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Cheryl B. Topaz – Point Of View

É ótimo estar de volta em casa, a nossa casa.

Mesmo ficando em um quarto separado da minha esposa, me senti otimista por estar mais perto dela e do Lion, esse que ficou a noite vagando de um quarto para o outro, sem se decidir com qual das duas dormia.

Quando acordei de manhã estava animada, focada e com certeza convencida de que em poucos dias estaria despertando ao lado de Toni novamente. Bom, já é uma vitória descer para o café e encontrar Debora preparando a melhor primeira refeição.

— Bom dia!

O meu tom soou alto, algo que assustou a mais velha que se encontrava concentrada em seus afazeres. Debora me encarou, havia surpresa em sua expressão ao me ver novamente na casa.

— Você voltou!

Sorriu, não evitei de fazer o mesmo

— Sim, dessa vez pra ficar, prometo.

— Não me iluda! Eu adoro vocês duas juntas.

Murmurou, melancólica.

— Sem ilusões, pode confiar em mim que não haverá mais separações. – caminhei para a mesa, acomodando o corpo em uma das cadeiras. — Alias... – levantei o olhar para a mais velha. — Sinto muito por ficar entre nossas brigas e separações, sei que deve ser difícil aturar nossos dramas.

— Ah, tudo bem, é normal. – balançou os ombros. — Casais brigam, separam, voltam, separam de novo...

— Ei, tire esse separam de novo. – a interrompi, a repreendendo em brincadeira, Debora riu. — As palavras separação e divórcio estão proibidas nessa casa.

Decretei, a mais velha abriu um sorriso fazendo o gesto de zíper na boca e nós duas rimos. No fundo, não havia nada de engraçado, por pouco pensei que meu casamento chegaria ao fim e claramente não é meu desejo. Sem brigas, separação e divórcio. Somente carinho, felicidade e muito amor. É isso, voltaremos a ser o casal invejado por todos, é só pensar positivo, focar para conquistar Toni novamente.

Tomei café com as delícias feitas por Debora, nós conversamos no pouco tempo que fiquei antes de ir para a escola. O dia tinha tudo para ser maravilhoso, havia feito planos de passar mais tempo com Toni, mas é de praxe que alguém sempre tente estragar minha pequena felicidade.

Ao chegar na escola, as portas já estavam abertas, havia me atrasado por querer matar a saudade dos dotes culinários de Debora.

— Cheryl! Bom dia.

A recepcionista parou-me na entrada.

— Bom dia. – franzi a testa com suas mãos mexendo nervosamente. — Algum problema?

— É que... – suspirou. — Eles...

Sua cabeça deitou para o lado, olhei na direção indicada encontrando três pessoas desconhecidas, eles tinham caneta e uma caderneta em mãos, um deles até com uma câmera pendurada no pescoço.

— Disseram que não saem daqui enquanto não falarem com você.

Minha recepcionista completou, balancei a cabeça em concordância.

Caminhei até os três, o meu olhar percorreu por cada um deles e tive certeza de minhas desconfianças quando encontrei os crachás escritos “jornalistas”. É claro que só poderia ter haver com minha esposa e sinceramente a paciência para qualquer um deles é zero.

— Senhorita Topaz. – o homem do meio sorriu. — Nós ficamos sabendo de um boato sobre sua esposa ser pega no doping e temos algumas perguntas para fazer, se não se importar em responder.

— Na verdade, eu me importo.

Cruzei os braços, meu tom foi firme atraindo um olhar surpreso.

— Não irei responder nada sobre a carreira da minha esposa... – olhei para os três. — Para nenhum de vocês, é melhor ficarem longe do meu trabalho ou terei que tomar providências por virem me importunar.

— Mas...

— Peço que se retirem do meu estabelecimento. – indiquei a saída. — Agora!

Ordenei.

Os três trocaram olhares, obedecendo-me poucos segundos depois e saindo da escola. Soltei um suspiro, relaxando meus ombros e esticando os braços ao lado do corpo. Nunca alguém veio me incomodar, nem mesmo quando Toni ganhou o cinturão, ninguém invadiu meu espaço ou tentou arrancar-me declarações. A mídia é claramente suja, só quer depoimentos e respostas quando acontece algo de ruim, mal posso imaginar a reação da lutadora se souber do ocorrido.

×××


Assim que sai do carro, conferi o horário, estava no meio da manhã. Liguei o alarme do veículo e caminhei para a porta da garagem que dava dentro de casa. Debora foi a primeira a me ver, surpresa por estar de volta tão cedo.

A verdade é que Toni precisava de mim em casa, sabia disso desde de ontem a noite, a mesma se encontrava abatida por todo esse assunto do doping, dei um jeito de ir a escola só pra avisar a todos que trabalharia de casa, eles poderiam muito bem se virar sem mim.

Quando coloquei os pés na sala, percebi o volume da televisão consideravelmente alto, minhas sobrancelhas franziram ao ver Toni focada na tela.

“Os rumores estão cada vez mais perto de serem confirmados, a lutadora Toni Topaz aparece em um vídeo discutindo com seu treinador dentro da academia...”

A imagem a seguir era embaçada, mas conseguia ver Nathan segurando minha esposa para não avançar em Willian. O vídeo durou no máximo três segundos, alguém colocou a mão sobre o celular que gravava.

Toni ainda não havia percebido minha presença, sua mão firme no controle remoto pulando para outro canal de esporte e outra notícia sobre seus rumores.

“Será que a campeã Toni Topaz conseguiu acabar com sua carreira? Ou isso só passa de boatos? Por que o treinador...”

Caminhei até o suporte da enorme televisão, puxando o fio que a conectava a rede de luz, desligando por completo aquelas malditas notícias. Eles não sabem nada sobre a minha mulher, o seu amor pela profissão e o quanto lutou para estar onde está. Não deixaria a mídia mexer com a mente dela.

— Cheryl? – ela levantou. — O que está fazendo aqui? E por que desligou a televisão?

— Pare de se torturar. – caminhei até ela. — Sei o quanto odeia tudo que estão falando de você e sabemos que nada é verdade, você errou, mas poderá se reerguer em algum momento.

— Você não pode ter certeza disso. – soltou um riso sem vontade, sentando no sofá. — Nem sabemos quanto tempo ficarei sem lutar.

Suspirei, sentando ao seu lado.

— Toni, eu pesquisei ontem a noite... – mordi os lábios ao falar. — Muitos já foram pegos no antidoping, alguns punidos de forma mais severa e outros nem tanto, vamos pensar positivo.

— Só consigo pensar que minha carreira está manchada.

Jogou a cabeça para trás no encosto do sofá.

— Manchada? Toni, até o Anderson Silva foi pego no antidoping.

Minha esposa franziu a testa ao me encarar.

— Você sabe quem é Anderson Silva?

— Não tenho a menor ideia. – ri ao falar, Toni abriu um pequeno sorriso negando. — Mas o nome dele aparece muito nas pesquisas sobre UFC... Ele é bom?

— Muito, um dos melhores.

— Viu, percebi que era importante... – toquei em sua coxa iniciando uma carícia. — Confio no seu talento e que não importa o tempo que te suspenderem, vai voltar mais forte do que nunca. Você é talentosa, a melhor de todas, Tee.

