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32. Me perder?




- Enzo, arruma logo essa mesa! Isa, vamos escovar os dentes! - eu exclamava, dando ordens, enquanto tentava amarrar a fivela da minha sandália

- Calma, Mon. Ainda temos tempo - Enzo disse com a boca cheia de cereal

- E se elas decidirem vir mais cedo para que nós não tenhamos tempo de nós arrumar, ein? E se elas nos pegarem no flagra tentando parecer mais organizados do que somos? - falei, ajudando Isa a subir a escada

- Ué? Não seria mentira. Não é exatamente o que você está fazendo agora? - ele riu

- Se arruma, agora! - falei do alto da escada, mas ele continuou rindo no andar debaixo

Valerie, Margareth e até Olga marcaram de nos visitar. Eu estava apreensiva por ter tanta gente ali em casa, inspecionando, julgando, analisando, especialmente depois do que acontecera. Não era apenas mais uma visita, aquele momento poderia determinar o meu futuro como mãe. Então, sim, eu queria que tudo estivesse perfeito.

Dei um pulo quando ouvi a campainha. Torci para que Enzo tivesse arrumado a bagunça do café da manhã e dei uma última ajeitada no cabelo de Isa.

- A gente vai sair? - a menina me perguntou inocentemente

- Não, mas vamos ter visitar especiais - eu disse em um sorriso enquanto descíamos a escada

Olhei para o balcão na cozinha e estava tudo arrumado.

- Você precisa confiar mais em mim - Enzo passou por mim, piscando

Eu não estava com paciência pra nenhuma brincadeira.

- Bom dia! Que saudades eu estava dessa fofinha! - Olga disse assim que a porta foi aberta

Isa foi correndo ao seu encontro.

- Você está enorme! Quantos centímetros cresceu durante essa viagem? - Valerie perguntou, brincando

- Bom dia.

O "bom dia" seco veio de Margareth, a assistente social que parecia nos analisar esperando por qualquer errinho o tempo todo.

- Entrem, por favor. Fizemos um café da manhã para vocês - Enzo sorriu

Eu não sabia se ele estava realmente tranquilo com a situação, já que eu estava apreensiva, ou se era simplesmente uma atuação para que parecêssemos estar no controle dos últimos acontecimentos.

Depois de uma conversa educada sobre os bolinhos de Enzo e sobre como Isa estava se adaptando à sua nova vida, Valerie perguntou sobre a viagem. Deixamos Isa contar com suas próprias palavras, mas ela entrou em um assunto que precisava ser discutido, mas era o que mais me preocupava.

- Eu fiz um amigo lá na cidade com um parque com água! - ela disse, animada

- Em Charlotte - eu completei, sorrindo

- É? Um amigo? Ele foi legal com você? Do que vocês brincaram? - Valerie perguntou

- Brincamos na água do parque! Mas ele mora longe. E eu achava que tinha um amigo perto, mas acho que não tenho mais - ela fez um bico

Valerie e as outras duas mulheres nos olharam, procurando explicações.

- Isa, sabe o que seria super legal? Mostrar as fotos da viagem! Você não quer pegar? Estão no seu quarto, na mesinha do lado da cama.

Ela concordou.

- Sobe as escadas devagar, segurando o corrimão! Um degrau de cada vez! - Enzo a lembrou

Eu respirei fundo. Elas ainda cobravam uma explicação com o olhar.

- Sabe o amigo imaginário de Isa? Bom, descobrimos que o Troy não era realmente um amigo imaginário e sim um de nossos vizinhos.

- Mas isso é ótimo! Quer dizer que ela está fazendo amigos na vizinhança - Olga expressou erroneamente

- Na verdade ele tem 19 anos, se comunicava com ela escondido e tentou manipulá-la a se jogar na piscina sem nossa supervisão.

Eu percebi que Valerie, que estava no meio de um gole em seu suco, chegou a cuspir.

- Manipulá-la? E onde vocês estavam quando ele se comunicava com ela? - Margareth perguntou, já nos culpando

- Ela acordava cedo, descia as escadas sem fazer nenhum barulho e se encontrava com ele na nossa porta da frente. Ela pensou que estava fazendo um amigo.

- Isso é grave! Isso é muito grave - Olga exclamou - Foi ele quem nos ligou para denunciar algo que ele mesmo fez?

