Capítulo 22
-... E eu tinha sonhado com aquilo!
Estou aqui, há mais de meia hora, sentada ao lado do pai do Chris. A primeira vez que eu o vi, o achei bem... "homem de negócios". Agora, ele parece aqueles bêbados de boteco. E o melhor é que ele quer conversar comigo! Vieram uns cinco amigos dele, mas esse homem insiste em conversar co-mi-go!
- Uau! O senhor tinha sonhado que acertaria a bola e depois acertou realmente? Impressionante!
- Pois é, menina! Acertei na primeira tacada!
- Jura? Há quanto tempo o senhor joga golfe?
- Já faz bastante tempo. Eu tentei ensinar o Christian, mas ele não tem jeito pra coisa. Bom, a conversa está muito boa, mas acho que tenho que ajudar o Christian, ou hoje a gente não come. CHRISTIAN! NÃO É PRA JOGAR ÁLCOOL NO HAMBÚRGUER!
- MAS VOCÊ DISSE QUE ÁLCOOL AUMENTA O FOGO!
- MAS É PRA JOGAR NO CARVÃO, NÃO NA CARNE! SAI DAÍ!
- Lyra, vem brincar comigo! - Luna me chamou.
- Claro! Vamos! Quer brincar do que?
- Banco imobiliário. Vem aqui na mesa.
Nós começamos a jogar e logo sou surpreendida por Chris, que se senta do meu lado e me dá um beijo um pouco demorado.
- Chris! Tem um monte de gente aqui, pelo amor de Deus!
- Desculpa, não aguentei.
- A Luna não pode ver essas cenas! Ela é muito jovem!
- Você viu alguma coisa, Luna? - Ele mostrou dois dólares pra ela.
- Não vi nadinha. Quer jogar também?
- Vou jogar junto com a Lyra. Finge que a gente é casado e tem a partilha de bens. Ah, olha lá! Não se aguenta de ciúme! - Ele me mostrou Greg, que beijava a Maya. - Viu que eu estava te beijando e beijou ela também, pra te fazer ver. Ah, mas é muito idiota mesmo.
- Chris! Eu não tô nem aí pro que ele tá fazendo. Eu quero mais é que o Greg se fo... - Olhei para Luna. - ...oooi. Vai, Luna, sua vez.
Nós ficamos jogando até o pai do Chris nos chamar pra comer. Eu caí matando nos hambúrgueres, porque estava com muita muita muita fome. Mas eu me lembrei de que eu tinha que emagrecer... e que tinha mais gente pra comer. Então, comi só um mesmo. Pão, carne e queijo, senhor? Sim, e não esquece do brinquedo. Quer doar uma moedinha pras crianças com câncer, senhor? Que crianças, moça? Ah, coloca logo a moeda no pote, porra. Nem sei mais o que eu tô pensando. Deve ser a fome. Daqui a pouco eu desmaio aqui. Ia ser meio vergonhoso, sei lá.
Depois, o povo começou a se dissipar. As mulheres foram pra um canto, falar de sei lá o que; os homens, assistir um jogo de futebol; Luna foi brincar com os filhos de um dos caras que tavam aqui no churrasco... E eu, Chris, Greg e Maya ficamos lá na grama, conversando.
- Tô cansada. - Deitei no colo de Chris. - Mexe no meu cabelo.
- Por que?
- Porque eu quero. - Ele riu e começou a mexer. - Vocês estão ouvindo isso?
- O que? - Chris disse, e os três ficaram quietos.
- É a voz do David Porra.
- Não é não.
- Claro que é. Escuta.
Nós ouvimos a voz do pai do Chris e depois a do David Porra, seguida pela do Alex. Certeza que os quatro estão aqui.
- Eles estão aqui. Acho que estão te procurando - Chris disse e me deu um selinho.
- Vieram por causa da comida. Certeza. Não alimente o Johnny, o Alex e o Harry, ouviu? Só o David Porra. O resto é tudo cuzão. Tá me ouvindo, Chris? Se você der uma migalha que seja pra esses três traidores, eu nunca mais falo com você na minha vida! Está ouvindo, Christian?
- Sim. E não me chame de Christian.
- Tá bom, Christian.
- Lyraaa! Achei! - Alex veio correndo. - Oie! Tudo bem, gente? Ah, vocês estão fazendo churrasco? Que legal! Cadê o hambúrguer, pão...? Barbecue?
- Ah, acabou, que pena. Mas eu deixei um hambúrguer pro David! Porque ele é legal e não me trocou por uma festa com putas e bebida!