Declarei.

— Obrigada, Cheryl.

A morena sorriu sem mostrar os dentes.

— Apenas a verdade. – dei de ombros, piscando para ela. — Alias... Vou trabalhar em casa hoje, na verdade, se tiver algo que não podem resolver vão me ligar.

— Isso é legal.

Assentiu.

Lutar por nós, coloca isso em mente, Cheryl.

— Então... – murmurei juntando as mãos em nervosismo. — Vamos fazer alguma coisa, sabe... Nós duas.

— Pode ser, fala ai.

Suspirei, eu não tinha ideia do que poderíamos fazer.

— Nós podemos... – percorri o olhar pela sala parando no aparelho abaixo da televisão. — Jogar vídeo game?!

Falei mais comigo mesma do que com minha esposa.

Toni riu me fazendo encara-la.

— O que?

— É que... Você nunca quis jogar, além do que nem se passasse o dia inteiro jogando ganharia uma partida.

Arqueei uma sobrancelha.

— Está me desafiando?

— Não vale ficar brava se perder.

— Não vou ficar brava até porque não irei perder.

Cruzei os braços.

Toni deu risada levantando para ligar o aparelho.

Sim, vou perder todas as partidas e com absoluta certeza ficarei furiosa.

×××


— Mario Kart!

Escolhi nosso próximo jogo, nós já havíamos jogado luta, futebol, tiro... Minha esposa conseguia ganhar todos, como se soubesse quais botões apertar e em qual momento.

— Ok, vamos jogar Mario Kart...

Havia um risinho no final da sua frase.

Revirei os olhos.

Iniciamos uma corrida, o meu personagem era o Mario e o da Toni nem tinha ideia qual o nome, só que ele tinha um maldito poder que me fazia girar na pista e me atrasar sempre que estava conseguindo ganhar.

— Só corra! – a reprendi. — Pare de me atingir.

— Essa é a graça, fazer você não chegar em primeiro.

Ela estava se divertindo, puxei ar com força.

Fiquei em quarto lugar, a minha adorável mulher ficou em primeiro, é claro. Conseguia ouvir o seu riso baixo ao me ver pressionar os botões com certa agressividade, queria quebrar aquele controle e depois a cara dela.

Na segunda corrida, Toni não me atingiu com nenhum de seus poderes, desviei de todos e fiquei orgulhosa mesmo chegando em segundo lugar. Não preciso dizer qual era o primeiro. A terceira corrida, incrivelmente estava ganhando, com tamanha vantagem dei uma olhadinha para a minha esposa que mal mexia em seu controle.

— Não acredito. – deixei o jogo de lado. — Está me deixando ganhar!

— O que? Claro que não.

Elevou o corpo fingindo acordar de um cochilo, mordi os lábios soltando o ar pelo nariz com força. Levantei, jogando o controle no sofá e abrindo a boca para lhe xingar.

— Meninas. – Debora apareceu limpando as mãos em um guardanapo. — O almoço está pronto.

Anunciou, intercalando o olhar entre nós duas.

— Está tudo bem?

— Tudo ótimo!

Respondi, a mais velha arqueou as sobrancelhas.

— Cheryl está brava porque perdeu.

— Não estou. – olhei para a morena que se divertia. — Só... Estou com fome.

— Claro, fome de vitória.

Gargalhou jogando a cabeça para trás.

— Me erra, Antoniette!

Resmunguei dando passos duros em direção a cozinha. Debora ria junto com Toni o que me deixava mais irritada ainda, a lutadora tem o poder de conseguir me tirar do sério e odeio isso.

Sentei a mesa, pegando o prato a minha frente e me servindo sem ao menos esperar as outras duas. As mesmas tinham sorrisos no rosto ao adentrar o cômodo, as vezes me pergunto como Toni consegue se dar tão bem com todo mundo. Quer dizer, não tem uma pessoa a nossa volta que não fique apaixonada por ela de cara.

— Mais sorte da próxima vez, Cheryl.

Toni piscou ao sentar a minha frente.

— Pare de me provocar.

— Mas você disse que não ficaria brava.

— E não estou, só quero falar de outra coisa... – encarei Debora que servia-se para comer com a gente. — Debora, como vão seus netos?

Mudei de assunto, Toni não evitava de rir para me irritar ainda mais.

×××


Não poderia ficar o dia todo em cima da Toni, tinha consciência que lhe pressionar para voltarmos ao normal não é a opção certa. Depois do almoço e me acalmar por perder todas as partidas, nós nos afastamos. A morena tirou um cochilo no sofá e depois foi treinar. Lhe deixei sozinha um pouco, por mais que quisesse ficar por perto a todo momento, me controlei para lhe dar espaço.

Assisti televisão, toquei algumas musicas, troquei mensagens com o pessoal da escola e li páginas de um livro. No meio da tarde, achava que minha esposa ainda estava treinando, tentei me conter para não ir até ela, mas não consegui. Simplesmente deixei o livro de lado e caminhei em direção a área externa. Assim que sai, avistei Toni sentada perto da piscina, Lion deitado em suas pernas enquanto a mesma escovava seu pelo. Eles pareciam conversar... Bem, a minha mulher falava com nosso cachorro.

— Devia ir lá.

Pulei de susto ao ouvir Debora, a mesma tinha um sorriso nos lábios ao me encarar. Encostei minha cabeça contra o batente da porta, olhando para os meus bens mais preciosos.

— Não quero sufoca-la. – confessei com um suspiro. — Tenho medo de fazer algo que a afaste, não posso errar ou será o fim.

— É claro que pode errar, faz parte, Cheryl. – a mais velha tocou em meu ombro. — Mas aposto que não será um erro se aproximar deles, há uma competição muito grande lá pra saber qual é mais apaixonado por você.

— No momento o Lion ganha.

Brinquei, rindo.

— Não tenha tanta certeza, aquela mulher é muito apaixonada por você.

— E eu mais ainda por ela.

Falei ao ver o sorriso enorme que Toni deu ao receber lambidas de Lion, Debora firmou o toque em meu ombro incentivando-me a ir. Mordi os lábios, dando o primeiro passo e recebendo um sorriso da mais velha que voltou para dentro. Caminhei devagarinho até eles, me juntando aos dois que me encararam, Lion até ergueu as orelhas. Sentei ao lado da morena.

— Momento em família?!

Sugeri, o meu braço quase encostando no da minha esposa.

— Não sei, o que você acha, garoto? – segurou o rosto do labrador entre as mãos. — Ela merece passar um tempo com nós?

— Você sabe que ele adora estar perto de mim.

— Não se gabe.

Repreendeu-me, deslizando a escova sobre o pelo amarelo, o cachorro parecia completamente relaxado em seu colo, apreciando do carinho da minha esposa.

— É só admitir que o Lion gosta mais de mim.

Balancei os ombros.

— Quem?

Toni abriu um sorriso, arqueando as sobrancelhas.

Forcei a garganta percebendo o que falei.

— O Leo.

Me corrigi.

— Você não disse Leo. – estreitou o olhar. — Eu sei que você gosta de Lion, admita.

