Capítulo 8
Ficamos esperando os meninos chegarem no outro carro, para conseguirem tirar David Porra do banco de trás. Enquanto isso eu sentei no banco do carona e liguei o rádio. Começou a tocar Blank Space, da Taylor Swift.
- Troca, odeio essa música - David disse, com a cara no banco. - Aaaai.
- Pois eu adoro! - Aumentei mais o volume.
- Para, Lyra. Eu tô morrendo aqui atrás, deixa eu escolher minha possível última música. - Troquei a estação do rádio, começando a tocar um reggae. - Troca. - Dessa vez foi country. - Troca. - Depois, rap. - Troca. - O que começou a tocar não era música, eram gritos. - Éééé, dessa eu gosto. Relaxei agora, velho.
- Cara, como é que tá o seu saco? - Greg perguntou pra ele.
- O Harry enfiou um monte de gelo na minha cueca, então ele tá congelado, mas ainda tá doendo muito. Será que eu ainda vou conseguir transar?
- Olha a preocupação do menino! O saco dele tá praticamente dilacerado... na verdade eu nem sei o que dilacerado quer dizer, mas tudo bem... e de tantas coisas pra ele pensar, a primeira é: será que eu ainda vou conseguir transar? - Essa sou eu indignada. - Você tem que se preocupar com coisas como: será que eu ainda vou andar direito? Será que o meu pinto ainda sobe? Será que eu ainda tenho pinto? Será que eu ainda vou conseguir mijar em pé?
- Você mija em pé? - Johnny apareceu, colocando a cabeça na janela.
- Não. Só tô dando exemplos de perguntas que o David Porra deveria estar fazendo nesse momento.
- Ah, tá. Alex e Nathan, empurrem os pés do Dave...
Depois de uma explicação muito complexa de Johnny, os meninos conseguiram carregar David até dentro do hospital. Eu fui falar com a recepcionista.
- Olá, minha senhora. Ele - apontei pro David, que estava no colo dos meninos - está com fortes dores no pênis. E aí, como resolveremos isso?
- Preencha esse formulário aqui e depois me entregue. Seu amigo vai ter que esperar para ser atendido.
- Moça, a senhora não está entendendo. ELE, DAVID PORRA, ESTÁ COM O PINTO DOENDO, MINHA SENHORA. TALVEZ ELE NUNCA MAIS TRANSE, MINHA SENHORA. ELE ESTÁ COM SÉRIAS PREOCUPAÇÕES DE NUNCA MAIS TRANSAR, MINHA SENHORA. ELE PRECISA DE UM TRANSPLANTE DE PÊNIS! RÁPIDO!
- Querida, quem não está entendendo é você. Tem mais de trinta pessoas aqui, esperando para serem atendidas, com as mais diversas doenças e emergências. Então, preencha o formulário e espere para ser chamada.
- Tá. Ok. A senhora me empresta uma caneta, então? - Ela me entregou uma caneta azul. - Valeu.
Fui me sentar perto de onde os meninos estavam. David estava jogado no chão, segurando o saco. Me sentei entre Nathan e Johnny e coloquei a prancheta nas minhas pernas, começando a ler o formulário.
- Nome completo: David Porra. Idade: não sei. Onde mora: na casa dele. Tipo sanguíneo: sangue azul, pois ele é um príncipe. Ocupação? Mano, isso aqui é um formulário pra dar entrada em um hospital ou em um reality show? Ok. Ocupação: agente do FBI e Robin (ajudante do Batman) nas horas vagas.
- Cê tá colocando isso aí mesmo? - Nathan perguntou.
- Sim. A moça não queria que eu preenchesse o formulário? Então, tô preenchendo. Data de nascimento: sexta-feira, 13. Local de nascimento: hospital. Telefone de contato: 190. Mãe: rainha. Pai: rainho. Assinatura do paciente caso tenha que fazer uma transfusão de sangue: ... David, tá em condições de assinar?
- Não.
- Ok. Deixa que eu assino. Pronto, acabei. Ah, não, espera. Informações adicionais: é alérgico a maçã, mas adora uma banana, bem das grossas; gosta de pular ondinhas no pôr-do-sol; adora homens fantasiados de médico, tem esse fetiche desde os nove anos, quando quebrou o joelho e foi atendido por um verdadeiro Deus Grego; odeia enfermeiras, já jogou várias seringas nelas; se o pênis precisar ser substituído, David prefere já fazer a cirurgia de troca de sexo.
- O que? - ele perguntou, me olhando assustado.
- Calma, ninguém lê essas informações. Acabei. - Fui até a senhora super simpática que tinha me atendido antes. - Pronto, minha senhora. Acabei o formulário. Meu amigo pode ser atendido agora?
- Vai ter que esperar. Faltam mais ou menos uns quinze pacientes.
