Tw - morte

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Enquanto Eddie andava pelas ruas de Hawkins, percebia que algo estava muito errado. Todas as comidas em sua casa haviam apodrecido, até mesmo as frutas que ele tinha acabado de pegar de uma árvore. Pelas ruas, animais se agitavam de forma incomum.

— A escuridão chegou para recolher o fruto amargo do diabo que semeamos! Para se deleitar com nossa maldade! — Eddie ouviu Billy gritar. — E ainda assim, vocês sorriem, cegos aos horrores a nossa volta, mas agora vocês vêem!

Eddie se aproximou do poço da cidade. Várias pessoas estavam reunidas ali, tentando tirar algo de dentro do poço enquanto Billy gritava.

— Ele bloqueia nosso poço, obstruindo-o com nossos pecados — Billy continuou. — Ele toma nossa água, toma nosso sangue!

Eddie se aproximou de Nancy, que observava tudo.

— O que está acontecendo? — Ele perguntou.

— O balde prendeu em alguma coisa — Nancy respondeu, observando enquanto os moradores da vila tentavam tirar o que quer que fosse do poço.

— Está vindo! — Um dos moradores gritou, ao conseguirem fazer o balde se desprender.

Todos os moradores que tentavam desprender o balde se assustaram ao ver o que estava o prendendo.

— Há um animal morto no poço! — Uma mulher gritou, ao ver um animal preso entre as cordas do balde. — Nossa água está envenenada!

— Viram? Vocês já beberam da taça das trevas — Billy falou, apontando para o poço. — Isso é obra do diabo! Quem aqui trouxe o diabo para Hawkins? — Ele olhou para Eddie. — A luxúria de quem? — Ele riu. — O diabo chegou. E lançou suas trevas sobre nós!

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Eddie não sabia se era realmente sua culpa. Talvez sua perversão realmente tivesse trazido o diabo para a vila. Talvez aquilo que ele sentia não fosse amor. Talvez fosse apenas desejo. Atração física, e nada mais. Algo que ele poderia ter evitado, mas não evitou.

Logo ao voltar para sua casa, Eddie ouviu alguém batendo na porta.

— Chrissy — Ele disse ao abrir, vendo a garota parada na frente de sua casa.

— Eu não queria ter vindo sem avisar — Ela disse, entrando na casa. — Eu só queria te agradecer

Eddie olhou para Chrissy. Não tinha sentimentos românticos por ela, mas tinha um grande carinho pela Cunningham como amiga. Ela era, sem dúvidas, a pessoa em que ele mais confiava. E a única pessoa em quem ele confiaria para contar sobre Steve.

— Você pode guardar um segredo? — Ele perguntou.

Após os dois se sentarem na mesa, Eddie a contou tudo. Todos os detalhes, todos os seus pensamentos e sentimentos. Se sentia bem por poder se abrir com alguém de confiança, e queria saber o que Chrissy pensava sobre tudo que aconteceu.

— ...e agora estamos sendo atormentados, o pastor está doente — Eddie disse, após contar tudo para Chrissy. — E eu me pergunto... Se realmente não há algo de errado comigo

— Eddie... — Chrissy falou.

— Sempre houve, Chrissy, meu próprio tio falou que sempre houve algo de diferente em mim — Ele olhou para Chrissy, segurando lágrimas. — E se eu realmente nasci mau e estranho? — Ele olhou para baixo. — Deve ter sido o diabo que fez aquele som no bosque. O diabo deve estar em mim

— Pare, você parece o Billy Louco quando fala assim — Chrissy disse, tentando acalmar o amigo.

— E se o Billy estiver certo?

— O Billy é só um bêbado desbocado, nada mais!

— Olhe ao redor, Chrissy — Eddie disse. — Tem praga por toda parte!

— Concordo, mas... — Chrissy olhou para ele. — O Steve foi só um flerte, Eddie

Eddie se lembrou do dia no bosque. Do que sentiu. De como seu coração quase explodiu de felicidade ao beijar Steve. Ao beijar um garoto. Não, não podia ser só desejo. Havia algo a mais.

— E se não foi? — Eddie olhou para ela, preocupado. — É por isso que tenho tanto medo, você entende? — Ele olhou para baixo. — Porque não foi só um flerte

Chrissy ficou um tempo em silêncio antes de falar.

— Entendo — Ela se aproximou de Eddie. — Mas sendo um flerte ou não... Não se invoca o diabo por acaso. Deve ser feita uma escolha, você deve estender a mão

Os dois se viraram para a porta ao ouvirem gritos. Eles se entreolharam antes de saírem para a rua, vendo várias pessoas gritando e batendo na porta da igreja. Ele entrou no meio da multidão tentando entender o que estava acontecendo.

— Mike! — Ele ouviu Nancy gritando. — Onde está o Mike?!

