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Capítulo 28

Nem dormimos direito, pois tia Josie quis fazer compras. Só falta um mês, Lyra, só um mês pra você parar de acordar cedo. Não, calma, as aulas começam daqui a um mês, então... Eu tenho que dormir tarde aqui! Porque em casa eu vou ter que acordar cedo! Mas não dá, porque a tia Josie é uma louca. E só pra constar que um carro normal cabe cinco pessoas, o da minha tia só cabe quatro - aquilo deveria ser chamado de moto, não de carro, é muito pequeno! -, mas ela queria enfiar seis pessoas. Nos dividimos pelo tamanho de cada um. O Alex é uma coxinha gigante, então ele foi no banco da frente; o Harry e o Johnny têm os ombros bem largos, foram atrás, perto nas portas; eu tenho a parte debaixo maior, então deu uma encaixada legal no meio dos dois; David Porra que é magreza em pessoa foi meio deitadinho, em cima de nós três. Ninguém merece ele.

Ninguém merece as roupas que eu trouxe, isso sim. Lembrando que estava uns quilos mais magra antes de ficar aqui, porque lá em casa minha mãe não deixa eu comer nada. Mas então... Eu coloquei uma calça jeans de cintura alta (já disse que amo coisas de cintura alta? Elas me alongam e me deixam mais magrinha!), um cropped de listras brancas e azuis e mocassins vermelhos. Mas o cropped é largo e tinha um decote grandinho. Resultado: os peitos pulando o tempo todo e a blusa não sabendo exatamente em que parte do meu corpo ficar.

Entramos no shopping e eu e David Porra logo nos grudamos um no outro. Sabe quando você vai comprar seu presente de natal tipo no dia 22 ou 23, ou no domingo mais próximo do natal e tá aquela coisa do demônio, aquele antro, que entra trinta pessoas no shopping ao mesmo tempo que saem duas? Sabe? Então, era isso que tava acontecendo. Mas detalhe: não estamos em dezembro! Eu senti medo de ser levada pela correnteza de gente e de sacolas; olhei e David Porra também estava com uma cara do tipo "Deus, não me leva ainda. Não quero morrer por esmagamento". Ou seja, tive que ficar de mãos dadas com ele.

Minha tia disse que ia dar uma coisa pra cada um de nós. Eu quis um sapato, e ela disse que não, que era pra escolher coisa baratinha. Resolvemos que todos nós gostaríamos de apenas uma coisa: um Just Dance. Os meninos disseram que levaram um XBox na casa da tia Josie, apesar de eu nunca vê-lo. Sério, eles foram super preparados! E eu só levei livros! Eu devia ter me preparado mais para essa viagem! Compramos o Just Dance 2016 e esperamos a tia Josie entrar em várias lojas. Ela saiu de uma de sapatos e já quis entrar em uma de roupa.

- Mas não é possível que a senhora já não tenha entrado em todas as lojas dessa porcaria de shopping! - David Porra disse.

- Quer saber? Tomem aqui. - Ela entregou uma nota de não sei quanto ao David. - Isso dá pra comprar lanche pra todos?

- Calma, deixa eu ver... Dá. Valeu, tia.

- Quando eu acabar, eu ligo pra vocês e vocês me encontram no carro, ok? Vocês conseguirão achar o carro?

- É vermelho, não tem como não ver - falei.

- Ok. Ai que blusa linda! - É feia, certeza.

Nenhum de nós sabia onde era a praça de alimentação do shopping. Tentamos seguir aquelas plaquinhas, mas acabamos nos perdendo um pouco. Parecia aqueles passeios escolares, com as crianças tudo junta, um bolinho de arroz. Depois de um tempo, conseguimos encontrar. Nos sentamos em uma mesa.

- Tá - David Porra começou a falar, com a nota na mão. - Eu quero do Subway. Alex, vai querer da onde?

- Burguer King.

- Johnny?

- Burguer King também.

- Harry?

- Eu queria do McDonald's, mas pode ser do Burguer King.

- Lyra?

- Quero do Subway. Gosto dos cookies de lá.

- Então vocês vão lá comprar e eu e a Lyra esperamos aqui. - Ele entregou o dinheiro pros meninos e eles foram.

- Tô com sonoooo - reclamei, meio que me jogando na mesa. - Tá com sono, David Porra?

- Sim. Não fica em cima da mesa, é suja.

- Vai mandar em mim agora? - Levantei e o encarei.

- Não, só estou dizendo... - Ele ficou me encarando. - Você fica muito bonita quando se arruma.

