CAPÍTULO 6
As mãos dele percorriam por todo o meu corpo, como se quisesse decorar cada curvatura dele. Eu arqueava a costas toda vez que ele investia com força. Não podia controlar meus gemidos e nem queria. Eu enrolei minhas pernas em volta de suas costas e o empurrei com o pé para que ele fosse mais fundo dentro de mim. Comecei a arranhar suas costas e ele se abaixou até a altura do meu ouvido.
— Goza, loirinha — A voz rouca dele me arrepiou. — Mostra o quanto você gosta que eu te foda.
Um barulho de risadas me faz levantar rapidamente da cama e arregalar os olhos. Fico alguns minutos tentando entender o que caralhos havia acabado de acontecer.
Eu realmente tive um sonho erótico com o Duca? Como isso é possível?
E então todas as lembranças da noite anterior invadiram a minha mente como um furacão. Ele cuidando das crianças, a pizza, o vinho, os gatinhos, a nossa conversa e o nosso quase beijo...
EU DEI EM CIMA DELE, EU FLERTEI COM UM CARA QUE ODEIO!!!!!!
E depois vêm as memórias do namoro falso, ele me levantando para o quarto e eu vestida desse jeito... Eu não vou mais beber vinho por um bom tempo!
Mais risadas me fizeram entrar em estado de alerta e pegar meu celular para ver as horas. Dez da manhã. Provavelmente, Nessa estava dando café da manhã para Nella e Tommy e me esperando acordar, mas calma... Nessa está com os pais no hospital!
Levanto rapidamente da cama e corro até a cozinha desengonçadamente só para encontrar meus filhos vendo desenho e rindo para a TV. Suspiro aliviada e relaxo os ombros.
— Bom dia — uma voz sussurra bem perto de mim e eu me virei em direção à cozinha. — Dormiu bem?
Duca estava com duas xícaras de café fumegante em mãos e, ao tocar em seus dedos para pegar a minha, as lembranças do sonho que eu tive pareciam bem reais em minha mente. Sinto minhas bochechas vermelhas e ele continua a me observar.
— Por que você está aqui? — Cruzo os braços, com a xícara em mãos. — Não tem mais casa, não?
— Eu só vim ver como você estava, sua mal agradecida! — Ele responde e eu rio pelo nariz.
— E desde quando você se importa? — O encaro com uma sobrancelha arqueada.
— Só achei que você precisaria de um café e um remédio de dor de cabeça por causa da noite anterior — Duca dá de ombros e eu bebo meu café. — Mas não achei que você ainda estaria dormindo e que as crianças atenderiam a porta.
— Eles de alguma forma conseguiram ver no olho mágico que era você, porque sabem que não é para abrir a porta para estranhos.
— Eu sou muito mais que um estranho para eles — Ele se gaba e eu reviro os olhos.
— Infelizmente... — Eu resmungo baixo e ele ri, bebendo um gole do seu café. — Olha sobre ontem à noite...
— Antes de conversarmos sobre isso, você poderia é... trocar de roupa? — Duca pergunta hesitante e só aí eu percebo que continuo só de blusa e calcinha.
Acho que eu provoco algo a mais nele, então...
— Eu estou me sentindo bem confortável assim — Do de ombros e me aproximo dele, colocando a xícara em cima do balcão. — Não consegue se controlar perto de mim, é?
O que eu estava fazendo? Talvez ainda estava sob o efeito do vinho...
Ele deixa a xícara do lado da minha no balcão e coloca as duas mãos lá, me encurralando em volta dele.
— Você quer mesmo saber, loirinha? — Ele me encara profundamente e eu entreabro os lábios involuntariamente. — Uma resposta e você verá outro lado meu.
— Acho melhor eu trocar de roupa... — Respondo depois de alguns segundos e ele se afasta imediatamente.
— Boa resposta — Duca diz antes que eu voltasse para o quarto.
Como hoje eu não iria para o trabalho, visto um short jeans e uma blusa vermelha de mangas curtas e comprimento até o início do short por cima do biquíni. Calço meus chinelos, coloco meus óculos escuros vermelhos e prendo meu cabelo com uma pregadeira de borboleta-vermelha.
Quando volto para a sala, Nella e Tommy estavam vestidos com seus trajes de banho e não havia um sinal de Duca no apartamento. Descemos até a área da piscina e eles logo soltam a minha mão, pulando na piscina para as crianças. Sorrio com a empolgação deles e olho em volta, procurando uma cadeira para sentar. Parecia estar tudo cheio até ver uma mão acenando em minha direção e eu baixo os óculos escuros um pouco e balanço a cabeça.
