabelo e fiquei do lado de Enzo, aparecendo na tela, falando um oi.

O ambiente estava escuro e eles todos estavam com uma taça de vinho. Eu não sabia se estavam já bêbados ou esse era o normal deles, mas foi uma confusão. Todos queriam me ver e todos falavam palavras em italiano ao mesmo tempo, me fazendo rir um pouco confusa.

- Lo so, lei è bella, no? - ele me olhou, me fazendo ficar vermelha e cobrir meu rosto

Uma voz falou mais alto que as outras na gravação, fazendo Enzo rir. Eu não estava entendendo muita coisa.

- Sim, tia Gisella, é o seu anel - ele comentou e eu mostrei minha mão diretamente para a tela - Grazie!

- Sim, grazie! - eu repeti, fazendo todo mundo rir

Isa apareceu na cozinha, provavelmente o barulho da ligação estava maior que seu interesse pela TV.

- O que foi meu amor? - eu falei à pequena - Está com fome? Quer milk-shake?

As vozes voltaram a conversar com Enzo enquanto eu saí da frente do computador para ver se o milk-shake no liquidificador não estava já derretido.

- Meus pais estão perguntando sobre Isa - Enzo comentou

- Isa, o que você acha de conhecer seus avós? - eu perguntei causando estranheza

- Eu já conheci - falou com inocência

- Você conheceu dois deles, você tem mais dois. Os pais do papai - expliquei e ela concordou

A reação da família à Isa foi instantânea, eu nem precisava entender italiano para ver que eles a acharam a coisa mais fofa do mundo.

A conversa entre Enzo e eles demorou mais alguns minutos e eu entendi pouca coisa, mas no meio dessa pouca coisa vi que Enzo ficou feliz quando eles disseram que iriam sim para o nosso casamento, que fariam o possível. O milk shake já estava derretendo quando a conversa acabou e Isa estava com um bigode feito de sorvete, me fazendo rir. Enzo ficou encarando a tela por mais alguns segundos depois da ligação.

- O que foi? - eu envolvi meus braços ao redor de suas costas, vendo o reflexo de seus olhos na tela

- Isso foi estranho, desculpa.

- Estranho? Desculpa? Sua família é demais, Enzo, me diga que você não está envergonhado.

- É que eles podem ser expressivos demais, ainda mais quando são quase três da manhã lá e eles passaram a noite toda bebendo vinho e comendo massa.

- E eu que pensava que a vida na Itália era tranquila! - brinquei, mas ele estava emocionado de um jeito diferente

- O que importa é que eles estão bem, gostaram de você e da Isa e provavelmente virão pra o casamento. Eu fiquei apreensivo porque eles são sinceros demais, se não gostassem dessa história, iriam dizer na cara.

- Bom, eu não entenderia nada mesmo se eles não gostassem. Todo mundo fala rápido e alto demais! - tentei descontraí-lo - E você tem os mesmos olhos da sua mãe, pelo menos pelo o que eu percebi nessa confusão.

Ele riu para si, me fazendo querer morder suas bochechas. Eu o virei para mim, colocando meus braços agora ao redor de seu pescoço. Suas mãos foram à minha cintura.

- Essa conversa foi bem interessante. O que você acha de colocarmos a Isa pra dormir mais cedo hoje e você me ensinar algumas palavras em italiano? - eu sussurrei

- Sério? Você quer aprender? Eu sei que ficou meio confuso, eu falando inglês junto, mas eles precisam praticar para não esquecerem também - ele não havia entendido minha intenção

- Eu quero você sussurrando em italiano no meu ouvido a noite toda, Enzo - eu não podia ser mais clara

- Mãe! Vem ver o desenho! A bruxa virou um sapo! - Isa gritou da sala

- Já vou, só um minuto, amor! - eu gritei, mas os olhos de Enzo não deixaram os meus, suas mãos se apertaram mais em minha cintura, concordando com a minha proposta

Essa era a nossa vida agora: um filme infantil cheio de piadas que só adultos entendem, mas passam despercebidas nas mentes inocentes das crianças. E, para falar a verdade, eu estava adorando nosso enredo.

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