EXTRA • Noite de lua
Música: Night and Morning, Alina Baraz.
noite de lua
"Cause its a cold world on the outside
But it's so warm when I'm inside your eyes"
(Alina Baraz)
abril, 2020
O dia escurecia em tons cinzentos, sem sinal do azul anil que adornava mais cedo o céu com suas nuvens translúcidas, também nenhum sinal de chuva por hoje, até o momento. Não sei em com qual momento do dia meu humor combina mais, as oscilações têm sido cada vez mais frequentes, enquanto tenho que trabalhar só e de casa. As sombras, tampouco, são minhas amigas. Ao menos as distrações por não estar em contato com o mundo de fora eram capazes de blindar, um pouco, essa escuridão materializada no medo do amanhã, na saudade do ontem e, principalmente, na negação do agora.
Hoje não teremos lua. Ela está lá, você costumava dizer, mesmo que não apareça, como eu. Minha lua escondida — Moonie. A saudade não tem tanto espaço, já que não nos é permitido tocar em ninguém. O que eu faria com você sem te abraçar? Qual o sentido de tê-lo a centímetros e não poder regular nossa distância por nossas mãos, dedos entrelaçados, como a promessa silenciosa de que o meu eu está em ti, embaraçados por esse sentimento inebriante de amar alguém?
— Fica cada vez mais irreal pensar no nosso encontro, não é? — dessa vez, eu que te procurei pelo telefone, te acordando às seis da manhã.
— Sun? — seu timbre sonolento era doce, tinha gosto do beijo com que sonho há meses. — Está tudo bem, amor?
— Bom dia, Moonie. — ele riu anasalado, provavelmente, com a cabeça ainda afundada no travesseiro, os cabelos bagunçados, o tronco exposto, o desenho lindo das suas costas no lençol branco. Desejei fazer parte dessa tela, um carinho na sua nuca, um beijo nos seus lábios, acordar com você, mas o céu ainda não havia sequer escurecido para que fosse possível amanhecer.
— Eu 'tô com saudade... Sabe, eu gosto dessa palavra, como ela representa um sentimento tão forte de forma tão sonora e única. — disse de forma despretensiosa, acompanhado do sotaque engraçado quando da pronúncia do português. Como se fosse a sua forma de me dizer "bom dia", mesmo que soubesse que aqui ainda era noite.
— E você já acorda assim, falando poesia com essa facilidade, menino? — brinquei como se já não conhecesse seu jeito de dizer coisas belas sem precisar fazer muito esforço.
— Preferia acordar do seu lado... — eu só não me acostumava com a força que as suas palavras tinham; me davam energia para atravessar o globo, 12 horas, alguns fusos, só para estar do seu lado. Contudo, se antes já era difícil, nesse momento, impossível.
— Mesmo que eu quisesse muito, e eu quero, é impossível... — olhei para o céu emoldurado pela janela retangular e já era noite. Menos um dia dessa sequência esquisita que passou pelo calendário sem o brilho de outrora.
— O que aconteceu? Você parece triste... Deixa eu ver a Sunnie pela câmera! — senti meu telefone vibrar na orelha e era uma solicitação para ativar o vídeo que, mesmo reticente, aceitei. Não me arrependi, contudo, em poder ver seus lábios esticados em um sorriso, as covinhas fundas nas bochechas cor de caramelo, enquanto sua mão esticava os fios castanhos para o lado. — Oh, não reclama, porque você me acordou, então...
— Eu reclamar dessa imagem enviada pelos céus? Jamais! — ele era especialmente lindo quando acordava, a imagem mais bonita do mundo todo, feito lua cheia despontando no céu. E, mais lindo de tudo, era a forma que ele ficava extremamente envergonhado quando era elogiado.
— E a tela do celular que trouxe o Sol até mim? — sorri boba e revirei os olhos querendo dizer "até parece", mas se isso não era uma espécie de eclipse, meu coração não estaria batendo dessa forma. — Mas, me diz, o que aflige minha Sunnie?
— Tudo isso que está acontecendo lá fora e que eu não vejo, entende? Eu me sinto presa, insegura e com muito medo do futuro, mas sinto ainda mais medo do hoje... Me desculpa, eu não quero te perturbar com esses pensamentos ruins, você acabou de acordar...
— Você não me perturba e, além disso... meu dia não começa bem se sei que está chovendo do seu lado... — ele fez uma pausa e ajeitou a ângulo do celular, ficando mais próximo da câmera. — Eu sei que está tudo muito estranho e é normal se sentir dessa forma, nunca passamos por nada disso... Então, seja paciente com os seus sentimentos e faça coisas que te deixem feliz. Hoje pode estar nublado, mas o mundo precisa que o Sol brilhe amanhã. Eu preciso de você, Sun. — assenti com a cabeça sentindo minha visão se tornar turva pelas lágrimas que ameaçavam a cair. — E, sobre o nosso encontro, agora ele pode parecer mais distante, mas não impossível. Afinal, gravitamos em torno do outro, o Moonie em torno na Sunnie e, por isso, estaremos sempre juntos.
— Obrigada por me deixar sem palavras! — eu segurava minhas lágrimas, mas ainda era capaz de sorrir, era o reflexo de vê-lo pela câmera também sorrindo para mim. — Mas de verdade, obrigada e desculpa te acordar tão cedinho. — disse e ele só balançou a cabeça, negando com mais um sorriso bonito, enquanto fechava gradativamente os olhos. — Volta a dormir, ok? Podemos nos falar depois...
— Já te ligo, Sun, brilha por aí por mim. — pela tela, ao alcance dos meus olhos, acenou e deixou um beijo no ar, mostrando que a noite poderia ser de lua, mesmo que não brilhasse no céu. — Tudo vai ficar bem, é uma promessa.
🌗
hello moonchild!
Essa história foi escrita por causa do Show do BTS há quase um ano atrás e eu realmente não pensava em postar mais nada! Mas, devido ao momento atual, escrevi esse pequeno texto, um abraço à distância, uma mensagem que possa dizer que vai ficar tudo bem.
Esse texto é, de certa forma, datado e é sobre este momento em que vivemos... Ele até pode não fazer sentido mais pra frente, mas agora eu quero que chegue até vocês.
Se cuidem e sigam brilhando, pois o mundo precisa de vocês, Sunnie's!
Beijos da Maria ❤️
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