Reencontro
Toni Topaz – Point Of View
Comum mês de gestação não havia nenhuma mudança notável em minha esposa, nós ainda tínhamos aquela euforia de saber que a fertilização deu certo e teremos um bebê, sem pensar que a gravidez não é um mar de rosas.
Fomos despertadas dessa ilusão em um dia de manhã, geralmente não acordo sozinha na cama, mas foi exatamente o que aconteceu e me fez estranhar o vazio ao lado. Após abrir os olhos e constatar que Cheryl realmente não estava comigo, um som vindo do banheiro apressou meus movimentos para levantar e ir até o cômodo.
A ruiva estava abaixada a frente do vaso sanitário, vomitando. Rapidamente peguei em seus cabelos para não lhe atrapalhar, ficamos uns dois minutos naquela posição até que levantasse, se recompondo.
— Tudo bem, Cherry?
Perguntei preocupada, a mesma foi direto a pia para lavar sua boca, ignorando minha pergunta e escovando os dentes por pelo menos três vezes.
— Estou bem.
Balançou os ombros ao limpar as mãos na toalha.
— Certeza? Precisa de alguma coisa?
— Que volte pra cama comigo.
Fez um beicinho.
Sorri, envolvendo suas costas e pernas com meus braços para carrega-la até a cama. Cheryl rolou os olhos, fingindo um desgosto, mas sei que ama meus agrados.
— Quero ver me pegar no colo daqui uns seis meses.
Desafiou-me, aconchegando o corpo no meu assim que deitamos na cama.
— Não se preocupe, vou malhar muito para estar ainda mais forte até lá.
— Estranho pensar que você sempre será uma gostosona enquanto vou virar uma bola.
Enrugou o nariz.
— Não vai ser uma bola. – toquei em seu rosto. — Já disse, será a grávida mais linda do mundo.
— Uhn, não irá me ganhar com suas cantadas, ok? Agora, vamos dormir mais um pouquinho, por favor.
— O que você quiser, Cherry.
Beijei seu rosto, recebendo um suspiro e corpo encolhido contra o meu, tentando achar espaço aonde nem havia. A acolhi, deslizando os dedos por seus fios ruivos enquanto percebia a mesma pegar no sono novamente.
É, esse foi o primeiro enjoo, o primeiro sintoma de vários outros que viriam durante a gravidez. E foram muitos.
×××
Cheryl me ensinou a contar as semanas da gravidez, por vezes me perdia em sua maneira de falar “hoje estou com cinco semanas”, o ponto de interrogação que ficava em meu rosto já dizia muito. Mas bem, a cada quatro semanas, é um mês, a ruiva hoje está com seis semanas o que significa um mês e duas semanas. Ah, eu estava pegando o jeito.
Bem, mas as suas seis semanas de gravidez também queriam dizer que fazia um mês que meu pai havia falecido. Decidimos juntas de ir até Los Angeles, minha mãe se animaria ao ver a nora grávida e Samantha também poderia se distrair.
Tamanha foi a surpresa de dona Katy ao nos ver em sua porta.
— Oh, meu Deus. – ela abriu um sorriso. — Meu netinho veio me visitar!
Abraçou a ruiva que não conseguia segurar seu sorriso.
— Ou netinha.
Cheryl fez questão de corrigi-la.
— Será um menino, tenho certeza.
— Vai com calma, mãe. – falei, abraçando o corpo junto ao meu. — Como está?
— Agora ótima! É muito bom ver vocês.
Os seus olhos não demoraram a ficar brilhosos por conta das lágrimas, pressionei os lábios em um sorriso, sabendo o quanto fez bem para ela virmos visita-la.
Nós tentávamos distrair uma a outra, sem lembrar das coisas tristes que aconteceram, Cheryl falava muito sobre seus enjoos matinais, a alimentação que tem feito e o quanto está ansiosa com a gravidez. Minha mãe parecia encantada, dando todas dicas e conselhos possíveis para minha esposa.
Foi um dia bom, leve, mas não podíamos esquecer do que aconteceu e em um certo momento a gente precisou ir até o cemitério visita-lo. Ouvi minha mãe e Samantha conversarem com ele, a garota conseguiu nos fazer rir ao dizer que não tem ideia de como ser tia tão nova. E foi então que chegou minha vez.
— Oi, pai. – sussurrei sentindo as lágrimas virem. — Acho que já sabe que serei mãe, queria que estivesse aqui para ver isso. Nós estamos bem, todas, farei o possível para cuidar delas, para ficarmos perto e sempre sermos uma família unida. Estou com saudade, muita mesmo, espero que esteja orgulhoso.
Senti uma mão em meu ombro, elevei o olhar e encarei minha mãe.
— Ele está, querida, você é uma ótima filha e agora será uma mãe incrível.
— Obrigada, mãe.
A puxei para mais um abraço, as lágrimas caindo assim que deitei em seu ombro. Sempre haveria dor, pensar que poderia estar junto de nós em momentos que ele tanto faz falta, mas entendia, entendia que talvez apenas tivesse que ser, que não havia como evitar. Apenas teria que seguir em frente.
×××
Nós retornamos e seguimos com nossa rotina de trabalho, mais uma semana e já estaríamos chegando aos dois meses de gravidez. Na academia, Mackenzie me explicava sobre a luta que teríamos daqui a um mês, seria algo amador e apenas para que pudéssemos testar minhas habilidades em prática, criar ainda mais intimidade como lutadora e treinadora.
— Será uma luta fácil, a adversária não é experiente.
Mackenzie balançou os ombros, despreocupada.
— É, mas já estou parada a muito tempo.
— Qual é, Topaz? Cadê a confiança?
Cruzou os braços.
— Tudo bem, com certeza vamos ganhar essa.
Levantei as mãos em sinal de rendição.
Nós sorrimos.
— Hora de treinar um pouco. – levantou da cadeira, estávamos na minha sala. — Sem moleza.
— Não podemos ter uma folga, não?
Levantei, parando ao ouvir meu celular tocar desesperadamente acima da mesa. Olhei para a tela, juntando as sobrancelhas ao ver o “Cherry” anunciando uma chamada sua. Peguei o aparelho, atendendo de imediato.
— Oi, amor. – assim que falei vi Mackenzie negar com a cabeça. — Tudo bem?
— Estou saindo da escola.
Respondeu, o tom baixo me fez juntar as sobrancelhas.
— Aconteceu alguma coisa?
— Sim, a saudade está me matando hoje e pensei se poderia me encontrar em casa?!
Sugeriu, fechei os olhos por alguns segundos, suspirando.
— Por favor, TeeTee.
Ela sabe exatamente como me ganhar.
— Chego em casa em trinta minutos.
— Vou contar, não demore.
Pediu antes que encerasse a chamada.
Retirei o celular da orelha e encarei a treinadora a minha frente, a mesma tinha braços cruzados e sobrancelhas arqueadas. Mackenzie soltou o ar, negando com a cabeça.
— Só vou liberar porque sua esposa está grávida, mas é a primeira e última!
Sorri, aliviada por entender.
— Você é a melhor treinadora que poderia ter.
— Deixe essa bajulação pra sua mulher, Topaz, comigo não funciona.
Revirei os olhos.
Organizei minha sala da maneira mais rápida que consegui, me despedindo de Mackenzie que ficaria para ter um treino individual. Em poucos minutos, estava em cima da minha moto, pilotando para casa.
Estacionei na garagem, o carro da minha esposa já estava lá, adentrei a casa em passos largos a sua procura e a encontrei no sofá com um pote de sorvete em meio as pernas, vestida em um conjunto moletom e filme clichê passando na televisão.
— Oi, Cherry.
Beijei sua bochecha, sentando ao seu lado. A ruiva mal esperou que me acomodasse e já estava em meio a minhas pernas, forçando meus braços para acolhe-la.
— Meu primeiro desejo. – apontou para o sorvete. — Já vi que essa criança vai me engordar mais do que pensava.
— De que sabor é...
Tentei roubar sua colher para provar o doce, recebi um tapa na mão.
— Irei comer todo o pote, não comprei pra dividir.
— Cheryl?
— Tem outro na geladeira.
Revirou os olhos.
— Amor, só quero uma colher.
— Não vou dividir o meu.
Decretou, abri a boca com sua ousadia.
— Quando se tornou tão egoísta?
— Simples, não me tornei. – deu de ombros. — Estou dividindo com nosso bebê.
Enfiou a colher no sorvete, colocando na boca em seguida e se deliciando com o doce gelado. Sorri, balançando a cabeça em negação ao perceber que não teria como retrucar, querendo ou não, estava certa.
×××
No início dos dois meses, tivemos nossa primeira consulta do pré-natal com a Dr. Addison, não me sentia nervosa, nós estávamos confiantes que iríamos conseguir ver o bebê pela primeira vez e que aparentemente se mantinha tudo certo.
Mal sabíamos as surpresas que nos esperavam.
— Nervosa?
Perguntei a Cheryl enquanto aguardávamos nossos nomes serem chamados. Sentadas na sala de espera tínhamos as mãos juntas e corpos lado a lado.
— Não, só ansiosa pra saber como ele está.
— Ele?
Arqueei uma sobrancelha.
— Modo de dizer. – revirou os olhos. — Ele. O bebê.
— Admita que também sabe que é um menino.
Zombei, nós criamos uma rixa sobre ser menino ou menina, já que Cheryl quer muito que seja ela e eu ele. Por enquanto somente Mackenzie sabe que a fertilização deu certo, o resto de nossos amigos ainda aguarda uma confirmação, já que desde o falecimento do meu pai, eles mantém uma distância “segura” para nos dar espaço.
— É uma menina, eu sinto.
A ruiva rebateu.
— Nah. – enruguei o nariz. — Você está inventando.
Cheryl bufou.
— Cheryl Topaz?!
A atendente nos fez levantar o olhar, encerrando nosso assunto. O sorriso da minha esposa ainda era o mesmo da primeira vez que foi chamada com meu sobrenome.
— Aqui.
Respondeu já levantando.
Fiz o mesmo, a seguindo para adentrar o consultório da Dr. Montgomery. Acho que havia me esquecido o quanto a médica é bonita, porque assim que adentrei a sala, meus olhos repousaram nela. Suspirei, mais uma vez puxando a cadeira para Cheryl, sentando ao seu lado.
— Eu disse que daria certo.
Dr. Montgomery abriu um sorriso ao nos ver.
— Bom, agora sou a obstetra de vocês, nós teremos um longo caminho de sete meses pela frente.
— Para mim, já está passando rápido.
Cheryl balançou os ombros.
Mais uma vez me vi concentrada na médica.
— Isso é bom, significa que está gostando da gestação. – as ruivas trocaram sorrisos. — Me conte, como estão os sintomas? Náuseas, desejos, dores...
— Oh, sim. – Cheryl ficou ereta para falar. — As náuseas estão aumentando a cada semana, me incomodam muito, dores apenas de tanto vomitar e desejos... Uhn... Bem... Toni?!
Seu cotovelo entrou em contato com meu braço.
Pisquei algumas vezes, lhe encarando.
Cheryl revirou os olhos.
— Me desculpe, a minha mulher está encantada por você.
O que? Cheryl!
— Toni tem um fraco por ruivas inteligentes.
Sorriu ao se gabar.
— Isso não é... – assim que iniciei a falar, Cheryl estreitou o olhar em minha direção. — Não é totalmente verdade. – virei-me para Dr. Montgomery. — Não estou encantada por você, sério.
— Ela com certeza está.
— Cheryl!
A repreendi sentindo minhas bochechas queimarem.
Dr. Montgomery apenas ria da situação.
