Capítulo 4
Greg foi jogar com o resto dos meninos. Depois de um tempo, eles resolveram colocar um filme ridículo de terror, aí eu fui assistir também. Cada vez que escutavam um barulho, eles quase se cagavam de medo. E eu fica tipo: "É um filme! A caralha da demônia não vai sair da tela pra pegar vocês". Mas aí eu tive uma ideia. Depois que percebi que todos finalmente dormiram, eu peguei o celular do Greg. Anotei o número dele e desci até a sala de TV. Peguei o telefone e liguei pra ele. Atendeu no primeiro toque.
- Q-quem é?
- Sete dias... - falei com a voz da Samara. Não se pode ganhar dos clássicos. Depois, desliguei o telefone e subi correndo pro banheiro. Logo, escutei os meninos saindo do sótão. Eles começaram a bater insistentemente na porta.
- Ô caralho, eu tô cagando! - falei, enquanto me olhava no espelho. Não, eu não estava cagando. Depois, saí do banheiro, vendo os meninos pálidos.
- Lyra, você percebeu alguma coisa no tempo em que esteve no banheiro?
- Não. Só aqueles azulejos de conchas rosas e laranjas que não me agradaram muito. Por que a pergunta? - Gente, eu sou uma ótima atriz.
- Eu recebi uma ligação.
- Legal, mas por que está sussurrando?
- Porque ela pode estar me vigiando.
- Ela quem?
- A Samara.
- Ok. Vou voltar a dormir, porque essa história de vocês pra me assustar não deu certo, falou?
- Não é história, Lyra.
- Sim, claro. Dá licença, que eu vou pro sótão.
- Não entra lá! Eu senti uma energia negativa!
- Nossa, você tá pior que minha tia com essas tais 'energias negativas'. Vamos dormir logo?
- Eu não vou subir! - eles falaram.
- Ok, então eu subo e falo pra vocês se tiver alguém lá, ok? - Comecei a subir a escadinha e entrei. Liguei a TV em um canal que não pegava (ou seja, que só fica cinza e fazendo shshshsshshshh) e desliguei de novo, pegando o controle. Me escondi atrás da TV e comecei a gritar. - Aaaaaaaahhhh!!! Me ajudem, meninos!!!
Eles subiram como foguetes e acenderam a luz. Percebi que Alex tinha pegado um quadro que fica no corredor.
- Lyra? Aimeudeus, cadê essa mina? Coisinha, cê tá aqui? Lyra! - Nathan disse. Liguei a TV.
- Ai Jesus, eu vou morrer! Se vocês encontrarem a Lyra, digam que ela é gostosa pra caralho e que eu queria pegar ela. - Greg começou a se esconder no canto do sótão. Comecei a fazer vários barulhos e me remexer atrás da TV. - É agora que eu morro!!!
- O-olha, a gente não quer te machucar, Samara. A gente só quer a Lyra, ok? Não, quer saber, pode levar ela. Só deixa a gente vivo, tá? - Johnny disse. Levantei de trás da TV.
- Nossa, valeu, hein?
- Crendeuspai! - Alex acertou o quadro na minha cabeça, fazendo o negócio rasgar e ficar pendurado no meu pescoço. - Lyra? Era você o tempo todo?
- Era. "Pode levar ela. Só deixa a gente vivo, tá?" Nossa, muito obrigada! Mesmo! E SE EU ESTIVESSE EM APUROS???
- Nossa, velho. Você quase matou a gente do coração, Lyra. Ah, não, mas você vai ver só. Espere, Lyra. Espere.
***
No dia seguinte, eles tentaram me assustar. Foi assim: eu estava assistindo minha outra novela mexicana, onde Irina Cristina descobriu que seu marido, Juan Carlos de Nóbrega era, na verdade, seu irmão. Aí eu recebi uma ligação misteriosa.
- Sete dias. - Gente, o Johnny não sabe imitar voz de Samara, descobri que era ele no primeiro segundo.
- Olá, você ligou para o serviço de atendimento ao cliente dos cosméticos TuBelaTuFera. Se deseja reclamar, disque 1; se deseja pedir informações, disque 2; se deseja processar a empresa, disque 3... - Ele desligou. Porra, eu já tava me sentindo a atendente!
Desci com cuidado do sótão para que não me escutassem. Percebi que eles estavam no banheiro. Devem estar todos espremidos. Grudei na porta para ouvi-los.
- Cara, era o telefone do sac de uma empresa de cosméticos! Tu tem certeza de que é esse número? - Johnny disse.
- Eu perguntei pra minha tia, ela disse que era esse! Tenta de novo, vai que você digitou errado. - Logo, meu celular começou a vibrar de novo. Fui até o fim do corredor, para que não me ouvissem.
- Alô? - disfarcei a voz.
- Sete dias.
- Ah, meu Deus, finalmente que esse sofá vai chegar! Olha, moço, eu não compro mais na tua loja não, viu? Esse sofá tá demorando uma vida! Se não chegar em sete dias, como o senhor disse, eu vou te processar! - Ele desligou de novo. Voltei pro banheiro pra escutar.
