PRÓLOGO (BELLA)
Existem momentos que definem quem somos. Momentos tão pequenos, tão insignificantes no instante em que acontecem, que só nos damos conta de sua importância quando já é tarde demais.
Eu penso nisso enquanto caminhava pela ponte do Millenium Bridge, sentindo o vento frio de Londres cortar minha pele, mesmo através do casaco grosso. É um daqueles dias em que a cidade parecia respirar junto comigo, cinzenta e silenciosa, mas cheia de vida.
A primeira vez que cruzei essa ponte, estava decidida a deixar tudo para trás. Veneza. Minha família. A traição que ainda queimava como se tivesse acontecido ontem. Jurei que nunca olharia para trás, que construiria uma vida onde ninguém poderia me atingir de novo.
E, por um tempo, deu certo.
Mas a vida tem um jeito estranho de nos lembrar do que tentamos esquecer. Mesmo aqui, em Londres, mesmo com Nella e Timmy ao meu lado, havia noites em que eu acordava ofegante, sentindo o peso do passado como uma corrente invisível.
A questão nunca foi fugir. Era impossível. Sempre foi.
Paro no meio da ponte, deixando meu olhar vagar pelo rio Tâmisa, onde as águas refletiam o céu nublado. Não era Veneza. Não havia gôndolas, nem a luz dourada dos fins de tarde que costumava encher meu coração de calma. Mas também não havia os fantasmas de lá.
É por isso que eu precisava desse lugar. Para respirar. Para recomeçar.
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