— Continuando, sobre os desejos... Tive um muito estranho. – minha esposa falava tão naturalmente com nossa médica que parecia conhecê-la a anos. — Vontade de comer sabonete.
Confessou.
Queria muito me incluir na conversa, mas sinceramente estava morrendo de vergonha com a maneira que Cheryl me expôs.
— Foi tão repentino, em um dia era apenas um sabonete e no outro parecia a coisa mais deliciosa do mundo. Contei para a Toni sobre o desejo e na próxima vez que fui usar o banheiro, não tinha nenhum sabonete. – suspirou ao falar. — E agora só posso tomar banho com a supervisão dela, porque não tenho ideia onde enfiou todos os sabonetes da casa!
Seu tom elevou um pouco ao falar no final.
Não evitei a risada.
Qual é? Não deixaria ela dar sabonete para o meu bebê.
— Entendi. – Dr. Montgomery também acabou rindo. — Quanto aos enjoos te darei um remédio para aliviar.
Focou sua atenção no papel acima da mesa.
Obrigada por ignorar o que minha esposa falou sobre mim!
— Toni. – ela me encarou. Agradeci cedo demais. — Os desejos sobre coisas não comestíveis são normais, sua mulher com certeza deve saber o que pode ou não comer. Afinal, ela é uma ruiva inteligente.
Trocou um olhar com Cheryl, as duas riram.
Afundei meu corpo na cadeira.
Elas pareciam intimas, amigas a vida toda, enquanto eu permanecia cheia de vergonha, ainda iria repreender minha esposa por falar sobre minha pequena queda pela Dr. Montgomery. Em um certo momento fiquei sozinha na sala, Cheryl foi acompanhada até um outro local para trocar de roupa e poder fazer o exame.
Esse ultrassom irá confirmar nossa gravidez, saber como está a gestação porque há vários riscos de o embrião estar deslocado e nos dirá – o que já sabemos, sobre a quantas semanas estamos. Nós poderemos literalmente ver dentro da barriga da minha esposa.
Cheryl retornou para meu campo de visão com uma camisola hospitalar, cabelos presos em um coque e a expressão de quem tem certeza que vou rir. Até tentei me segurar, mas não consegui. Ela estava uma graça vestida daquela maneira.
— Idiota.
Resmungou.
— Ah, amor... Leva na esportiva. – segurei seu rosto entre minhas mãos. — Você está uma fofura.
Beijei seus lábios.
— Pronta?
Dr. Montgomery também voltou, vestindo luvas enquanto íamos para outro lado do consultório onde havia uma maca esperando por minha esposa. Cheryl respirou por um momento, assentindo.
Assim que deitou, fiquei ao seu lado e segurei a mão da ruiva que firmou o toque. Suas pernas ficaram abertas e erguidas para que a médica pudesse inserir uma sonda direto na entrada da sua vagina, senti o exato momento que apertou meus dedos com mais força, com certeza devia ter um desconforto.
— Vamos ver como está esse bebê. – Dr. Montgomery focou seu olhar na tele acinzentada. — Oh, na verdade...
Tentava a todo custo entender o que se passava naquela tela, mas tudo que via era dois buracos pretos e um pontinho cinza dentro de cada um. Estreitei o olhar enquanto Dr. Montgomery analisava as imagens.
Espera.
Dois buracos?
Dois pontinhos?
— Parece que foram sorteadas. – nossa médica sorriu ao falar. — Vocês terão gêmeos.
O seu olhar foi a Cheryl, depois a mim. Respirei uma, duas, três, quatro... Quando percebi estava ofegando, uma sensação estranha de tontura, uma fraqueza que deixou minhas pernas moles.
— Toni! – encarei minha esposa. — Não desmaia, por favor.
Segurou minha mão com ainda mais firmeza.
— É sério, amor. Fica comigo.
O tom de Cheryl beirava o desespero.
— Topaz, você está bem?
Dessa vez foi a Dr. Montgomery que se preocupou.
Pisquei algumas vezes, assentindo.
Respirei novamente.
— Ela disse gêmeos?
Sussurrei para Cheryl, os seus castanhos estavam arregalados.
— Sim, eu disse. – Dr. Montgomery respondeu. — São bivitelinos, mais conhecidos como gêmeos fraternos, não serão idênticos, mas podem ter até cinquenta por cento de aparências físicas iguais. – explicou dando mais uma olhada no ultrassom, ela apontou para um e depois para o outro na tela. — Os dois estão ótimos, provavelmente alguém disse a vocês que havia dez por cento de chance da inseminação ser de gêmeos.
— Dez por cento? Somos tão sortudas assim?
As palavras pularam de minha boca, mal lembrava dessa porcentagem.
— É, vocês são.
A médica riu.
— Enfim, eles são saudáveis. – Dr. Montgomery sorriu. — Estão crescendo muito bem dentro da mamãe.
— Quais as chances desse exame estar errado?
Cheryl perguntou, a encarei percebendo o quanto parecia assustada.
— Nenhuma. – a médica assegurou. — Mas não se preocupe, nós conversaremos mais um pouco, ok? Até porque as consultas serão em dobro a partir de agora.
— Porra...
Murmurei em choque.
A verdade é que agora TUDO será em dobro.
×××
Havia uma sensação e tensão estranha. Quer dizer, a gente foi para a consulta com desejo por sabonete, enjoos e um bebê, mas retornamos com remédio para as náuseas e dois bebês. Consegue acreditar? Nós teremos gêmeos, o dobro de fraldas, leite, roupas... Oh, com certeza irei a falência.
Me vi sentada ao lado de Cheryl no sofá, nós não trocamos muitas palavras além do necessário após ouvir Dr. Montgomery falar muito sobre gestação de gêmeos. Foi uma longa palestra onde tudo que ecoava em minha cabeça é que termos dois bebês. Minha esposa não parecia muito diferente, talvez nunca a vi tão calada.
— Então...
Sussurrei, desviando o olhar para ela.
— Acho que não precisamos mais brigar pelo sexo do bebê, pode vir os dois.
— É, pode ser.
Cheryl pressionou os lábios.
Seu olhar caiu para os dedos das mãos apoiadas sobre as coxas.
— Informação demais, não é? – perguntei, sua cabeça balançou em positivo. — Se te ajuda estou muito assustada com o que está por vir, mas fico feliz que esteja do meu lado para enfrentarmos juntas.
A cabeça baixa da ruiva elevou um pouco para me encarar.
— Amor. – segurei em sua mão, entrelaçando nossos dedos. — Nós faremos dar certo, não se preocupe.
— Tudo bem, só que... – suspirou. — Gêmeos?!
Mordeu o lábio.
— Pra esperar um já é difícil, agora são dois.
— Cherry, fica calma. – deslizei os dedos por seu braço. — Nós vamos fazer dar certo.
Sorri, confiante.
Cheryl relaxou os ombros, assentindo. Deitou o corpo para que aconchegasse em meus braços, depositei um beijo em sua testa e ficamos por mais um tempo indeterminado digerindo as informações. Como sempre, demonstrei minha parte mais otimista a minha esposa mesmo que estivesse surtando por dentro.
×××
No outro dia, tentávamos seguir nossa rotina normalmente, por mais que ainda estivesse fresco em minha mente a notícia de que teremos gêmeos. A gente até conversou mais um pouco, decidimos contar para nossos amigos todos juntos e que deveríamos tentar não entrar em pânico. Sinceramente não havia tanto mistério para mim, digo, é claro que é assustador e da medo, mas confesso que minha felicidade se tornou em dobro também. Estou animada para sermos mamães, sei que no fim dará tudo certo.
— Eai, Topaz. Como foi a consulta?
Mackenzie perguntou sorridente. Distribuía socos no saco de box a minha frente, o suor escorrendo ao lado do rosto e uma respiração mais ofegante.
— Foi... Normal.
Balancei os ombros, respirando ao parar.
— Normal? – a treinadora franziu a testa. — Você já esteve mais animada, aconteceu alguma coisa?
— Não, é que ainda está muito pequeno.
— Hum... Entendi.
Assentiu, ainda desconfiada.
— Então, a luta é daqui a duas semanas. Tudo certo?
— Sim, só chegar e acabar com a adversária.
Mackenzie sorriu ao falar.
O nosso momento foi interrompido, o toque de um celular desviou minha atenção ao perceber que era o meu. Olhei para a treinadora, a mesma deitou a cabeça indicando uma permissão e corri até o aparelho, o nome de Sabrina brilhava na tela. Juntei as sobrancelhas antes de atender.
— Sabrina?
— Escuta aqui, Topaz. – me assustei com seu tom rude. — É melhor você vir agora buscar a Cheryl, porque essa mulher está louca, é sério, mais do que normalmente.
— O que? Aconteceu alguma coisa?
— Eu que pergunto, ela está surtando na escola porque possivelmente podemos ter o dobro de alunos no próximo semestre. Isso é impossível! Agora quer fazer contratações e comprar outros instrumentos... Você deu remédios a ela?
— Sabrina, não! – neguei rapidamente. — Estou indo, ok? Posso ter uma ideia do que está acontecendo.
— Vem rápido.
Exigiu.
Suspirei, encerrando a chamada.
Meu olhar encontrou a Mackenzie, seus braços cruzados já diziam muita coisa, mas era minha esposa e meus bebês, não poderia deixar Cheryl surtando por nossa notícia de que teremos gêmeos.
— Realmente preciso ir, é uma emergência.
— Segunda vez já. – a treinadora revirou os olhos. — Mas tudo bem, vai lá.
— Valeu.
Sorri em agradecimento.
Após uma passada na ducha da academia, foi só o tempo de subir em minha moto e parti em direção a escola. Cheryl não aparentava estar tão assustada com a gravidez de gêmeos, mas agora vejo que estava totalmente errada. Talvez minha esposa esteja entrando em pânico.
Adentrei ao local acenando com a cabeça para a recepcionista e caminhando para a sala da minha esposa, a porta estava aberta, não demorei a ouvir uma discussão.
— Cheryl, nós não teremos o dobro de alunos.
Sabrina retrucava a minha esposa.
— Como pode ter certeza? Em um dia é apenas um aluno, mas amanhã pode ser dois. – o tom de Cheryl era afobado. — E se a gente não tiver o preparado suficiente? Quando mal sabíamos se conseguiríamos com somente um.
— Estou realmente tentando te entender...
Respirei fundo, percebendo que era o momento de entrar, fiz isso em passos lentos, Cheryl estava sentada atrás de sua mesa enquanto Sabrina permanecia de pé apoiada com as mãos a sua frente. As duas não demoraram a notar minha presença.
— Você chamou a Toni? – a ruiva rosnou. — Por que foi incomoda-la? Sabe que tem uma luta e precisa treinar!
Cheryl ergueu o corpo para encarar a amiga de frente.
— Cherry...
Caminhei até ela, trocando um olhar com Sabrina que parecia estar cansada da situação. Minha esposa me encarou, segurei seu rosto entre as mãos e deixei um beijo em seus lábios.
Ela suspirou.
— Amor, você precisa ficar calma. – pedi encarando os castanhos. — A Sabrina me chamou porque ficou preocupada e agora também estou. Lembra que conversamos? Que vamos fazer dar certo e sinto muito por não falar ontem, mas será uma mãe incrível...
— Mãe?
O tom confuso da loira nos fez encara-la.
— Então você está grávida? – Sabrina abriu um largo sorriso. — Espera. Quem mais sabe?
— Ninguém, além da minha mãe.
Respondi, dando de ombros.
— Por que não me contou?
Choramingou para Cheryl, a mesma fechou os olhos por alguns segundos e puxou o ar. Rapidamente segurei em sua cintura, sabendo que um dos sintomas pode ser tontura.
