3. O destino
A primeira noite em um lugar que não era Dedrya foi melhor do que Jeongguk imaginava. Apesar do conforto que sempre tivera, dormir sempre tinha sido um ponto de escape para ele. Nunca era sobre descansar, mas esquecer dos problemas.
Ali, em Ustaonia, dormir tinha sido simplesmente descanso para um novo dia, um de trabalho, a propósito. Seu único trabalho em seu país tinha sido estudar e, com os acontecimentos, começar suas aulas para ser um diplomata enquanto os pais estavam no poder.
Eram reviravoltas da qual ele não entendia bem.
Pela manhã, serventes bateram em sua porta para chamá-lo para o café da manhã. Jeongguk fez sua higiene antes de ir até o local da noite anterior, que Taehyung o havia apresentado.
Taehyung, assim como os outros, já estavam sentados lá. Haviam muitas cadeiras vazias, entretanto. Sua mente rapidamente disse a ele que mais pessoas também deveriam estar ali — provavelmente as crianças.
Ele caminhou devagar, e quando estava em uma boa proximidade, disse um bom dia para os dois mais próximos, que lhe responderam. Após isso, ele passou pelas cadeiras vazias até chegar na mais próxima de Taehyung, querendo sentar ao lado dele, mas em um último momento, sua mente lhe disse que ele provavelmente estaria passando dos limites fazendo isso.
Nem seus próprios amigos estavam tão próximos do Kim, por que ele poderia? Ele puxou duas cadeiras de distância para se sentar, sendo convencido pelas vozes de sua cabeça.
Quando ele ia se virar para dizer bom dia ao alfa, ele o viu levantar da cadeira em que estava, alguns passos para chegar a cadeira ao lado da sua, puxando-a para se sentar.
— Você não quer ficar próximo de nós? — Taehyung falou com um tom brincalhão. Com o alfa ao lado dele, o mais próximo que já tinham estado desde que se conheceram, foi possível para ele sentir uma breve menção de seu cheiro. O aroma fresco e intenso da laranja foi sentido, e mesmo com pouca presença dele, Jeongguk se sentiu bem, uma sensação positiva crescendo dentro dele.
— Eu só achei que não devia — Jeongguk murmurou, ainda pensando no fato de que Taehyung havia saído do lugar dele para ficar ao seu lado. Isso o fez sorrir um pouco. — Bom dia.
Taehyung sorriu para ele.
— Bom dia.
Eles tomaram seu café da manhã em um silêncio confortável. Jimin vez ou outra perguntava algo a Taehyung sobre as tarefas do dia, e Taehyung o respondia com todas as instruções possíveis. Hyerim do mesmo modo. Era um diálogo confortável e respeitável, onde todos pareciam se enxergar a par de igualdade, mesmo que soubessem que ainda deviam respeito por Taehyung ser o líder da aristocracia Kim. Mas não era uma liderança opressora como a de seus pais, entretanto. Mesmo para alguém estranho como ele, sua recepção tinha sido gentil, como o próprio alfa já demonstrava ser. Tudo parecia correr bem por causa dele, e Jeongguk teve mais certeza disso ao lembrar das mudanças que ele estava tentando fazer.
Os dois ômegas terminaram primeiro, saindo juntos logo após, ambos avisando que iam começar com suas próprias tarefas do dia. Jeongguk ficou sozinho com Taehyung.
Ele olhou novamente para todas aquelas cadeiras. Sua boca não conseguiu conter a pergunta.
— Existem muitas cadeiras vazias. Muitas pessoas tomam café aqui com você? — ele indagou, esperando que o alfa não o achasse um enxerido. Taehyung pareceu um pouco surpreso com a pergunta, mas logo a respondeu.
— As crianças que você viu na sala. Mas elas não tem vindo desde que você chegou. Estão desconfiadas — Taehyung explicou, sorrindo logo em seguida, observando como a expressão de Jeongguk caiu. — Não se preocupe demais com isso. Vou apresentar você a elas hoje. Vão gostar de você mais rápido do que imagina.
Jeongguk pensou em sugerir começar a fazer suas refeições no quarto, mas ele não queria isso. Pela primeira vez desde que estava fora de Dedrya, ele queria pensar mais em si mesmo. Se Taehyung o tinha dado escolha de ficar lá com eles, então era uma decisão que já tinha sido feita.
— Eu espero que sim — ele disse.
Eles terminaram seu café da manhã, mas diferente do que Jeongguk imaginava, eles não foram para a sala onde as crianças estavam. Diferente disso, eles caminharam para fora do Palácio até chegar nas primeiras ruas da cidade. Jeongguk franziu a testa.
— Não íamos ver as crianças? — ele perguntou, confuso.
Taehyung assentiu.