— Admita que ele gosta mais de mim.

Retruquei, ela riu negando.

Um sorriso apareceu em meus lábios, sentia falta de nossas provocações e brincadeiras uma com a outra, desses momentos onde ficávamos de bobeira, apenas apreciando nossas presenças.

O pelo do labrador ficou liso assim que Toni terminou de escova-lo, foi preciso somente dois tapinhas em seu corpo para o mesmo correr em volta da piscina. O silêncio entre nós não era desconfortável, estava longe de ser, mas não durou muito porque gemidos de insatisfação saíram da boca da morena quando Lion rolou seu corpo na grama acabando com todo o trabalho que ela teve de escovar seu pelo.

— Porra, ele não poderia esperar alguns minutos?

Toni resmungou, deixando a escova ao seu lado.

Talvez minha atenção estivesse tão focada em nosso cachorro que não havia percebido a sua falta de roupas, o short de malha curto colado em suas coxas e o top mostrando seu abdômen definido me faziam reprimir um gemido.

Me perdoem, mas nem lembro a última vez que transamos.

— Cheryl.

Ela me chamou, ergui o olhar que estava no vão de seus seios.

— Sim?

— Pervertida!

Acusou-me, rindo.

— Uhn, só estava admirando a paisagem.

— Olhe em meus olhos.

Pediu, apontando para os mesmos.

— Ok, a visão é melhor ainda.

Inclinei-me um pouco, ousando ficar próxima ao seu rosto.

— Sabemos que gosta mais do meu corpo do que qualquer outra parte.

— Errado. – lambi os lábios, aproximando nossos rostos ainda mais. — Eu amo tudo em você, fato. – rolei os olhos em obviedade. — Mas seus olhos... Ah, sou completamente apaixonada por eles, Tee, no sol ficam mais claros e brilhantes, sinto como se me prendessem...

Falei com o olhar completamente focado no seu, Toni suspirou fazendo com que sua respiração batesse contra a minha. Não sabia em que momento voltaríamos a nos beijar, tocar, transar... Mas esperava uma atitude dela, quero que esteja pronta pra me aceitar de volta. Estacionei quando nossos narizes se tocaram, minha respiração ofegou de saudade e desejo, minha mão apoiada no chão serrou em punho buscando por autocontrole.

Os meus olhos fecharam tendo certeza que minha esposa iria me beijar, mas estava completamente enganada, uma lambida em meu rosto fez com que recuasse, o latido de Lion de se fez presente e ouvi a risada de Toni soar alta.

— Leo!

Segurei o labrador que não parava de me lamber.

— Ele está te dando beijos, Cheryl.

Toni se divertia rindo.

— Leo, senta! – mandei, o mesmo obedeceu de primeira encarando-me ansioso. — Não era esse beijo que eu estava esperando.

— Bom... – a morena levantou. — É o único que terá hoje.

Falou caminhando para a entrada da casa.

— Pelo menos, isso mostra que ele gosta mais de mim. – meu tom saiu alto, Toni nem me olhou, erguendo o dedo do meio ainda de costas, encarei o labrador. — Tudo bem, Lion, a gente supera essa, não é?

Bati em minhas pernas, ele se animou ao deitar em meu colo e receber um carinho. Soltei um suspiro, quase toquei naqueles lábios que tanto sinto falta, quase dei mais um passo para estarmos bem. Quase, ainda não era suficiente.

×××


Não sei o que era mais difícil, navegar por toda plataforma da Netflix sem achar um filme que despertasse interesse ou ir até minha esposa e convida-la para assistir comigo. Toni estava no segundo andar, a última vez que a vi disse que iria tomar um banho, foi logo depois que entrei com Lion em casa. Já fazia um bom tempo que esperava a morena descer para lhe convidar, estava até pensando em pedir para Debora preparar pipoca antes de ir embora.

Quando ouvi passos na escada, ergui o corpo que permanecia esticado no sofá, Toni andava lentamente e de cabeça baixa. É ridículo, mas estava nervosa para falar com minha própria mulher.

— Tee. – a chamei, a mesma me encarou. — Pensei da...

Me calei, juntando as sobrancelhas ao ver seus olhos vermelhos indicando um recente choro. A mesma parou no caminho, ombros baixos e a expressão tão triste que partia meu coração.

— Pode vir aqui?

Perguntei a chamando com a mão.

Toni se aproximou, sentei no sofá cruzando as pernas como índio e a menor sentou a minha frente, seu olhar focou no tecido do estofado, evitando contato visual.

— Toni... – murmurei, erguendo seu rosto ao tocar em seu queixo. — O que houve?

— Minha mãe ligou... – seu tom estava baixo. — Queria saber se era verdade os boatos. – os castanhos molhados vieram até os meus. — Em resumo, ela está muito puta e decepcionada comigo.

Uma lágrima deslizou pelo rosto da minha mulher, fiz questão de limpa-la na hora, sentindo meu coração ficar pequeno no peito com a visão de Toni completamente fragilizada.

— Amor... – acariciei a maçã de seu rosto. — A Katy te ama, tem muito orgulho de você e deve ser só o momento de surpresa, também me senti assim no início.

— É que... Porra. – mais lágrimas caíram. — Ela nem falou nada, sabe? – me encarou. — Preferia todos os esporros do mundo do que o silêncio fodidamente desapontado dela.

Respirei fundo, controlando minhas emoções para não chorar junto dela.

— Vem cá.

Estendi os braços, a morena relutou por alguns segundos antes de aceitar o convite, a puxei junto de mim para deitar no sofá, seu corpo acima do meu e o rosto afundado em meu pescoço. Deslizei uma mão por suas mechas rosas enquanto a outra estava sobre suas costas, Toni pressionava nossos corpos ao envolver minha cintura.

— Vai ficar tudo bem, Tee. – depositei um beijo no topo de sua cabeça. — Isso vai passar, eu prometo.

Sussurrei a ouvindo fungar sobre meu pescoço. 

Doía muito vê-la assim, mais ainda saber que poderia ter evitado seu sofrimento de alguma forma. É óbvio que me culpo por não estar presente no momento que aceitou os remédios, foi um período de insegurança, incertezas e onde não estive do seu lado, não posso de maneira alguma condena-la.

Fiquei a acariciando até que seu choro sessou, pela falta de movimentos e respiração calma percebi que havia pegado no sono. Seu corpo estava inteiramente sobre o meu, não era uma posição confortável, mas o que importava é que estivesse descansando. Os próximos dias talvez sejam ainda piores, quando for confirmado que realmente usou os remédios, anunciarem seu afastamento...

Suspirei, brincando com algumas de suas mechas rosas. É tão bom sentir seu cheiro de pertinho, o corpo colado no meu e me segurando contra si. Senti falta disso, desses momentos onde sou seu suporte e quem a acalma, pretendia nunca mais deixar de ser.

Me perdi no tempo que fiquei com Toni nos braços, divagando sobre nossa situação, a sua... Eu só não queria dormir e deixar escapar todo o tempo de apreciação com ela abraçada a mim. Houve uma movimentação lenta e pequenos resmungos quando começou a acordar, Toni deu um longo suspiro antes levantar o rosto amassado de frente para o meu.