— Nós vamos ter gêmeos.
A ruiva falou, olhando para a amiga.
— Vocês... O que?
Abriu a boca desacreditada.
— Descobrimos ontem. – continuei, tocando no rosto da minha mulher que não parecia bem. — Teremos dois bebês.
— Por isso a Cheryl está surtando. – percebi o vulto de Sabrina andando de um lado para o outro. — Agora não posso te julgar porque estaria da mesma maneira. Meu Deus! Gêmeos?
— Não está ajudando.
Resmunguei para ela.
— Cherry, que tal sentar, uhn? – falei com a ruiva, descendo seu corpo para a cadeira atrás de si. — Como está se sentindo, amor? Fala comigo.
Agachei-me a sua frente, deslizando as mãos por suas coxas.
— Tonta. – confessou, fechado os olhos novamente. — Podemos ir pra casa?
— Claro, Cherry.
Depositei um beijo em sua mão, levantando para recolher tudo que é seu e estava espalhado pela mesa. Sabrina estava tendo a mesma reação que tivemos quando ficamos sabendo dos gêmeos: Completamente em choque.
— Nós precisamos ir.
Anunciei, passando o braço de Cheryl por cima dos meus ombros para ajuda-la a caminhar até o carro. Provavelmente teria que dar um jeito de buscar minha moto depois, mas agora só conseguia pensar no bem da minha mulher.
— Me manda mensagem se acontecer alguma coisa.
Sabrina pediu enquanto caminhávamos pelo corredor.
— Está tudo bem, são só os sintomas... E o susto. – suspirei, olhando para a ruiva que não parecia disposta. — Qualquer coisa te aviso.
A loira concordou.
Levei minha esposa até o carro, prendendo o cinto de segurança em seu corpo, fechei a porta e dei uma última olhada em minha moto estacionada, o local não era perigoso, rezava pra voltar e o veículo permanecer ali. Adentrei o banco do motorista, Cheryl tinha a cabeça apoiada na mão enquanto suspirava.
— Precisamos comprar um carro maior.
Murmurou, a encarei.
— Talvez. – deslizei a mão por seu braço em um carinho. — Mas não pensa nisso agora, amor.
Cheryl assentiu.
Dirigir para casa foi um completo silêncio, queria tentar entender o que passava na cabeça da minha esposa e criei inúmeras teorias. Pode ser que esteja pensando no parto, na amamentação, nas duas crianças chorando, nas roupas, fraldas, utensílios... Todos em dobro. É, também estaria surtando, porque a situação para Cheryl é ainda mais complicada.
Minha esposa estava mais recuperada quando chegamos, desceu do carro sozinha e foi direto ao quarto. Não tinha ideia de como iniciar nossa conversa, de qualquer maneira a vida materna será difícil, não há nada que diga para lhe acalmar. Antes de subir para junto da ruiva, dei ração para Lion e preparei um lanche rápido para Cheryl, um sanduíche e suco foi o máximo que consegui em apenas alguns minutos.
— Hey.
Adentrei o quarto com uma bandeja, Lion abanando o rabo ao meu lado enquanto fechava a porta com o pé. A ruiva bufou, sentando na cama já em suas roupas confortáveis.
— Não quero comer. – resmungou, cruzando os braços. — Nada para no meu estômago.
— Cherry.
Meu tom saiu arrastado, ela revirou os olhos. Deixei a bandeja sobre o bidê ao lado da cama, sentando no colchão bem a sua frente para poder encarar seus castanhos.
— Amor, sei o quanto é ruim...
— Não, você não está tendo os sintomas, Toni.
Cortou-me, respirei fundo com a maneira rude.
— Ok, você está assustada, irritada, cansada e tenho certeza que essa grosseria de agora também é um sintoma, então pode tentar conversar de forma civilizada comigo?
Cheryl suspirou.
— Não entendo como pode estar tão calma, não depois de saber que vamos ter gêmeos, são dois bebês, Toni. – desabafou, o tom elevando aos poucos. — Já pensou que tudo irá mudar a partir de agora? Serão mais consultas, sintomas, dores... Teremos que ter mais tempo, vamos ter menos sono e provavelmente nossa vida sexual será arruinada!
Uma risada escapou por entre meus lábios, a ruiva grunhiu.
— Cherry, posso aparentar estar calma, mas por dentro estou tão assustada quanto você. – peguei em sua mão, acariciando as costas da mesma com o polegar. — Vai ser extremamente difícil, mas estou disposta a dar o melhor, sei que mesmo sendo responsabilidade em dobro, nós poderemos dar conta, só que... Pensar somente no pior não irá ajudar.
— Você tem certeza que podemos com gêmeos? Porque quando um chorar, o outro também irá e...
Rolei os olhos, sorrindo para ela e chocando os nossos lábios para conseguir lhe calar. Cheryl suspirou, segurando meu rosto e nos separando, sua testa colou na minha.
— Tem que parar com essa mania de me calar com beijos.
— Não gosta?
— Eu amo, mas o assunto é sério.
Seu polegar deslizou por minha bochecha.
— Estou falando sério. – encarei os castanhos, afastando-me um pouco. — Vai ser um desafio enorme, mas não posso negar que estou feliz, animada, ansiosa pra conhecer nossos bebês... E eles serão tão lindos, amor.
A ruiva fechou os olhos por alguns segundos.
— São nossos filhos, eles serão perfeitos, TeeTee.
Corrigiu-me, abri um sorriso.
— Nós vamos ser boas mães, não vamos?
O tom baixou, coloquei os lábios sobre os seus em um selinho.
— Seremos as melhores mães, Cherry. – tentei transparecer toda minha verdade a ela. — É óbvio que não seremos perfeitas e haverá erros, mas tenho certeza que daremos nosso melhor.
— Eu amo você.
Sussurrou junto do ar que soltou.
— Eu te amo mais, meu amor. – beijei seus lábios. — Agora pode comer um pouquinho? Por nossos bebês?
— Tudo bem, mas se eu vomitar...
— Cuidarei de você como todas as outras vezes.
A interrompi, balançando os ombros.
Cheryl pressionou os lábios e não me contive em lhe beijar mais uma vez. Ela sorriu, do jeito que amo e da maneira que quero vê-la durante toda a gravidez. Sei que os sintomas não horríveis, mas vou fazer de tudo para que a gestação não seja nada menos do que incrível para minha esposa.
×××
Conseguimos manter a calma, quer dizer... Ultimamente minha mulher nem sabe o significado dessa palavra, o humor dela oscila mais do que montanha-russa e tenho tido muita paciência para manter nossa relação nos eixos. Já aconteceu de tudo, inclusive de Cheryl dizer que me odeia cheia de raiva e dois minutos depois perguntar porque não estou a abraçando, se não a amava mais.
É, os dias estavam sendo divertidos, cansativos, irritantes, mas é algo que permanecia disposta a enfrentar, pelos bebês e pela Cheryl.
Nós decidimos compartilhar a notícia sobre os gêmeos com nossos amigos no dia da minha luta, reuniríamos todos de qualquer maneira após o evento em nossa casa. Quando chegou o dia, nem preciso dizer que minha mulher estava ansiosa, foi a ruiva quem me ajudou a retirar o piercing e claro que tivemos um beijo de boa sorte antes de entrar no ringue.
O local era amador, assim como a luta e minha adversária. Foi tão fácil ganha-la que demorou apenas três minutos para que conseguisse lhe dar um mata leão, a obrigando a pedir por desistência. Mackenzie ficou orgulhosa de ter usado suas dicas, meus amigos reclamaram de ser rápido demais e no fim, estávamos todos em nossa casa. Os mesmos de sempre, com aquela falação e divisão de grupos.
— Pessoal.
Chamei a atenção de todos na sala.
Cheryl estava ao meu lado, paradas onde tínhamos a visão de todos espalhados pelo cômodo. Nathan, Sabrina, Nicholas, Gracie – que caminhava pelo tapete, Arthur – que estava no colo do Jughead, Veronica, Betty, Mackenzie e até mesmo Debora que preparava nosso jantar.
— Nós temos que contar algo muito importante pra vocês.
— Diz que é um menino.
Veronica pediu, juntando as mãos.
Soltei uma risada negando.
— Bom, a gente ainda não sabe o sexo, mas sim... – percorri meu olhar por todos que esperavam em expectativas. — A Cheryl está grávida.
Completei com um sorriso, todos comemoraram ao baterem palmas. Abracei a cintura da minha esposa colando meu lado no seu, forçando a garganta para pedir por silêncio novamente.
— Não é somente isso, nós... – olhei para a ruiva. — Quer contar?
— Uhn... Tanto faz, digo...
— O que está acontecendo? – o tom de Nathan era preocupado. — Madrinha?!
Chamou a ruiva, nossos amigos ficaram apreensivos.
Troquei um olhar com Cheryl.
— Elas vão ter gêmeos.
Rapidamente toda a atenção da sala foi desviada para Sabrina, a loira provavelmente nem se percebeu ao dizer, encolhendo os ombros quando todos olhares pousaram nela.
— Oh, meu Deus!
Debora foi a primeira a reagir abrindo um lindo sorriso.
— Espera, é verdade? – Betty tinha os olhos arregalados. — São gêmeos?
— Sim, B. – respondi sem conseguir evitar o sorriso. — Vamos ter dois bebês.
— Puta que pariu.
Incrivelmente, Nicholas e Jughead se expressam juntos.
Antes que o clima pudesse ficar estranho pelo choque – natural, de todos nossos amigos, Debora veio nos abraçar com o seu maior afeto e amor materno do mundo, prometendo nos ajudar muito nessa jornada. Relaxei nos seus braços, lembrando de quando contei para dona Katy e a mesma se expressou em gritos, pulos... Contamos via internet, se fosse pessoalmente talvez até desmaiaria.
Nós recebemos o parabéns de todos, alguns com boa sorte e outros dizendo que nunca mais iremos dormir. Sim, nossos amigos são ótimos incentivadores.
Aos poucos, o pessoal se dispersou, Veronica arrastou minha esposa para um canto querendo saber porque Sabrina sabia dos gêmeos primeiro e eu me vi conversando com minha treinadora.
— Caralho, Topaz. Como você quer ganhar o cinturão sendo mãe de gêmeos?
Mackenzie cruzou os braços.
— Pretendo ganhar antes deles nascerem, uhn? Minha suspensão está acabando e quero lutar oficialmente o mais rápido possível.
— Que tal ir com calma? – arqueou uma sobrancelha. — Nós ganhamos essa luta de hoje, mas o nível era baixo.
— Eu sei. – revirei os olhos. — Mas quando meus bebês nascerem quero estar por perto, não em treinos ou em um ringue, provavelmente não vou conseguir desgrudar deles.
Divaguei comigo mesma, Mackenzie sorriu.
— Você será uma ótima mãe, Topaz.
Colocou a mão em meu ombro dando um leve aperto.
— Ela com certeza será. – a voz de Cheryl entrou em meio ao nosso assunto, seu braço deslizando por minha cintura enquanto ficava de frente para a treinadora. — Sabe, uma ótima mãe para os nossos bebês.
— Acho que vi o Nathan me chamando.
Mackenzie olhou por cima de meus ombros, segurei o riso quando a mesma fez questão de sair apressadamente, essas duas não duram dois minutos no mesmo local.
— Por que ela tem que ficar em cima de você? E o que o Nathan quer com ela?
Cheryl juntou as sobrancelhas.
Sorri com o seu ciúmes.
— Será assim com os gêmeos também, ciumenta?
A provoquei.
— Com certeza não deixarei ninguém tocar nos meus bebês. – parou a minha frente, segurei em sua cintura a mantendo perto. — Assim como não gosto quando tocam na minha mulher.