- Sim, eu creio que sim - eu disse, um pouco desanimada

- Mas qual a razão? Por quê?

Ouvimos Isa descer o último degrau e vir até a cozinha animada, com as duas mãozinhas ocupadas pelas fotos instantâneas que tiramos.

- Vem cá, querida - eu a coloquei em meu colo enquanto abríamos espaço para as fotos em meio a xícaras

Foi um momento estranho. Foi como parar um filme de suspense logo quando você está prestes a descobrir quem é o assassino e ir para um programa educativo infantil. Estávamos ansiosos para voltar para o filme de suspense, mas não tínhamos mais o controle remoto em mãos.

- Essa aqui foi em Albuquerque - eu ia auxiliando Isa a contar histórias da viagem

- Precisamos anotar nas fotos qual lugar é qual antes que nós nos esqueçamos - Enzo disse

- E depois colar todas na parede do seu quarto, não é legal, Isa?

- Muito legal - ela falou, animada

A campainha de casa tocou. Enzo se prontificou a atender no mesmo minuto.

- E essa foto aqui, onde foi? - Valerie perguntou a Isa

- Hum... - ela pensou - Na cidade do vovô e da vovó. Não sei o nome.

Eu estava pronta para responder "Little Rock", quando a atenção se voltou à confusão vinda da porta.

- O que está acontecendo? - Margareth foi a primeira a questionar

Eu mal sabia também. Levantei da mesa, levando Isa no colo. Alguns passos depois, avistei Charlie.

- O que foi?

- Esse senhor não está entendendo que agora não é uma boa hora - Enzo estava tentando ao máximo ser educado

Cheguei um pouco mais perto e vi que Charlie segurava Daniel pelo braço. Eu ia completar e dizer que não era uma boa hora, mas as visitas indesejadas entraram pela porta sem pedir licença. Valerie, Olga e Margareth haviam me seguido e agora estavam a presenciar toda a cena. Eu estava perdida.

- Você me desculpa entrar assim, mas eu não acredito que eu criei um monstro! E eu tenho o dever de pedir perdão pelo o que ele causou à sua família sem que eu notasse. E ele mesmo vai pedir desculpas, por bem ou por mal! - Charlie segurava o garoto pelo braço, com força

Eu fiquei feliz por Charlie realmente ter tomado uma atitude, mas ao mesmo tempo com raiva por ter sido em um momento tão inoportuno.

- Desculpa, o que está acontecendo? - Olga perguntou

- Bom - eu resolvi abrir o jogo - Vocês queriam saber quem é o amigo imaginário, aqui está ele em carne e osso.

- Eu estou muito envergonhado pelo o que ele fez, e ainda mais pelo que ele iria fazer. Achei no computador dele pesquisas sobre o pai da sua menina e foi a última gota. Ele não vai ligar pro orfanato, vai sim ir pessoalmente se desculpar e oferecer uma generosa doação e serviços voluntários!

Daniel parecia querer fugir de lá. Mal olhava ninguém nos olhos.

- Nem precisa ir ao orfanato, não - Olga completou - Eu aceito suas desculpas e doação de tempo e serviço hoje mesmo e aqui.

Charlie arregalou os olhos ao perceber que as minhas visitas eram do orfanato.

- Perfeito! - ele exclamou - Eu sei que vai ser pouco para o que ele tentou fazer, mas ai dele tentar fazer algo de novo.

- Tudo bem. Só não acho que confiarei nenhum serviço diretamente com as crianças a ele - Olga comentou, com um pouco de ironia

- Eu sou a única que acha isso uma loucura? Esse rapaz deveria estar com a polícia agora! - Margareth se expressou

- O que eu diria para a polícia? Me prendam porque eu tentei ser amigo de uma criança? - Daniel finalmente falou algo, porém era melhor ter ficado calado

Enzo estava com os olhos cerrados. Charlie puxou com mais força o braço de Daniel. Valerie estava assustada e Olga e Margareth estavam discutindo a gravidade disso tudo.

Eu ia pedir calma quando Isa, que estava calada, olhando a cena no meu colo, se desvinculou dos meus braços e me fez colocá-la no chão.

