Capítulo 11
Ele estava sem ação, apenas uma raiva intensa escrita nas rugas dos lábios de Beau, que rosnava. O sorriso tinha desaparecido. Reconheci, após ver isso, eu comecei a pensar que eu preferia Beau com aquele sorriso.
"Você estava bisbilhotando"? ele urrou.
Dando um ameaçador passo à frente, ele invadiu meu espaço, sem se importar se eu tinha 10 cm de altura a mais que ele ou não. Naquele momento, eu era menor e ele estava imponente sobre mim, com a intenção de se defender. Como uma besta encurralada.
"Não é como se eu estivesse tentando bisbilhotar! Eu estava dando uma volta quando vi vocês dois". Eu expliquei assim que ele puxou seu pulso, se soltando.
"E você continuou escutando, o que significa bisbilhotar".
"Eu vi vocês dois de mãos dadas e fiquei surpreso!".
Isso não era uma coisa boa pra citar. Beau estalou seu pescoço de um lado. O som foi mais alto que um trovão.
"Surpreso?" ele perguntou. "Você não quer dizer divertido?".
Aquilo me confundiu. Beau não me deu tempo para esclarecer aquela confusão. O desentendimento cresceu em proporções astronômicas quando ele me empurrou. Eu tropecei, agora encarando ele de volta.
"Você está feliz agora?" ele sibilou, avançando em minha direção com os punhos cerrados. "Isso deve ser o seu sonho, ter algo contra mim".
"O quê? Não!".
"Seu pequeno grupo de amigos vai ter do que rir essa noite. Eu imagino que a cidade toda vai saber antes das nossas férias terminarem".
"Isso é besteira e você sabe disso"! Eu gritei, dando um empurrão por minha conta. Beau estava sobressaltado o suficiente para tropeçar sobre seus pés. Ele por pouco evitou aterrissar de bunda.
"Não me acuse de ser o tipo de pessoa que expõe alguém, porra! Quão cuzão você pensa que eu sou?" Eu berrei.
"Você quer mesmo que eu responda isso?". A raiva subitamente diminuiu, como se alguém tivesse reconstruído a maldita mente quebrada de Beau. O fluxo de raiva foi contido, mas por quanto tempo?
Seus braços descansavam apaticamente ao lado do seu corpo, lábios profundamente franzidos quando ele sussurrou, "Qual é, Devin, nós sempre tentamos vencer o outro. Nós sempre disputamos um contra o outro a cada chance que temos, agora você tem a chance de arruinar tudo pra mim".
Beau estilhaçou devagar diante dos meus olhos. Não era ele a pessoa com uma superfície fria como pedra? Então por que ele estava sendo tão óbvio, olhos transbordando com lágrimas e seu corpo inteiro tremendo?
Sua voz estava quebrada quando ele falou "Você poderia contar aos meus pais e... E talvez eles poderiam entender, ou talvez eles vão ficar tão desapontados com o fato de seu único filho ser gay. De repente, contar a meus amigos. Eu posso não ter mais amigos. Contar a nossa retrógrada cidade e eu nunca vou ser capaz de dar as caras novamente sem medo de que alguém vá me machucar, ou fazer algo pior. Não é isso que você quer? Que eu vá embora e nunca mais volte. Então essa não é a melhor oportunidade pra você?".
"Não, não é!"
Beau vacilou. Não havia argumento, julgando pelo balançar dos seus pulsos. Ele estava encurralado e assustado, eu entendia isso. Eu estava começando a me sentir da mesma maneira. Com vergonha de mim mesmo por tê-lo feito se sentir dessa forma, mas também com vergonha dele ter pensado tão pouco de mim. Porém ele estava certo e ele tinha todo o direito de pensar daquela maneira, mas eu não quero que ele pense. Não ele, não quando nós tínhamos mais alguma coisa em comum, mais do que ele imaginava.
"Eu não vou contar. Eu nunca vou contar, não para os meus amigos, ou pra cidade, ou nossos pais. Apenas você tem o direito de contar quando você achar que é o momento, apenas"— As palavras ficaram presas na minha garganta, mas vi os ombros de Beau relaxarem. Eu de repente queria saber como era aquilo. Relaxar.
Pra contar pra alguém.
"Eu sei que é difícil quando não tem ninguém pra falar a respeito".
Saber como é ter alguém pra conversar a respeito, mesmo que esse alguém seja Beau.
"Assim como é meu direito de contar sobre mim quando e como eu quiser". Eu sussurrei, incapaz de ver a sua reação, então eu olhei pra baixo e foquei na areia sob os meus pés. A areia foi varrida da minha visão quando suas pernas apareceram no caminho.
"Devin" ele chamou. O som cedeu ao meu redor. "Você não é__" ele limpou a garganta. "Você não está brincando comigo, está?"
"Isso é algo pra se brincar?" eu resmunguei.
"Então você é...?"
"Eu não gosto de especificar". Eu respondi honestamente porque essa era a primeira vez na vida que eu falava isso em voz alta. A verdade saiu como água de uma torneira quebrada. "Eu tenho apenas dezoito, porra. É muita pressão, como se eu tivesse que me rotular para poder falar a respeito".
De repente, eu me senti exposto, como se alguém tivesse tirado mais do que minhas roupas. Eles tivessem tirado minha pele, deixando os nervos expostos como cordas de guitarras até eles partirem.