Seus castanhos desceram para meus lábios.
Cheryl respirou pesadamente.
— Sua mulher?
— Somente minha, TeeTee. – encarou-me. — Arg!
Resmungou.
— Você está tão gostosa hoje.
Suas mãos deslizaram por meus braços, parando em meus ombros.
— Não sei se foi porque te vi lutando ou se é porque morro de tesão em você de qualquer maneira, mas... Ugh. Queria te arrastar para um quarto agora mesmo.
— Cherry?!
Minha fala se misturou com uma risada.
A mesma parecia agoniada.
— Que horas eles vão embora?
— Ei! Sem grosserias e sarcasmos para nossos amigos.
Pedi, ela suspirou.
— Quero ficar só com você. – usou seu tom manhoso, entrelaçando os braços em meus pescoço. — De preferência em nossa cama, completamente nuas.
— Cheryl...
A repreendi.
— Af, entendi. – desvencilhou-se de meus braços. — Agora fica longe, se não, não respondo por mim.
Virou-me as costas, caminhando até Sabrina e Gracie. Abri um sorriso, balançando a cabeça em negação, é exatamente assim que as coisas tem funcionado, em uma hora me quer grudada e na outra bem longe, ainda bem que já me acostumei.
Procurei por meus amigos, as partidas de video game já haviam se iniciado e resolvi esperar minha vez. Foi uma noite incrível, tive meu retorno as lutas mesmo não sendo oficial, comunicamos a nossos amigos sobre os gêmeos e no final ainda tive que apagar o fogo que minha mulher exalava. Mesmo acabando exausta, estava agradecida por sobreviver a mais um dia com a Cheryl gravida de gêmeos.
×××
Quando chegamos aos três meses de gravidez de Cheryl, não sabia que gostaria tanto dessa época. A barriga – por mais pequena que seja, estava começando a aparecer, minha esposa parecia estar mais animada – mesmo ganhando peso, os enjoos finalmente foram embora e estranhamente estava mais bem humorada que o normal, inclusive acordando primeiro que eu todas manhãs.
— Vamos, TeeTee. – incentivou-me a levantar da cama. — Hoje é dia de consulta, vai ver sua crush.
Zombou, rindo.
Cheryl rindo de manhã cedo? Estou no paraíso.
— Marjorie, ainda não acredito que me expôs pra ela.
Sentei na cama, coçando o meu olho.
— Se ela não fosse hetero, poderia pensar na possibilidade de fazermos um ménage.
— O que? – meus castanhos estalaram. — Está falando sério?
Encarei a ruiva que parou os movimentos que fazia ao apalpar os travesseiros que passou a noite, o seu olhar estreitou e percebi que era uma brincadeira.
— Quer dizer, que loucura!
Virei as costas, levantando da cama.
— Tem sorte que estou de muito bom humor hoje, Topaz. – ameaçou continuando a arrumar nossa cama, permaneci no meu caminho para fazer a higiene matinal. — E vê se não demora no banheiro, estou morrendo de fome.
Resmungou do quarto.
Confesso adorar essa Cheryl cheia de disposição e bom humor, tanto que a dois dias tivemos uma reunião com nossos amigos, aquela quarta-feira em grupos separados, a ruiva não me mandou nenhuma mensagem o que é claramente assustador. Tanto que quem enviou o texto naquele noite fui eu.
Após fazer minha higiene, retornei para o quarto e a minha esposa já não estava mais no cômodo. Normal, sua fome tem falado mais alto do que qualquer coisa ultimamente. Troquei de roupa, ficando pronta para a consulta e desci pro segundo andar. Cheryl estava sentada junto de Debora, a ruiva tinha uma de suas gororobas em mãos, mais conhecido como suco verde.
— Você demorou.
Reclamou assim que sentei ao seu lado.
— E você não vai me beijar. – desviei do contato. — Não enquanto estiver bebendo isso.
Apontei para o copo em sua mão.
— Faz bem para nossos bebês.
— Ótimo, compartilhe apenas com eles.
Dei de ombros, pegando do suco natural que havia em cima da mesa.
— Suas vitaminas devem ser muito pior que meu suco detox.
— Minhas vitaminas tem gosto.
— E o meu suco não?
Retrucou.
— Ok, só me diga o que tem ai dentro.
Olhei para o copo.
— Hum... – ela balançou o líquido. — Gengibre, maçã verde, limão, hortelã, repolho...
— Repolho? Você está bebendo repolho?
Cheryl revirou os olhos em insatisfação.
— Coloquei no liquidificador, Toni. Conhece?
— Eca, esse suco conseguiu ficar pior.
Neguei, Debora ria da nossa interação.
— Ele faz bem para nossos bebês e para mim, não quero virar uma bola. – bebeu um gole do líquido, não evitei a careta. — Aliás, irei pedir a Dr. Montgomery alguma dica de exercícios, quando os gêmeos saírem, vou exigir meu corpo de volta!
— Oh, isso é tão difícil, Cheryl...
Debora lamentou.
— Pois farei os esforços que forem necessários.
Decretou.
×××
— Pilates? Sério?
Olhei minha esposa através do espelho.
De braços cruzados, analisava o local onde iria começar seu pilates para gestantes. Foi recomendação da Dr. Montgomery, no início achei incrível, até perceber que as aulas são particulares, apenas Cheryl e a instrutora.
— Irá me ajudar até mesmo para a hora do parto, você ouviu nossa médica.
A ruiva balançou os ombros, ela estava animada com as futuras aulas. É seu primeiro dia, obviamente não a deixaria vir sozinha, ainda mais vestindo um top que deixa sua barriga um pouco maior a mostra e a legging que modela os seus quadris – agora, mais largos.
— Cheryl Topaz?!
Olhei para a desconhecida que se aproximava com um sorriso, minha esposa curvou os lábios em retribuição e revirei os olhos. Odeio esse seu bom humor repentino usado com outras pessoas. A morena com cachos e lábios carnudos não me agradava nem um pouco, ainda mais por sua falta de roupas ao vestir o mesmo que Cheryl deixando seu abdômen definido amostra.
Ainda bem que vim ver a aula de perto.
— Meu nome é Alessia. – o tom simpático demais me fez parar ao lado de Cheryl. — Serei sua instrutora de pilates a partir de hoje. Quantos meses está?
Seus olhos claros caíram para a barriga da minha esposa.
— Três, são gêmeos.
Cheryl ficava animada ao falar dos bebês.
— Gêmeos? Que incrível. Nós faremos muitas coisas juntas, iremos aliviar um pouco suas dores e te dar mais facilidade para o parto.
— Graças a Deus, só consigo pensar em duas cabeças saindo de dentro de mim.
As duas riram.
Estreitei o olhar, observando a interação.
— Vamos começar? – sugeriu, a ruiva assentiu. — Você deve ser a esposa, certo?
Me encarou, tendo toda sua atenção em mim.
— Sim, a mulher dela, mãe dos bebês.
— Acho que ela entendeu, TeeTee.
Cheryl murmurou, rindo baixo.
— Bom, preciso dizer que as aulas são individuais e a partir de agora seremos somente eu e a gestante. Você se importaria de esperar lá fora, por favor?
Toda sua educação não me agradava.
— Por que faria isso? Quero acompanhar a aula.
— É que já lidei com todos os tipos de esposas e maridos, tive vários problemas com ciúmes. – juntou as mãos para falar. — Criamos uma regra no estabelecimento, apenas para ficarmos mais a vontade, tudo aqui é extremamente profissional.
— TeeTee. – Cheryl parou a minha frente. — Me espera no carro, é apenas uma hora de aula.
Puxei o ar, o soltando com força.
— Quero ficar com vocês.
Sussurrei, descendo as mãos para sua cintura e tocando a pele da barriga com meus polegares. Não confiava naquela instrutora para deixa-la sozinha com meus três bens mais preciosos.
— Amor, vai passar rápido, ok? – suspirei com sua fala. — Nós ficaremos bem.
Meu olhar desviou para a instrutora, a mesma parecia ocupada demais mexendo em seus equipamentos para prestar atenção em nós. Retornei o foco para minha esposa, a ruiva fazia um beicinho que me obrigou a revirar os olhos antes de depositar um selinho demorado em seus lábios. Segurei em seu pescoço, a mantendo junto de mim e Cheryl sorriu em minha boca.
— Agora vai, estou perdendo tempo de aula.
— Por que quer se livrar de mim?
Usei um tom manhoso.
— Toni...
Murmurou.
— Estou indo, tudo bem... – levantei as mãos em sinal de rendição. — Parece que ninguém me quer por perto.
— Dramática!
Acusou-me.
Lhe atirei um beijo antes de sair completamente daquele local, suspirando ao ter que deixar minha esposa sozinha com uma instrutora bonita e aparentemente da nossa idade. Sabe, qualquer um se interessaria pela Cheryl, não tenho dúvidas, por outro lado, confio tanto na ruiva que chega a ser ridículo esse ciúmes, mas... Porra. Essa tal Alessia roubou-me tempo com meus bebês, poderia estar com eles em vez de enfiada no carro enquanto minha cabeça fervia de ciúmes.
Foi a hora mais longa da minha vida, mudei tantas vezes de posição dentro daquele carro, sai para respirar um pouco, acompanhei o movimento da rua, joguei no meu celular, até tentei dormir... Mas era impossível ao saber que Cheryl está sozinha com aquela mulher lá dentro, fazendo exercícios que exigem toques e auxílio.
Só de a imaginar tocando na minha mulher...
— Hey.
Mal percebi a porta do carro abrir e a ruiva adentrar com um sorriso no rosto, a observei sentar no banco do carona enquanto colocava o cinto e fechava a porta.
— Como foi?
As palavras pularam para fora de minha boca.
Girei a chave do carro para dar partida.
— Incrível, fazia muito tempo que não me exercitava... – mesmo tendo a atenção no transito conseguia perceber que sorria ao falar. — A Alessia é ótima, hoje a aula foi leve, mais para me ensinar a fazer os movimentos certos...
Pode acreditar minha mulher tagarelou boa parte do caminho sobre a aula, instrutora, exercícios, o quanto gostou... Apenas concordava, sem me expressar muito porque no fundo, meu sangue fervia ao imaginar tudo o que fizeram.
— Nós faremos aulas ao menos três vezes na semana, estou ansiosa... Realmente gostei.
— Uhum.
Murmurei, concentrada em dirigir.
— Algum problema? Isso é por que não pode assistir?
— Não, só estou cansada.
Balancei os ombros.
— Sei... – havia desconfiança no seu tom. — Então em um dos exercícios, tive que ficar de quatro...
— Não precisa me contar. – a interrompi, forçando os dedos na direção do carro. — Sério, é ótimo imaginar a minha mulher com a bunda empinada para outra.
Rosnei, ofegando.
— TeeTee, você não tem noção do quanto amo te ver com ciúmes, brava... – ouvi sua respiração. — É tão sexy.
— Sexy? – a olhei por alguns segundos, voltando a atenção a rua. — Não é nada sexy sua mulher e seus bebês serem tocados por outra, aliás... Não gostei daquela Alessia. Me expulsando da aula como se eu fosse fazer alguma coisa, puf.
Neguei com cabeça, em poucos segundos a mão de Cheryl estava em minha coxa, provavelmente em uma tentativa de me acalmar, mas quem precisava de calma aqui? Aquela Alessia nunca poderia roubar minha mulher de mim, não deixaria, nem em seus melhores sonhos!
— Amor...
Ouvi um sussurro da minha esposa, tão perto que novamente a encarei, a mesma estava sem cinto e inclinada em minha direção. Retornei o foco em dirigir, ainda mais com Cheryl sem segurança nenhuma.