- Eu achei que você era meu amigo! - a criança disse, calando a discussão - Eu achei que você tinha gostado de mim!

Isa falava com a voz meio chorosa e mais aguda do que o normal bem à frente de Daniel. Ele não disse uma palavra a ela.

- Você precisa dar comida pro cachorro bom e não pro mau! - foi a última coisa que ela disse antes de sair da sala e subir as escadas quase tropeçando

- Esse é claramente um ambiente estressante para uma criança tão nova - Margareth soltou

Eu sabia que ia chegar a esse ponto. Eu sabia que iriam questionar a qualidade de vida de Isadora conosco por causa disso. Eu temia por esse momento. Era tudo muito frágil nesses 6 meses, estávamos em teste e pelo visto tínhamos colocado tudo a perder por falta de uma minuciosa atenção, ou quem sabe excesso de confiança e felicidade.

- Mais estressante que um pai ausente e uma mãe agressora? - Enzo, que até então estava calado, rebateu - Mais estressante do que um lugar cheio de crianças traumatizadas esperando por um pai e uma mãe sem saber se eles realmente vão vir?

- A gente sabe que essa situação não é nada boa para Isa, mas tirá-la de nós não ia causar ainda mais dor para aquela menina que já sofreu tanto? - completei, olhando para Valerie

Ela parecia ser a mais passional ali e a mais próxima de Isadora; ela saberia o quão seria ruim para Isa se afastar de nós depois de tudo.

- Eles tem razão, esses seis meses não são definitivos, mas é só pela adaptação. E eu tenho certeza que Isa está muito bem adaptada a essa casa e a essa família.

Ouvir a voz de Valerie falando estas palavras foi um alívio.

Olga e Margareth pensaram por um segundo. Eu me encostei na parede, exausta, vendo minha sala com estranhos decidindo futuro da minha família. Charlie ainda estava lá segurando Daniel para que ele não fugisse, já que era o que ele demostrava querer fazer pela sua atitude arisca.

No meio daquilo tudo, eu só consegui enxergar o olhar pesado de Enzo perto da porta, longe de mim, do outro lado do cômodo, mas provavelmente sentindo um caos bem parecido com o que ocorria em meu peito.

- Olha - Olga cortou o silêncio - Eu também acho que deveríamos denunciá-lo. Mas eu vejo aqui um pai tentando corrigir seu filho e eu fico feliz por ter pais que ainda se importam. E ao mesmo tempo que o que aconteceu foi grave, me dá até raiva pensar que você quase fez uma menina se afogar só para culpar os pais adotivos dela, eu acho que se esse assunto for pra polícia, a guarda temporária vai ser perdida sim. Ficaria fora do nosso controle por ter mais autoridades envolvidas. E eu não acho que seria uma boa coisa para Isadora voltar pro orfanato.

O silêncio voltou a triunfar. Eu não podia dizer que estava calma, porque eu havia ficado aterrorizada. E se fôssemos parar na polícia por isso? E se perdêssemos a guarda de Isa de um jeito ou de outro?

Eu estava perdida em pensamentos assustadores, então não sei em que momento Daniel se soltou do braço de Charlie e correu para a porta da frente. Foi um susto. Enzo o agarrou pela gola de sua camiseta. Torci para que não saísse uma briga, afinal, seria um ótimo jeito para arruinar ainda mais o que já estava quebrado.

- Olha aqui, você nunca mais vai chegar perto da minha filha. É melhor você esquecer que ela existe. Quando você quiser caminhar de manhã, você vai dar a volta pelo quarteirão, mas não se atreva a passar na frente da nossa casa. Entendido? - Enzo disse entre os dentes

O garoto não disse nada. Enzo o largou e ele saiu pela porta da frente rapidamente, ajeitando a gola de sua camiseta. Eu precisei me sentar. Charlie cobriu o rosto com a mão. As minhas três visitas se levantaram ao ver a cena deplorável.

- É melhor a gente ir - Olga respirou fundo - Vamos pensar bem sobre esse caso, não dá para decidir aqui, com a cabeça quente.

Concordei balançando a cabeça. Eu não tinha palavras.