Duca guardou uma espreguiçadeira do lado dele para mim, como se isso fosse algo natural entre nós. Reviro os olhos e, não tendo para onde ir, ando até ele.
— Estou começando a achar que você não me odeia tanto assim — Digo e tiro a blusa e o short, ajeitando a parte de cima do meu biquini.
— Você não tem outro biquini? — Duca ignora a minha provocação, apontando para o biquini que vestia.
— Tenho vários, mas esse é o meu favorito — Do de ombros e sento na cadeira, pegando o protetor em minha bolsa.
— Percebi... — Ele sussurra e se mexe na cadeira, enquanto eu passo o protetor por meus braços e em seguida pelas pernas. — Quer que eu passe nas suas costas?
— E por que eu deveria aceitar a sua ajuda?
— Porque se você pedisse para qualquer outro homem aqui, eles teriam segundas intenções com isso — Semicerro os olhos em sua direção por alguns segundos, antes de entregar o protetor a ele.
— Então você não tem segundas intenções comigo? — Pergunto e Duca começa a massagear de leve minhas costas com o protetor.
— Você é a ex-namorada do meu primo — Ele começa a responder, abaixando na direção do meu ouvido. — Eu nunca teria segundas intenções com você, loirinha.
— Não foi o que pareceu ontem... — Alego em um sussurro e sinto ele sorrir.
— Tem certeza que você lembra exatamente o que aconteceu ontem? — Ele me questiona. — Que foi você que propôs sobre um namoro falso e depois deu em cima de mim descaradamente?
— Obviamente foi o vinho, eu nunca falaria isso em plena consciência! — Afirmo com convicção e Duca ri.
Não posso deixar de pensar no sonho que eu tive com ele, enquanto as suas mãos estão em minhas costas e vão descendo de leve até a barra da calcinha e pulam para a parte de trás de minhas pernas.
— Ainda quer conversar sobre ontem? — Sua pergunta me tira dos meus devaneios e eu pisco várias vezes para tirar a cena da minha cabeça, agradecendo por ele não conseguir ver completamente meu rosto.
— Eu quero te agradecer — Ele termina de passar o protetor e me viro de frente, deixando os óculos escuros em cima da cabeça. — Por ter cuidado das crianças.
— Isso você já tinha dito antes — Duca me lembra e sai de cima de mim, sentando ao meu lado.
— Deixa eu terminar? — Pergunto, elevando um pouco o tom de voz, e ele levanta as mãos em rendição.
— E também te agradecer por não ter se aproveitado do meu estado — Completo. — Por não ter avançado o sinal...
— Bella, entende uma coisa — Duca se aproxima mais até ficarmos com os lábios a milímetros de distância. — Quando, e se, nos beijarmos, será com você totalmente sóbria porque eu vou querer que você lembre de cada segundo. De como minha língua te fez flutuar e de como suas pernas ficaram bambas que eu tive que as segurar. Você vai gemer entre o beijo e eu vou marcar seu pescoço inteiro. Eu vou te beijar de uma maneira que você sempre irá lembrar de mim se beijar outro homem, porque nenhum irá fazer você sentir o que eu fiz com um simples toque nos lábios.
Meu olhar intercala entre os olhos e a boca dele e eu umedeço os lábios, mordendo-os de leve logo em seguida. Meu coração estava acelerado e podia sentir meu corpo se arrepiando com o olhar dele sobre mim. Não sentia essa sensação desde Nico e...
Não, não, não... Eu não posso realmente estar me sentindo atraída sexualmente pelo Duca!
O barulho do meu celular invade o local, quebrando nossa troca de olhares e eu quase suspiro de alívio por isso. Pego-o dentro da bolsa e vejo que era minha mãe me ligando. Penso se devo atender agora ou não, pois provavelmente ela vai falar de um assunto que não quero, mas aí eu teria que voltar a conversa com Duca.
— Você não vai atender? — Duca pergunta.
— É a minha mãe e ela vai querer falar sobre o casamento — Conto. — Ela vai tentar me convencer a ir.
— Achei que você tinha confirmado presença...
— Estava esperando chegar no último dia.
— Você quer uma certeza para ir ou para não ir, certo? — Ele indaga e eu confirmo. — Bella, eu... — Meu celular começa a tocar novamente.
— Melhor eu atender... — Clico no ícone verde e Duca se afasta um pouco de mim. — Ciao, mamma!
