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PRÓLOGO (DOM)

Eu não deveria ter vindo até aqui.

Mas Annabella tem esse efeito em mim. Sempre teve. Uma força que me atraía e me jogava no meio do fogo, mesmo quando sabia que ia me queimar.

Encontrei-a na varanda da casa dos pais dela, isolada do resto do mundo, como se estivesse tentando fugir de tudo — ou de si mesma. Os dedos dela seguravam a taça de vinho com força, como se fosse um escudo. A lua iluminava os traços do rosto que eu conhecia há anos, mas que, por alguma razão, pareciam diferentes agora. Talvez fosse o olhar dela, carregado de algo que eu não conseguia decifrar: raiva, dor, talvez até desejo.

Por um segundo, penso em dar meia-volta, mas não consigo.

— Sempre fugindo, não é, Bella? — A minha voz quebra o silêncio, e ela se vira devagar, os olhos azuis faiscando como duas lâminas prontas para cortar.

— Não sabia que precisava da sua permissão para respirar — O tom dela é ácido, mas o tremor quase imperceptível em sua voz me faz dar um passo à frente.

Eu rio, baixo e controlado. Sei que isso a irrita.

— Não precisa, mas é engraçado como você sempre foge quando as coisas ficam difíceis.

Ela solta uma risada curta, sem humor, e vira-se novamente para a vista.

— Não projete suas inseguranças em mim, Duca — A resposta vem com a mesma precisão calculada que me irritava desde o colégio.

Dou mais um passo. Estamos sozinhos aqui, mas o espaço entre nós parece menor e mais sufocante a cada segundo.

— Não é projeção, Bella. É constatação — Minha voz sai baixa, quase rouca. — Você acha que pode controlar tudo, mas não consegue nem controlar o que sente agora.

Ela se vira de uma vez, o movimento rápido como um golpe.

— O que eu sinto agora? — Os olhos dela queimam, a taça ainda firme na mão, mesmo com o vinho balançando perigosamente. — Você acha que me conhece? Que tem algum poder sobre mim?

Me aproximo até que o espaço entre nós desaparece. A respiração dela acelera, e eu vejo quando tenta disfarçar.

— Não preciso conhecer você agora. Já conheci o suficiente — Minha voz sai mais baixa, mais íntima, e sei que acertei um nervo.

— Você não sabe nada sobre mim — Ela tenta parecer firme, mas há algo na maneira como seus olhos vacilam que me faz sorrir, mesmo sem querer.

— Não? — Inclino-me, tão próximo que sinto o perfume floral e o calor dela. — Então por que você continua aqui? Por que ainda me deixa chegar tão perto?

— Porque, infelizmente, você faz parte dessa mentira — Ela rebate, mas a voz treme um pouco.

— E você acha que é só uma mentira? — Provoco, a minha voz mal passando de um sussurro.

Ela não responde. Em vez disso, ergue a taça como se quisesse criar um escudo entre nós. Mas seu olhar a trai.

— Você está jogando, loirinha — Dou mais um passo, minha mão tocando de leve o braço dela.

É o suficiente para fazer a taça escorregar de sua mão e cair no chão.
O som do vidro quebrado corta o silêncio.

— Maldição, Duca! — Ela se afasta, os olhos faiscando com algo entre raiva e confusão.

— Não foi só a taça que você deixou cair… — Eu dou de ombros, sorrindo.

Ela fica imóvel, a mandíbula está cerrada, mas não responde. O silêncio é quase insuportável, mas é melhor do que ouvir algo que eu não estou preparado para aceitar.

— Não tente me manipular — A voz dela sai baixa, mas carregada de algo que parece mais uma súplica do que uma ameaça.

— Não preciso te manipular — Respondo, dando um passo para trás, mas mantendo os olhos fixos nos dela. — Você já está lutando contra o que sente.

Bella não reage imediatamente. Em vez disso, dá um passo para trás, longe de mim e da bagunça de sentimentos que claramente a consome.

— Isso aqui é uma farsa, Duca. Nada mais — Ela lança as palavras como uma faca, mas o tremor em sua voz diz o contrário.

— Você acredita mesmo nisso? — Minha pergunta sai como um desafio, mas ela já está saindo.

Ela se vira sem olhar para trás, deixando-me sozinho na varanda com o som do vidro quebrado e a certeza de que, seja qual for o jogo que estamos jogando, ela está prestes a perder o controle.

E, honestamente, eu também.

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