Capítulo 20
- Ok. Nós vamos nos dividir em dois carros. Somos em... 123... cinco.
- Greg, querido, nós somos em sete - eu disse. - Você, eu, o Chris, o David Porra, o Johnny, o Alex e o Harry.
- Foi o que eu disse, sete.
- Nós temos que resolver algumas coisas antes de sairmos. David, você avisou a tia Josie?
- Não.
- Ótimo. David, você pegou a chave do carro da tia Josie sem que ela percebesse?
- Sim.
- David, você...
- Sim, Lyra, sim!
- Greg, você ligou pro Nathan?
- Por que?
- Porque ele fica chateado quando você não chama ele.
- Ruhum, sei - Chris disse, me olhando. Ah, é verdade, ele acha que eu gosto do Nathan.
- O Nathan é mó chato pra essas coisas de festa. Podemos ir, ou você tem mais alguma coisa a dizer, senhorita Lyra?
- Eu preciso retocar meu batom.
- Você já tá com uma boca vermelha de doer e ainda quer passar mais batom? - Alex perguntou.
- Cala a boca, teta de silicone.
- Mulher gosta de se produzir - Chris disse a Alex.
Assim que retoquei meu batom, nós saímos. Eu não tava afim de ser vista naquele carro vermelho horroroso da minha tia, então fui com Greg e Chris no carro de Greg. David foi com o resto dos meninos no outro carro. Nós paramos em um sinaleiro e eu abaixei o para-sol do carro. Será que isso chama mesmo para-sol? Ah, sei lá, só sei que é aquele troço que fica no teto e tem um espelhinho.
- Lyra, o que você tá fazendo? - Greg perguntou.
- Retocando o batom.
- De novo? Tá viciada, hein? Me dá isso aqui! Você vai parecer um palhaço! Chega de retocar batom!
- Não! Nãããão! - O suposto para-sol caiu no meu colo. - Ah, meu Deus!
- Você quebrou o para-sol do meu carro! Desce. - Ele estendeu o braço e abriu a minha porta.
- Oi?
- Desce. Agora. Não quero que quebre mais nada meu! Você é louca? Quebrou um pedaço da Shirley! - Ele pegou o para-sol. - VOCÊ SABE QUANTO A SHIRLEY CUSTOU?
Ele ficou mó tempão falando da "Shirley". E uma porção de fatores que estavam ocorrendo naquele momento da minha vida - TPM, ficar sem beijar por uns tempos, meu batom que voou (meu precioso batom de dois dólares que é bem provável que irá me dar um câncer na boca), meus pneus - fizeram com que eu fizesse uma coisa que não fazia há tempos (usei três vezes o verbo "fazer", pra mostrar que eu realmente não faço muito isso)... Eu chorei.
Desci do carro e comecei a andar, tentando secar as lágrimas com as costas das mãos (essa frase ficou muito... Eu sei, nem parece eu falando, quer dizer, pensando). Logo, o carro da tia Josie para praticamente do meu lado e os vidros são todos abaixados.
- Lyra! O que foi? Você tá... chorando? - David perguntou.
- Não. Não tô não. É que eu fui retocar o batom, e voou no meu olho.
- Você tem sentimentos? Estou surpreso! - Harry fingiu surpresa.
- Harry, agora não. Lyra, entra no carro, vamos pra festa.
- Vou não. Tem um ponto de táxi aqui perto, eu vou pra casa. Não precisam se preocupar, podem ir pra festa. O carro do Greg tá ali perto do sinaleiro, daqui a um quarteirão. Tchau.
- Não, espera! A gente te leva pra casa. Entra aí.
- Dave, comassim? Eu quero pegar as gatinhas! A Lyra já falou que tá bem! Vamos pra festa! - Alex disse.
- Não. Se quiserem ir, vão com o Greg. Eu vou levar a Lyra pra casa.
- Não precisa, David. Eu vou de táxi. Peguei dinheiro da carteira do Johnny.
- O que? Eu quero de volta, viu? Sua ladra! Batedora de carteiras! Vamos, meninos, eu quero ir pra festa e não tô nem aí com esse drama dela.
Eles saíram do carro e eu entrei no banco de trás. Vejo Chris correndo que nem um retardado. Quando me viu, parou de correr e veio até o carro, se sentando no banco de trás, ao meu lado.
- Lyra, ah, meu deus, ah, eu corri bastante, ah, calma... O ar não tá vindo... Uh, liga o ar condicionado aí, David Porra.
David abaixou os vidros de trás até o máximo que dava.
- Pronto. Melhorou, fofo? Prima, dá pra explicar o que aconteceu?