— Ciao figlia! — Ela me cumprimenta de volta. — Como você está? E as crianças?
— Estamos todos bem — Respondo. — E você e o papà?
— Bem também e animados com o casamento!
— Hum...
— Você vem, né figlia? Estou morrendo de saudades dos meus nipoti.
— Olha, mamma...
— Sei que é complicado com tudo que aconteceu no passado, mas você não pode deixar de visitar sua famigla por causa disso...
— Eu sei, mamma — Interrompo ela, antes que ela prolongue o assunto. — Eu só não tive tempo de confirmar a presença, ando trabalhando muito...
— Você vem mesmo então? — Ela pergunta, como se precisasse que eu estivesse lá.
— Por que você quer tanto saber se eu vou ou não, signorina Penny? — Pergunto, estreitando os olhos.
— Porque eu quero te ver, ora! — Ela responde com doçura, mas havia uma pontada suspeita na voz dela. — E, bom... talvez tenha alguém que eu gostaria que você conhecesse.
Fecho os olhos por um momento e solto um suspiro exasperado.
— Mamma, você está tentando arranjar um namorado para mim, né?
— Não é arranjar! — Ela protesta rapidamente. — Só acho que você deveria dar uma chance. O Lorenzo é um rapaz maravilhoso! Jovem, bem-sucedido e solteiro. E ele adora crianças, viu?
Pressiono os dedos contra a têmpora, sentindo uma leve dor de cabeça surgindo.
— Mamma, por favor... Eu não estou nesse momento da vida.
— Bella, amore mio... — A voz dela se suaviza. — Sei que foi difícil depois do Nico, mas você não pode se fechar para sempre. É hora de seguir em frente, mesmo que seja aos poucos.
— E você acha que “seguir em frente” é me empurrar para um homem que eu nem conheço? — Questiono, irritada.
— Só estou tentando te ajudar, querida. O Lorenzo vai estar no casamento, e eu pensei que...
— Claro que você pensou... — Respondo, irônica.
Ela ignora meu tom e continua, determinada.
— Só uma dança, filha. Uma conversa. Você não precisa se comprometer com nada.
— Mamma... — Passo a mão pelo rosto, exausta. — Eu preciso desligar agora.
— Tudo bem, Bella — Minha mãe responde, mas havia uma nota de esperança na voz dela. — Só pense nisso, sim? Quero ver você feliz de novo.
Desligo a chamada e deixo o celular cair no colo, soltando um longo suspiro. O barulho de um riso baixo ao meu lado me faz lembrar que não estou sozinha.
Duca me encara com um sorriso divertido, claramente se segurando para não rir mais.
— Aparentemente, a pressão familiar está em alta. — Ele provoca. — Então, quem é o Lorenzo? — Reviro os olhos, batendo nele com almofada da cadeira.
— Cala a boca, Duca! — Deixo meu celular e vou dar um mergulho na piscina.
Não acredito que a minha mãe foi capaz de fazer isso... Que merda!
— Tem certeza que não quer me contar que é Lorenzo? — Duca me pergunta, sua voz está bem perto do meu pescoço.
— Desde quando você ficou tão curioso sobre a minha vida? — Viro para ele e cruzo meus braços, sentindo que ele se esforça para não olhar para os meus seios espremidos.
— Desde que seus filhos me conquistaram — Ele joga o cabelo molhado para trás.
— Então isso tudo é pelas crianças? — Arqueio uma sobrancelha.
— Óbvio! Não teria outro motivo, loirinha — Ele assopra o apelido e eu reviro os olhos, empurrando-o para o fundo da água.
O que não foi uma boa ideia, já que Duca me segurou e nós dois afundamos, resultando em água no meu nariz e ele recebendo vários tapas meus enquanto ria.
Quando deu uma hora da tarde, Nella e Tommy insistiram que Duca almoçasse com a gente, só que, diferentemente dos outros dias, fomos para a cobertura dele, no bloco vizinho ao nosso. As crianças estavam empolgadas já que ele havia dito que iria cozinhar (para minha total surpresa) e elas sempre gostaram de ajudar o pai na cozinha.
O apartamento de Duca era exatamente o que eu imaginava: prático e funcional, mas, para minha surpresa, com alguns toques inesperados de personalidade. A sala de estar tinha um sofá cinza-escuro e uma mesa de centro de madeira rústica, sem nenhuma preocupação básica de decoração elaborada. Na parede, uma TV grande ocupava o espaço de destaque, cercada por... nada. Bem a cara dele. Mas uma prateleira estreita, cheia de livros sobre engenharia e design, e alguns quadros com fotos de viagens deixavam claro que ele não era tão desinteressado assim em acrescentar um pouco de história ao lugar.