- É melhor o seu filho não fugir - Margareth disse a Charlie

- Não vai. Ele não sabe nem fritar um ovo, não tem nenhum dinheiro na carteira. Eu duvido que não volte para casa - ele disse, desanimado

- Calma, tenho certeza que vai dar tudo certo - ouvi Valerie ao meu lado

Não consegui ser otimista. Agradeci, mas não disse mais nada. Assistimos às três deixarem minha casa, mas o clima pesado continuou na sala.

- Eu não tenho coragem de olhar nos olhos de vocês sabendo o que Daniel fez - Charlie disse, cabisbaixo

Respirei fundo e fui até ele. Enzo não estava querendo nenhuma conversa com o homem, a razão era óbvia.

- Saiba que você teve muita coragem de ter vindo aqui e de ter encarado essa situação sem querer livrar a cara do seu filho - eu falei

- Eu já fiz de tudo para que ele entendesse que precisa pagar pelo que fez. Já falei que vou usar o dinheiro da faculdade para doação pro orfanato e mandá-lo pra uma faculdade comunitária local, já até ameacei a enviá-lo para a África para trabalhos sociais, mas nada resolve. É como se ele não tivesse culpa alguma, como se não tivesse caráter. E eu sei que a culpa é minha.

- Ainda tem tempo de resolver, Charlie. Tenho certeza.

- Me desculpa por tudo o que eu te fiz. E por tudo o que eu te fiz também, Scopelli. Desculpas não são suficientes, eu sei. Mas, por favor, aceitem.

Enzo me olhou. Ele não queria aceitar desculpa nenhuma, estava claro.

- O que importa é que você percebeu que criou seu filho ensinando ódio ao invés de amor. E agora vai ser difícil, mas finalmente percebeu que precisa consertar isso - Enzo falou até um pouco contrariado

- É melhor eu ir. Kate deve estar preocupada pelo jeito que saí arrastando Daniel pela rua - ele falou, se dirigindo à porta

- E como ela está? - perguntei

- Melhor, eu acho. Ficou triste com o filho, é óbvio. Mas eu achei que isso ia afundá-la em mais tristeza. Pelo visto isto a acordou um pouco. Ela até se levantou para comer seu café na mesa hoje de manhã e não esperou que eu o levasse até ela na cama.

- Fico feliz em ouvir isso - falei com sinceridade

- É melhor eu ir. Me desculpa mais uma vez. Pelo o que depender de mim, Daniel não vai se livrar dessa, eu prometo.

- Obrigada, Charlie - falei enquanto o homem saía de casa e Enzo fechava a porta em silêncio

Nós dois não queríamos falar sobre o que havia acabado de acontecer. Era como se quiséssemos apagar de nossa mente os momentos anteriores. Ele me chamou para um abraço, mas eu acabei molhando sua camisa com lágrimas.

- Eu não sei o que fazer - falei baixo com meu rosto ainda em seu peito

Ele mexia no meu cabelo.

- Eu queria dizer que sei, mas a verdade é que eu também não faço a menor ideia.

Levantei meu rosto e observei seus olhos também irritados por um choro nada agradável.

- Vamos fazer de tudo para não perder Isa, seja lá o que seja esse "tudo".

- Vamos nos casar.

Eu afastei meu rosto, o indagando com minha expressão facial. Eu tinha ouvido isso direito?

- Vamos nos casar, vamos nos mudar dessa casa, dessa vizinhança, vamos mudar para perto dos seus pais, eu sei lá. Tudo para que vejam que nossa família realmente é segura e estável para Isa. Eu não quero perdê-la.

- Mudar daqui? Nossa vida agora é aqui. Isso seria ainda pior pra Isa. Claro, ela ficaria longe de Daniel, mas não percebeu que toda vez que ela quer se proteger ou se esconder, ela se tranca no quarto? Como fazer ela confiar em nós se tirarmos essa segurança dela agora? Não sei, Enzo. E seu trabalho? Não ia demorar para conseguir novos clientes? E minha faculdade? Como fica nossa renda?

- Calma, calma. Eu não quis te deixar ainda com mais dúvidas.

- Nos casar, Enzo? Isso ajudaria?

- Nós poderíamos juntar nossa renda, juntar nossas casas naquele maldito formulário de adoção. Talvez ser adotada por um casal ao invés de uma mãe solteira com namorado seja mais convincente pra quem quer que esteja julgando nosso caso.

