Monotonia
Toni Topaz – Point Of View
Os momentos de fragilidade em meu casamento afetaram a minha vida profissional, era o esperado e o que já podia ver acontecendo. Os meus treinos diminuíram, acabei ficando mais cansada, mas agora que as coisas estavam voltando a se encaixar poderia focar em minha luta contra a Peaches.
— Toni, posso falar com você?
Willian apareceu quando estava aperfeiçoando meus socos e chutes, sinceramente o treinador só tem estado ali para meu apoio moral e incentivo, sempre faço o que bem entendo, tentando aplicar tudo que Dimitri me ensinou por esses anos.
— É muito importante?
Perguntei sem parar com os movimentos contra o saco de box.
— Sim, de uma pausa.
Pediu.
Suspirei, batendo uma última vez contra o couro e segurando o saco pra parar de balançar. Encarei Willian, o mesmo estava com uma planilha em mãos.
— Estive monitorando seus treinos, vendo como anda o desempenho e seu porte físico. – ele folheava as folhas enquanto falava. — Nós estamos um pouco abaixo do esperado e as chances de Peaches ganhar são grandes.
— Ela não vai ganhar, Willian.
— Tudo bem, temos que ser positivos, mas você precisa concordar que deveríamos estar mais focados.
Mordi os lábios, confiava em meu talento, mas infelizmente ele tinha razão.
— O que você sugere?
Meu tom não era nada satisfeito ao perguntar, William olhou para os lados para então, voltar a me encarar. As mãos para trás, aproximando o rosto do meu.
— Tenho alguns remédios que podem ajudar.
Sussurrou como em um segredo.
— O que? Você está louco? – arregalei os olhos. — Sabe que podem a qualquer momento bater aqui e pedirem um exame de sangue, você não carrega essas merdas, certo?
— Não, claro que não. – balançou a cabeça freneticamente. — Mas só aparece no exame se não tiver feito vinte quatro horas inteiras.
— Esquece, Willian. – pedi. — Não vou usar suas drogas.
Encerrei o assunto, voltando a atenção para meu saco de box, ouvi um suspiro ao meu lado quando retornei os movimentos. Ele só poderia estar louco, no mundo do UFC se você é pego pelo doping pode ter punição e ficar sem lutar pelo tempo que determinarem, não mancharia minha carreira dessa forma.
Duas semanas antes da luta...
Chegar em casa, ser recebida por Lion e procurar por minha esposa, essa é minha rotina diária após treinos cansativos. Amanhã é feriado, dia dos professores, dia da minha Cheryl. Iria me esforçar para passar o maior tempo com ela e lhe mimar como merece, as coisas estão caminhando para ficarem totalmente bem e me sinto feliz por nosso progresso.
— Cherry?
A chamei assim que adentrei o quarto.
— Oi. – ela apareceu saindo do closet. — Demorou hoje.
Falou mexendo em sua orelha, pelos movimentos provavelmente colocando um brinco. Cheryl estava linda em um vestido vermelho vinho, decote realçando os seios e comprimento que valorizava suas pernas. Os cabelos ruivos estavam soltos, sempre formando aqueles cachos ao final e o batom vermelho em seus lábios me faziam salivar para beija-la.
— Uau, e essa produção toda?
A analisava de cima a baixo.
— Você esqueceu. – revirou os olhos. — Avisei que teria uma comemoração com o pessoal da escola um dia antes do feriado dos professores.
Levei a mão a testa, observando a mesma terminar de colocar seus brincos enquanto suspirava, passos apressados foram dados em direção ao closet novamente.
— Precisamos mesmo ir? Estou tão cansada.
Falei a seguindo, a ruiva escolhia um sapato.
— Toni, sou a dona da escola. – seu tom era óbvio. — Nós vamos a um bar, só para nos reunirmos e podemos voltar cedo.
— Um bar?
Arqueei as sobrancelhas.
— Sim, qual o problema?
— Ficará exposta a bebidas.
Cheryl levantou o olhar, já havia um par de saltos em sua mão, balançou a cabeça em negação e caminhou novamente para o quarto. A observei sentar na cama, calçando os sapatos vermelhos.
— Não vou pedirem para trocar o lugar só porque sou uma alcoólatra, Toni. Foi escolha dos meus funcionários e não vou repreende-los por desejarem se divertir.
O tom da minha mulher não era nada agradável.