- Deixou? Que emoção! - David disse, secando uma lágrima inexistente. - Eu tô com fome. Cadê o hambúrguer? Ah, aqui. Tô muita emoção aqui, gente. Eu queria, primeiramente, agradecer à minha mãe, por ter me parido e, depois, à Lyra, por me dar... esse hambúrguer. Brigado, Deus. Agora eu posso comer. - Maya riu.
Tô gostando de ver o David e seus poderes de sedução. Só preciso dar um sumiço no Greg. E se eu matar ele? Não, Lyra, como você pensa numa coisa dessas? Você não vai ter onde jogar o corpo, sua burra!
- Isso é um ultraje! Nós merecemos hambúrguer também! - Alex gritou.
- Não merecem não! Vocês não merecem hambúrguer! - eu gritei.
- Tá aqui, ó, gente, hambúrguer pra todo mundo - Chris disse, com alguns hambúrgueres montados.
- Não, Chris! Não é pra você fazer pra eles!
- E eu vou deixá-los com fome?
- Sim!
- Negar comida é pecado, Lyra!
- Ah, é? Tudo bem! Beleza! Cadê minha bolsa? - Johnny estendeu a bolsa e eu a peguei.
- Ah, Lyra, cara, para de frescura, vai!
- Me deixa com as minhas frescuras e fica aí alimentando eles!
Abri o portãozinho de madeira que fica no quintal e saí da casa do Chris, indo para a da minha tia. Eu ainda estava na casa do vizinho, quando comecei a escutar a TV. Eu acho que a tia Josie é um pouco surda, porque ela sempre coloca o volume das coisas no máximo. Entrei e a vi jogada no sofá, assistindo CSI.
- Ah, oi querida. Quer assistir comigo?
- É, pode ser... Quem morreu?
- Uma garota. Estão acusando o namorado dela, que nega e diz que a amava muito. Eu acho que é verdade, viu? - Comecei a chorar. - O que foi?
- Não aguento mais sofrer por homem. Eu tô convivendo com quatro animais, que tem mais dois amigos-animais, que não gostam de um outro animal, que é com quem eu estou meio que saindo. E eu não sei se tô afim do Greg, do Chris ou do David Porra, tia! Eu não posso estar querendo dar uns pega no David Porra, tia! Ele é da família! Isso seria incêndio!
- Incesto, querida.
- Isso mesmo, incenso! O Chris é legal, mas ele acha que é, sei lá, tipo, o salvador da pátria! A casa dele, nesse momento, tá parecendo um albergue! Ele tá lá, com uma mini-fila de pessoas esperando por hambúrguer. Aliás, as pessoas que estão lá, são quem? Os meninos daqui! A senhora não está alimentando eles, tia! Aliás, aqui é outro albergue! Tem dia que vem Greg, Nathan, Chris, pomba-gira... tudo pra dormir na sua casa! E amontoa todo mundo no sótão... Daqui a pouco isso vira notícia, tia! Você deve ser uma psicopata! Eu nem sei mais o que pensar de você!.. Dos três garotos, o único que daria certo mesmo seria o Chris... mas ele não me escuta! Eu mando, mas ele não obedece!
- Então você... gosta do Chris?
- Não! Eu só tô meio que afim dele!
- Meio que afim? Na minha época não tinha isso não! Ou gostava ou não gostava ou fingia que gostava... Lyra, querida, está sofrendo só porque está "meio que afim" - ela fez aspas com as mãos - de um menino?
- A senhora tem razão... Eu não vou mais sofrer por homem nenhum! Eu te juro, tia! - A campainha tocou e eu fui atender. Era o Chris. - DAVID PORRA! David! Ah, Chris, ele não tá, volta outra hora, ok? - Tentei fechar a porta, mas ele colocou o pé. - Dá pra tirar essa lancha ou precisa que eu pise em cima?
- Lyra, não acredito que ficou brava só porque eu dei hambúrguer pra eles.
- É por isso mesmo!
- Posso entrar pra gente conversar?
- Não. Te orienta, cara, tua casa é pra lá, não é aqui não.
- Não acredito nisso. - Ele riu. - Lyra, você é muito dramática! Para de graça, vai! - Ele tentou pegar minha mão, mas eu não deixei. - Lyra! Você sabe que está errada.
- Rhurhm, é, pode ser - falei baixo.
- Oi? Não ouvi.
- É, ahm, é, eu posso ter exagerado... Mas você sabe que eu sou orgulhosa e nunca vou admitir, então você é o errado.
- Posso entrar agora?
- Não.
Fechei a porta na cara dele.
- Exagerou - minha tia disse.
- Sério? - Ela assentiu. Abri a porta de novo. - Oi, Chris, tudo bem? Pode entrar! Quer uma água, um suco...?
- Não, obrigado. Posso entrar?
- Eu já falei que pode, cacete. Não me escuta não? Entra logo!
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