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Jantar, crise e divórcio

Com quatro meses de casadas, Cheryl e Toni estavam finalmente morando em uma casa só delas. Mobiliaram e decoraram tudo como queriam. A ruiva tinha uma sala de música só pra ela enquanto Toni conseguiu fazer uma pequena academia para treinar com os aparelhos e utensílios mais necessários na estrutura nos fundos da casa, com direito a sauna após os exercícios cansativos.

O local enorme não exigia apenas moveis, após três dias na nova casa, as duas perceberam o quanto teriam dificuldade em mantê-la limpa e se alimentarem devidamente, suas profissões tomavam muito tempo. Toni estava novamente em busca de um treinador e as coisas na escola continuavam em uma correria sem fim. Depois de conversarem decidiram contratar funcionários, dinheiro não era problema para nenhuma das duas, a lutadora mesmo tendo bancado tudo da casa, ainda tinha reservas em sua conta. Marina havia contratado um contábil muito bom para suas finanças.

Cheryl ficou responsável por entrevistar as empregadas, uma para ir somente em um dia da semana e dar uma geral na casa, outra para todos os dias onde faria suas refeições e manteria os cômodos limpos. A primeira foi fácil, recrutou uma mulher que aparentava ter experiência e ser dedicada, esperava não se arrepender de tê-la dado uma chance. Não manteriam muito contato, apenas uma vez na semana era quase provável que nem se veriam e a ruiva deixou claro que a empregada do dia a dia seria responsável por recebê-la.

A segunda foi difícil, quer dizer, Cheryl era difícil. Se sentindo uma dona de casa e com duas crianças: Toni e Leo. Precisava ter muita confiança na próxima contratada, analisou muito bem os currículos, passou quase uma noite inteira para eliminar todas que não lhe agradavam. Sobrou somente três, com quem marcou horários respectivos. A primeira a ser entrevistada falava demais, algo que a irritaria logo de manhã cedo, já a segunda gostou logo de cara...

— Debora, sua reputação parece incrível e sem defeitos! – a ruiva a elogiou, um sorriso enorme no rosto. — Quer dizer, as recomendações são ótimas, experiências nas casas são longas e nossa conversa está só melhorando.

— Fico feliz, senhorita Topaz.

Também sorriu, queria muito o emprego.

Debora era mais velha, idade para trabalhar como Cheryl queria apenas cozinhando e fazendo coisas leves era o máximo que seu corpo lhe permitia. Perto dos cinquenta, da pele morena e olhos claros, tinha um sorriso aconchegante, que lembrava muito Mary, a protetora da Blossom na adolescência.

— Pode me chamar de Cheryl ou como preferir. – deu de ombros. — Geralmente não confio muito nas pessoas, mas só de olhar pra senhora tenho certeza que cuidará muito bem da minha casa.

— A senhorita... – parou ao ver a mais nova arquear as sobrancelhas. — Cheryl. Está querendo dizer que...

— Veja bem. – a ruiva iniciou levantando seu corpo. — Podemos ter uma experiência, havia mais uma pessoa para entrevistar, mas irei cancelar e bom, vou mostrar um pouco do lugar.

Indicou o caminho, a mais velha rapidamente assentiu, levantando para acompanhar Cheryl que começou no andar debaixo, mostrando sala, cozinha, sala de jantar e de musica, foram para o segundo andar, onde a ruiva lhe mostrou os quartos deixando o seu e da esposa por último.

— A senhora deve saber que somos um casal homoafetivo, certo?

Cheryl a encarou enquanto a mesma corria o olhar pela suíte.

— Isso quer dizer duas mulheres?

— Sim. – a ruiva riu ao falar. — Espero que não seja um problema.

— Não, tenho uma neta assim. – deu de ombros. — Ela ainda não se decidiu se quer meninos ou meninas, aquela vai dar trabalho...

— Bom, talvez nunca se decida e sempre queira os dois.

Cheryl respondeu naturalmente, Debora a olhou, as sobrancelhas arqueando aos poucos e logo após os olhos arregalando em direção a futura chefe.

— Meu Deus, não, não... – se apressou em dizer. — Ela não vai casar com um menino e uma menina, não quis dizer isso.

— Me assustou, senho... Cheryl!

Levou a mão ao coração e as duas riram.

— Sua neta deve ser bixessual, gosta de meninos e meninas, mas provavelmente se relacione com um por vez.

— Você é assim, menina?

Franziu a testa, a ruiva sorriu por dentro.

Do jeitinho que Mary a chamava.

— Não, gosto apenas de mulheres. – explicou com paciência, mordendo os lábios alguns segundos depois. — Na verdade, Debora. Eu amo a minha mulher. Não têm nenhuma outra, somente ela.

— Parece feliz.

A mais velha notou, o sorriso nos lábios ao falar da esposa era difícil de ignorar, o brilho nos olhos e a necessidade de dizer ser dela.