Eu agarrei meu próprio bíceps, sem ligar pra pressão que queimava quando eu falei, "Eu pesquisei, esperando encontrar alguém que sentisse algo parecido e eu achei algumas pessoas. Demissexual, parece bem próximo, preciso de algum tipo de conexão emocional pra sentir atração sexual, mas ao mesmo tempo todos os rótulos específicos são desafiadores e assustadores. Eu sinto como se eu me tornasse uma identidade e não em uma pessoa".
Em algum momento durante o desabafo eu sentei. Cair provavelmente era uma descrição melhor; Beau me seguiu. A areia estava fria entre minhas mãos. Elas estavam tremendo, ou talvez meu corpo inteiro estivesse. Eu não tinha certeza porque eu olhava apenas para a água. Eu quase esperava que ela me levasse junto com as ondas.
"Me rotular é como se tivesse alguém me enforcando". Eu expliquei. "Eu estou feliz que exista uma identidade que se encaixe tão perfeitamente em algumas pessoas e as faça se sentirem seguras, vistas, entendidas, mas esse não é o meu caso. Eu não quero estampar minha sexualidade em meu perfil ou até mesmo usar em minhas roupas. Na minha cabeça, isso não faz você parecer se importar menos, como se ser queer não fosse o suficiente, ou presumirem que você não é queer de forma alguma só porque você não está gritando sobre isso do telhado. Eu não quero isso. Eu não quero ser uma identidade. Eu sou Devin".
Eu bati no meu próprio peito, torcendo meus dedos na minha camisa. "Eu sou Devin primeiro. Tem muito de mim e só eu vou determinar se você é alguém pra quem eu quero contar ou não. Essa é a minha escolha e deverá sempre ser a minha escolha".
"Você está certo". Ele disse.
A resposta me deu coragem para finalmente encará-lo. Surpreso por não encontrar um olhar ou alguma expressão de incômodo, mas em vez disso um sorriso suave. Um sorriso diferente daquele com Johnny, uma lembrança de que uma pessoa tem muitos lados e até Beau não revelou tudo sobre ele. Pela primeira vez eu queria ver todos os lados e cada pedacinho dele.
O sorriso de Beau me deixou ambicioso.
"Se você não quer se rotular, seja apenas por agora ou pra sempre, isso é inteiramente com você. Você não será de repente menos válido, Devin". Ele disse como se isso fosse um fato, como se ninguém no mundo pudesse argumentar contra ele e, portanto, não poderia argumentar contra mim. Eu respirei fundo e me perguntei se eu alguma vez soube como respirar apropriadamente alguma vez antes.
Beau era a pessoa que eu escolhi para odiar ao máximo. Ele era também a pessoa que mais me aliviou. Aquela era a verdade que eu mantive para mim mesmo, que eu nunca considerei compartilhar, mas eu o fiz em uma noite aleatória com meu suposto inimigo na praia.
Nós ficamos quietos por um tempo. Apenas o oceano nos fazendo companhia até Beau perguntar: "Você contou pra mais alguém, tipo, seus amigos na escola?"
"Não. E você?"
"Não?"
"Ah... Le-legal"
"Sim... Legal"
O som das ondas estava alto ou talvez nós estávamos muito quietos. Minha pele se arrepiou. Era pelo frio ou pelos meus sentimentos? Eu não tinha certeza, e também não queria descobrir.
"Nós deveríamos voltar". Eu disse limpando a garganta.
Minhas pernas estavam vacilantes quando eu me levantei. Nenhum de nós mencionou o óbvio nervosismo em meus movimentos, ou o fato de eu estiquei minha mão pra ele e ele a pegou tão facilmente.
A caminhada até o hotel foi tranquila, mas estranhamente reconfortante. Não houveram discussões sobre quem iria tomar banho primeiro. Beau facilmente me deixou ir primeiro. Quando ele terminou eu já estava na cama. O colchão afundou quando ele se juntou, provavelmente pensando que eu já estava dormindo baseando em o quão quieto eu estava.
Naquela noite, havia menos espaço entre nós dois na cama e talvez em nossas mentes...
E talvez nossos corações também.
⋅•⋅⋅•⋅⊰⋅•⋅⋅•⋅⋅•⋅⋅•⋅∙∘☽༓☾∘∙•⋅⋅⋅•⋅⋅⊰⋅•⋅⋅•⋅⋅•⋅⋅•⋅
Nota da Autora:
Twoony
*pega o megafone* SE VOCÊ NÃO APOIA TODOS OS MEMBROS DA COMUNIDADE QUEER ENTÃO SAIA LOGO DAQUI!" *larga o megafone*
Não entende sobre demissexualidade ou quer argumentar contra isso? Se informe:
Eles conversaram! E Devin é como eu. Eu derramei muito de mim mesma naquele momento >.>
Então o que você acha de nossos garotos e do relacionamento deles agora? Como isso vai afetar o resto das férias deles?
Nota da Tradutora:
Eu não tô chorando, você que tá chorando! Que capítulo incrível!
Eu não vi isso chegando! Os sentimentos de Devin me emocionaram real!
Eu nunca havia pensado sobre pessoas que não gostam de rotular sua sexualidade e agora estou refletindo muito sobre isso!
Nota da Revisora:
Esse foi meu capítulo favorito na obra. Não precisamos de um rótulo para ser quem somos. E não é um rótulo que vai definir quem você é e quem você pode amar. O mundo é enorme e não precisamos estar numa determinada caixinha.
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