— Oi.

Sussurrei, abrindo um pequeno sorriso ao tirar uma mecha sua para trás da orelha.

— Não acredito que dormi.

Coçou o olho e bocejou.

— Foi só um cochilo. – dei de ombros. — Você tem dormido bem a noite?

— Hum... Sim, claro.

Levantou o corpo, afastando-se de mim e arrancando-me um resmungo insatisfeito. O calor do seu corpo no meu estava ótimo! Volte aqui. Sentei ao seu lado, pronta para lhe interrogar sobre dormir a noite porque claramente não acreditei em suas palavras.

— Toni, você...

Fui interrompida, a campainha de nossa casa soando me fez revirar os olhos e levantar para atender. Quem quer que fosse já estava me irritando por atrapalhar um momento meu com a Toni.

Ah, sei que estou sendo egoísta, mas a gente estava em um clima tão bom...

— Ah, são vocês.

Não consegui segurar minhas palavras ao ver Betty e Jughead parados na nossa porta, relaxei os ombros, focando para não maltratar os melhores amigos da minha mulher mesmo que de certa forma já tivesse feito.

— Cheryl! Não sabia que... – Betty se calou trocando um olhar com Jughead. — Quer dizer, espero não estarmos atrapalhando nada.

— B, Jug!

A voz da minha esposa soou animada atrás de mim.

— Entrem.

Desviei meu corpo da passagem, deixando o casal adentrar nossa casa e ir direto abraçar Toni. Enquanto fechava a porta não evitei de pensar em Veronica e que antes vinha acompanhada de Betty, tínhamos nossos encontros de casais que minha melhor amiga inventou e... Diabos, que saudade daquela mulher! Observei Toni receber seus amigos, ela até abriu sorrisos para eles e se animou, nem aparentava ter acabado de acordar.

— A gente ficou sabendo o que aconteceu e...

Jughead começou a falar, meu olhar estalou na hora.

— Vocês não vieram aqui a trabalho, não é?

Interrompi, um tom ríspido saindo por entre meus lábios.

— Cheryl!. – Toni me repreendeu. — Por que eles viriam a trabalho?

— Nós nem trabalhamos com notícias de esporte.

Betty defendeu-se.

— Uhn... – suspirei, aqueles malditos que me importunaram hoje de manhã deixaram-me paranoica. — É que alguns jornalistas me abordaram na escola hoje querendo saber se os boatos eram verdade.

Confessei, minha esposa me olhou.

— Eles o que? – seu tom elevou fechando os punhos. — Quantos eram? De que revista? Vou processa-los por te incomodarem!

— Toni... – toquei em seu braço, sentando no sofá junto dela. — Calma, lidei bem com eles e provavelmente não irão aparecer mais.

— Porra... Por que não me contou? Poderia fazer alguma coisa.

— Não queria te irritar ou chatear ainda mais, Tee. – segurei em sua mão. — E está tudo bem. – dei de ombros. — Agora... Converse um pouco com seus amigos e tente se distrair, não fique pensando muito nisso. – concordou, assentindo. — Vou pedir para a Debora preparar o jantar para quatro! Já volto.

Estalei um beijo na bochecha da morena, levantando o corpo para ir até a cozinha, antes de sair completamente da sala ainda ouvi um “vocês voltaram?” de Betty e não consigo explicar o quão curiosa fiquei para ouvir a resposta de Toni, mas fui forte o suficiente para continuar andando.

Decidi matar um tempo conversando com Debora para minha esposa aproveitar os amigos e até troquei mensagens com o Nathan para saber como foi seu dia. Tenho uma rotina com o garoto, nós conversamos de manhã e a noite, assim consigo estar por dentro de seu dia, mas trabalhando na academia é mais fácil de prever que está tudo bem.

O jantar estava quase pronto quando voltei para a sala, não é que não goste dos amigos da Toni, mas só de olhar para Betty lembro de minha melhor amiga, a culpa não é da loira, óbvio, de ninguém. Só que estar afastada de Veronica é torturante, sem notícias dela então é pior ainda.

— Daqui a pouco poderemos jantar.

Anunciei, sentando ao lado da morena.

O papo com os outros dois estava tão bom que apenas olhou-me assentindo e continuou a falar. Não prestei atenção no assunto, a mesma se encontrava distraída então, aproveitei para envolver os braços em sua cintura e apoiar o queixo em seu ombro. Toni não recuou e agradeci mentalmente, deslizando o nariz por seus fios inalando seu cheiro.

Só sai do meu transe quando Jughead me perguntou da escola obrigando-me a interagir e entrar na conversa. O clima estava ótimo, nós conseguimos manter assuntos aleatórios onde todos participavam e minha esposa ficou mais leve, descontraída.

Jantamos juntos, Debora se despediu de nós assim que anunciou a refeição, o seu horário já havia chegado e amanhã estaria de volta cedo. Ao terminarmos de nos alimentar, o casal permaneceu por mais algum tempinho, o cansaço estava me batendo e o sono junto, mal conseguia prestar atenção neles.

Não posso negar que fiquei feliz quando nos despedimos, precisava da cama, meu travesseiro e quem sabe minha esposa para abraçar.

— Então... Boa noite?!

Meu tom era sugestivo ao chegar no fim das escadas, a porta do quarto onde estou dormindo é em diagonal com a do nosso que fica em uma das pontas do corredor.

— É, boa noite!

Toni segurou a maçaneta para adentrar a suíte.

— Tee. – toquei em seu braço a impedindo. — Será que não seria melhor dormir comigo hoje? – perguntei demonstrando receio. — Digo, você dormiu tão bem aquela hora no sofá.

— A tentativa é sempre livre. – sorriu ao falar. — Estou bem sozinha essa noite, durma bem, Cheryl.

Aproximou-se beijando minha bochecha, a morena adentrou o quarto sem ao menos esperar resposta. A porta ficou entreaberta, um sinal para Lion entrar quando quisesse, o labrador já se encontrava deitado em minha cama.

— Durma bem, Cheryl. – imitei seu tom, revirando os olhos e entrei no meu quarto. — Ah, me poupe, Antoniette.

Encostei a porta, mas a vontade era batê-la com força.

Toni Topaz – Point Of View

Três dias desde a ligação da minha mãe, quatro desde que Cheryl voltou para casa. A ruiva está se esforçando, tanto que tivemos dias realmente agradáveis, com minha chateação pelo erro de usar os remédio, ela se tornou mais atenciosa, presente e carinhosa. É bom, incrível na verdade. Minha esposa têm ido na escola apenas para o necessário, o resto do tempo passa em casa comigo e Lion.

Nossa rotina se resume em jogar vídeo game, assistir filmes e brincar com o labrador. Não tenho frequentado a academia, para não chamar a atenção e porque tem muitos jornalistas todo dia na porta. É, sinto falta de trabalhar, ocupar a mente e interagir com as pessoas, mas infelizmente não é possível por agora.