— Irmão, o que está acontecendo? — Chrissy perguntou ao encontrar seu irmão na multidão.

— O pastor trancou umas doze crianças na igreja — O Cunningham respondeu.

— Dustin... — Eddie olhou ao redor, procurando seu irmão. — Dustin!

Eddie correu até a porta de trás da igreja, tentando a abrir. Logo, Chrissy e mais moradores da vila foram até lá também. Todos empurraram e chutaram a porta até ela abrir. Todas as crianças estavam sentadas nos bancos, de costas para eles. O pastor murmurava alguma coisa para si mesmo, com a cabeça baixa. Mas Eddie não teve tempo de pensar antes de correr para dentro da igreja, indo até onde seu irmão estava sentado.

— Dustin! — Eddie gritou, correndo até o garoto.

Ele gritou ao perceber o que havia acontecido. Seu irmão estava sem olhos, sentado sem vida no banco. Eddie caiu de joelhos no chão, gritando e chorando. Ele logo ouviu Nancy gritando também, ao mesmo tempo em que várias mulheres da vila se ajoelharam no chão, orando em conjunto.

— O diabo está aqui! — Billy gritou.

Eddie não conseguia pensar direito. Não conseguia fazer nada, apenas chorar. Seu irmão estava morto. Ele só conseguiu se mover quando ouviu Chrissy gritando seu nome, ele se virou rapidamente e viu o pastor, também sem olhos, indo em sua direção. Chrissy pegou uma faca e a enfiou no peito do pastor, o parando antes que ele pudesse fazer algo contra Eddie. Ele só ficou sentado no chão, chorando enquanto via o caos ao seu redor.

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Os moradores da vila estavam aterrorizados. Tinham certeza que o próprio diabo estava os assombrando, então se trancaram em suas casas. Pouco antes do anoitecer, as ruas da vila já estavam vazias. Algumas pessoas, que não tinham medo de saírem de suas casas, se encontraram na casa de reuniões para discutir o que estava acontecendo. Pela janela, Eddie e Steve observavam a reunião. Sabiam que seriam expulsos se entrassem ali, já que agora eram desprezados pela vila, então apenas espiaram por uma janela, escondidos.

— Existe uma força sombria e diabólica aqui — O pai de Nancy e Mike Wheeler disse, a frente de todos. — Se quisermos eliminar esse mal, devemos encontrar o culpado

— O homem culpado por isso está morto — Um homem falou, no meio da multidão. — O pastor foi morto hoje cedo

— Nosso pastor era um homem de Deus, isso não foi obra dele, ele estava possuído pelas trevas — O sr. Wheeler respondeu. — Meu filho, meu querido Michael, e muitos outros, estão mortos. Muitas de nossas linhagens nos foram tiradas. Alguém deve pagar!

— Eu vi alguns de nossos cordeirinhos rindo e flertando na última lua cheia! — Billy disse, se levantando. — Olhem para os seus filhos, pois eles levarão a marca do diabo!

— Ouçam o que estão dizendo! — Chrissy se levantou. — Somente especulações. Estão correndo atrás de sombras e maldições inventadas. Mas eu pergunto: alguém aqui tem alguma prova do que diz?

Todos ficaram em silêncio por um segundo antes de Billy responder.

— Eu tenho provas — Ele andou até o centro da casa de reuniões. — Há algumas noites atrás. Eu estava dormindo quando ele me enfeitiçou e me levou em direção a floresta — Ele continuou. — E me fez assistir enquanto ele se deitava com o diabo. Enquanto eles se deitavam com o diabo.

— Quem? — Todos perguntaram.

Billy sorriu antes de falar.

— Steve Harrington e Edward Munson

— Não! — A mãe de Steve se levantou.

Os dois se entreolharam, enquanto viam tudo pela janela, e seguraram a mão um do outro. Se todos achavam que eles eram bruxos, não importava o que dissessem, eram bruxos. Ninguém iria acreditar no que falassem, ninguém iria os perdoar. Sabiam que seriam enforcados e teriam seus nomes amaldiçoados, não havia como escapar.

— Bruxos! — Billy gritou ao olhar para a janela, vendo os dois ali. — Os bruxos!

Os dois imediatamente correram o mais rápido que conseguiam. Seguravam suas mãos com força, sem saber para onde ir, enquanto ouviam os moradores da vila gritando por eles.

— Precisamos sair daqui! — Eddie falou, correndo ao lado de Steve.

— Aqui! Os bruxos estão aqui! — Eles ouviram alguém gritar.

Ao se virar para ver quem gritava, Steve tropeçou e caiu. Eddie parou de correr, olhando para ele e para seus perseguidores sem saber o que fazer.

— Vai! Corre! — Steve gritou.

Eddie olhou para ele uma última vez, seu coração se despedaçando enquanto ele correu para longe.