Eu arqueei a sobrancelha.

- Você não está pensando que eu só estou falando em casamento agora por causa de Isa, né? Meu Deus do céu, Mon. Eu te pedi em casamento já, esqueceu desse anel aí no seu dedo? Por que você está me olhando assim?

Essas desconfianças bobas demonstraram que ele também estava tão desesperado e perdido quanto eu.

- Eu não estou pensando que você está querendo casar por interesse - rolei os olhos, com humor - Eu estou achando isso uma ótima ideia.

- Sério? - ele demorou um pouco para perguntar

- Sim. Eu não vejo razão para não casarmos logo, antes da adoção se definir. E isso pode sim nos ajudar como família, pelo menos ao olhos das assistentes sociais por aí. E sim, eu casaria com você para não perder a Isa - falei, com ironia

Ele abriu um pequeno sorriso nos lábios.

- Me perder? - a voz baixinha veio do pé da escada nos desconcentrou um do outro

Nós a chamamos para perto e a abraçamos, agarrando até que ela risse.

- Te perder, Isa? Só se for dentro do nosso abraço - eu brinquei, deixando para lá as preocupações, pelo menos na frente dela

O abraço virou um festival de cócegas e finalmente parecia que poderíamos esquecer o que acontecera, pelo menos por algumas horas. De que adiantava ficar preocupado em perdê-la? O melhor que tínhamos que fazer era aproveitar enquanto ela estava do nosso lado e não perder tempo nenhum tentando fazê-la feliz.

- Isa, o que você acha de ser a daminha do nosso casamento? - Enzo perguntou enquanto tirávamos a mesa

A menina não entendeu direito.

- Vocês vão se casar?

- Sim. E você está oficialmente convidada para usar um vestido lindo e entrar pelo corredor principal. Aceita? - Enzo brincou

- Se fosse você eu aceitaria, Isa. Vai ter bolo de casamento e eu aposto que vai ser o melhor bolo do mundo - eu pisquei

A pequena concordou com a cabeça na mesma hora, nos fazendo rir. Era bom rir em um dia que tinha começado tão mal.

- Está lembrando de mais alguém? - perguntei, com uma caneta na mão

Enzo estava com os olhos fechados deitado ao meu lado na cama. Já era tarde, mas meu abajur estava ligado já que minha mente também estava.

- Não sei, preciso pensar melhor. Não dá pra convidar todo mundo.

- E eu vou convidar praticamente minha família inteira e pelo visto não vai ser nem um quinto da quantidade de pessoas da sua família. E muita gente não vai vir por ser em cima da hora, eu não quero que meu casamento tenha muitas cadeiras vazias.

- Nós não decidimos casar aqui no quintal? Então não vão ter nem muitas cadeiras para elas estarem vazias. A gente chama quem der, manda e-mail, sei lá. Depois a gente manda uma lembrancinha para quem a gente esquecer.

- Enzo! Você já fez isso antes, eu não! Eu não sei como organizar isso, mesmo sendo um casamento pequeno e sem festa.

- Primeira regra: fique calma e não pense nesses detalhes duas horas da manhã porque você não consegue dormir.

Seus olhos continuavam fechados, mas eu peguei o bloco de notas no qual anotava e dei um tapa no peito de Enzo com o mesmo.

- Obrigada pela ajuda, não sabia que eu ia casar sozinha.

Enzo bocejou, abriu os olhos e se sentou na cama ao invés de continuar deitado.

- Você não vai conseguir dormir hoje pelo jeito, né?

- É muita coisa para se pensar em! E eu volto a trabalhar semana que vem, eu preciso agilizar isso agora. Eu já tenho que ajeitar essa história de estágio, precisamos consertar essa confusão com Daniel, e agora você ainda me vem com casamento?

Ele fez com que o lado de meu rosto encontrasse seu ombro.

- Eu te ajudo, eu prometo. Mas não sei que vamos poder agilizar muita coisa agora às duas da manhã. Podemos até fechar a lista de convidados, mas eu provavelmente vou lembrar de gente que eu esqueci amanhã de manhã.

- Seus pais... Você acha que eles vêm?

- Não sei... Por ser em cima da hora, talvez eles não consigam. Mas para falar a verdade eu não sei nem se minha irmã vai vir.

- Por quê?