A cozinha segue o mesmo estilo: compacta e bem equipada, com eletrodomésticos em inox brilhante e uma cafeteira de cápsulas sobre o balcão — Duca, pelo jeito, sabia o valor de um bom café. Vi um armário de madeira escuro com várias garrafas de vinho, o que me fez sorrir. Claramente, ele sabia como aproveitar uma noite sozinho... ou com companhia feminina, como ele mesmo havia dito ontem.
Claro, não demorou para eu notar os traços dos verdadeiros donos da casa: Toulouse e Berlioz. Toulouse, o laranja atrevido, estava enroscado numa almofada próxima ao sofá, e Berlioz, o cinza mais observador, espreitava de sua torre de gatos perto da janela. Os dois se destacaram como pequenos reis do apartamento. Eu já os conhecia pelas fotos, mas vê-los ali, ao vivo, era ainda mais divertido.
Assim que entramos, Toulouse não perde tempo e vem até nós, se esfregando nas pernas de Nella e Timmy, como se já os conhecesse.
— Olha, Nella! Ele é igual ao gato do filme! — Timmy exclama, apontando com empolgação.
— É verdade! — Nella se abaixa, estendendo a mão para acariciá-lo. — Ei, Toulouse!
Toulouse se joga completamente na perna dela, ronronando alto. Já Berlioz, fiel ao seu jeito mais reservado, observa com atenção antes de decidir se se juntaria à festa.
— Esses dois são um charme, né? — Comento, enquanto Berlioz finalmente descia da torre e caminhava lentamente na direção de Timmy.
— Impressionante... — Duca parecia incrédulo e cruza os braços. — Berlioz normalmente leva dias para gostar de alguém novo.
— Claro que eles gostam da gente! — Timmy afirma, acariciando o gato cinza que agora se esfregava na sua mão. — Nós somos legais!
— Mais do que eu, com certeza — Duca ri, se aproximando e observando as duplas interagindo com os gatos.
— Coisa que não é muito difícil, né... — Sussurro rindo e ele faz careta na minha direção.
Os pequenos se acomodaram no tapete, rindo enquanto Toulouse rolava de barriga para cima, pedindo mais carinho.
— Acho que Toulouse encontrou sua nova alma gêmea. — Comento, observando o gato completamente entregue às mãos de Nella.
— Quem sabe você aprende uma coisa ou duas com ele? — Duca provoca, piscando para mim.
— Haha. Muito engraçado! — Reviro os olhos, mas acabo rindo.
Enquanto as crianças brincavam, Duca pega o celular e me mostra outras fotos dos gatos em momentos típicos: Toulouse dormindo em cima da cafeteira e Berlioz enroscado na pia do banheiro.
— Olha isso! — Ele passa a foto de Toulouse dormindo em cima da cafeteira. — Não posso nem tomar meu café sem ele querer marcar território...
— Eles são adoráveis — digo, observando as imagens. — Igual à Chiara, mas ela ainda tem aquele temperamento dela.
— Chiara é igualzinha ao Berlioz. Sabe o que quer e não faz questão de ser simpático. — Duca ri. — Aristogatas, lembra?
— Sempre — Sorri com a lembrança nostálgica do filme que ambos adoramos.
O fato de nós dois termos dado nomes de Aristogatas aos nossos gatos foi uma coincidência curiosa e divertida. As crianças, claro, já estavam completamente encantadas com Toulouse e Berlioz, e pelo jeito, o sentimento era recíproco.
— Posso dormir aqui com os gatos? — Nella grita, abraçando Toulouse como se ele fosse um travesseiro.
— E eu também! — Timmy se anima, dando pequenos afagos em Berlioz.
— Não hoje, campeões — Duca se abaixa, com um sorriso no rosto. — Mas vocês podem visitá-los sempre que quiserem.
Eles resmungaram, mas acabaram aceitando a proposta de Duca.
— Acho que vocês dois conquistaram os gatos mais rápido do que eu! — Duca pisca para mim, ainda sorrindo.
Eu apenas balancei a cabeça, rindo baixo. De alguma forma, o apartamento dele, com aqueles dois gatos adoráveis e as risadas das crianças, parecia mais acolhedor do que eu jamais poderia imaginar.