A manhã estava passando devagar, Cheryl foi para a escola dizendo que passaria todas as primeiras horas lá porque precisavam dela. Comecei a sentir saudades, fiquei acostumada a tê-la por perto, sempre puxando assuntos, tentando me beijar e conseguir dormir mesma cama que eu a noite. Gosto disso, de ver a sua insistência em mim, acredito que nunca presenciei a ruiva tão persistente. 

O som da campainha é um bom sinal, significa que tenho visita e não iria ficar no tédio, permanecer jogando vídeo game a manhã toda não era um ótimo plano. Fui abrir a porta animada, girando a maçaneta e a puxando, dando de cara com quem menos esperava.

— Pai?!

Franzi a testa ao encara-lo.

— Oi, Antoniette.

Estremeci ao ouvir seu tom duro, a expressão séria do homem a minha frente não me agradava nem um pouco. Ele se aproximou para um abraço rápido, dei passagem para o mesmo passar.

Caminhamos para a sala, um silêncio torturante enquanto sentávamos em sofás separados, não havia mais idade para receber tapas de meu pai, mas estava ficando com medo que acontecesse.

— Não quero tornar isso dramático então, vou perguntar logo...

Ele iniciou, engoli a seco.

— Que porra você tinha na cabeça, Antoniette? Estimulantes? Sério?

— Pai...

— Não, escute. – interrompeu-me, encolhi o corpo. — Precisa começar a pensar antes de tomar decisões porque essa foi a mais estúpida de todas, minha filha. Sinceramente nunca esperei uma atitude dessa, trapacear para ganhar? Não foi essa educação que te dei.

Me sentia como a adolescente de Riverdale que tomava esporro toda hora.

— Pai, não vai mais acontecer. – justifiquei, as lágrimas vieram. — Me arrependo todos os dias de ter aceitado esses comprimidos, posso ter acabado com toda minha carreira.

— É bom que tenha consciência disso. – ele suspirou. — Mas não precisa declarar derrota, você ama lutar e aposto que não vão te deixar longe dos octógonos por muito tempo. O público te ama, você é uma lutadora incrível e com certeza vai voltar para pegar seu cinturão.

— O senhor acha?

Perguntei insegura demais com o futuro, deixando algumas lágrimas escaparem. Meu pai sorriu fraco, levantando o corpo e sentando ao meu lado para envolver meus ombros.

— Tenho certeza, filha! Não fique tão pra baixo, você é incrível, talentosa, focada... Confio muito no seu potencial.

— Valeu, pai.

Agradeci sentindo meu coração aquecer com as palavras, enxugando as lágrimas que insistiam em cair. Um novo silêncio se instalou, mas dessa vez mais agradável, mesmo bravo o meu pai ainda estava ali para me apoiar.

— Sua mãe mandou perguntar do casamento.

Falou, levantei o olhar para encara-lo.

— Como ela está? Muito furiosa?

— Cheia de saudade, queria vir é claro, mas fingiu que não e que se viesse era pra te dar uns tapas. – ele riu ao falar. — Você sabe que esse é o jeitinho dela de demonstrar que te ama.

— Eu sei. – murmurei. — Aliás, o casamento vai bem, nós estamos tentando nos conectar novamente.

Dei de ombros.

— Que ótimo, filha. – meu pai soou animado. — Digo, se Cheryl deixasse você escapar se arrependeria eternamente.

— Ah, não sou tudo isso...

— Ei, pode parar. – negou, segurando em meus braços para encara-lo. — Estou com saudade daquela Toni confiante, de nariz empinado e ego elevado que chegava a irritar. Qual é, filha? Você é maravilhosa, minha nora têm muita sorte por estar casada com uma lutadora milionária, atenciosa, linda e amorosa. Devem ter tantas querendo estar no lugar dela...

— Mas só quero ela, pai.

Encolhi os ombros, não conseguiria esconder a verdade.

— Sabemos, porém precisa se valorizar, ok? – aconselhou-me. — Seja mais confiante em si mesma, você merece só o melhor.

— Tudo bem.

Relaxei os ombros concordando.

— Onde está a Cheryl? Irei ter uma conversa com ela...

— Pai, não! – o repreendi. — Nós estamos bem.

— Hum...

Murmurou.

— É sério.

— Ok, sem conversa. – levantou as mãos em sinal de rendição. — Só queria proteger minha garotinha...

— Garotinha? – fingi nojo. — Garotinha é a Samantha, já tenho quase trinta anos, lembra? Posso me cuidar.

— É, você está velha. – franziu o nariz, abri a boca surpresa. — O que? É verdade.

Iria argumentar para defender-me, mas o toque de meu celular interrompeu nosso assunto. Levantei buscando pelo aparelho em cima da mesa do centro da sala, o nome do meu melhor funcionário brilhava na tela, ele havia ficado responsável pela academia.

— Alô?!

— Toni, tem um pessoal do UFC aqui, eles querem falar com você.

Fechei os olhos com força.

— Claro, estou indo.

Desliguei a chamada olhando para meu pai que parecia curioso.

Havia chegado a hora.

×××


Os mesmos que buscaram por remédios no meu estabelecimento estavam de volta, expressões sérias e papéis em mãos. Recebi eles em minha sala junto do meu pai, pediram minha assinatura e claro, o meu último cinturão ganho. Foi doloroso ter que entrega-lo, quando assinei os papéis, fiquei com um para mim, lá estava:

“Dois anos suspensa do evento”.

A interação com eles durou no máximo quinze minutos, saindo sem parecerem ter levado boa parte de mim junto. Cai sentada na cadeira com o papel em mãos, ali também dizia quanto tempo tinha para devolver o prêmio que recebi, iria tudo para Peaches. Pelo menos isso, nunca me perdoaria se tivesse que dar de mão beijada a Rebeka, a Peaches merecia, a luta seria vencida por ela se não tivesse usado remédios.

— Com licença...

A voz misturada com batidas na porta me fez erguer o olhar, Barbara adentrava de forma receosa a minha sala. Meu pai trocou um olhar comigo surpreso com a presença de minha ex.

— Olá, Antônio. – sorriu. — Quanto tempo.

— Muito, não é? – eles se abraçaram. — Tudo bem?

— Sim. – ela sorriu, desviando o olhar para mim. — Você sumiu.

Aproximou-se da mesa, por cima de seus ombros vi meu pai fazer um sinal de que estava saindo. Soltei um suspiro, ajeitando minha postura na cadeira e encarando a modelo a minha frente.

— Precisei ficar um tempo longe.

Dei de ombros.

— Como você está?

— Cansada, parece que acabei de perder uma luta.

Pressionei os lábios, Barbara procurou por minha mão a segurando.

— Sabe que estou aqui, não é? – sentou a minha frente. — Nós podemos tentar nos distrair, sair juntas e comer alguma coisa.

Sugeriu.

— Na verdade, hoje não da. – desvencilhei nosso toque com cuidado. — Meu pai está na cidade, faz tempo que não o vejo então...

— Claro. – Barbara sorriu nervosamente. — E amanhã?

Arqueou as sobrancelhas.

Ela não iria desistir.

— Tudo bem, amanhã.

Confirmei, Barbara sorriu largo batendo palmas em comemoração.

A modelo abriu a boca para continuar a falar, mas como meu pai deixou a porta aberta percebi a presença de Nathan totalmente receoso ao dar toques fracos na mesma.

