CAPÍTULO 5
Estávamos sentados entre a mesinha de centro e o sofá, enquanto a pizza desaparecia rapidamente entre nós. O clima na sala se tornava cada vez mais leve e o vinho ajudava a suavizar a tensão/ódio existente entre nós.
— Você ainda não se esqueceu do quanto eu te irritava no colégio, né? — Indago, mordendo um pedaço de pizza.
— Claro que não! — Bella responde, rindo. — Você era insuportável! Sempre se metendo nos meus assuntos, como se eu fosse sua rival na escola.
— E eu adorava! — Eu rio, lembrando dos velhos tempos. — Se não fosse por mim, sua vida teria sido bem chata.
— Chata? Eu estava ocupada demais tentando ignorar suas provocações! — Ela cruza os braços, mas não consegue esconder o sorriso.
— Lembra daquela vez em que você quase me empurrou na piscina? — Pergunto, um brilho travesso nos olhos.
— Eu não ia te empurrar! — Bella protestou, rindo. — Eu só estava correndo e você entrou na minha frente na hora errada!
— Mas você não achou isso ruim! — Retruco e ela dá de ombros, bebendo mais um gole de vinho. — Pelo contrário, você ficou lá rindo, como se tivesse vencido uma batalha.
— Aquela era a vitória da infância! — Ela diz, o brilho nos olhos denunciando que estava se divertindo com a lembrança.
— Você sempre foi tão competitiva. — Comento, lembrando de várias situações. — Cada competição, cada jogo, você tinha que ganhar.
— E você sempre tinha que me provocar! — Ela revira os olhos, mas a risada escapou.
— A verdade é que eu só queria ver você se irritar! — Admito, levando a taça de vinho à boca.
Bella balança a cabeça, rindo.
— Você realmente era insuportável! Mas, ao mesmo tempo, era divertido — Ela me olha, a expressão nostálgica.
De repente, sinto algo suave roçar contra meu tornozelo. Olho para baixo e lá estava ela: a majestosa Chiara Marie, com seus olhos brilhantes, pelagem branca impecável e um lacinho cor de rosa entre as orelhas. A gatinha solta um miado baixo, se esfregando nas minhas pernas como se já fossemos velhos amigos.
— Ah, então você é a famosa Chiara Marie que os pequenos tanto falaram — Me baixo para fazer carinho em sua cabeça, e ela aceitou prontamente, ronronando alto. — Parece que me aprovaram por aqui.
— Não acredito! Ela te aceitou rápido demais… — Bella resmunga, mas havia um toque de leveza em sua voz. — Chiara geralmente não gosta de estranhos. Traidora! — Acrescenta em tom brincalhão, direcionando a última parte para a gatinha.
— Tenho meus encantos — Do de ombros, sorrindo enquanto Chiara se esfregava mais uma vez em mim antes de encontrar uma posição que gostasse em meu colo. — O nome dela é uma referência à Aristogatas, não é? — Pergunto, e Bella assente com um sorriso orgulhoso.
— Sim! Chiara por causa da minha descendência italiana e Marie… Bem, Marie é a Marie, né? — Ela dá de ombros, rindo.
— Eu sabia! — Abro um sorriso, pegando meu celular no bolso. — Você vai gostar disso… quero te apresentar meus filhos… de quatro patas. — Desbloqueio o celular e mostro a ela uma foto de dois gatos: um laranja e outro cinza, deitados preguiçosamente no sofá do meu apartamento.
— Não acredito! — Bella arregala os olhos, encantada. — Toulouse e Berlioz?
— Os próprios. — Confirmo, rindo. — Um é artista incompreendido, e o outro toca piano… ou pelo menos tenta.
Bella ri, genuinamente divertida.
— Eu não sabia que você tinha gatos! — Ela diz, deslizando a tela para ver mais fotos deles. — E ainda mais com esses nomes… Esse é um dos meus filmes favoritos da infância.
— O meu também — Digo, sentindo a proximidade crescer entre nós. — Acho que isso é algo que temos em comum.
Bella sorri, e há um brilho diferente em seus olhos.
— Sabe, talvez você não seja tão insuportável quanto eu lembrava… — Ela provoca, enquanto Chiara Marie mia em meu colo, como se concordasse com a dona.
— E talvez você seja menos chata do que eu pensava — Respondo, rindo. — Mas só um pouco.
Ela me dá um leve empurrão no ombro, e nós dois rimos. O clima é leve e descontraído, como se, por um momento, tudo fosse simples.