— E aí, quem vai me ajudar na cozinha? — Ele pergunta e as crianças logo se levantam empolgadas.
— Eu! Eu! — Os dois repetem em uníssono.
Duca estava na cozinha com Nella e Timmy, preparando um espaguete com molho de tomate e manjericão, enquanto eu os observava do balcão, tentando não rir das pequenas confusões que surgiam. A cozinha, antes prática e organizada, agora parecia uma bagunça controlada, com ingredientes espalhados pela bancada e dois pequenos chefs se movimentando com animação.
— Tio Duca, eu posso colocar o macarrão? — Timmy pergunta, segurando o pacote de espaguete como se fosse uma missão de vida ou morte.
— Vai com calma, campeão — Duca ri, pegando a panela. — Primeiro, a água precisa ferver. Depois você pode colocar.
Nella, concentrada, mexia o molho de tomate em uma panela pequena. Ela agitava a colher com tanta seriedade que parecia estar prestes a criar a obra-prima culinária do século.
— Está ficando ótimo, Nella. Só mais alguns minutos e já pode colocar o manjericão. — Duca a encoraja, enquanto observava o progresso.
— Eu também quero colocar alguma coisa! — Timmy cruza os braços, impaciente.
— Tudo bem, campeão — Duca bagunça os cabelos dele. — Você pode ralar o queijo. Mas com cuidado, ok? A última coisa que precisamos é de pedaços de dedo no espaguete.
Timmy faz uma careta, mas logo pega o ralador, empolgado com a tarefa.
Eu os observava com os braços cruzados e um sorriso quase imperceptível. Ver meus filhos tão à vontade com Duca era estranho..., mas estranhamente reconfortante. Como se ele já fizesse parte da nossa rotina. E isso me incomoda um pouco.
— Bella, experimenta isso — Duca me tira dos meus pensamentos, aproximando-se com uma colher de molho fumegante.
Eu arqueio a sobrancelha, tentando não demonstrar curiosidade, mas aceitei a colher. O molho estava delicioso – simples, mas cheio de sabor.
— Não sabia que você sabia cozinhar. — Provoco, entregando a colher de volta.
— Eu tenho muitas habilidades surpreendentes que você nem imagina... — Ele me encara com aquele maldito sorriso que eu odiava.
— Impressionante... — Cruzo os braços, inclinando-me um pouco mais no balcão. — Um engenheiro que sabe usar o fogão sem explodir a casa. Milagre.
— Ah, loirinha, quem sabe um dia eu não te mostro todos os meus talentos — ele responde, pegando um ramo de manjericão e entregando a Nella.
— Modesto como sempre... — Resmungo, rolando os olhos.
— Só um pouquinho — Duca pisca e volta ao fogão, enquanto os gêmeos riem, adorando claramente a troca de provocações.
Nella joga o manjericão no molho com a concentração de uma chef, mexendo com cuidado.
— Posso comer queijo agora? — Timmy pergunta, já espreitando o balcão.
Duca pega um pedacinho e coloca diretamente na boca do garoto, que mastigou feliz.
— E eu? — Nella estende a mão.
Ele repete o gesto com ela e depois me olha de canto.
— E eu? Não ganho nada? — Pergunto, arqueando uma sobrancelha, já pronta para mais uma provocação.
— Hmm... — Duca pega mais um pedaço de queijo e se aproxima, segurando-o na ponta dos dedos. — Só porque você pediu com jeitinho.
Aceito o queijo, mas não sem dar um sorriso forçado.
— Você é insuportável! — Sussurro, mastigando devagar.
— E você adora isso! — Ele rebate, com um sorriso provocante.
Antes que eu pudesse retrucar, os gêmeos interrompem, rindo e pedindo para Duca ensiná-los a misturar o molho na massa.
— Vocês dois são impossíveis... — Resmungo, balançando a cabeça, mas não pude evitar sorrir.
Por alguns minutos, observo aquela pequena cena como se fosse uma janela para uma vida diferente. Uma vida onde Duca não fosse apenas uma memória irritante da adolescência, mas alguém presente. E, por mais que eu tentasse negar, uma parte de mim gosta dessa ideia... e odeio o fato de gostar.
Almoçamos juntos na mesa da cozinha. As crianças estavam eufóricas, como sempre, comentando cada detalhe do que haviam ajudado a preparar com Duca. Nella se gaba de ter colocado o manjericão no molho na hora exata, e Timmy diz que seu queijo ralado era o mais perfeito.