— Falei algo errado?
— É só que... – levantou já com os saltos nos pés. — Você está agindo como se não eu tivesse autocontrole nenhum.
— Cheryl, não quis dizer isso. – me defendi, mantendo a calma. — Só estou cuidando de você, amor.
— Cuidado demais as vezes é ruim também, sabia?
— Ok, você quer brigar?
Cruzei os braços, estreitando o olhar.
— Não, mas nem lembro qual foi a última vez que saímos para nos divertir, que fomos a alguma festa e dançamos, rimos, fizemos algo diferente.
— Você está entediada. – conclui, forçando um sorriso. — Sinto muito se não estou conseguindo tirar nosso casamento da monotonia.
— Pare de se vitimizar, Toni! – retrucou alterando seu tom. — Amo você e a nossa vida, sabe disso. Apenas estou te dizendo algo que sinto falta, fora que se saímos para um bar por exemplo quase nem nos divertimos porque você fica mais preocupada em me fazer não beber do que realmente aproveitar.
— Achei que esse era o objetivo: Te manter sóbria.
— O objetivo é você confiar em mim, que não estou a anos sóbria atoa e quero continuar assim. Se preciso de ajuda, eu peço, Toni.
— Entendi, me desculpa... Por tudo.
E lá vai mais uma para a lista de “sou uma péssima esposa”. A acusei de traição, sou controladora e faço nossa vida ser monótona. Estava começando a acreditar que havia um avanço, Cheryl estava mais aberta e quase chegamos ao ápice da normalidade, parece que acabamos de voltar a estaca zero porque me sinto uma merda.
— Não vai se trocar?
Perguntou após o silêncio.
— Na verdade, estou realmente cansada. – cocei a nuca, evitando encara-la. — Você se importa se eu ficar em casa?
— Não, tudo bem.
É claro que não se importa, é melhor que não tenha ninguém te controlando durante a noite toda, certo?
— Debora deixou o jantar pronto. – falou recolhendo suas coisas necessárias e colocando na bolsa. — Irei com meu carro e tentarei voltar cedo.
Colocou a bolsa no ombro, parando para me encarar.
— Até mais.
Aproximou-se, um selinho curto deixado em minha boca.
— Se divirta. – incentivei enquanto a mesma ia em direção a porta. — E... – parou no batente para me encarar. — Não se preocupe com o horário, apenas aproveite.
Sua cabeça balançou positivamente, concordando com minhas palavras e trocando um último olhar antes de ir. Assim que a porta do quarto fechou, atirei o corpo na cama e encarei o teto.
Simplesmente não sabia mais o que fazer para voltarmos oa ser o mesmo casal, termos as mesmas ideias e desejos. Nós fazíamos tudo ser fácil e agora, só dificultávamos. Nenhuma das duas parece ceder, porém é complicado quando após alguns minutos de pensamentos você nota que deixou sua esposa ir a um lugar e se divertir sozinha, sem você. Não é um crime, mas sinto que a liberdade que estou lhe dando está nos afastando cada vez mais e a sensação que tinha é de perde-la a qualquer momento, não para Maeve ou outra pessoa, mas para mim mesma.
Cheryl B. Topaz – Point Of View
As luzes baixas do bar e a música indie tocando me lembravam dela, a mulher que poderia estar ao meu lado e nós duas juntas nos divertindo noite a dentro. Me sentia com raiva, por não me acompanhar e principalmente por sempre querer me controlar de alguma forma.
Talvez as pessoas não entendam, mas quando temos uma doença a última coisa que queremos é ser tratados como doentes. Toni desde que viu minha primeira crise, não soube realmente como lidar, ela acha que a qualquer momento posso pegar um copo e beber álcool como antigamente. Não é assim, são momentos e raros que tenho aquela ansiedade por um copo de bebida.
Por muitas vezes me senti presa, controlada e doente, infelizmente essa sensação tinha sempre que a minha esposa evitava de que fôssemos a certos lugares, ou simplesmente não descolava de mim por medo. Sei quando estou propensa a ter uma recaída, sei quando posso pedir ajuda e principalmente sei controlar os desejos inadequados.
— Por que a Toni não veio?
Nicholas franziu a testa ao perguntar.