— Agora faz sentido por que a Chiara gostou de você — Bella diz, olhando a gata. — Vocês devem falar a mesma língua.
— Gatos sabem reconhecer boas pessoas. — Brinco, esticando as pernas no tapete. — É por isso que ela gostou de mim e não de você.
— Babaca! — Bella ri, jogando uma almofada em mim.
Por um instante, o tempo parece parar. A familiaridade entre nós, as risadas e as pequenas provocações… tudo parece certo, de um jeito que eu não esperava.
Chiara ronrona feliz, acomodada no meu colo, e Bella observa meus gatos nas fotos com um sorriso leve, como se o peso de tudo o que vivemos estivesse longe de nós.
— E agora, como você tem se virado aqui em Londres? — Pergunto, mudando o tom da conversa.
— Ah, é uma loucura. Entre o trabalho e as crianças, mal tenho tempo para mim mesma — Bella suspira. — Mas não trocaria isso por nada.
— E as crianças, como estão? — Eu a encaro, genuinamente curioso.
— Elas são incríveis. Cheias de energia e sempre aprontando alguma coisa — O sorriso dela era radiante, e eu não pude deixar de admirar.
— Isso é ótimo! — Digo, fazendo um brinde imaginário. — A vida deve estar cheia de surpresas.
Enquanto continuavam conversando, o passado e o presente se entrelaçavam, trazendo à tona risadas e memórias que há muito estavam adormecidas.
Chiara Marie já tinha se cansado de dormir no meu colo e teria provavelmente ido para o quarto de Bella, como ela mesmo disse minutos atrás.
— Sabe, eu realmente não posso acreditar que você nunca me chamou para um encontro enquanto estávamos na escola. — Brinco, recostando no sofá e observando Bella com um sorriso provocador.
— Você era tão insuportável! — Bella responde, rindo, mas havia um brilho nos olhos dela. — Eu nunca pensaria em sair com alguém que me irritava tanto!
— Ah, vai! Você gostava das minhas provocações! — Me inclino um pouco mais perto, o vinho fazendo minha confiança aumentar.
— E o que você tem feito desde então? — Bella pergunta, sua curiosidade agora despertada. — Algum relacionamento sério?
— Não exatamente… — Sorrio, enchendo mais nossas taças de vinho. — Eu nunca tive um relacionamento sério, desde a época da adolescência. Algumas interações de uma noite, se é que você me entende, mas nada que realmente valesse a pena.
— Então você é apenas um conquistador? — Bella brinca, mas havia um pouco de seriedade na sua voz.
— Mais ou menos — Levanto os ombros, tentando parecer indiferente.
— E você está feliz assim? — Bella questiona, uma pitada de curiosidade na voz.
— Às vezes, sinto falta de algo mais profundo. Mas não sei se estou pronto para isso. — Admito, minha vulnerabilidade flutuando no ar.
— E você? O que aconteceu depois que o Nico morreu?
A menção de Nico fez a expressão de Bella mudar por um instante.
— Desde que ele se foi, há quase quatro anos, eu não me envolvi com nenhum homem — Sua voz estava mais suave, quase reflexiva. — É complicado. Depois de perder alguém que você ama, é difícil abrir seu coração de novo.
A sinceridade de suas palavras me fez sentir um aperto no peito. O clima entre nós ficou mais pesado, e eu me inclino ainda mais perto.
— Eu entendo. É difícil se permitir amar novamente… — Afirmo, tentando soar o mais sincero possível. — Mas você precisa se permitir ter novos relacionamentos, mesmo que sejam apenas por uma noite — Aconselho, com a minha voz suave, mas firme. — Às vezes, é só o que precisamos para lembrar como é viver.
Bella me encarou e eu pude escutar sua respiração acelerada. A intensidade do olhar dela fazia meu coração disparar.
— E se eu quisesse? — Ela sussurra, suavemente, com seu tom de voz provocante.
Me inclino ainda mais, o desejo pulsando entre nós dois. Nossos lábios estavam tão próximos que eu podia sentir o calor dela, quase como uma promessa não dita. A eletricidade no ar era palpável, e, em um momento de impulso, nossas bocas se encontraram em um selinho suave, um toque que enviou ondas de calor por todo o meu corpo. Mas, assim que o beijo aconteceu, eu me afastei, a lucidez me atingindo.
— Espere… — Eu digo, a respiração pesada. — Não podemos fazer isso. Você está bêbada, eu também estou um pouco e não seria justo.