— E você, Bella, não vai elogiar o chef principal? — Duca me cutuca com o pé por debaixo da mesa, uma provocação descarada.
— Ah, claro. Parabéns por não ter queimado nada — Sorrio, tomando um gole de suco.
— Me elogiar nunca foi seu forte... — Ele ri, e Nella e Timmy o acompanham na risada.
As crianças adormecem no sofá, exaustas depois da agitação na cozinha. Aproveito o silêncio para me sentar na varanda ao lado de Duca. O ar fresco era um alívio bem-vindo, e a vista para o jardim trazia um pouco de calma. Ele me oferece uma taça de vinho rosê, e eu aceito, deixando escapar um suspiro leve.
— Como você se sente em relação ao casamento dos seus irmãos agora sóbria? — Duca quebra o silêncio, olhando para a piscina ao longe.
Reviro os olhos e dou um gole generoso no vinho rosê.
— Complicado... — murmuro. — A minha mãe já começou a tentar me empurrar para um cara chamado Lorenzo. Diz que ele é ótimo, solteiro e ama crianças.
Duca ri baixo, e há algo de cúmplice no sorriso dele.
— O que foi? — pergunto, desconfiada.
— Minha mãe também ligou — ele confessa, virando-se para mim. — E advinha? Ela sugeriu que eu saísse com uma prima do Lorenzo.
Fico olhando para ele, surpresa por um momento, até que a ironia da situação nos atinge.
— Você está brincando... — sacudo a cabeça, incrédula, enquanto ele ri.
— É sério. Parece que o universo tem um senso de humor péssimo — Duca responde, ainda rindo. — Quem diria que o seu pretendente e a minha teriam conexão de sangue?
Eu rio, mas havia um toque de exasperação no fundo.
— E agora? Como a gente escapa disso? — Pergunto, mais para mim mesma do que para ele.
Duca me olha, uma expressão divertida surgindo em seu rosto.
— Você sabe que tem uma solução bem óbvia... — ele começa.
— Não — respondo imediatamente, já adivinhando onde ele queria chegar.
— Ah, qual é! — Ele se inclina um pouco mais perto, o tom provocador. — A gente finge que está junto. Só até o casamento acabar. Todo mundo fica feliz, e a gente não precisa lidar com essa pressão toda.
Reviro os olhos, mas, para minha surpresa, a ideia não parecia tão absurda assim.
Talvez, a bebida já esteja fazendo efeito...
— E o que aconteceria depois? — pergunto, arqueando uma sobrancelha.
— Depois, cada um segue sua vida, como planejado. — Duca sorri, e eu sinto uma pequena faísca de desafio no ar.
Ficamos em silêncio por um instante, absorvendo a ideia. Era loucura, mas fazia sentido de um jeito estranho.
— Isso tem tudo para dar errado... — sussurro, mas havia um sorriso se formando nos meus lábios.
— E quando foi que algo entre nós deu certo? — Ele replica, brindando comigo antes de beber mais um gole de vinho.
E, naquele momento, a ideia de fingir um relacionamento com o meu inimigo de longa data parecia menos uma loucura e mais uma jogada ousada.
Dois dias se passaram e eu e Duca não nos encontramos mais, talvez devido ao trabalho, talvez porque eu esteja evitando-o a todo custo desde a nossa última conversa.
Outra coisa que eu havia evitado, mas infelizmente o dia chegou, era a confirmação no casamento dos meus irmãos. Hoje era sábado, o último dia para falar se eu ia ou não.
Nesse momento, eu e Nessa almoçávamos no restaurante do condomínio, enquanto as crianças brincavam no parquinho, já que era dia de limpeza da piscina. Ela me conta que os pais já estavam em casa, que havia sido só um pequeno acidente de trânsito, enquanto eu a atualizo sobre o que aconteceu na minha durante esses quase quatro dias que a adolescente ficou longe.
— Acho que vou ficar mais tempo longe para ter sempre mais fofoca! — Nessa brinca e eu empurro de leve o ombro dela, fazendo careta.
— Faz piada com a minha desgraça mesmo... — Reclamo e ela ri. — Não faço ideia de como irei sair disso.
— Simples — Nessa bebe um gole do seu refrigerante. — Não saia e aceite a proposta do Duca ou deveria dizer... sua proposta?
— Eu estava bêbada quando sugeri isso! — Replico, me defendendo.
— A bebida não tira sua habilidade de entender e saber direitinho o que você está fazendo — ela aponta com o garfo na minha direção. — Ele só anula os sentimentos de culpa, remorso e vergonha.