— Hey.

Olhei para ele que deu passos adentrando.

— Oi, chefe.

Sorriu aproximando-se da mesa.

— Tenho que continuar meu treino de hoje. – Barbara levantou. — Mando mensagens.

Piscou em minha direção nos deixando a sós.

— Como está sendo seus primeiros dias? Queria estar presente pra te ajudar, mas ficar aqui só irá atrapalhar o movimento.

Iniciei um assunto com o garoto.

— Adoro trabalhar aqui, sério. – sorriu ao falar. — E mês que vêm voltarei a estudar, sua mulher tem me pressionado para isso.

— Ela faz o certo, educação é importante.

— Tem razão. – concordou balançando a cabeça. — Aliás...

Ergueu o corpo ficando ereto para me encarar.

— Não sei se cheguei a te agradecer por me dar oportunidade de trabalhar aqui, a Cheryl quem pediu, mas deve ser difícil confiar em um desconhecido e quando sua mulher me falou de você te colocando em um pedestal não acreditei muito. – fez uma careta. — Porém você realmente é muito gente boa e entendo o desespero daquela madame pra não te perder. Enfim... – puxou o ar. — Obrigada de verdade.

— Você chamou a Cheryl de madame?

Não consegui evitar o riso.

— Abri meu coração e só ouviu isso? – ele também riu. — Ah, sua mulher é toda chique, cheia de manias, controladora...

— Falou isso pra ela?

— Varias vezes.

Deu de ombros.

Estendi a mão para o garoto, ele franziu a testa pegando na mesma com certo receio, balancei as duas quando estavam juntas.

— Meus parabéns por estar vivo.

Nós dois rimos.

×××


Estávamos de volta para almoçar em casa, Cheryl havia retornado da escola e Debora lhe atualizado com as informações. A ruiva ficou um pouco chateada por não avisar que iria ter a visita do pessoal do UFC, mas entendeu que foi algo rápido. Nos alimentamos todos juntos, uma conversa fluiu entre nós quatro, meu pai foi o primeiro a terminar e subir para o segundo andar, precisava descansar da viagem.

Minha esposa grudou em mim, não reclamei, ela estava se esforçando para não me deixar pensar somente no ruim, nem olhamos as notícias que iria confirmar que fui pega no doping.

— Não, não, não...

Comecei a negar quando Cheryl acabava com minha vida ao distribuir muitos tiros em um jogo de guerra. Por mais que tentasse desviar ou proteger foi questão de segundos para me matar.

— Caralho!

Resmunguei, jogando o controle contra o colo.

— Arrá! – ela pulou do sofá em comemoração. — Ganhei!

— Foi sorte.

— Não, isso é talento.

Gabou-se, jogando os cabelos por cima dos ombros e acabei rindo de sua autoestima elevada. Nós estávamos jogando a meia hora e depois de tantas partidas, finalmente minha esposa conseguiu sua vitória merecida, não a deixei ganhar... Juro.

— Mereço um prêmio.

Falou, jogando o controle contra o sofá e se aproximando.

— Prêmio? Você ganhou UMA partida.

— Uhn... Acho que mereço sim.

Mordeu os lábios, colocando um joelho de cada lado de meu corpo para ficar sobre meu colo. Observei a ruiva retirar o controle de minhas mãos e jogar para junto do seu, senti seu peso sobre minhas coxas arrancando-me um suspiro.

Filha da puta!

— Estou morrendo de saudade da sua boca. – sussurrou escorregando as mãos por meu pescoço. — Você não sente falta de nossos beijos?

Seu nariz pincelou o meu, aquela boca carnuda tão perto, o seu cheiro invadindo minhas narinas de um jeito que me deixava fraca. Soltei o ar, tentada a lhe beijar até que deixasse seus lábios vermelhos depois de morde-los por tanta saudade. Cheryl não se moveu, sempre que estamos em uma distância consideravelmente perto, ela espera uma atitude minha e acho isso fofo porque posso ver o quão é difícil para a ruiva não dar o próximo passo.

— Vamos, Tee... Me beije.

Pediu pressionando as unhas em minha nuca.

Balancei a cabeça em negação, o olhar focado em seus lábios entreabertos e tão convidativos. Não iria me render e dar esse gostinho a ela, é ótimo vê-la irritada por não conseguir o que quer.

— Definitivamente odeio seu autocontrole.

Seu tom saiu entredentes, colocando a boca sobre a minha logo em seguida, sorri contra seus lábios, movendo minhas mãos para sua cintura e a puxando para perto. Nós suspiramos de saudade, aprofundando o beijo ao iniciar um movimento lento de nossas línguas se entrelaçando. E porra! Como senti falta dela. Abracei seu corpo, a mantendo junto de mim, buscando por mais contato em meio aquele beijo onde aproveitávamos uma a outra.

Ninguém queria parar, estava tão bom, tão satisfatório... A maneira que Cheryl acariciava minha nuca descendo e subindo os dedos por entre os fios de meus cabelos, o seu corpo em meu colo do jeito que amo. Ah, com certeza não poderia ser melhor. Infelizmente meus pulmões imploravam por ar, fazendo com que mordesse o lábio inferior da ruiva o escorregando por meus dentes enquanto encarava os castanhos.

— Finalmente.

Sussurrou, dando-me um selinho e abrindo um sorriso.

— Precisa melhorar seu autocontrole. – brinquei rindo, ela revirou os olhos. — Você fica linda brava por não conseguir o que quer.

— E você fica linda e gostosa de qualquer jeito... 

Falou, aproximando o rosto para me beijar novamente. Desviei de seus lábios, sentindo Cheryl afundar o rosto em meu pescoço e beijar a pele do mesmo.

— Vai me torturar, não é? Me negar até que fique louca.

Resmungou, abraçando minha cintura para encaixar seu corpo no meu.

— Por que faria isso, Cherry?

Ela levantou o rosto.

— Cherry? – ergueu as sobrancelhas com um sorrisinho satisfeito. — Senti falta disso.

— E eu sinto falta de um banho!

Cortei o clima, forçando minhas mãos para tira-la de cima de mim.

— Toni... – chamou-me quando a deitei no sofá. — Odeio você!

— Não odeia não.

Atirei um beijo para a ruiva que suspirou.

— É, com certeza não odeio.

Ouvi dizer consigo mesma enquanto caminhava para o segundo andar para um banho relaxante. Um beijo já era o suficiente para Cheryl achar que estou aos seus pés, mas não queria isso, não posso me entregar tão facilmente novamente e não posso negar que estou amando esse joguinho de provoca-la.

×××


O dia nem parecia que era um dos piores da minha carreira, talvez o pior, mas meu pai e Cheryl conseguiram torna-lo normal. Tive momentos a sós com meu velho, conversamos muito e nos divertimos juntos como a muito tempo não fazíamos. Minha esposa parecia saber a hora certa de aparecer, nos dando tempo necessário para conseguir interagir como pai e filha.