- Vou mandar minha tia jogar uma macumba em você. A senhora vai sentir muita dor na periquita, mas muita mesmo! Vai abrir um buraco na sua xana! E vai ter exatamente quinze pessoas na sua frente, no pronto socorro.
- Minha filha, você tem vagina?
- Tenho.
- Então... Não sei se sabe, mas... Já existe um buraco nela! Vai se sentar, antes que eu te expulse do hospital!
Depois de uma hora - uma hora! - David Porra foi atendido. Nós ficamos esperando na sala de espera, enquanto eu fazia macumba pra senhora da recepção.
- Parentes de... David Porra? - o médico disse, olhando estranho para a prancheta. Nós levantamos. - Ele está passando bem. Mas apenas os parentes podem visitá-lo. É o quarto 203.
- Sou prima dele! - falei, passando pelo médico.
- Eu sou irmão dele - Johnny mentiu.
- Namorado - Harry disse, com uma voz afetada.
- Primo também. - Alex passou.
- Irmãos - Nathan e Greg disseram, juntos. - Somos gêmeos.
O médico nos olhou, assentindo devagar. Sinceramente, o cara não deveria estar nem aí pra quem ia ou não visitar ele. Era capaz de chegar um homem e falar "Tô aqui pra matar o David Porra, cadê ele?" e o médico responder. Entramos no quarto, logo vendo David.
- Hey! Meus amigos... E a Lyra.
- Ou, ou, ou... Que desdém é esse na voz? Fui eu que te salvei, cara. Eu que chamei os meninos pra irem colocar gelo no seu saco, eu que trouxe você até aqui de carro, eu que preenchi o seu formulário, eu que quase estrangulei a tiazinha da recepção para que atendessem você...
- Espera, tô percebendo agora. Você se faz de durona, mas no fundo... Você gosta de mim - ele me disse. - Awn, que fofo! Eu também gosto de você, priminha! Vem cá, me dá um abraço! - Ele estendeu os braços.
Eu fui até lá, meio relutante e o abracei com uma cara de nojo. Odeio abraçar. Ele me puxou mais.
- Chega, né?
- Ah, não. Agora que eu descobri que você não quer só ferrar com a minha vida, não te solto mais não, fia.
- Fia é a tua mãe! E eu quero ferrar com a sua vida sim, então para de me abraçar. Só te trouxe aqui no hospital porque é meu primo.
- Não, você me trouxe aqui porque você gosta de mim, prima.
- Não, eu te trouxe aqui porque você estava sofrendo.
- Você me ama que eu sei. - Ele me deu uma piscada. - Mas eu também te amo.
- Ahn. - Me sentei na outra cama que tinha no quarto e que estava vazia. Peguei aquele controlezinho e comecei a mexer, enquanto os meninos conversavam. Mas aí eu travei e fiquei quase asfixiada no meio da cama, que estava formando um V. - Meninos? - chamei. - Uma ajudinha aqui, por favor? - Não me responderam. - Meninos?
- Eles saíram - David disse. - Vai ter que esperar aí, nessa ótima posição para quebrar a coluna.
- Affe.
- Você se lembra de mim, Lyra?
- Como assim?
- Lembra daquele ano novo em que passamos todos na fazenda do tio Joe? Que nós demos nosso primeiro beijo...
- Foi com você? Achei que tinha sido com o Stevie!
- O Stevie nem tava lá, Lyra. Bem, aquele beijo foi nojento. Acho que foi a primeira e a última vez que nos vimos, antes de agora, nessas férias.
- Eu sabia que te conhecia de algum lugar! Sabia! Caraca, você mudou tanto! Tá sem espinhas, sem aquele cabelo tigelinha, nossa! Não tô acreditando que é você! É que... Sabe... É que não parece você! Eu lembro, faltava um tempo para o ano novo, aí você me perguntou se eu já tinha beijado na boca...
- Aí você respondeu "Ew, não, meninos são nojentos.". Aí eu me aproximei e te dei um selinho e você disse "Ew, beijar também é nojento!". E saiu correndo. Fiquei depressivo, Lyra. Nossa.
- Quantos anos a gente tinha mesmo? Uns oito, né. Eu ainda acho meninos nojentos, se quer saber. Mas beijar não, de beijar eu gosto. Cara, eu ainda não acredito que é você! Nossa!
- Pois é. Quando você subiu no sótão eu pensei "Lyra! Que que essa demônia tá fazendo aqui, caralho?".
- É. E eu pensei "Conheço esse menino de algum lugar, velho. A cara feia dele me lembra alguém".
- Pfff, cara feia? Eu sou parecido com você, colega. Se eu sou feio, você também é.
- Não sou feia.
- Não é mesmo - Greg disse, entrando com uma coca.
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