— De onde você tirou isso? — Pergunto, a olhando confusa.
— Meu ex-namorado falou isso para mim, quando disse que só tinha o beijado porque estava bêbada — Nessa responde e eu arregalo os olhos. — Não tinha te contado que nós terminamos, né?
— Há dias atrás, vocês tinham um mochilão pela Europa planejado, com assim você e o Enrico não estão mais juntos?
— Ele terminou comigo, pois falou que a nossa relação estava atrapalhando-o nos estudos para a faculdade — Nessa conta e eu balanço a cabeça, rindo pelo nariz.
— Que idiota! — Declaro. — Tomara que ele reprove em todas as faculdades que se candidatar!
— O bom disso é que eu posso ir ao casamento com você, se você ainda quiser que eu vá...
— Óbvio que sim! — Afirmo de imediato. — Preciso de pelo menos uma aliada do meu lado.
— Você sabe que pode ter mais um muito mais forte que eu, né... — Ela insiste no assunto e eu reviro os olhos, levantando-me da mesa.
— Maldita hora em que eu resolvi ser sua amiga! — Deixo o dinheiro da comida na mesa.
— Aonde você vai?
— Para casa — Respondo. — Suba com as crianças no máximo às seis horas!
— Pode deixar, chefinha — Nessa bate continência com dois dedos e ri, enquanto eu vou falar com meus filhos.
Saindo do elevador, caminho em direção ao meu apartamento. Mas, assim que viro o corredor, paro abruptamente. Duca está parado em frente à minha porta, prestes a tocar a campainha.
— Está me evitando, Bella? — Ele pergunta, virando-se para mim com aquele sorriso presunçoso.
— Claro que não! — Abro a porta e entramos no apartamento, mesmo que eu não o tivesse convidado. — Por que eu faria isso? — Tento desconversar, mas ele não parece convencido.
Duca me encara com um olhar desconfiado e cruza os braços.
— Você sempre foi péssima mentindo.
Antes que eu possa respondê-lo, meu celular começa a tocar. Pego o aparelho distraída, mas ele é mais rápido.
— Me dá isso! — Protesto, mas Duca atende o telefone com um sorriso travesso.
— Ciao, signora Penny! — Ele diz com entusiasmo exagerado, segurando o celular fora do meu alcance.
— Quem está falando? — A voz curiosa da minha mãe soa do outro lado da linha.
— Aqui é o Duca. Prazer em falar com a senhora. Estou aqui com a Bella. Estamos aproveitando a noite juntos — ele diz, lançando um olhar malicioso na minha direção.
— O quê?! — Sussurro furiosa, tentando pegar o telefone de volta.
— Finalmente algo entre vocês dois? Que notícia maravilhosa! — A voz dela soa cheia de entusiasmo. — Por que a Bella não me contou nada?
Duca ri, obviamente se divertindo.
— Exatamente, senhora. Foi tudo muito recente, sabe como é... — Ele continua, enquanto eu quase explodo.
— Me dá isso! — Grito, arrancando o celular da mão dele e desligando rapidamente. — Você ficou maluco? — Esbravejo, empurrando-o para longe.
— Relaxa, foi só uma brincadeira — Duca levanta as mãos, ainda rindo.
— Fora. Agora! — Aponto para o corredor, abrindo a porta.
— A gente ainda vai conversar sobre isso, loirinha — ele provoca, enquanto se afasta com um sorriso no rosto.
Fecho a porta com força e respiro fundo, tentando controlar a raiva crescente.
Às oito e meia da noite, as crianças já estão dormindo, e a Nessa foi embora. Estou sozinha na sala, encarando o telefone fixo e o convite de casamento, girando a taça de vinho na mão. O número nele parecia brilhar de uma forma que me dava dor de cabeça. Ligar ou não? Um dilema que eu não queria ter. A campainha toca e eu suspiro. Olho pelo olho mágico: Duca.
— Vai embora, Duca. Já é tarde.
— Bella, só quero conversar. Me escute, por favor. — A voz dele é suave, mas persistente.
Com um suspiro de cansaço, abro a porta e ele entra, como se já soubesse que eu não resistiria.
— O que foi agora? — pergunto, cruzando os braços.
— Precisamos falar sobre o casamento e... nossa possível parceria.
— Eu não sei se isso é uma boa ideia. — Balanço a cabeça, frustrada. — Isso tem tudo para dar errado.