- O Greg disse que eu sou um palhaço... e meu batom voou... e eu sem querer quebrei a Shirley... agora não dá mais pra se proteger do sol... e eu não tô pegando ninguém ultimamente.
- A única frase que fez sentido foi a última. Vamos pra casa, aí você me explica tudo lá, ok? - Assenti.
David ligou o rádio, na tentativa de dar uma animada, mas a música que tocou foi... Impossible. Eu choro com essa música, cara. Eu emociono.
- ... Tell them I was happy and my heart is broken, all my scars are open, tell them what I hoped would be impossible, impossible...
- Desliga isso, Dave! A menina tá depressiva!
- Tá, calma, calma. Então eu vou cantar uma música. Ok. É... C'mon baby turn around, you're a star, girl, take about... Esqueci essa parte... Wiggle wiggle wiggle tanananananaaaaa...
- Nossa, David Porra, me deixou pior do que eu já estava.
Nós chegamos na casa da tia Josie e tudo estava apagado. Pelo menos ela não perguntará nada. Fui pro sótão e peguei tudo o que Greg havia largado ali. Jogos, tênis, roupas... Sim, ele é tão folgado a ponto de largar seus tênis aqui. Peguei tudo e coloquei em um saco de lixo, em seguida jogando pela janela.
- Lyra, não!
- Eu precisei, David! Ele gritou comigo!
- Quem?
- O Greg! Só porque eu quebrei o para-sol da Shirley!
- Mas quem é essa tal de Shirley, caralho?
- É o carro dele! Eu sem querer quebrei, aí meu batom voou, aí ele brigou comigo, aí eu chorei, aí eu saí do carro, aí você me encontrou, aí...
- Calma, tô entendendo nada. Eu vou buscar uma água com açúcar pra você. Já volto, ok?
Ele saiu correndo. Vai cair na escada, certeza. E eu vou ter que levá-lo no hospital, pela terceira vez.
- Quer jogar? - perguntei ao Chris.
- Aquele jogo que eu tava te ensinando?
- É.
- Tá bom. - Ele me encarou tipo "Comassim, menina? Você não tava loucona?". - Sou o carro vermelho.
- Não tem carro roxo? Como assim não tem carro roxo? Tem que ter um carro roxo pra mim! Ah, tem rosa. Pode ser esse mesmo.
Aí, chegando no final... o Chris começa a dar ré de novo. E eu paro de jogar. Sacanagem, né? Me levantei e fui deitar no meu colchão.
- Lyra! O que foi?
- Você fica com pena de mim. Só porque eu não sei jogar.
- Você sabe jogar sim - ele disse, se sentando e mexendo no meu cabelo.
- Então por que fica com pena de mim e me deixa ganhar? E para de mexer no meu cabelo! Não gosto dessas coisas!
- Você tá brava?
- Não! Tô brava não! Vai tomar no cu! Tô super feliz, cara! Meu batom voou! Paguei dois dólares naquela porra! E não sei, cara, tô muito animada! É claro que eu tô brava, porra! - Ele me deu um beijo. - E por que você me beijou? Não é pra beijar uma menina quando ela está brava, cara! - Ele me beijou de novo. - Você endoidou de vez? Tá drogado?
- Ai, Lyra, você fala demais.
E aí ele segurou minha nuca e me beijou de verdade. Beijou, tipo, beijou beijou mesmo, sabe? Ele beijou beijou. E eu beijei beijei também. Porque não tem como não beijá-lo. Aí a idiota aqui resolve abrir os olhos e encontra o David Porra parado na porta, olhando pras unhas. Eu assustei e acabei empurrando Chris.
- David! Há quanto tempo está aí?
- Uns minutinhos. Não interrompi, pois não queria atrapalhar.
- Ahn, não atrapalhou não. - Chris se levantou, coçando a nuca. - Ér, preciso ir, tchau Lyra. A gente se vê.
- Ah, e-eu te levo lá embaixo.
Nós descemos em silêncio, quando chegamos na porta, eu a abri e Chris saiu.
- Bom, é, eu tenho que ir, então... tchau.
- Chris, espera. - O segurei.
- Diga.
O beijei. Não posso perder a oportunidade. Depois que ele foi embora, eu subi de novo, encontrando David deitado no meu colchão, assistindo TV numa pose um pouco estranha. Ele nem me olhou, apenas estendeu um lenço umedecido.
- O que é isso?
- Sua boca tá um pouquinho suja. A do Chris também estava, mas deixa ele passar a vergonha de aparecer em casa com a boca toda borrada de batom.
Joguei uma almofada nele e ele riu.
Bạn đang đọc truyện trên: Truyen247.Pro