Estávamos sentados em uma mesa do bar, todo o pessoal da escola reunido. Rindo, conversando, bebendo e brincando. Sabrina sentada ao meu lado, reclamava de dor nos pés, Maeve no outro conversando com alguém e Nicholas ao lado da namorada.
— Ela não quis, anda treinando muito...
— Nesse período vocês ainda transam?
Sabrina me interrompeu curiosa.
— Spellman!
A repreendi.
— Só perguntei. – deu de ombros. — E pela sua reação provavelmente não.
— Você devia se meter menos no meu casamento.
— Sabe, grávida de sete meses tenho tido bastante tempo para ler e dizem que os dois primeiros anos do casamento são os mais difíceis.
— Ótimo! Me ajudou muito.
Balancei a cabeça em negação, cruzando os braços e encostando o corpo na cadeira.
Dois primeiros anos? Nós não chegamos nem a um ano de casadas e estamos nesse clima, imagina quando chegar um ano e meio? Deus, será que chegaremos a dois anos? Ah, Sabrina, odeio você.
Mentalizei para ignorar minha amiga grávida, focando em prestar atenção em outros assuntos dos funcionários. Todas pareciam se divertir, inclusive meus amigos, era uma boa noite e agradável, mas infelizmente as coisas em minha cabeça estavam em conflito.
Em um certo momento, levantei da mesa e disse que iria ao banheiro, mas acabei saindo do bar. O frio de Seattle é algo que me agrada muito, mas apenas quando tenho minha esposa para roubar sua jaqueta. Encostei-me na parede, abraçando o próprio corpo e encarando o movimento quase nulo. Não estava conseguindo distinguir meus sentimentos, tudo parecia confuso e para ajudar, Maeve resolveu fumar bem naquele horário.
— Oh, desculpa. – ela falou assim que me viu. — Não sabia que estava aqui.
Guardou a carteira de cigarro de volta ao bolso.
— Você pode fumar.
— Bom, tenho evitado isso perto de você desde que sua esposa...
Revirei os olhos.
— A Toni não sabe de nada, Maeve.
Balancei a cabeça, mantendo o olhar na rua.
— Problemas?
— Até demais.
Respondi sem encara-la.
— Ugh, isso é uma merda.
Parou ao meu lado, encostando o corpo na parede e acendendo o cigarro sem preocupações. Era isso! Maeve não tem medo de fumar perto de mim ou beber, sabe que tenho controle, sempre soube. Nos nossos dois meses juntas, ela “cagava” para meu histórico com bebida, e sim, eram exatamente essas palavras que usava.
— Você está a quanto tempo sem beber?
— Quatro anos, quase cinco.
— Nossa, pra um caralho. – tragou o cigarro com força. — A mesma coisa a nicotina?
— Não, nicotina faz mais tempo. – dei de ombros, virando para olha-la e a mesma me encarava. — Álcool é meu ponto fraco, o cigarro era mais...
— Charme?
Sugeriu, rindo.
— Talvez.
Murmurei, sorrindo de canto.
O cheiro que vinha de Maeve era uma mistura boa do seu perfume barato e a fumaça de cigarro, me lembro da mais nova dizer que nunca gastaria com coisas de luxo, é uma diferença da minha esposa que é tão vaidosa quanto eu.
— Nossa, daria tudo pra ver você fumando. – comentou, tragando o cigarro no canto dos lábios e sem tirar o olhar do meu. — Deve ser uma cena fodidamente sexy.
Soltou a fumaça, sempre mantendo o contato de nossos olhares, Maeve tem algo nela que me prende, ainda não sei se é porque me lembra tanto a Toni de Riverdale ou se é realmente ela, o seu jeito, a sua postura, a maneira que não da a mínima se estou casada. E só Deus sabe o quanto estava com vontade de fumar naquele momento, de me libertar e ter um alívio momentâneo, fazer uma loucura sem pensar nas consequências.
Sair da monotonia.
— Bom, se eu fumar você precisa voltar lá pra dentro e fazer uma dança em cima da nossa mesa.
— Está brincando?
Sorriu não acreditando em minhas palavras, me mantive séria.
— Você não fuma nem fodendo, Blossom. – riu, revirei os olhos. — Qual é? Você é muito certinha pra isso e a Toni com certeza...
Não esperei a mesma terminar de falar, pegando o cigarro que estava entre seus dedos e o trazendo para meus lábios. Um movimento rápido, uma tragada com força e que após tantos anos sem experimentar, acabei tossindo. Maeve estava de boca aberta enquanto tentava me recuperar.