— Ou talvez dê certo. — Ele ergue uma sobrancelha, um sorriso de canto surgindo. — Pense: você se livra da pressão da sua mãe e do tal Lorenzo, e eu, da minha mãe e da prima dele. Todo mundo feliz por alguns dias, e depois seguimos nossas vidas normalmente.
— Não é tão simples assim, Duca. — Pego a garrafa de vinho e encho minha taça novamente. — E se eles descobrirem que é tudo uma mentira?
— A gente faz parecer real o suficiente para ninguém suspeitar. E estabelecemos algumas regras para você não se sentir desconfortável. — Ele se aproxima, pegando a taça da minha mão e a colocando na mesa. — Eu não vou cruzar nenhum limite seu.
— E quais seriam essas condições? — pergunto, ainda desconfiada.
— Nada de demonstrações públicas de afeto a menos que você concorde. Não preciso te beijar nem nada, a menos que seja absolutamente necessário — ele diz, rindo, como se a ideia fosse absurda. — E se em qualquer momento você quiser parar com isso, a gente para. Sem perguntas, sem pressão.
Eu cruzo os braços, avaliando a proposta. Por mais que pareça loucura, faz sentido. Duca é persuasivo, e, de alguma forma, consigo acreditar que ele manterá sua palavra.
— E se alguém desconfiar? — pergunto, franzindo a testa.
— Aí a gente improvisa. Você é boa nisso, não é? — Ele pisca, e não consigo evitar um pequeno sorriso.
— Isso ainda parece uma péssima ideia... — Murmuro, mas já sinto que estou cedendo.
— Pense assim: é um favor mútuo. — Duca pega o telefone fixo e coloca na minha mão. — Vamos lá. Não é como se eu fosse o pior partido do mundo.
Reviro os olhos, mas ele tinha razão. Pego o telefone e disco o número do convite. O toque soa três vezes antes de Abby atender.
— Bella? Finalmente! Achei que você fosse desistir.
— Não dessa vez, Abby. — Suspiro e lanço um olhar rápido para Duca. — E... eu vou levar meu namorado.
O silêncio do outro lado da linha é quase cômico.
— Seu... namorado? — Abby finalmente pergunta, surpresa.
Duca ativa o viva voz e se inclina, sorrindo.
— Isso mesmo, Abby. Sou eu. Estamos juntos.
— O quê?! — Abby parece incrédula. — Desde quando?
— Nos vemos no casamento, maninha. — Encerro a ligação rapidamente, sem dar tempo para mais perguntas.
Duca sorri satisfeito, mas eu o encaro com um olhar mortal.
— Se você ferrar com isso, eu juro que te mato.
— Não se preocupe, loirinha. Vai ser divertido — ele responde, piscando antes de se recostar no sofá, como se tudo estivesse sob controle.
— Precisamos planejar como esse relacionamento aconteceu — digo e pego um bloco de notas e uma caneta na mesinha de centro, me sentando no sofá.
— Isso é fácil — Duca desliza do braço do sofá até o meu lado. — Trabalhando no mesmo projeto, acabamos passando mais tempo juntos, mas foi quando eu me aproximei bastante de Nella e Timmy, que algo acendeu entre nós e foi impossível resistir.
— Só você falando isso me dá vontade de vomitar — conto e faço uma careta, enquanto ele ri. — Mas ok, essa pode ser nossa "história de amor". Agora, sobre as demonstrações em público, tem uma condição...
— Sem mão boba?
— Sem língua.
— O quê? — Ele pergunta, bem surpreso.
— Você vai me beijar sem língua ou eu vou morder tão forte que você não a sentirá por um bom tempo.
— Não conhecia esse seu lado canibal — Duca diz, rindo, e eu empurro o seu ombro com força.
— Idiota!
— Vamos ter que treinar isso — ele afirma e eu o encaro confusamente. — Eu não sei beijar sem língua...
— Você não pode estar falando sério... — Começo a rir, mas Duca continua me encarando sem nenhum sinal de provocação. — Puta merda!
— Prometo que serei um aluno dedicado!
— Só cala a boca, por favor, fica quieto e me deixa raciocinar a merda que eu deixei você me meter — peço e ele levanta as mãos em rendição, ficando em silêncio.
Nunca, em vinte e oito anos de vida, eu pensei que teria que dar aulas de como beijar sem língua. Ainda mais para Duca, o garoto que sempre me infernizou desde que eu o conheci há mais ou menos vinte anos.
Maldito casamento! Maldito namoro falso! Maldito idiota!
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