— Você acabou de me deixar excitada.
Confessou, a mão apertando minha coxa com firmeza.
— Cherry, já estamos chegando em casa, coloca o cinto. – pedi, engolindo a seco com sua mão subindo até minha virilha. — Mas que porra!
— Quero tanto você, TeeTee.
Golpe baixo.
Tive que juntar todas as forças do mundo para não estacionar o carro e foder com ela ali mesmo. O tom manhoso misturado com gemido sempre me ganha, sempre! E a filha da puta sabe perfeitamente disso.
Quando seus dedos chegaram até meu sexo – ainda por cima da calça, fiz de tudo para pressionar as pernas e não deixa-la me tocar, mas Cheryl sempre foi muito insistente no que quer, além de que não conseguia me concentrar no trânsito e na sua mão.
Um suspiro escapou quando a ruiva começou a esfregar os dedos de cima para baixo, pressionando minha intimidade e fazendo com que me remexesse no banco apenas com aqueles movimentos. Não conseguia a ver, mas posso jurar que minha esposa está sorrindo, satisfeita e maliciosamente. Sua mão subiu para dentro da minha blusa, arranhando meu abdômen e subindo para tocar meu seio.
Dirigir, foco.
Repetia em minha mente enquanto os dedos de Cheryl alcançavam meu bico do seio, o estimulando ao aperta-lo com a ponta dos mesmos. Mordi o lábio, respirando mais fundo e tentando ao máximo não nos fazer sofrer um acidente. Sem que percebesse havia até diminuído a velocidade do carro. A ruiva ao meu lado, ousou ainda mais, inclinando-se e segurando meu pescoço com a mão que estava em meu seio, depositando beijos em minha curvatura, lambendo e mordendo a pele da mesma.
Estava a ponto de implorar para que minha esposa parasse, mas negar algo a Cheryl é a mesma coisa que incentiva-la a fazer. Eu só desejava chegar o mais rápido possível em casa. Pedi por isso ainda mais quando a ruiva abriu os botões da minha jeans, enfiando sua mão para dentro da mesma e me tocando por cima da calcinha. O contato de seus dedos com minha intimidade apenas com o tecido fino atrapalhando me fez soltar um gemido, concluindo que minha mulher é realmente louca.
— Uhn... Ficou molhada quando me imaginou de quatro, TeeTee?
Sussurrou, mordiscando minha orelha e referindo-se ao estado deplorável que minha calcinha já se encontrada. Não! Foi as duas provocações, a maneira que gemeu o “TeeTee”, você sabe dos meus pontos fracos, Marjorie! Senti seu sorriso em minha pele com a falta de palavras, os dedos afastando o tecido para o lado e entrando em contato direto com meu sexo. Movimentos lentos por entre minhas dobras era o suficiente para me arrancar gemidos arrastados.
Cheryl tinha tanta atenção em seus objetivos e movimentos que não percebeu quando parei a frente de nossa garagem, o seu olhar desviou para minha mão que pegaria o controle para abrir a porta da mesma.
— Para. – sua mão livre tocou na minha. — Me deixa terminar.
— Cherry, os vizinhos...
— Não estou nem ai para eles, TeeTee.
Os vidros do carro não serem fumê me preocupava, o fato de estarmos na rampa da nossa garagem mais ainda, porém quando os lábios de Cheryl tocaram os meus, tudo que fiz foi desligar o veículo, me livrar do cinto e aproveitar da maneira que sua língua entrelaçava na minha. Suspirei, segurando em sua nuca e a sentindo voltar a movimentar os dedos.
Abri minhas pernas, agora sem receio de sofremos uma acidente ou batermos em um poste. Pude me deliciar com a sensação gostosa dos dedos da ruiva me estimulando, subindo e descendo, de um lado para o outro. O meu quadril remexeu junto com sua mão e não conseguia parar de beija-la, gemer contra sua boca enquanto a mesma ofegava, acelerando os toques, deslizando com facilidade por meu sexo completamente encharcado.
Separamos o beijo com respirações ofegantes, Cheryl sorriu ao morder meu inferior, subindo os dedos para meu clitóris e fazendo movimentos circulares precisos para chegar ao orgasmo. Relaxei no banco do carro, suspirando enquanto minha mulher chupava os dedos lambuzados por meu gozo.
— Você não poderia ter esperado chegarmos? Subir até o quarto?
Peguei o controle da garagem, apertando para subir a porta.
— Não consegui. – suspirou. — Aliás, já disse o quanto fica mais gostosa a cada dia que passa? É sério, até seu cheiro me dá tesão.
Dei partida no carro, adentrando a garagem.
— Tudo que imagino agora é nós duas indo para o quarto e transando por horas. – relaxou os ombros ao falar. — O que acha?
Me encarou.
Abri um sorriso, me divertindo com seu desabafo.
— Acho que não precisa ficar só na imaginação.
Respondi, arrancando um sorriso gigante dela.
×××
O terceiro mês de gestação estava sendo tão bom, muito diferente dos outros Cheryl se sentia realmente bem, alguns até elogiavam seu comportamento mais sorridente, torcendo para durar. As aulas de Pilates continuaram, assim como o apetite sexual da minha mulher que só aumentava, em qualquer oportunidade estava me pedindo para faze-la gozar até que não sentisse mais as pernas. Nunca recusei, mas por vezes estava tão cansada que fugia de suas exigências, nossas relações sempre foram ativas, mas todos os dias? Em todo momento possível? Já sentia meus dedos ganhando músculos.
Nós tínhamos consultas com a Dr. Montgomery a cada duas semanas, monitorando o desenvolvimento e saúde de nossos bebês que estão cada vez mais fortes, mais maiores. A cada dia que notava a barriga de minha esposa maior, era uma chuva de fotos, registrando o momento mais importante de nossas vidas.
O final dos três meses estava chegando perto, junto dele, uma notícia que poderia fechar aquele período com chave de ouro.
— Adivinha quem acabou de me ligar.
Mackenzie sorriu ao adentrar minha sala.
Havíamos acabado de encerrar o treino de hoje.
— Não tenho ideia.
Juntei as sobrancelhas, rindo.
— Marina. – parou a frente da minha mesa. — Parece que o pessoal do UFC está com pressa de ver você de volta aos octógonos, sua suspensão acaba em menos de cinco meses e nós solicitamos uma revanche contra Peaches assim que ela acabar.
— E vocês conseguiram? Vou poder lutar?
— Falta somente a equipe da Peaches aceitar. – sorriu em empolgação. — Os organizadores já até reservaram uma data pra daqui a cinco meses e duas semanas.
— Caralho! – pulei, comemorando. — Porra, vou poder disputar pelo cinturão novamente e...
Minha fala saia rápida, afobada com a notícia.
— Preciso ir pra casa, contar pra Cheryl e os bebês. Posso ser uma campeã novamente, puta merda. – ainda não estava acreditando. — Obrigada, obrigada.
Meu corpo se chocou contra Mackenzie em um abraço.
— Eu sei que atendeu meu pedido da luta acontecer mais rápido possível, percebi todas as ligações que fazia e recebia durante nossos treinos.
— Topaz. – a treinadora me encarou. — Nós somos uma equipe, ok? Entendo perfeitamente que queira aproveitar seus filhos quando nascerem, aliás te admiro muito por planejar a vida profissional apenas para cuidar da sua família.
— Minha família. – pronunciei as palavras sentindo meu peito se encher de orgulho. — Ainda é surreal para mim, sabe? Ser esposa, mãe... Sempre foi meu sonho.
— Bom, agora você será esposa, mãe e campeã do UFC.
Mackenzie incentivou-me.
Abri um largo sorriso.
— Tudo bem, preciso ir... Contar pra Cheryl, comemorar...
— Vai lá, Topaz. Aproveita, porque quando iniciarmos os treinos será foco total.
— Deus me ajude.
Murmurei saindo da sala, ainda ouvi a risada de Mackenzie.
O caminho para casa nunca pareceu tão longo, torcia para minha esposa já ter chegado do trabalho. Ultimamente a mesma tem passado mais tempo na escola porque tem entrevistado mulheres para tomarem o posto de gerente, alguém que irá lhe cobrir quando entrar de licença maternidade e aparentemente ocupar algumas funções de Sabrina que quer passar mais tempo com a filha.
Estacionar a moto na garagem e ver o carro da Cheryl me deixou ainda mais amimada. Corri para dentro de nossa casa, procurando-a por todos os cômodos. A encontrei na cozinha, se lambuzando com nutella onde comia direto no pote, a mesma ergueu o olhar ao ser pega no flagra.
— Eu sei não posso comer muito doce... – iniciou suas defesas. — Mas estava realmente com muita vontade, pensei que chegaria mais tarde e nem notaria que... – olhou para o pote quase vazio. — É, você notaria.
Balançou os ombros.
Sorri, feliz demais para brigar por comer um pote de doce – quase, inteiro já que ontem mesmo tivemos uma pequena discussão sobre seu excesso de açúcar, seu argumento é que os gêmeos devem gostar muito.
— Tudo bem, Cherry. – me aproximei, pegando o pote e colher da sua mão, colocando acima do balcão. — Não estou brava.
— Não?
Ergueu as sobrancelhas em surpresa, apoiando as costas contra a pia.
— Não, porque tenho uma notícia muito boa.
— Por favor, diga que reservou um quarto no motel... – deslizou as mãos por minha cintura, descendo para quadris e parando em minha bunda. Já disse que minha esposa criou uma obsessão por minha bunda? — Que não terá treinos, me peça pra faltar a escola e passaremos a noite toda transando.
— Mulher, você não fica saciada nunca?
Franzi a testa.
— Pelo seu tom não é uma ida ao motel. – suspirou, enfiando as mãos nos bolsos de trás da minha jeans. — Mas diz, qual a notícia?
Encarou-me com expectativa.
— Irei disputar o cinturão novamente!
Disparei de uma vez só, Cheryl sorriu largo.
— Amor, isso é incrível! – seus lábios se chocaram contra os meus. — Eles encurtaram sua suspensão? Quando vai ser?
— Aparentemente daqui a cinco meses, não é certo e...
— Espera. – a ruiva interrompeu-me, juntando as sobrancelhas. — Cinco meses?
Os seus braços cruzaram abaixo do peito.
— Sim, amor.
— Toni, você pensou que daqui a cinco meses nossos filhos irão nascer? – o seu tom elevou um pouco. — E se o meu parto for no dia da luta? Pior, de jeito nenhum poderia viajar pra te ver porque provavelmente estarei quase tendo nossos bebês.
— Cheryl, a gente pode...
Tentei achar as palavras certas, mas a chuva de perguntas e hipóteses começou a embaralhar em minha mente. Pisquei algumas vezes, minha mulher balançou a cabeça em negação.
— A gente pode o que? Você claramente nem pensou nos seus filhos antes de aceitar.
Suas mãos entraram em contato com meu peito para afastar-me, fechei os olhos com força e respirei fundo, seguindo Cheryl que caminhava até a sala.
— Nem é completamente certo ainda, Cherry. – argumentei, observando a ruiva sentar no sofá ainda de braços cruzados. — E prefiro lutar o quanto antes, se ocorrer de disputar o cinturão quando os bebês nascerem ficaria ausente e...
— E não vai ficar agora? – ergueu seu corpo. — Provavelmente vai ficar enfiada na academia junto da Mackenzie, isso só pode ter dedo dela, justo durante a gravidez? Tirando você mais ainda do meu convívio.
— Falando assim parece que não quer que volte a lutar nunca! – retruquei. — Prefere que deixe você com dois recém nascidos?