No final da noite nos encontrávamos os três na sala, o objetivo era assistirmos um filme, Cheryl tinha a cabeça sobre meu ombro cochilando e meu pai já deveria estar no décimo sono no sofá. Nem prestei atenção na televisão que passava uma cena de ação, aproveitei para ver as notícias sobre mim. Haviam muitas coisas, algumas mais pesadas de que as outras e que realmente me deixavam para baixo como:

“Parece que é o fim da carreira de Toni Topaz.”

Ler isso é realmente assustador e desanimador como se a mídia, fãs nunca mais fossem acreditar no meu talento, como se sempre tivessem uma desconfiança de que estaria usando drogas. Suspirei, meu olhar caiu para a mão de Cheryl firme em meu braço, ela estava assim desde o início do filme, aos poucos foi se arrastando até que estivesse em meu ombro. Só desviei a atenção dela com um bipe no celular, era uma mensagem de Barbara.

Cheryl nunca teve sono leve, mas o destino adora pregar peças e somente com o som do meu celular a vi se remexer, não consegui notar se abriu os olhos, o aparelho estava a altura de seu rosto e poderia muito bem ver quem me mandou mensagem. Bom, não estava preocupada com isso, afinal, ela também trocou muitos textos com Maeve.

“Espero que esteja melhor, T. Não confie em nada do que está na internet, nós sabemos do seu talento e esforço. Enfim, só queria repetir que estou aqui para qualquer coisa, boa noite.”

Barbara sempre sabia o que dizer e não negaria que ler suas palavras melhorou ainda mais meu dia. Gosto da amizade da modelo, ela me entende e cada vez mais percebo que só porque somos ex namoradas não precisamos ser estranhas para sempre.

Cheryl se remexeu mais uma vez ao meu lado, bloqueei a tela do celular, o deixando no sofá para levantar o rosto da ruiva. Seus olhos estavam fechados, mas desconfiava de que era fingimento.

— Cheryl, vai deitar está cansada.

— Uhn... – murmurou. — Dormir na nossa cama?

Sugeriu, abrindo os castanhos aos poucos.

— Não. – sorri em divertimento. — Cada uma em seu quarto.

— É... Tanto faz.

Afastou-se de mim, levantando o corpo sem insistir para dormirmos juntas ou ao menos desejar boa noite. Acho que foi o suficiente para saber que havia visto a mensagem da modelo e o quanto estava enciumada. Sorri comigo mesma, querendo ou não, adorava o seu ciúmes e não seria nada mal provoca-la um pouco.

×××


Um novo dia se iniciou, estava nublado e do jeito que Seattle é sempre: Com previsão de chuva. Meu pai decidiu ir embora um pouco mais cedo para não pegar um viagem conturbada e o levei no aeroporto com o carro de Cheryl, a ruiva está em poucas palavras comigo, preferiu chamar um uber para ir a escola e somente avisou que ficaria mais tempo trabalhando.

Me desculpem, mas estava me divertindo com isso. É tão bom ver alguém que te magoou com medo de ter perder, é sério, a maneira que demonstra estar com raiva por alguém se aproximar. Porra, a sensação é ótima! Você se sente importante. É óbvio que não queria vê-la triste, mas testa-la para ter certeza que realmente me quer, quer estar comigo e não com sua ex.

A minha rotina voltou a ser interagir com Lion e Debora, a Cheryl chegou somente no final da tarde, toda séria e parecendo cansada, a mesma foi direto ao banho. Sentada no sofá com o labrador ao meu lado ganhando carinho, ouvi o celular apitar e como previsto era Barbara.

“Hoje a noite, eu e você em um jantar, vou passar para te pegar as oito! É melhor estar bem arrumada porque estarei fabulosa.”

Ri comigo mesma, Barbara tem uma autoestima bem elevada, não é para menos já que seu físico lhe da o direito. Assim que sessei o riso, levantei o olhar dando de cara com Cheryl parada a minha frente, o olhar semicerrado em minha direção.

— Tudo bem?

Perguntei fingindo não ver suas reações.

— Tudo ótimo! Incrível! Ma-ra-vi-lho-so! – cruzou os braços, estava me segurando para não rir. — Irei a uma reunião do AA com o Nathan hoje.

— Legal. – balancei a cabeça. — Irei sair também... – forcei a garganta. — Com a Barbara.

Completei, a ruiva mordeu a parte de dentro da sua bochecha desviando o olhar do meu. Queria rir, gargalhar da maneira que parecia controlar sua raiva para não explodir comigo. No fundo, ela sabe que não tem o direito.

— Que bom, aproveitem.

Sorriu ironicamente, deixando-me sozinha com Lion novamente, a acompanhei com o olhar até que sumisse pelas escadas em que subiu pisando duro. Soltei um riso, encarando o labrador que tinha as orelhas erguidas.

— Mamãe está brava.

Zombei, rindo enquanto negava.

×××


Agradeci mentalmente quando Cheryl saiu primeiro de casa para ir a reunião, tudo que ouvi dela foi um “estou indo” curto e grosso, e assim que a porta bateu corri para o segundo andar. Precisava trocar de roupa para encontrar Barbara.

Em menos de uma hora, estava saindo de casa para encontrar o carro de minha ex estacionado em frente a mesma. Adentrei o veículo recebendo um sorriso da modelo, beijo na bochecha e a opção de escolher a música que tocaria no caminho. Barbara queria sempre me deixar confortável, adorava isso.

A conversa entre nós fluiu, ela conseguia deixar o clima agradável, prender minha atenção na mesma. O restaurante que me levou era um bem conhecido na cidade, comidas deliciosas que já havia provado, fizemos nossos pedidos, sentadas uma de frente para a outra.

— Vinho?

Sugeriu ao fazer menção de chamar o garçom.

— Na verdade... Sim, mas só uma taça.

Concordei, permitindo me divertir.

Barbara sorriu fazendo sinal para o garçom e pedindo um vinho da sua escolha, tinto e doce. Uma delícia, mas tomei bem devagar porque realmente queria ficar em somente uma taça.

— Então, como é morar com uma grávida?

Puxei assunto.

— Estressante, Sabrina quer tudo do seu jeito, chora, briga... – franziu o nariz. — Mas isso atinge mais o meu irmão. – deu de ombros. — Ela está fazendo nove meses hoje, Gracie está muito perto de vir ao mundo.

— Isso é incrível. – balancei a cabeça. — Vou convidar a Cheryl para visitarmos.

— Cheryl?

Barbara ergueu as sobrancelhas tomando um grande gole de seu vinho.

— É... Nós... – mordi os lábios. — Ela voltou pra casa.

— Notícia bombástica.

Barbara abriu um sorriso divertido.

— Aliás, sobre o papo de sermos o que eu quiser... – peguei em minha taça bebendo mais um gole do vinho. — Gostaria que fossemos amigas.

Conclui encarando seus azuis.

— Claro. – pressionou os lábios, um breve silêncio pairou na mesa. — Ah, sabíamos que isso iria acontecer, certo? Você mesmo magoada brilhava os olhos ao ouvir seu nome.

— A gente se da bem.

Me limitei a dizer, Barbara riu.

— Toni, pode dizer: Cheryl é o grande amor da minha vida. – tentou imitar meu tom, nós rimos. — Sou sua ex, mas vejo o sentimento que existe entre as duas e agora que somos amigas pode até reclamar da sua mulher para mim.