— Íamos, mas resolvi que vou apresentá-lo a Ustaonia primeiro, mais especificamente nossa capital — Taehyung deu de ombros, mas Jeongguk conseguiu perceber que isso era algo mais importante do que o alfa fazia parecer. Ele também lembrou que era Jimin que deveria fazer isso, como Taehyung mesmo tinha dito a ele. O pensamento do alfa mudando de ideia apenas para levá-lo a conhecer Ustaonia pessoalmente fez algo dentro dele aquecer. — É importante que você conheça como vivemos, para que entenda as crianças também.
Jeongguk assentiu, concordando com isso. Para um forasteiro como ele, conhecer no mínimo o lugar para qual estava indo — não apenas pelas palavras de seu professor, mas vendo tudo — faria muita diferença na hora de falar com elas.
Eles caminharam por ruas e ruas lentamente, paisagens parecidas mas tão únicas a cada piscar de olhos. As pessoas paravam para olhá-los, mas Jeongguk sabia que existiam sentimentos diferentes pelo modo como eram observados. Para Taehyung, é claro, admiração. Parecia ser um líder realmente amado pelo povo. Para Jeongguk, a desconfiança. Pelo que tinha percebido, todos que viviam ali pareciam ter as mesmas reações para pessoas de fora. Não existiam olhos maldosos para ele, mas também não existia atenção. Ele era alguém desconhecido, mas alguém que ainda estava ao lado de Taehyung.
Taehyung falava para ele sobre detalhes que Jeongguk tinha interesse, e eles conversaram sobre aquelas coisas de forma sintonizada. Quando terminaram e passaram a retornar para o Palácio, Jeongguk estava se sentindo leve. Conhecer Ustaonia fez mais bem a ele do que realmente imaginava.
— Tudo é tão bonito e organizado aqui — Jeongguk elogiou. — Você é um verdadeiro líder — ele murmurou, mas o alfa facilmente o ouviu.
— Obrigado. Nem sempre foi assim, para falar a verdade. Mesmo que meus pais tivessem sido bons líderes, ainda existia uma divisão grande entre todos. Desde que me tornei líder, tento mudar isso. Demorou anos, é claro, mas aqui estamos — Taehyung explicou.
Ele observou o Palácio surgir na frente deles. Adentrando o local novamente, eles foram até a sala onde as crianças estavam. Quando chegaram lá, Taehyung pediu licença a professora, convidando Jeongguk a entrar junto com ele.
Sob os olhos das crianças, Jeongguk sentiu o leve receio de novamente não cumprir com o que deveria, mas ele engoliu e tentou pensar novamente que era um esporte. Ele poderia lidar com isso.
— Quero apresentar alguém para vocês — Taehyung convidou Jeongguk para se aproximar mais dele, para que fosse o foco das crianças. — Ele se chama Jeongguk. Ele será o professor de vocês pelos próximos dias. Prometam que serão bons alunos — Taehyung fingiu estar sério, mas como era de se esperar pelo tom brincalhão que ele usou, as crianças riram. Pareciam completamente tranquilas na presença dele, mesmo que ainda desconfiassem de Jeongguk.
— O que ele é? — uma garotinha perguntou. Jeongguk sabia que tinha sido uma pergunta inocente, mas não deixou de machucá-lo profundamente. Orgulhosamente, em outras circunstâncias, ele teria dito sua classe. Agora, tudo que ele poderia fazer era justificar de forma rasa.
— Eu ainda vou receber minha marca, então não... Não tenho uma classe ainda — sua voz estava amena, mesmo que tivesse queimado leve enquanto falava. Taehyung pareceu notar seu desconforto, chamando a atenção das crianças para ele.
— Vocês só o terão como professor por duas semanas. Se esforcem o suficiente, porque o resultado disso aqui vai definir seus futuros professores. Certo? — o alfa perguntou, recebendo altas confirmações. Ele sorriu, satisfeito. — Amanhã será ele no lugar de Hyerim, mas ela estará presente para ajudá-lo. Esse era o aviso, crianças. Aproveitem o resto da aula.
As crianças concordaram, e Taehyung saiu da sala acompanhado de Jeongguk. Quando a porta se fechou, Jeongguk sentiu que podia respirar novamente.
— Tudo bem com você? — Taehyung perguntou gentilmente. Jeongguk sorriu pequeno, assentindo. — Não precisa se preocupar tanto com isso. Eu sei que você não é professor, lembra? Só preciso saber que passará informações que servirão para o futuro deles. Dê o seu melhor e com certeza algo bom sairá disso.
O modo como Taehyung o consolou foi extremamente tocante para ele. Não era comum que isso acontecesse em seu país. Novamente, ele estava se deixando encantar com coisas que deveriam ser normais, mas que para sua vida, não eram.
Ele nem percebeu o que tinha respondido até tê-lo feito.
— Eu vou me esforçar, alfa.