- Como assim?

- É que na casa da tia Josie ou você fica de pijama ou você coloca um shorts jeans e uma camiseta qualquer. E hoje você está arrumada. E está bonita.

- Valeu.

Ele se aproximou muito de mim, tipo, quase que grudou uma cara na outra.

- Quero ver se melhorou seu beijo - ele disse e... tchan.

É estranho você beijar de novo a pessoa com quem você tirou o bv. Porque tirar o bv quase sempre é estranho, e fica mais estranho quando os dois são bvs, e o meu beijo com o David Porra não foi bom, mas agora está bom, o que faz com que esse beijo seja tão estranho quanto o primeiro. E também é um pouco estranho quando você sente que tem três seres que estão te encarando. E esse meu pensamento também está estranho.

Quando acabou o "momento", eu apenas encarei os meninos com uma cara do tipo "Qual é? Nunca viram um beijo na vida?", peguei o troco deles e eu e o David fomos até a fila do Subway, que estava pequena. Ele me abraçou meio de lado e nós ficamos esperando. Ah, está sendo legal ficar assim meio junto com o David. Tá uma coisa... interessante. Quando chegou a nossa vez, ele me disse:

- Vamos pedindo a mesma coisa, aí no final corta o lanche de 30cm no meio, pode ser?

- Tá. É tudo o mesmo gosto. - Ele me apertou um pouco mais, tipo "Para, menina, a mulher tá escutando.".

Nós brigamos porque eu queria o pão de três queijos e ele o normal, brigamos porque eu queria frango teryaki e ele frango normal... David Porra só gosta de coisa normal, ninguém merece. Deve ser daqueles que vai no restaurante de quilo e pega arroz, feijão e carne. É tudo o mesmo preço, pode ter até caviar, mas vai no básico. Não entendo isso. Aí no final pegamos duas cocas e eu quis dois cookies. Voltamos pra mesa e os meninos tavam quase acabando os lanches deles.

- Ah, eu amo cookies! - Alex disse, tentando pegar um.

- Eu também amo! Por isso que comprei pra mim!

- Isso é pecado! Deus tá vendo!

- Se Ele comprasse cookies no Subway, Ele também não te daria.

- Tô imaginando Deus, Jesus e o Espírito Santo aqui agora, comendo umas batatinhas...

- Isso é porque você tem problema.

- Tá se achando agora, né fia? Só porque tá de pega com o Dave.

- Não tô "de pega" com o David Porra.

- Não era eu que estava enfiando minha língua na boca dele.

- Até porque isso seria nojento, cara - David disse.

- Não foi nojento quando era a da Lyra... - Alex começou a fazer uns movimentos estranhos com a língua.

- É tão legal essas pessoas que não cuidam da própria vida! - Joguei um guardanapo nele.

- Lyra? - uma menina me chamou. Quem é essa demônia?

- Quem é você?

- Sou a Emily! Nós estudamos juntas no jardim de infância.

Tentei me lembrar de quem era ela e acabei descobrindo que eu não fazia a menor ideia. Dei um sorrisinho sem-graça e a abracei.

- Ah, nossa, oi! Você está tão diferente!

- Quanto tempo, né? Esse aqui é meu namorado. - Ela apontou pro cara que estava ao lado dela. Ele parecia não querer estar ali. Não o culpo, a voz dela é chata.

- Esse aqui é o meu! - Adoro competir. E o David Porra é mais bonito que o namorado dela, então... Me sentei de novo e abracei o David. - Foi bom ver você de novo, Emily.

- É... A gente pode marcar alguma coisa qualquer dia desses.

- A gente marca.

- Não quer o meu tel...

- É, a gente marca sim. Tchau!

Ela saiu meio com raiva ou sei lá e eu voltei a comer.

- Quem era? - David me perguntou.

- A Emily... Apesar de eu não conhecer nenhuma Emily.

- Por que disse que eu era seu namorado?

- Pra não falar pra ela que eu não tenho.

- Deus não tolera mentiras - Alex disse, apontando metade do cookie pra mim.

- Você tá comendo o meu cookie! Eu não deixei você comer!

- O Dave deixou!

-mVocê deixou ele comer o meu cookie? - Ele deu de ombros. - Pode ir lá buscar outro pra mim!

- Olha o tamanho da fila!

- Corta!

- Não vou cortar fila!

- Ah, você vai. Ou eu jogo o gato em você de novo.

E é assim que se consegue um cookie novo.

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