Infelizmente acabei alterando meu tom e odiava quando isso acontecia, perder a razão nunca foi meu objetivo em meio as discussões com Cheryl principalmente essa onde uma notícia tão boa se tornou um pesadelo.
— Prefiro que você esteja presente, Toni. – sua resposta veio rápida. — Em todas as etapas não só na gestação ou quando nascerem.
— Não é como se eu fosse embora, apenas terei mais tempo treinando, mas nunca deixei de te dar total atenção, Cheryl. Todos os momentos que me chamou, seja por algo sério ou apenas por carência, sempre atendi. Por que não pode me apoiar? Fazer um esforço por algo que desejo desde aquele episódio do doping.
— Quer saber? Esquece!
Ela praticamente gritou comigo, respirei para não retruca-la.
— Fique com seu cinturão, sua luta, sua treinadora... Escolha eles ao invés da sua família!
Cheryl passou por mim, esbarrando em meu ombro de propósito. Poderia dizer para conversarmos, resolver essa questão juntas e com calma, mas não seria possível agora. Não com a ruiva tão brava.
— E quero dormir sozinha hoje! – ainda a ouvi das escadas, não me virei. — Vamos, Leo.
O labrador, agora parado bem ao meu lado, deitou o corpo no tapete sem atender seu chamado. Arregalei os olhos, ele nunca deixava de atender Cheryl, em nenhuma hipótese. Os segundos passaram e o cachorro deitou a cabeça sobre as patas, abaixando as orelhas ao permanecer comigo.
— Argh!
Escutei Cheryl bufar e posteriormente seus passos duros na escada.
Cai sentada no sofá, suspirando com a discussão e com a noite péssima que terei sem a ruiva, meus bebês, a sua maneira de ocupar quase toda a cama... Ah, talvez eu seja uma idiota mesmo por estar pensando somente em ganhar o cinturão novamente. Quem sabe Cheryl tem razão e não seja o momento. Só queria não ficar tão abalada por mais uma vez não receber o seu apoio, por vir com inúmeras pedras na mão sem entender o meu lado.
Estiquei o corpo no sofá, apoiando as mãos abaixo da cabeça e fixando o olhar na parede branca. É, os três meses de gestação não foram assim tão felizes, já que é nossa pior briga em muito tempo. Nem lembro a última vez que Cheryl me expulsou do quarto e se aconteceu, me pediu para voltar antes mesmo de deitarmos.
Não foi o que houve nessa noite, depois de um banho me vi sozinha na segunda suíte, a porta encostada arrastou e olhei com expectativa, mas era apenas nosso cachorro. Deitei no colchão, o labrador em meus pés e demorei muito a dormir, o escuro do quarto não me ajudava, a falta do calor do corpo de Cheryl fazia a cama ficar maior. A minha mente estava fervendo, pensando na possibilidade de não aceitar a luta e que será melhor para nós assim, mesmo que isso me abale.
Quando a porta do quarto arrastou mais uma vez, tinha certeza que era ela. Fingi estar dormindo, estava coberta até o peito e minhas mãos acima da barriga, juntas. O colchão ao meu lado afundou, senti seu cheiro e me esforcei pra continuar de olhos fechados, se acordasse poderíamos voltar a discutir.
— Sei que está acordada.
Cheryl falava com convicção.
— Quando dorme de barriga pra cima, você ronca.
— Ei, eu não ronco.
Me defendi, encarando os castanhos.
A ruiva abriu um sorrisinho, vitoriosa por saber de meu fingimento.
— É, você não ronca. – aconchegou-se abaixo das cobertas. — Mas sabia que estava acordada.
— Como?
Arqueei as sobrancelhas.
— Porque sente minha falta como sinto a sua.
Confessou, quase sussurrando.
Virei o corpo para ficar totalmente de frente para Cheryl, os seus castanhos fixaram nos meus e ficamos naquela troca visual por alguns segundos. Não tinha como discorda-la, realmente sentia muito sua falta na cama.
— Ficar sozinha, sem conseguir dormir porque você não está comigo, me fez pensar muito. – a ruiva quebrou nosso silêncio. — Fui uma idiota ao dizer tantas bobagens, sei o quanto nos ama e quer estar com nós, que não deixaria nada atrapalhar nossa família. – suspirou por um momento. — Acho que fiquei com um pouco de ciúmes ao pensar na Mackenzie passando mais tempo com você, não sei... Só, me desculpa por agir daquela maneira. Quero te apoiar porque lembro de todas as vezes que falou o quanto sonhava com esse dia de ter o cinturão de volta, mesmo que talvez não consiga estar lá torcendo por você no dia.
O seu desabafo misturado com pedido de desculpas aqueceu meu coração, isso era tudo que desejava, o seu apoio e que as coisas funcionassem entre nós mesmo com cada uma tendo seus trabalhos e focos diferentes.
— Eu amo você, Cherry.
Declarei-me, tocando em seu rosto, ela abriu um pequeno sorriso.
— E nós amamos você, sempre torceremos pelo seu sucesso.
Arrastou o corpo para perto, abraçando minha cintura e esbarrando o nariz no meu. Suspirei, nós trocamos sorrisos antes de selarmos nossos lábios em um beijo de reconciliação.
— Não importa o que aconteça, em hipótese alguma deixarei de estar no nascimento dos nossos filhos.
— Eu sei, TeeTee. – depositou um selinho em minha boca. — Você precisa segurar minha mão ou não conseguirei sozinha.
— Você não vai estar, de jeito nenhum.
Prometi novamente.
Cheryl assentiu aproximando nossos rostos para outro beijo.
Cheryl B. Topaz – Point Of View
Aos quatro meses de gravidez os boatos, sites e outras gestantes, dizem que é o melhor mês da gestão. Que a mulher se sente bem consigo, estava sempre disposta e alegre, muito diferente dos outros. Não posso discordar, desde a metade do terceiro mês tenho tido um pico muito grande de autoestima elevada, assim como aumento na libido.
Eu juro, é impossível estar perto da minha mulher sem querer lhe dar.
Além desses sintomas tenho me alimentado ainda mais – óbvio que ganhei peso, e os meus peitos parecem inchados. Provavelmente é mais sensação do que realmente o meu leite materno, ainda é cedo para aparecer. Mas bem, talvez tivesse um dos sintomas que não estivesse preparada.
— Antoniette!
Gritei o nome da minha esposa.
Em frente ao espelho do quarto analisava minha barriga.
— Cheryl? O que foi?
Toni apareceu na porta de nosso quarto ofegando, Lion ao lado.
— Olha isso.
Virei de lado, apontando para a parte inferior da minha barriga. Minha esposa se aproximou, estreitando o olhar ao tentar enxergar o que apontava.
— Não estou vendo nada, Cherry.
— Como não? Tem uma enorme estria na minha pele!
— Ah, é isso. – seu era tom despreocupado. — Não é enorme, amor.
Encarou-me, revirei os olhos.
— E nós sabíamos que iria acontecer, certo? – abraçou-me por trás, pousando as mãos sobre minha barriga. — Nós passamos creme em você todas as noites.
— Pensei que evitaria de aparecer.
Resmunguei.
— Se você pensar que já poderia ter umas dez, mas tem apenas uma, sim...Ele evita. – respirei fundo, odiava quando Toni sempre tinha resposta otimista pra tudo. — Agora me deixe admira-la um pouquinho, está tão linda, Cherry.
Seu olhar chegou ao meu através do espelho, obriguei minha esposa a comprarmos um de corpo inteiro, para posiciona-lo no quarto e poder notar as diferenças. Mesmo fazendo as aulas de pilates, os gêmeos tem mudado muito minha fisionomia.
— A gente deveria sair algum dia e comprar roupas.
Comentei, aproveitando do corpo da lutadora no meu.
— Você acha? Nossos amigos nos visitam quase todos os dias, sempre trazendo presentes e tentando nos convencer de fazê-los serem padrinhos.
Toni riu ao falar.
Era completamente verdade, desde a notícia sobre os gêmeos parece que abriu uma competição pra saber quem serão os padrinhos e madrinhas de nossos filhos, todos tendo inúmeros argumentos do porque merecem o título. Até Nathan entrou na disputa.
— Não estou falando de roupa para os bebês. – continuei o assunto. — Roupas pra mim, daqui a pouco não terei o que vestir.
— Gosto tanto de te ver nos meus moletons.
Apertou-me mais em seus braços.
Suspirei, eu amo usar os moletons dela.
— Não posso trabalhar de moletom, TeeTee.
— Por que? É sexy, fofo... – beijou meu pescoço, arrepiei-me. — Não iria reclamar de te ver nas minhas roupas todos os dias.
— Também não iria reclamar de ter seu cheiro, mas prefiro manter meu estilo, ok? – girei o corpo em seus braços a encarando. — Mesmo que daqui a pouco seja obrigada a usar GG.
Encolhi os ombros.
— Bom, sei que ficará linda de qualquer jeito.
— Nisso você tem razão.
Me gabei, Toni sorriu juntando nossos lábios.
×××
— Se você é madrinha da Gracie, tenho direito de ser dos gêmeos.
Sabrina tagarelava ao meu lado, Toni e Nicholas caminhavam alguns passos a frente junto de minha afilhada que adorava andar pelo shopping. A busca por roupas maiores havia acabado de começar, quando a loira se ofereceu para vir junto nem me deu a chance de negar.
— Você sabe que seu argumento não tem nenhum sentido, certo?
A olhei.
Seus olhos rolaram.
— Olha, aceito ser de um e o outro pode ser da Veronica.
— Sabrina, nós ainda não conversamos sobre isso, acredite, tem Betty, Jughead e Nathan nessa competição ridícula de vocês. Quando for a hora certa iremos decidir e comunicar.
— Essa é sua maneira de dizer que não serei madrinha?
Respirei fundo, tentando não surtar com minha melhor amiga.
Foi a tarde mais longa da minha vida, Sabrina não desistia de insistir em ser uma das madrinhas – e talvez ela até fosse ser, mas temos adiado essa conversa porque são tantas opções, e apenas dois bebês.
Consegui comprar algumas roupas, assim como não evitamos de entrar em uma loja de bebê, Toni queria comprar tudo de menino, segundo ela teremos dois. Espero que esteja errada, não quero esperar nove meses e não receber minha garotinha de cachos, preciso disso pra continuar vivendo. Mas é claro, estou preparada pra qualquer opção.
— Oh, meu Deus...
Um gemido escapou de meus lábios.
Sentada no sofá, tinha os pés em cima das pernas da minha esposa e recebia uma massagem sua, aliviando a dor por andar de saltos durante a tarde toda. Sei que em algum momento terei que abandonar meus calçados preferidos, mas ainda posso suportar.
— Gostoso?
Toni sorriu, apertando os dedos nos locais certos.
— Com certeza, TeeTee. Você é incrível.
— Merece, amor.
Piscou.
— Então... Os treinos para a luta irão começar.
Havia um receio no tom da minha esposa.
— A Peaches aceitou? – assentiu. — Isso é bom.
Divaguei, recordando do dia que Marina nos ligou e disse ser a hora de contarmos da gravidez. Seria bom para limpar ainda mais a imagem de Toni e já haviam algumas desconfianças já que minha esposa não conseguia segurar sua vontade de postar fotos nossas, acabando que demonstrando minha barriga algumas vezes. Agora, nossos bebês são públicos, ainda somos um assunto muito comentado na internet e é claro que a lutadora escolheu uma foto específica para anunciar que seremos mães de gêmeos.
— Acho que irei aumentar minha hora no pilates também.
Continuei a falar.
— Desde que aquela Alessia não se aproveite de você.