Ele respirou fundo, provavelmente pensando se explicava ou não.

- Nós nos distanciamos. Na verdade, eu me distanciei muito da minha família depois que Catherine se foi. Eu não vejo minha irmã desde o enterro de Cath.

- E ela mora perto? - eu estranhei

- Mora em São Francisco. Ela se casou, mas nunca teve filhos. Sei lá, nossa diferença de idades sempre foi grande, e nós perdemos contato. Geralmente irmãos se encontram em reuniões de família, mas com nossos pais e tios na Itália fica meio complicado.

- Isso quer dizer que ela não sabe de Isa? Não sabe de mim?

- Eu ainda não liguei, ela ainda não ligou. É estranho, Mon. Eu vou convidar, mas não sei se ela vem. Nem meus pais. Provavelmente só virão alguns primos e quem sabe meus amigos.

- Aqueles do casamento do Fred, né? Pode chamá-los. Eu provavelmente só vou chamar Karina. Eu devo isso a ela.

Enzo riu.

- Sabe o que a gente pode fazer? Apresentar a Karina ao Bernardo!

- Bernardo? Aquele seu amigo do qual você me tirou de perto? - eu também ri

- Olha que eles podem fazer um ótimo casal. Talvez só um pouco cheios de ciúmes e drama.

- Drama é com a Karina mesmo.

Ele sorriu e me beijou no rosto.

- Vamos dormir, vamos? Vai dar tudo certo. Apesar de tudo, eu ainda acredito que vai.

Eu retribuí seu beijo, mas em seus lábios.

- Aonde a gente vai? - a pequena me perguntou já no banco de trás

Eu coloquei o cinto e a olhei pelo retrovisor.

- Nós vamos escolher dois vestidos. Um para mim e um para você.

- Vestido? Pra quê?

- Pro casamento. Esqueceu que nós duas vamos entrar pelo tapete vermelho? - eu sorri, olhando para trás e aproveitando para dar ré

- Papai não vem?

- Não, ele tem trabalho para fazer, alguns bolos para decorar. Além disso, ele não pode ver meu vestido antes do dia, dá azar.

Ela pensou por um minuto, como se nunca tivesse ouvido falar nisso.

- Fadas madrinhas não fazem vestidos? Que nem na Bela Adormecida? - ela me questionou

- Ótima pergunta - eu disse enquanto pensava em uma resposta convincente

Ela tinha me encurralado. Ou aquela história de fada madrinha ia por água abaixo ou eu teria que inventar uma desculpa. E não, eu ainda não estava preparada para paramos com essa fantasia de conto de fadas na qual ela era a princesa. Acho que eu não queria que ela crescesse, que ela perdesse essa inocência.

- Então - eu enrolei mais um pouco - Como é um vestido muito especial, eu não posso fazê-lo com minha varinha, ainda mais para mim mesma, eu ia gastar toda a mágica experimentando e fazendo vários vestidos. Como eu não conheço nenhuma outra fada madrinha para fazer para mim, o jeito é ir em uma loja mesmo... Como as pessoas normais fazem.

Ela concordou com a cabeça, não muito convencida. De fato, eu achava que ela só estava me testando. Isadora às vezes me assustava por ser tão inteligente, acho que muito mais do que eu era na sua idade.

Eu estava feliz por estar passando tempo com ela, principalmente no meu último dia de férias realmente. Segunda eu voltaria para o trabalho e eu ainda não havia decidido nada quanto à faculdade. Ou seja: eu poderia passar menos tempo do que eu desejava com Isa. Não vê-la crescer dia após dia quebraria meu coração de todas as maneiras possíveis. Por isso decidi que esse ia ser um dia especial. Não havíamos nem falado em datas exatas para o casamento, mas eu quis escolher o vestido logo e, é claro, consultando a maior especialista em contos de fada que eu conhecia.

Dirigi logo para a loja mais famosa da cidade, já que eu sabia que era indecisa e lá eles teriam várias opções para que eu experimentasse.

Os olhos de Isa se arregalaram, brilhando. Eram muitos vestidos lindos juntos: com brilho, com seda, com várias e várias camadas. Ela provavelmente iria querer um vestido de princesa. Eu estava pensando em algo bem mais simples para mim, afinal, arrastar uma longa calda pelo pequeno quintal da nossa casa não estava no meu plano.