A expressão de Bella muda, e a frustração mistura-se com um toque de decepção.
— Você tem razão… — Ela murmura, mas havia um brilho de desafio em seu olhar.
Ficamos alguns minutos em silêncio. Sentindo a necessidade de mudar a energia, rapidamente procuro um novo assunto, para pararmos de pensar no que quase acabou de acontecer.
— Mas e o casamento do TJ e da Abby? — Lembro ao enxergar o convite na lixeira da sala. — Como você se sente sobre isso?
Talvez não seja o melhor assunto para o momento, mas foi o único que eu pensei…
Ela olha para o convite na lixeira da sala, que fica no canto perto da janela. Pega a garrafa, que já estava praticamente vazia e enche sua taça com o vinho que ainda tinha, bebendo uma boa quantidade.
— É complicado… — Bella murmura, girando a taça na mão.
— Complicado porque… família, pressão… ou ex-traumas? — Provoco, sabendo que esse era um território sensível.
— Um pouco de tudo — Ela suspira, encarando o teto como se as respostas dadas lá. — A pressão por estar sozinho não ajuda, sabe? Todo mundo acha que eu tenho que estar com alguém.
— Ah, essa eu conheço bem. Minha família é campeã em fazer perguntas inconvenientes sobre relacionamentos... — Sorrio. — Mas parece que vou ficar fora do radar deles, então — Digo, dando um gole no vinho. — Porque eu tenho certeza de que eles vão se concentrar mais em você.
— Ah, que ótimo! E vai me deixar sozinha com toda a pressão? — Brinca, balançando a taça. — Sabe o que seria engraçado?
— O quê? — Pergunto, entrando na brincadeira.
— Se a gente fingisse que estamos juntos… — Ela responde rindo, mas talvez tivesse um fundo de seriedade nisso.
Eu ergo uma sobrancelha, curioso.
— Namorados? — Questiono, para ver se eu interpretei certo o que ela estava propondo.
— Isso! — Bella se ajeita, mais animada com a ideia. — Assim, ninguém me encheria de perguntas sobre novos relacionamentos, e você ficaria livre da sua família também. Genial, né?
Começo a rir, balançando a cabeça.
— Você está bêbada, Bella. Não podemos fazer isso.
— Por que não? — Ela se inclina para frente, o sorriso travesso nos lábios. — Vamos só pensar… faz sentido! Você estaria me salvando, e eu salvaria você.
— Certo… porque isso não tem nenhuma chance de dar errado — Eu ironizo, mas a ideia não estava parecendo tão absurda assim.
Bella apoia o queixo na mão e me observa com atenção. Seus olhos azuis cor do oceano estavam brilhando por causa da bebida.
— Seria por alguns dias, Duca — O tom mais suave agora. — Só até o casamento acabar. Nada sério. A gente faz isso e pronto. Cada um segue sua vida.
Eu encaro o fundo da taça por alguns segundos, ponderando.
— Você sabe que tem chance de isso virar um caos completo, né? — Indago, ainda sem saber se ela estava brincando ou falando sério.
— E quando foi que algo que envolvesse nós dois não virou caos? — Bella retruca com um sorriso, erguendo a taça como se brindasse à própria loucura.
Por um momento, nós dois ficamos em silêncio, absorvendo a ideia. Era absurdo, sem dúvida. Mas faz sentido, de um jeito estranho.
— Então… estamos mesmo considerando isso? — Pergunto, semicerrando os olhos, tentando decifrar a mente dela.
— Talvez… — Sussurra, se inclinando um pouco mais para mim, os olhos fixos nos meus. — Ou talvez seja só o vinho falando.
Nos encaramos por alguns segundos, o ar entre nós carregado de tensão, e depois começamos a rir juntos, como se tivéssemos acabado de compartilhar o segredo mais absurdo do mundo.
— Ok, ok… vamos dormir com essa ideia e ver se parece menos idiota amanhã — Digo, ainda rindo.
— Combinado — Ela aceita e levanta a taça mais uma vez, dessa vez brindamos de verdade. — A gente se mete em cada coisa… — Rimos e bebemos.
***
— Vem, Bella… — Eu murmuro, segurando-a gentilmente pelo braço enquanto ela cambaleava, rindo baixinho e tropeçando nos próprios pés. — Acho que já deu por hoje.
— Eu estou bem! — Bella protestou, com a voz arrastada pelo efeito do vinho. — Só mais uma taça e...