— Você realmente implicou com ela.
Neguei com a cabeça, Toni balançou os ombros continuando com a massagem em meus pés. Desde a primeira aula minha esposa tem mantido seu ciúmes, sempre dando incertas ao ir me buscar sem aviso prévio e marcando seu território, é claro. Eu amo, não posso negar, vê-la encarar Alessia como uma leoa protegendo os filhotes é excitante demais.
— Não gosto de ninguém perto dos meus bebês.
Franziu o nariz ao falar.
Você consegue ver? Minha mulher é tão adorável, linda, sexy, gostosa...
— Amor.
Chamei sua atenção, os castanhos vieram até os meus.
— Acho que a mãe dos seus bebês precisa de carinho.
Mordi o lábio.
Toni sorriu, negando.
— Nem preciso de treino, sabia? – colocou o seu corpo sobre o meu. — Você já me faz fazer exercício o suficiente.
— Pretendo que faça cada vez mais.
Sorri, tocando em sua nuca e a puxando para um beijo.
×××
Em meio ao quarto mês, tivemos uma mudança em nossa casa e rotina, Katy estava vindo morar com nós junto de Samantha. Minha esposa estava radiante, eu também me senti animada, afinal agora com Toni treinando para a luta teria companhia diária das duas.
Mesmo minha sogra afirmando que seria apenas o período de encontrar uma casa para morarem porque não querem nos atrapalhar, desejava que essa escolha se prolongasse ao máximo, porque as melhores partes do meu dia se tornaram os fim de tarde junto de Katy e Samantha – mesmo que a mais nova só ficasse no celular.
— Como minha filha tem te tratado? Preciso ter uma conversa séria com ela?
Minha sogra perguntou enquanto fazíamos um lanche, a mesma assou bolinhos de cereja especialmente para mim, desde que chegou na casa Debora tirou folga com tempo indeterminado de retorno, no caso só quando Katy encontrar sua casa. Ela mesma fez questão, disse que não havia necessidade da nossa empregada nos cuidar quando está presente.
Acredito que tinha um pouco de ciúmes envolvido.
— Não, não precisa. – sorri para a mais velha. — A Toni... – suspirei. — Ela é perfeita, Katy, em todos os sentidos.
— Fico feliz, por vezes achei que não daria conta.
— Do que?
Franzi a testa.
— Você, perda do pai, gravidez, hormônios...
— Oh. – assenti recordando de todos eventos. — Nós estamos muito bem, faz uma semana que começou a treinar para a luta, mas ainda não é algo que nos atrapalhe. – dei de ombros. — Talvez no início da gestação foi um pouquinho difícil pra ela, vendo agora... Eu era insuportável, meu humor oscilava, mas acho que estamos na melhor fase.
— É, acho que a subestimei.
Katy sorriu ao falar, concordei.
— Sua filha é incrível, forte, pacienciosa... – continuei a elogiar minha esposa. — Eu tenho sorte... Muita, na verdade.
— Você tem. – Katy balançou a cabeça. — Mas minha filha também tem sorte, nem preciso conviver com vocês por muito tempo pra saber que serão mães maravilhosas, aliás... Os meus netos tem muita sorte.
Nós sorrimos juntas.
E não poderia discordar, os gêmeos terão a Toni como mãe, uma campeã de UFC, a pessoa mais gentil e bondosa que conheço, pelo menos se ninguém mexer com o que é seu. Eles tem muita sorte, porque sei que minha mulher irá defende-los com garras e dentes de qualquer um, assim como eu... Não deixarei ninguém machucar meus bebês.
×××
Eu estava subindo pelas paredes, isso mesmo, estava no ápice do tesão, excitação, desejo sexual... Literalmente queria transar a todos os momentos possíveis. Também não entendo porque o destino é tão cruel ao me fazer estar nesse momento logo quando tenho minha sogra e cunhada em casa, quando minha esposa está ocupada com treinos.
Não me importava de usar o vibrador, o meu velho amigo aliviou-me quando Toni não estava em casa e preciso confessar que aconteceu até mesmo na escola. Me vi carregando o brinquedo na bolsa como uma pervertida, mas a quem poderia culpar? Estou sempre com vontade, só de pensar na minha mulher, lembrar de todas nossas aventuras... Ugh! Nem se transasse vinte e quatro horas seguidas conseguiria cessar meu apetite.
Geralmente quando estou trabalhando, me alívio sozinha ao trancar-me no banheiro e ficar ali por poucos minutos, é só pensar na lutadora me tocando enquanto o vibrador faz o resto, mas bem... Teve um dia que não foi suficiente. Eu simplesmente não consegui chegar ao meu orgasmo, não relaxei ou tive aquela sensação de finalmente conseguir o que queria. Foi péssimo, passei mais de trinta minutos no banheiro e ainda faltava no mínimo duas horas para acabar o expediente na escola.
Vocês já sabem, eu com certeza não cumpri meu horário.
Precisava da Toni, dos seus toques e gemidos, seu cheiro, o calor do corpo dela... E Diabos! Estava excitada novamente só de pensar.
Antes mesmo que raciocinasse, estava me despedindo de Sabrina dizendo que precisava ir pra casa e em poucos minutos me vi no carro dirigindo para a academia. Tenho certeza que minha esposa deve estar treinando com aquela ogra que tantas vezes já me expulsou do local, mas hoje não... Hoje só sairia junto de Toni.
— Madrinha. – Nathan sorriu ao me ver. — Oi, como estão os...
O ignorei, passando reto pelo adolescente sem ao menos lhe dar um olhar. O meu foco estava somente em retirar uma certa lutadora das garras de Mackenzie, leva-la para casa e ter o meu desejado orgasmo.
Meus saltos ecoaram no salão de treino, não demorei a ouvir o barulho dos socos de Toni contra os utensílios que a treinadora tinha nas mãos. Como sempre, as duas pareciam concentradas demais em trocar golpes e informações sobre os mesmos para notarem minha presença.
E me senti excitada novamente, só de ver minha esposa com a expressão amarrada distribuindo golpes, suando e somente de top e shorts curto, colado ao corpo. Eu já estava ficando molhada novamente, talvez não dê tempo de chegar em casa. Me aproximei ao máximo daquele tatame intocável forçando minha garganta.
— Com licença.
Cruzei os braços, os olhares vieram até mim.
— Cherry. – Toni sorriu ao me ver. — Tudo bem? O que está fazendo aqui?
— Vim te buscar.
Respondi, dando de ombros.
— Estou treinando...
— Não me importo, vou levar você comigo.
Decretei, ignorando a presença daquela brasileira.
— Só um momento. – Mackenzie parou a minha frente para me encarar. — Oi, Cheryl. Tudo bem? – revirei os olhos. Ela não queria respostas. — Então se você não sabe, estamos treinando para algo muito importante.
Apontou para si mesma e minha esposa.
— Por acaso está sentindo algo? Precisa ir ao médico?
— Olha, não tenho obrigação de te dar satisfação do porque preciso da minha esposa, ok? A Toni vai comigo e pronto.
Mackenzie gargalhou, negando.
— Nem pensar.
Abri um sorriso com sua resposta.
Está muito enganada.
— Mackenzie, preste bem atenção.
Aproximei meu rosto do seu, não me importando de ter que pisar de salto naquele maldito tatame. A treinadora continuou com sua pose de mandona, encarando-me de frente.
— Antoniette Topaz é a minha mulher e não estou nem ai se você é a treinadora que vai levar ela até o cinturão, apenas uma falta no treino não irá lhe fazer perder. Agora é melhor libera-la ou serei obrigada a importuna-las até que peça desistência, e de qualquer maneira acabarei levando minha esposa comigo!
Ofeguei ao final, puxando o ar para me acalmar.
Mackenzie estreitou o olhar, relaxando os ombros.
— Tudo bem, você ganhou essa, senhora Topaz. – levantou as mãos em rendição, abri um sorriso vitorioso. — E pelo que ouvi de seus amigos, fará minha aluna suar então...
— Ainda estou aqui, sabia?
Toni apareceu ao seu lado.
— Vamos, TeeTee.
— Ok, vou só tomar um banho e...
— Não! – a interrompi, rápido demais e atraindo o olhar das duas. — Foda-se.
Deixei escapar o palavrão.
— Preciso de você agora, é urgente...
— Meu Deus, Topaz. Vai logo.
Mackenzie empurrou minha mulher pelos ombros.
Revirei os olhos, caminhando em direção a sala de Toni e sentindo a mesma me acompanhar enquanto retirava as luvas, jogando para qualquer canto.
Assim que adentramos a sala, ataquei os lábios da lutadora, a pressionando contra a porta enquanto deslizava minhas mãos por seu corpo quente, suado, malhado e tão... Tão excitante. Ela sabia exatamente do que precisava. O movimento da língua da minha mulher na minha, o seu cheiro, sim, eu estava ainda mais louca por ela do que antes da gravidez e nem sabia que era possível.
— Amor, tentei não te incomodar, eu juro... – confessei ao sentir seus lábios em meu pescoço e as mãos invadindo meu vestido por baixo. — Até usei o vibrador mas...
— Oh, por favor. – interrompeu-me, segurando em meu pescoço e erguendo o rosto para me encarar. — Diga olhando nos meus olhos.
Pediu, sabendo exatamente o que iria confessar.
Toni sabe do meu uso com o vibrador e acredito que até agradece por ele, minha esposa quase não aguenta mais meu apetite sexual e por vezes tenho a sensação de que irá pedir socorro. Mas ela da seu melhor sempre, por isso mesmo...
— Ele nunca será você, TeeTee.
Minha fala saiu junto de uma lufada de ar. A lutadora sorriu de puro orgulho e ego inflado, não me importava em lhe dar esse gostinho, não quando preciso urgentemente de um orgasmo, e só ela pode me dar.
Os lábios de Toni chegaram aos meus, um beijo agressivo do jeito que gosto, empurrando-me em direção a sua mesa até que estivesse prensada contra ela. A morena deslizou as mãos para meus seios, massageando os mesmo por cima do vestido e sutiã, apertando com tamanha vontade que me fez gemer em sua boca.
Sem perder muito tempo, o seu braço movimentou atrás de mim fazendo um enorme barulho de coisas caindo ao chão, posteriormente segurou em minhas coxas e colocou-me sentada sobre sua mesa. Mordi seu lábio, quebrando o beijo enquanto escorregava a mão por seu corpo quase nu, Toni ergueu meu vestido até a cintura quase deixando minha barriga a mostra.
— Uhm... Você está molhada.
Toni murmurou ao tocar-me por cima da calcinha, arrastando os dedos por meu sexo e pressionando meu nervo inchado. Senti minha intimidade latejar, implorando por mais, por ela.
— Me diga no que pensa quando usa aquele brinquedinho, Cheryl.
Seus lábios arrastaram por meu pescoço, mordendo minha orelha após o sussurro. Ela estava se aproveitando que estou necessitada, sabe que irei confessar tudo que quer ouvir para que pare de me torturar.
— Penso em você, TeeTee. – meus olhos estavam fechados, um gemido escapou quando Toni pressionou minha entrada encharcada. — Imagino seu corpo, seu beijo, seus toques...
— Me imagina dentro de você?
— Sim, amor...
A morena sorriu sobre meu pescoço, suas mãos deslizaram por minhas coxas e logo a calcinha estava deslizando por minha pele. Não me importei para onde foi jogada, Toni se posicionou a minha frente novamente e escorregou as mãos por entre minhas pernas que fiz questão de abrir. No momento em que a puxei para um beijo, senti os seus dedos me invadirem, iniciando movimentos de vai e vem.