Assim que chegamos, fomos recebidas por uma atendente alta, com cabelo em coque e um batom roxo. Ela perguntou se poderia ajudar com algo, mas sua expressão mudou logo que eu disse que estávamos ali para um vestido de noiva para mim e um de daminha para minha filha.

- Então a única pessoa que você trouxe para te aconselhar a escolher o vestido mais importante da sua vida é sua filha pequena?

Irritada e achando a pergunta bem inconveniente, eu já ia perguntar qual era o problema. Mas ela se explicou logo em seguida.

- Vocês não querem participar da gravação de hoje? Essa é uma história perfeita!

E foi assim que eu e Isadora nos vimos participando de um reality show sobre a escolha do vestido de noiva. Eles adoraram o fato de a única pessoa para julgar o vestido era minha filha de quatro anos. Isa no começo ficou meio tímida, me deixando em dúvida sobre realmente entrar nessa ou não. A produção conversou com a pequena, explicando que ela nem veria as câmeras e que não iam gravar nada que ela não quisesse. Quando perguntei a ela se realmente queria fazer parte disso, afinal, ia passar na TV, ela ficou um pouco preocupada, me deixando ainda mais em dúvida. "Seu vestido vai passar na TV? E se o papai ver?", ela me perguntou. Achei sua pergunta instigante. "Bom, a gente esconde o controle e deixa só no canal de desenho animado!", falei, fazendo-a rir. Acho que esse foi o que ela precisava para querer participar daquilo tudo.

Era um ritmo diferente do que você via na TV. Eu conversei com as vendedoras, já explicando o que eu queria. Elas já separaram alguns vestidos em mente. Na gravação, fiquei aflita em deixar Isa sozinha no salão principal e ir para um pequeno vestiário, mas respirei fundo e fui. Enquanto a vendedora abotoava a primeira opção de vestido, apertando-o atrás, eu me via no espelho sem acreditar que eu realmente estava fazendo isso, ainda mais com uma câmera me filmando. Eu! Montreal! O que estava passando pela minha cabeça na hora de aceitar?

- Uau! - Isa disse assim que eu andei até onde ela estava

A vendedora começou a explicar detalhes que nem importavam para a Isa. A cintura é bem definida, o caimento é perfeito para o seu corpo, o acabamento é em seda e blá blá blá. Eu me olhei no espelho e acabei achando-o sofisticado demais para um casamento de manhã no meu quintal.

- Você está parecendo uma fada madrinha! - Isa comentou

Sinceramente, não queria me parecer uma fada madrinha no meu casamento. Então resolvi escolher outro.

- Esse é lindo! - Isa disse quando voltei com o segundo vestido

É claro que as opiniões não iam ser lá muito críticas vindas de uma menina de quatro anos que sonhava com contos de fada, mas todo mundo estava achando-a a coisa mais fofa do mundo.

- Eu realmente gostei mais desse - eu disse para o espelho

O comprimento não era tão grande, não iria arrastar pela grama. Ele tinha a proporção perfeita de brilho, mas eu ainda não estava certa sobre o decote em coração. Parecia profundo demais.

- Que tal esse, querida? - perguntei, me virando

- Parece o vestido da Encantada, só que branco! - ela comentou, fazendo sempre referências

- E isso é bom? Ou você está falando daquele vestido que ela faz costurando a cortina? - eu brinquei, o que fez a menina levar as mãos à boca e rir, mexendo os pés sentada no sofá

- É melhor eu experimentar outro - comentei, descendo do tablado de madeira

Em meio ao riso dos presentes, ouvi meu telefone tocar na minha bolsa, perto de Isadora.

- Posso atender? - falei, cortando a gravação

Procurei o meu celular pensando que era alguma noticia sobre o orfanato e a decisão deles quanto ao caso de Daniel. No fim, vi que era Enzo.

- Oi, amor. O que foi? Ficou entediado sozinho em casa? - perguntei, de bom humor

- Mon, eu só estou ligando para que você não estranhe se chegar em casa e eu não estiver lá - ele respirou fundo - Eu estou na delegacia.

E, em um piscar de olhos, o reality show de vestidos de noiva se transformou em uma série de suspense policial.

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