Brincou ao falar as últimas palavras, acabei rindo.

— Ela deve estar surtando porque vim a um jantar com você.

— Sério? – abriu a boca surpresa. — Sempre percebi as olhadas e maneira que me trata, mas não sabia que era tanto assim. Olha se quiser fazer ciúmes nela, ajudo com maior prazer...

Bebeu o vinho ao final.

— Você não presta, Palvin.

Nós rimos, iniciando mais um assunto.

A noite se estendeu, foi incrível e me diverti ao dar muitas risadas com minha ex. Havia flertes em brincadeira, mas nada me atingia, é sério... O meu coração só bate por uma.

Barbara me deixou em casa, conferi se a mesma estava consciente o suficiente para dirigir já que o céu estava sendo destacado com relâmpagos e o som de alguns trovões anunciando uma chuva próxima. Ela estava bem, nós não bebemos mais do que uma taça e comemos muito para estar bêbadas.

Assim que adentrei a casa percebi que as luzes acesas indicavam a ruiva ainda de pé, estaria mentindo se dissesse que não esperava que Cheryl estivesse acordada me esperando mesmo sendo quase meia noite. Minha surpresa foi encontra-la em frente a televisão, de camisola e robe por cima, jogando vídeo game.

— Maquina dos inferno! Coloquei no modo fácil, é pra ser fácil.

Esbravejou com o aparelho quando apareceu “game over”, abri um sorriso ao notar que a mesma não havia percebido minha presença ou fingiu não perceber.

— Olá, vocês dois.

Me aproximei do sofá, Lion estava no tapete observando a ruiva.

— Oi.

Curta e grossa, o olhar focado na televisão enquanto apertava os botões com força. Havia um certo receio da minha esposa quebrar o controle de meu vídeo game.

— Não deveria estar na cama? Está tarde.

— Sem sono.

Balançou os ombros ainda sem me dar atenção.

— Ok, estou indo dormir...

Levantei do sofá, o barulho de seus dedos se movendo contra os botões do controle sessaram e deram lugar a um suspiro longo. Sabia que ela iria me falar algo.

— Toni.

— Sim?

Girei os calcanhares para encara-la.

Cheryl ficou de pé e acredito que a mesma deve ser muito amiga do senhor lá em cima para um trovão soar, ela se encolheu abraçando o próprio corpo.

— Posso dormir com você? – pediu, golpe baixo. — Por favor?!

Usou seu tom manhoso.

Golpe muito baixo.

— Tudo bem, Cheryl.

Me rendi, um sorriso começou a aparecer em seus lábios.

Virei o corpo, caminhando para o quarto o mais rápido possível. Não queria dar essa chance tão facilmente, mas não consegui evitar. Sei o quanto Cheryl odeia tempestades, principalmente trovões.

Fiz minha higiene para dormir ficando apenas com uma calcinha box e regata, sem sutiã por baixo, é minha melhor maneira de dormir. Quando deitei na cama, Cheryl ainda não havia chegado provavelmente desligando as luzes da casa. Olhei para os inúmeros travesseiros acima do colchão e peguei um, colocando no meio como uma parede.

Cheryl apareceu junto de Lion.

— A chuva já começou.

Avisou ao fechar a porta, dando passos em direção a cama enquanto tirava o robe ficando apenas de camisola. Era difícil tirar os olhos daquele tecido preto rendado, as alças finas implorando para escorregar por seus ombros...

Foco, Toni. Foco.

— Por que o travesseiro?

Franziu a testa para minha parede improvisada.

— Separar nossos lados, você fica ai e eu aqui. – balancei os ombros, cobrindo meu corpo com os edredons. — É isso ou nada feito.

Cheryl bufou, deitando no seu lado.

— Melhor do que dormir sozinha com esses relâmpagos iluminando o quarto todo.

Resmungou, enfiando-se embaixo das cobertas. Ficamos em silêncio, Lion deitou em nossos pés, aconchegado de maneira que ficava encolhido. De barriga para cima, encarava o teto enquanto por uma pequena fresta da cortina entravam alguns clarões, tentei fechar os olhos para dormir, mas não consegui e fiquei brincando com os dedos da mão.

— Toni.

A ruiva me chamou, murmurei em resposta.

— Como foi hoje? – seu tom saiu baixo e ela forçou a garganta. — Você se divertiu... Com ela?

— Sim, foi legal.

Respondi sinceramente ouvindo um suspiro insatisfeito.

Novamente ficamos em silêncio, um clarão iluminou o quarto, mas dessa vez junto com um trovão que fez Cheryl se remexer na cama. Ergui um pouco minha cabeça para olhar do seu lado de nosso “muro”, a ruiva tinha a cabeça quase toda coberta, o corpo encolhido de um jeito que fez duvidar se minha mulher tem vinte e oito anos ou dez. Sorri comigo mesma, adoro esse jeito indefeso por tempestades, imagino como seria se todos soubessem que o mulherão Cheryl Blossom fica escondida nas cobertas por alguns trovões.

Deitei a cabeça novamente no travesseiro sorrindo com o pensamento, mais um trovão e suspirei ao sentir as paredes tremerem. Não era medo, mas o meu instinto protetor quase me matando para agarrar aquela ruiva. Ainda na mesma posição, ergui um pouco as cobertas, retirando o travesseiro que havia em nosso meio e o jogando para fora da cama.

A cabeleira ruiva saiu do casulo, olhando para onde o travesseiro havia ido e voltando a me encarar. Um sorriso brincando no canto dos seus lábios enquanto colocava uma mecha para trás da orelha.

— Isso quer dizer que posso te abraçar?

Revirei os olhos, ela sabia que sim.

— Só vem logo.

Estiquei o braço, Cheryl se arrastou para perto de mim com rapidez jogando uma perna por cima de meu corpo, deitando a cabeça sobre meu peito e abraçando minha cintura tão possessivamente que não conseguiria me mexer.

— Uhn.. Não seria mais fácil dormir em cima de mim?

Sugeri, rindo.

Cheryl levantou a cabeça.

— Eu posso? – perguntou sorrindo. — Nah, prefiro assim...

Deitou sobre meu peito novamente, passei meu braço em torno dela nos mantendo coladas. Afundei o nariz em seus ruivos, sentindo o cheiro do seu shampoo invadir minhas narinas e me embriagar.

— Porque posso ouvir seu coração batendo acelerado... – continuou a falar. — Do jeito que só bate por mim.

Aconchegou-se em meu corpo, firmando o toque ainda mais e prendendo-me a ela. Sorri porque ela tinha toda razão, mesmo que eu evitasse de admitir. E como previsto, aquela foi minha melhor noite em meses apesar de minha esposa dar leves espasmos por causa dos trovões ou me acordar ao tentar fundir nossos corpos, eu sentia falta disso, da agitação do seu sono a noite em dias de tempestade. Na realidade, amava a ter tão indefesa e insegura ao ponto de só se sentir melhor em meus braços, tinha certeza que ninguém têm esse efeito sobre a ruiva e me orgulho de ser o seu porto seguro, porque ela claramente é o meu.

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