— Sem mais taças para você — A interrompo, segurando meu riso e guiando-a pelo corredor até o banheiro. — Você precisa tomar um banho, vai se sentir melhor.
— Você é muito mandão, sabia? — Ela resmunga, encostando a testa no meu ombro.
Eu apenas sorrio e, chegando ao banheiro do quarto dela, abro a porta.
— Pronto, você pode tomar seu banho. — Ligo a luz e a solto suavemente. — Eu vou esperar aqui no quarto, ok?
Bella murmura algo que eu não consigo entender e desaparece pela suíte, fechando a porta atrás de si. Solto um suspiro e passo as mãos pelos cabelos, virando para o quarto dela. O espaço era aconchegante e bem decorado, com uma cama de casal grande, lençóis de cetim e um guarda roupa que eu poderia apostar que tem um closet escondido nele.
Me sento na poltrona de couro marrom ao lado da cama, que provavelmente pertencia ao marido, apoiando meus braços nos joelhos e tentando não pensar demais no fato de que ela estava no chuveiro logo ali. Nua e molhada.
Alguns minutos depois, a porta do banheiro se abre, e Bella aparece. Sinto o ar escapar de meus pulmões por um instante ao vê-la.
Ela estava com uma grande blusa social branca, aparentemente sem sutiã, mas com uma calcinha vermelha que contrastava com a roupa. Os cabelos úmidos caíam desordenados sobre os ombros, e seus movimentos eram lentos e preguiçosos, como se o banho tivesse relaxado ainda mais o corpo embriagado dela.
Desvio o olhar, engolindo em seco e me forçando a me concentrar em qualquer outra coisa no quarto que não fosse ela.
— Você está bem? — Pergunto, a voz um pouco rouca.
— Estou ótima… — Bella responde em um sussurro sonolento, contornando a cama com passos lentos e tocando nos lençóis macios. — Mas tão, tão cansada… — Ela se ajeita sob o cobertor vermelho, puxando-o até os ombros.
Antes que eu pudesse pensar em dizer qualquer coisa, ouvi um barulho baixinho. Um ronco leve. Olhei para Bella e uma risada baixa escapou de seus lábios ao perceber que ela estava completamente apagada.
Fico ali por mais alguns segundos, observando-a em silêncio. Dormindo, Bella parecia um anjo; acordada, tempestade, poderia ser mais letal do que uma inesperada no meio de um oceano calmo. Tão linda quanto perigosa. O tipo de mulher que você sabe que pode te destruir… e que, de alguma forma, você ainda aceitaria ser destruído.
Ela resmunga algo incompreensível no sono e se ajeita debaixo do cobertor, o tecido se ajustando aos contornos do seu corpo. O cabelo loiro se espalha sobre o travesseiro, e a luz fraca do abajur revela uma paz que raramente vejo quando estamos cara a cara.
Eu respiro fundo e passo a mão pelos cabelos, como se isso fosse suficiente para espantar as ideias perigosas que passam pela minha cabeça. Não é. Definitivamente. Nunca foi.
— Boa noite, loirinha — Murmuro, me inclinando sobre ela e depositando um beijo suave em sua testa. O cheiro dela é uma mistura de xampu floral e vinho.
Ela não se move, apenas respira fundo, mergulhada em um sono profundo. Quando eu viro para ir embora, sinto algo macio encostar na minha perna.
— Ah, você de novo, pequena. — Abaixo-me e acaricio a cabeça de Chiara Marie, que mia baixinho, como se pedisse mais atenção.
Ela se esfrega nas minhas pernas e dá um salto ágil para a cama, enroscando-se ao lado de Bella. A gata ronrona alto, como se quisesse garantir que agora ela estava no comando para proteger sua dona.
— Cuidando dela por mim, hein? — Sussurro, passando a mão pela cabeça de Chiara uma última vez.
A gata me lança um olhar que quase parece compreender o que eu disse, antes de fechar os olhos, ronronando mais alto. Sorrio e me afasto em silêncio, deixando Bella e sua pequena guardiã descansarem.
Com um último olhar, apago a luz do quarto e saio em silêncio, fechando a porta com cuidado. Enquanto caminho pelo corredor de volta para a sala, uma parte de mim sabe que esse é um jogo perigoso. E, como sempre, Bella é a única jogadora que pode me vencer sem se esforçar.
Maldita pizza! Maldito vinho! Maldita loirinha!
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