— Cigarro de menta? Sério?
Arqueei as sobrancelhas.
— O que foi? As mulheres adoram.
— Me de um novo pelo menos.
Pedi, fazendo sinal com a mão.
— Blossom, estou surpresa. – falou pegando sua carteira de cigarro. — Não esperava isso de você.
— Fumar um dia não ira me matar.
Dei de ombros.
Maeve riu, balançando a cabeça e me estendendo um cigarro. Ela acendeu o isqueiro, me aproximei para pegar a chama no cigarro, o olhar da mais nova em mim era maravilhado e quando percebi que as coisas pareciam ir para outro rumo, me afastei já com o cigarro aceso.
— Vai ter que dançar na mesa.
Soltei a fumaça após tragar a nicotina, sentindo meus pulmões doerem um pouco depois de tanto anos sem ter o contato. Maeve resmungou, não dando a mínima para ter perdido o desafio.
A gente não precisou falar mais nada, um clima leve se instalou enquanto cada uma fumava seu cigarro. Assim que terminei o meu, entrei para o bar dessa vez realmente indo ao banheiro. Dei uma olhada na maquiagem, ajeitei o vestido em meu corpo e passei os próprio dedos nos cabelos, quando voltei para dentro do estabelecimento haviam alguns gritos eufóricos.
Maeve estava cumprindo o que lhe desafiei, a mesma dançava em cima da mesa ao som de um rock, tentando seduzir nossos colegas de trabalho e não quebrar nenhum dos copos e pratos sobre a madeira. Fiquei de longe assistindo, rindo comigo enquanto a mais nova fez questão de me atirar um beijo ao piscar.
A noite ficou ainda melhor, tive vontade de passar muito mais tempo com aquelas pessoas e me divertir com elas. Não me sentia culpada, presa ou controlada, estava livre. Era algo que mal sabia explicar, mas naquela noite me senti realmente bem, algo que não me sentia a várias semanas.
×××
Cheguei em casa feliz, de verdade, leve e sorridente. Foi uma noite boa, com amigos e pessoas que me divertiram. Me senti animada, renovada e jovem novamente, era uma sensação incrível.
Adentrei a casa em passos lentos, acendendo luzes para conseguir enxergar o caminho. Passei na cozinha, bebi um copo com água e continuei a caminhada para o quarto. Assim que entrei na sala, vi a televisão ligada, um jogo qualquer parado e com letras grandes escrita “game over”.
Minha testa franziu, me direcionei para frente do sofá e enxerguei minha esposa deitada, os olhos fechados indicando seu sono. Havia um controle jogado no chão, Lion estava deitado no tapete a observando e não demorou a apontar as orelhas ao me ver. Retirei os saltos, tentando fazer o mínimo barulho possível.
De pés descalços me aproximei do sofá, me enfiando no menor espaço que tinha ao seu lado. Toni dormia com a mão abaixo do rosto, virada de frente para mim e não consegui conter minha vontade de beija-la, distribui selinho por todo seu rosto até chegar nos lábios. A morena já resmungava, acordando aos poucos.
Segurei em sua nuca, pressionando a boca contra a sua e suspirando, eu a queria. Toni acordou se afastando, sua expressão estava assustada, mas suavizou assim que me viu.
— Hey. – coçou um dos olhos. — Como foi sua noite?
— Ótima. – sorri com seu tom rouco. — Mas pode acabar melhor ainda.
Falei, impulsionando o corpo para ficar a cima do seu.
Não dei tempo para a lutadora responder, colocando nos lábios sobre os seus e os movendo para aprofundar o beijo. Gemi de satisfação com o entrelaçar de nossas línguas, mexendo meu corpo para esfregar no seu.
Infelizmente, Toni parecia não ter a mesma sensação ou vontade.
— Que gosto é esse?
Franziu a testa ao nos separar.
— Porra, não acredito...
Murmurou, deslizando o nariz por meu pescoço e descendo para o tecido do meu vestido. Revirei os olhos, levantando de cima dela e ficando em pé, havia até mesmo esquecido daquele cigarro.
— Você fumou?
O sono pareceu sumir, erguendo-se para ficar a minha frente.
— Toni, não quero discutir.
Relaxei os ombros, abaixando-me para perto dos saltos.