Sua reação foi diferente da de Taehyung, é claro. Mesmo que a surpresa tivesse alcançado a sua expressão e a dele, ela sumiu depressa no rosto de Taehyung. Seus olhos brilharam um pouco, e um pequeno e singelo sorriso foi deixado a mostra.
— Isso é comum em Dedrya? — Taehyung perguntou, curioso. Jeongguk sentiu as orelhas quentes enquanto pensava em sua resposta, porque na verdade, não era. A intensidade de suas emoções naquele momento e o consolo que recebeu foram suficientes para que ele aceitasse deixar os postos por um momento, para que alguém pudesse assumir as rédeas, já que até então, sua mente ainda acreditava que era um alfa. Mas, com o pequeno escapar de suas vontades e emoções, a palavra havia escapado — e sinceramente, ele não se arrependia nem um pouco disso.
— Mais ou menos — ele respondeu, sem saber o que Taehyung estava pensando daquilo, não desejando colocar os pés em falso.
Taehyung pareceu aceitar sua resposta, entretanto.
— Entendo — Taehyung disse, se virando para caminhar.
— Isso é muito estranho? — Jeongguk perguntou de repente.
— Não é estranho, só não é muito comum. Você sabe, cônjuges normalmente se chamam assim — Taehyung sorriu quando Jeongguk arregalou os olhos, parecendo ainda mais chocado com o que tinha deixado escapar. — Isso não significa que você não possa usar, Jeongguk — ele disse.
— Está realmente tudo bem para você? — ele não sabia exatamente porque queria confirmar isso, mas a oportunidade de relaxar um pouco estava lá. Apenas deixe que alguém faça isso, alguém segure as rédeas.
— Sim. Sem problemas — o alfa disse. — Mas, você tem que evitar falar na frente das crianças. Se elas assimilarem isso com os pais delas...
Jeongguk concordou rapidamente, tentando evitar que seu rosto ficasse mais vermelho ainda. Taehyung parecia encantado com sua atitude, mas Jeongguk não achou que fosse nada demais. Eles foram em direção ao salão, onde Taehyung começou a se despedir.
— Você tem livre acesso ao andar em que as crianças estão. Temos uma biblioteca lá também, caso você sinta vontade de usar algo. Pode transitar pelo palácio também, mas evite ir muito longe, pelo menos sozinho. Se precisar de algo ou desejar falar comigo, procure Jimin. Ele é líder da guarda real, então você deve encontrá-lo facilmente na entrada do Palácio — Jeongguk ouviu tudo atentamente, concordando. — Tenho que ir agora. Até mais, Jeongguk.
— Até, Taehyung — ele se despediu, vendo o homem se afastar aos poucos até que sumisse de vista. Quando ele reparou ao seu redor, percebeu que Jimin estava próximo a porta, obsevando a cena que até então acontecia. Foi até ele. — Que horas as aulas das crianças iniciam?
— Oito horas, mas elas estão aqui desde cedo para o café da manhã. Talvez você encontre com elas amanhã.
— Elas ainda parecem desconfiadas.
— Eu ainda estou — Jimin confessou, soltando um riso fraco. — Precisa entender que isso não vai passar logo, quer dizer, você acabou de chegar aqui.
Jeongguk assentiu, pensando em como ele realmente estava exigindo demais oferecendo tão pouco.
— Desculpe.
— Vamos, não precisa se desculpar. Mas você está indo muito bem, se quer saber. É a primeira vez que vejo nosso Líder falando tão tranquilamente perto de alguém que não é de Ustaonia.
— Mesmo com o diplomata Dongho? Eles pareciam ser-
— Amigos? — Jeongguk concordou. — Longe disso. Nosso Líder só falou pessoalmente com ele duas vezes. Eles tiveram uma boa comunicação, é claro, já que o diplomata de vocês enviava cartas para falar sobre as coisas que Dedrya precisava. Nosso Líder se afeiçoou por ele, imaginando que tal como ele, seu diplomata desejasse mudança. Mas ainda existia a desconfiança. Eu sei disso porque escoltei toda a reunião nas duas vezes que estiveram juntos. O que não foi o seu caso, por exemplo.
— Acho que ele não me vê como uma real ameaça — Jeongguk riu fraco. — Alguém sem classe não pode significar algum perigo.
— Não é sobre isso — Jimin disse, e Jeongguk não entendeu. Ele negou, entretanto. — Esqueça isso. Esteja amanhã pela manhã conosco, as crianças estarão lá. Agora que você foi apresentado, elas estarão mais tranquilas com a sua presença.
— Eu estarei.
Jimin se despediu, e Jeongguk voltou para o quarto. Ele queria conhecer a biblioteca que Taehyung falou, mas ele teria tempo ainda. Agora, tudo que seu corpo clamava era descanso.
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