Minhas unhas cravavam em seu ombro e na nuca, Toni segurava em minha cintura com a mão livre enquanto a outra agora me estocava com força, os dedos indo fundo e em movimentos precisos que faziam gemidos descompassados serem abafados por seus lábios. A morena em certo momento retirou os dois dedos por completo, apenas para voltar com três, arrancando-me um gemido arrastado e manhoso.
Afundei o rosto em seu pescoço, mordendo sua pele para não soltar os sons altos que queria escapar. O meu corpo se movimentou junto com ela, meus olhos se reviraram e não havia como segurar o orgasmo, não depois de tanto deseja-lo. A sensação prazerosa nunca durou tanto para mim, relaxei nos braços da minha mulher, agradecendo mentalmente por saber exatamente o que fazer.
— Porra, esse foi bom.
Toni sussurrou, tocando em meu rosto. Abri os olhos para encara-la e havia um sorriso iluminando seu rosto. Acho que ela está ainda mais linda agora. Sorri junto com minha esposa, selando nossos lábios.
— Eu realmente... – respirei, recuperando o fôlego. — Precisava de você.
— Percebi, mas foi o suficiente? Porque... – beijou meu queixo. — Estou com tanto vontade de te chupar.
Desceu a boca para o vão de meus seios devido ao vestido levemente decotado, os meus olhos provavelmente brilharam, Toni deve ter percebido porque sorriu agachando-se a minha frente.
— Oh, TeeTee...
Gemi quando seus lábios beijaram os meus inferiores.
— Eu realmente amo você!
Declarei-me, apoiando as mãos atrás de meu corpo na mesa, sentindo a morena lamber toda a extensão de meu sexo antes de voltar a me chupar. Até o som se sucção que ouvia dela me excitava, a maneira que apertava minhas coxas e chupava meu clitóris estalando no final. Não demorou para minhas pernas estarem completamente abertas enquanto Toni me invadia com sua língua, remexendo de forma gostosa dentro de mim, fazendo-me soltar gemidos que já não segurava mais.
A minha respiração ficou ofegante, as pernas tremeram quando minha esposa começou a estimular meu clitóris com a ponta dos dedos e não demorei a relaxar em mais um orgasmo.
Ah, eu estava nas nuvens.
Toni voltou a erguer o corpo a frente do meu, recebi um beijo onde podia sentir meu próprio gosto. Nos separei chupando seu lábio inferior, suspirando de felicidade.
— Deus, você... – encarei os castanhos. — Você é incrível, amor.
— Se sente melhor? Quer mais um?
Sorri para ela, negando com a cabeça.
— Estou satisfeita. – lhe dei um selinho. — E agora que passou todo meu tesão, estou percebendo algumas marcas de cansaço.
Observei após analisar seu rosto.
— Nunca estou cansada pra você, Cherry.
— Mas sei que está, vamos pra casa que vou te encher de carinho.
— Me espera tomar um banho rapidinho e trocar de roupa?
— Claro, TeeTee.
Beijei seus lábios, ela sorriu.
Toni me ajudou a descer da mesa, abaixei o vestido e vesti a calcinha que graças a Deus foi parar em cima da cadeira. Sentei na mesma, a morena deixou-me sozinha e abaixei o corpo, retirando os saltos para aliviar a pressão em meus pés. Minha barriga está em um tamanho que ainda me permite fazer as coisas sozinhas, mas percebo que logo já não irá ser tão fácil assim.
— Meu Deus do céu... – a voz de Nathan me fez erguer o olhar pra ele. — Que cheiro de sexo.
Revirei os olhos.
— Madrinha, você veio aqui só pra dar? Caralho! A Chefe é tão boa assim?
Apoiou as mãos na mesa para encarar-me melhor.
— Se fosse você tirava as mãos da mesa.
— Eca!
Ele puxou rapidamente.
Não segurei a risada.
— Vocês deveriam ser um exemplo bom pra mim.
— Oh, preferia que eu não transasse?
— Não, mas que pelo menos respeitasse o local de trabalho. – franziu o nariz. — Mulher, você está grávida!
Acusou-me como se fosse um crime.
— Grávidas também sentem tesão e transam. – dei de ombros. — Aliás, estou morrendo de dor nos pés, será que pode me fazer uma massagem?
— Nunca vai parar com isso?
Perguntou puxando uma cadeira para sentar a minha frente.
— Com o que?
— Obrigar as pessoas a fazerem o que quer.
— Nathan, eu estou grávida!
Meu tom era óbvio enquanto colocava o pé sobre a coxa do garoto.
— Isso não é argumento, Madrinha.
— Grávidas podem tudo. – suspirei com sua massagem. — E no final, vocês sempre acabam fazendo o que a gente pede.
Pisquei para Nathan, o mesmo revirou os olhos.
×××
Cinco meses completos de gestação e teríamos nossa primeira consulta para tentar saber o sexo dos bebês, pedia a todos os universos para que nossos gêmeos colaborassem para aparecer no ultrassom e nenhum de perninhas fechadas.
Toni passou uma semana conversando diariamente com minha barriga para que hoje estivessem em uma posição favorável, que não aguentamos mais de curiosidade para saber se são meninos, meninas ou um casal.
E lá estava eu mais uma vez deitada na maca, com roupa de hospital enquanto tinha minha esposa segurando minha mão, Dr. Montgomery passava um gel em minha barriga, era gelado e me causava arrepios, mas estava concentrada na tela que nos mostraria nossos filhos.
— Tudo bem, vamos lá...
Dr. Montgomery colocou o aparelho sobre minha pele, deslizando por minha barriga cada vez maior. Em poucos segundos um som ecoou, eram batimentos cardíacos, não muito acelerados e de difícil entendimento já que haviam dois, se misturando um ao outro.
— Eles parecem ainda mais saudáveis. – Dr. Montgomery sorriu, troquei um olhar com Toni que beijou minha mão em resposta. — E vamos aos sexos, será que querem deixar vocês saberem?
— Ah, eles querem.
Toni falou em um tom autoritário, acabei rindo.
— Minha mulher está ansiosa.
Comentei, focando o olhar naquela tela onde – agora, conseguíamos ver bebês perfeitamente inteiros, cada um em seu saco gestacional e em posição fetal. Mesmo o ultrassom sendo acinzentado não conseguia deixar de me emocionar ao vê-los.
— Pelo que consigo ver, sairão as duas satisfeitas porque... – pausou deslizando novamente o aparelho em minha barriga. — É um pequeno casal de gêmeos.
— Oh, meu Deus... Então tem uma menina?
Não consegui segurar, nossa médica achou graça.
— Sim, Cheryl. – me olhou. — É uma menina e um menino.
— Eu sabia que teria um menino...
Toni sorriu ao falar, aproximando nossos rostos.
— Mas também tem uma menina, TeeTee.
— E eles serão ruivos! – falou com convicção, beijando minha boca. — Os bebês mais lindos do mundo.
— Disso não tenho duvidas.
Sorri, acariciando seu rosto.
Toni não parou de sorrir, selando nossos lábios novamente.
×××
O quinto mês também foi o mês das compras, contamos para nossos amigos sobre os gêmeos serem um casal, assim como para minha sogra e Samantha que ficaram tão eufóricas quanto nós. Os presentes aumentaram, mas não tínhamos o essencial: Um quarto para os bebês.
Nós esvaziamos um dos quartos da casa, deixando sem nada naquele local para começar do zero, inclusive a pintura. Tintas seriam necessárias, assim como luvas e proteções para o chão. Fiquei tão feliz quando Toni sugeriu que fizéssemos isso juntas, nós teríamos um tempo para nós e nossos bebês.
— Podemos parar no mercado? Quero um doce.
Pedi a Toni assim que saímos de uma loja de construção com todos os utensílios necessários para pintarmos o quarto dos bebês, havíamos acabado de entrar no carro e minha mão deslizava por minha barriga a acariciando – uma mania que minha sogra disse não fazer bem, mas não consigo evitar.
Desculpa, Katy.
— Amor, você não anda comendo muito doce?
— TeeTee.
Murmurei seu apelido, encostando a cabeça contra o banco do carro.
— Tudo bem, vamos no mercado.
Sorri em comemoração enquanto a morena dava partida.
— Agora que conseguimos comprar tudo, quando vamos pintar?
— Quando quiser, Cherry.
Balançou os ombros, concentrada na rua.
— Mackenzie está me dando um tempo a mais em casa.
— Falando assim até parece que aquela ogra tem um coração.
Resmunguei, Toni negou.
— Um dia vocês terão que se dar bem.
— Nunca.
Decretei.
Minha esposa apenas riu, sabendo que as implicâncias não irão parar até porque Mackenzie não faz questão. Mesmo no convívio de nossa casa e amigos, sempre trocamos farpas.
Quando chegamos ao mercado, Toni se ofereceu para ir sozinha e pegar o que desejasse, mas neguei. Ah, se soubesse... Nós adentramos junto o enorme e movimentado local. Andando pelos corredores atrás de qualquer coisa que continha açúcar ou chocolate. Os gêmeos amam.
— Cherry, vou no setor das frutas, ok? – a morena chamou minha atenção enquanto tentava escolher o que levar. — Acho que ouvi a Sam pedir por maçãs hoje.
— Tudo bem, TeeTee.
Minha esposa beijou carinhosamente minha bochecha antes de ir.
Concentrei-me na prateleira com barras de chocolate, biscoito, bala... Tantas variedades que no final, peguei meu tão amado pote de nutella e duas barras de chocolate. Bem, dei dois passos e voltei pegando mais uma ao lembrar de Samantha.
Caminhei para os setor das frutas a procura da minha mulher, assim que adentrei aquele corredor a vi, se abaixando junto de uma outra figura que só consegui identificar quando cheguei mais perto.
— Desculpa, não vi você.
Minha esposa se desculpava.
Toni estava de costas para mim e a mulher a sua frente rapidamente levantou o olhar, encarando fixamente a morena. A mesma estava tão distraída juntando o que havia derrubado que não percebeu a maneira que a ruiva até então desconhecida lhe analisava.
O meu coração disparou assim que a reconheci, lembranças e memórias que queria apagar, minha respiração falhou e pressionei os dedos contra o pote de nutella.
Sem perceber, estava estacionada a alguns passos delas.
— Você é a Toni... Toni Topaz?
Acordei ao ouvir sua voz.
Aquela maldita voz.
Toni erguia seu corpo junto da mais velha, sorrindo para a mesma.
— Sim, a lutadora. Você assiste U...
Iniciei passos apressados, assim que cheguei perto o suficiente aquela mulher me encarou, fiz questão de desviar o contato visual e segurar no braço da minha esposa.
— Vamos, Toni.
A puxei, dando as costas para a ruiva.
— Cheryl! Ei, eu estava...
— Não.
A encarei enquanto ainda a arrastava pelo mercado, em algum momento deixei meus doces caírem, mas não tenho ideia onde. Olhei para trás, tendo certeza que aquela mulher não nos seguia.
— Ela não é fã de UFC.
— O que? Mas... Espera! – franziu a testa. — Da onde você...
Respirei fundo.
Parei a frente da minha esposa.
— Você acabou de conhecer a sua sogra, Toni.
[ Oi.
Acreditem, desde a segunda temporada e durante essa terceira, um dos maiores pedidos durante os capítulos foi a volta de Penelope, depois sou eu que gosto de fazer vocês sofrerem né. 🤗
Enfim, como vocês acham que será a reação da Cheryl ao encontrar a "mãe" novamente?
E a Toni? Conheceu a sogra sem nem saber. 🙊
Pelo menos elas agora têm os bebês, um casalsinho pra agitar essa história e principalmente a vida delas.
Até mais. ]
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