- Mano, não é possível! Agora era uma senhora reclamando que se o sofá não chegar em sete dias, ela vai me processar! Tenta você, Alex! - Meu celular vibrou de novo. Puta merda. Eu corri pro fim do corredor.
- Sete dias - eu falei e ele desligou na hora. Hahaha. Até que tá sendo divertido. Voltei pro banheiro.
- Ela falou sete dias pra mim! Era a Samara!
- Não é possível. Deve ser a Lyra. Me dá essa merda - Dora disse. Meu celular vibrou novamente e... ah, vocês já sabem que eu corri.
- Alô? - Fiz outra voz.
- Sete dias.
- Que sete dias, meu filho? Que porra é essa?
- Lyra, é você?
- Não tem nenhuma Lyra aqui. Olha, eu tô quase queimando meu arroz, então vai passar trote pra tua mãe! Muleque ingrato. - Dessa vez eu desliguei o telefone primeiro. Logo, vibrou de novo. - Alô?
- Lyra, para de zoeira!
- Eu já falei que aqui não tem Lyra nenhuma, seu mal comido! Compra uma lista telefônica e me deixa em paz! - Desliguei de novo. Apaguei todas as ligações da lista e guardei o celular. Comecei a bater na porta do banheiro. - Gente, eu sei que um comendo o outro aí deve estar muito legal, mas eu preciso ir no banheiro! - Eles abriram a porta.
- Lyra, você recebeu algum telefonema?
- Sim. Um da minha mãe.
- De mais ninguém?
- Não que eu me lembre.
- É sério, Lyra. Para de brincadeira! Eu sei que foi você que atendeu nossas ligações!
- Eu não atendi porra nenhuma, pode ver no celular! Só tem a ligação da minha mãe, ó.
- Mas então, se não foi você... Foi quem? Isso foi estranho, caras, muito estranho. - Eles subiram para o sótão e eu entrei no banheiro, dessa vez digitando o número de Alex. Logo atendeu.
- Alô?
- Sete dias. - E desliguei de novo. Ai, como eu sou maléfica! Depois, me ligaram de novo. - Loja de especiarias Mahata, boa tarde? - Fiz a voz de um homem.
- Sete dias.
- Não, senhor, o prazo máximo de entrega é de três dias. Três, não sete. Isso, é claro, sem pagar frete.
- Lyra!
- Me desculpe, senhor. Não compreendo. Lyra é um tipo de erva, tempero? De que país vem? - Ele desligou. Liguei de novo pra ele. - Senhor, ainda vai querer o tempero Lyra? Eu o achei aqui em meu estoque.
- Ahm, tá. Eu vou querer esse tempero Lyra - Alex falou, irônico.
- Muito bem. Qual é o endereço, por favor? - Alex passou o endereço pra mim. - Ok, senhor. Seu pedido será entregue o mais rápido possível. Obrigado pela compra, tchau. - Desliguei o telefone e saí do banheiro silenciosamente.
Fui até a cozinha e peguei um pouco de açafrão e de orégano. Fui até o escritório da minha tia, que é na verdade um ateliê, já que eu descobri que ela fazia artesanato e também trabalhava em uma revista (acho que ela conhece o Sfiha de lá). Ela estava fazendo algumas coisas com uns vidrinhos pequenos e eu perguntei se podia pegar um. Eu também pedi pra imprimir um negócio em uma folha adesiva dela. Ela disse que eu poderia usar o que quisesse. Imprimi com uma letra mó doidona o nome do tempero, mas em vez de colocar Lyra, eu coloquei "Tempero Leerá". Depois, coloquei açafrão e orégano no vidrinho e colei o adesivo. Peguei um envelope e coloquei uma folha de sulfite dentro, aonde colei várias letras de revista formando a frase "Sete Dias". Fui até o correio e mandei entregar na casa da minha tia. Depois, comprei uns limões só pra despistar. Entrei novamente na casa e logo os garotos apareceram dizendo:
- Onde você tava?
- Fui comprar os limões que a tia Josie mandou eu comprar, ué.
Logo, a campainha tocou. Era o carteiro. Quero só ver a cara deles. Dora atendeu e logo voltou com a caixa.
- Tá endereçado pro Alex. - Alex abriu e pegou o vidrinho.
- Caralho! Tempero Leerá.
- O QUE? Deixa eu ver isso aí. - Dora pegou. - Olha, tem um envelope.
- Ai, Jesus Cristinho. Sete dias.
- Dexôve esse tempero! - falei. - Que legal! Parece com o meu nome! - Abri o vidrinho e cheirei. - Usa em comida?
- Não sei.
- Quem te mandou, Alex?
- Não sei.
Subi pro sótão e logo escuto passos. Era Greg.
- Você de novo?
- Quer sair comigo hoje?
- Não.
- Por que não?
- Porque eu te acho um tarado.
- Que pena! Eu ia te convidar pra ir em um parque de diversões.
- Parque de diversões?
- É. Vamos, vai ser legal.
- Ok. Mas você não vai tocar em mim!
- Não vou. Então... Te pego aqui às seis?
- Tá.
- Ok. Ahm, tchau.
- Tchau
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