— Você só pode estar brincando, certo? – ela riu, fechei os olhos por alguns segundos, deixando os calçados de lado e ajeitando minha postura para encara-la. — Por que fez uma merda dessas, Cheryl?
— Porque eu quis, Toni! – explodi com ela, vendo seus braços cruzados demonstrando o julgamento contra minha atitude. — Porque estava me divertindo com meus amigos, tive vontade e fiz. Pronto. – a mesma negava com a cabeça. — Sabe a quanto tempo não aproveitava uma noite assim?
— Não, não tinha idéia! – o seu olhar estreitou. — Sinto muito que a vida de casada esteja sendo uma merda pra você, mas sorte a nossa que se divertiu apenas com nicotina e não com álcool, não é?
Arqueou as sobrancelhas.
— Está se superando em ser babaca. – cuspi as palavras contra ela. — Foi somente um cigarro, Toni, mas você não entende. – pressionei os lábios, balançando a cabeça em negação. — Estou cansada dessa sua bolha protetora, sei muito bem me cuidar e as vezes só quero me sentir livre. Não como uma doente que mal pode sentir o cheiro do álcool ou aspirar uma fumaça de cigarro.
— Ótimo momento pra me contar que te sufoco, isso faz o que? Anos? Poderia ter me contado antes, sei lá... Quando te pedi em casamento, quem sabe?!
O seu tom de deboche me cansava, irritava, fazia minha cabeça doer. Toda a situação já era uma droga, mas aparentemente tudo conseguia piorar inclusive nós duas.
— E por que iria te falar? Pra você me acusar novamente de ter um caso?
Perguntei, sem ao menos conseguir pensar.
— Você ainda não me perdoou por isso. – riu ironicamente. — Fazem quase três fodidos meses que estou tentando conseguir o seu perdão só por uma fala errada, sem pensar, mas... Porra! Você parece que não quer me perdoar, Cheryl.
— Acha mesmo que não quero? Que quero ficar nesse clima horrível todos os dias, que quero ficar sem transar a quase um mês ou ter medo de falar qualquer coisa porque vai virar isso.
Apontei para nós, referindo a briga.
— Não sei o que quer de mim, sinceramente. – falou, sentando no sofá e enfiando as mãos nos cabelos. — Se está tão ruim, por que diabos ainda está comigo?
— Porque amo você, idiota!
O meu tom falhou, as lágrimas vieram com força e um soluço escapou por entre meus lábios, dando início a um choro que estava guardado a tanto tempo que nem fazia ideia.
Um silêncio perturbador, quebrado apenas por suspiros e soluços das duas partes tomou conta do cômodo. O meu coração estava em pedaços porque eu a amo, a quero, mas por vezes me faz sentir sufocada. Infelizmente aquela acusação sobre ter um caso com Maeve ainda estava fresca em minha memória e o pior, é que talvez tivesse toda razão, que a “pirralha” poderia de alguma forma me conquistar.
— É engraçado você falar que me ama... – ela fungou, levantando o olhar. — Depois de apontar todos defeitos do nosso casamento, todas as coisas que faço de errado e sinceramente parece que nem quer estar comigo, Cheryl.
— As vezes me sinto presa. – confessei. — Não sei porque, mas é como me sinto e hoje a noite... Eu estava livre, fumei sem ter nenhum olhar julgador em cima de mim ou...
— Você fumou com ela?
Interrompeu-me, o olhar compenetrado no meu.
— O que importa?
— Realmente, nada mais parece importar.
Balançou a cabeça, limpando as lágrimas que caíam.
— Estou tão puta que qualquer coisa que sair da minha boca agora vai ser pra te machucar, é melhor termos um tempo para voltar a conversar.
Levantou, dando o primeiro passo, mas parando e girando os calcanhares para me encarar.
— Irei dormir no outro quarto, não quero te sufocar a noite.
Abriu um sorriso irônico, dando-me as costas.
Poderia gritar para voltar, iniciar outra discussão apenas por essa frase dita, mas não tinha forças ou coragem. Estava completamente exausta das brigas, do clima, da nossa relação se desgastando. Odiava essa situação, a maneira que me encarava, fui sincera – talvez não totalmente, mas era horrível o jeito que um pouco da minha sinceridade já a machucava.
— Você pelo menos vai dormir comigo?
Encarei o cachorro que choramingou em resposta.
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