— Eu sou muito, graças a ela. – caminhou pelo quarto. — Aliás, só preciso lhe fazer uma objeção antes de descermos para conhecê-la.

Dentro do closet, as duas foram até as prateleiras, gavetas, cabides. Cheryl lhe explicou onde ficava as roupas de treino de Toni, as suas roupas, os tantos sapatos e uma gaveta em especial.

— Bom, preciso deixar claro que não pode de jeito nenhum mexer aqui. – Debora assentiu. — São coisas nossas, bobagens, mas que não queremos ninguém além de nós organizando, tudo bem?

Cheryl tentou ser o mais calma possível, a mais velha assentiu, ficando com um pouco de curiosidade, mas com certeza acatando aos pedidos da ruiva. A mesma sorriu, convidando a mais nova frequentadora da casa para conhecer a parte externa onde tinha visto Toni pela última vez. Lembrava de ver a mesma em uma esteira, correndo incansavelmente enquanto tinha fones no ouvido. Quando voltou a situação era bem diferente.

Toni havia acabado de se jogar na piscina para pegar Lion que caiu ao se aproximar demais, a morena agiu com instinto, já havia terminado seu treino e estava descansando sentada com os pés dentro da piscina quando percebeu o desiquilíbrio do animal junto do barulho na água.

— Essas são as minhas crianças.

Cheryl falou ao chegar junto de Debora, a lutadora estava completamente molhada checando Lion no mesmo estado e perguntando se estava tudo bem com o mesmo. A mais velha soltou uma risada, era engraçada a situação de Toni falando com o animal.

— Oi, sou Toni... – a morena se aproximou das duas, Lion já corria para se rolar na grama. — Desculpa meu estado, nosso cachorro da um pouco de trabalho.

— Debora. É um prazer e não se preocupe.

— Só pra deixar claro, o cachorro é dela. – Cheryl enfatizou. — Ele é enérgico, não para nunca e está sempre querendo brincar, a senhora não precisa fazer as vontades do Leo.

— É Lion!

Toni rosnou.

— Desculpe, Leo ou Lion?

Debora franziu a testa.

— Ele atende pelos dois. – Cheryl foi mais rápida ao responder, dando de ombros. — Pode chamar como preferir.

— Se chamar de Lion posso aumentar seu salário.

Toni sugeriu, a mais velha arqueou as sobrancelhas.

— Antoniette! – Cheryl ralhou com ela. — É uma criança, a senhora não precisa levá-la a sério. Vamos lá dentro, iremos conversar sobre quando começa e o salário.

— Me diga quanto ela ofereceu que ofereço mais.

Toni sussurrou apenas para Debora que riu, negando a fala da lutadora.

Era mesmo uma criança.

×××

Cheryl abria os olhos aos poucos, sentindo beijos por toda extensão de seu rosto enquanto espreguiçava o corpo na cama. Os castanhos de Toni estavam bem acima dos seus, um sorriso lindo nos lábios para acordar a esposa da melhor forma.

— Bom dia, Cherry.

Beijou os lábios da ruiva.

— Bom dia, Tee.

Seu tom rouco e arrastado demonstravam a preguiça.

— Você tem que trabalhar, combinamos de tomar café juntas hoje, lembra? O primeiro preparado pela Debora.

— Eu sei, eu sei.

Murmurou, virando o corpo para o lado e agarrando-se ao travesseiro que antes era Toni que estava deitada. O cheiro da morena invadiu suas narinas, os olhos se fecharam e desejou ficar ali o dia inteiro.

— Cheryl, deixe de ser preguiçosa.

Toni a repreendeu, puxando o corpo da ruiva para virar de barriga para cima. A mesma revirou os olhos, pegando na mão da lutadora que estava sentada na cama e a trazendo para deitar ao seu lado.

— Podemos ficar de preguiça juntas.

Cheryl falou, enlaçando o corpo da esposa com braços e pernas, a encurralando para não sair do seu abraço. Toni resmungou, por outro lado amando ser presa pela mulher.

— Amor, precisamos levantar.

— Você é uma chata.

A ruiva reclamou.

— Acredite, não sou eu a chata desse casal.

Riu ao falar, recebendo um tapa logo nas primeiras horas do dia. Cheryl embrabeceu, ganhando muitos beijos para desmanchar a cara emburrada e finalmente levantar da cama. Fez sua higiene, arrumou sua bolsa e desceu junto com a mulher e Lion para o café da manhã. Era o primeiro dia de Debora na casa, a ruiva lhe explicou horários, confiou a mesma uma chave da porta da frente e lhe instruiu no que pode.

— Bom dia, Debora.

Cheryl desejou ao adentrar o cômodo.

— Bom dia, Cheryl. – sorriu ao se aproximar da mesa. — Está servido o café, se precisarem de mais alguma coisa...

— Não, está ótimo.

A ruiva a interrompeu ao sentar na mesa repleta de alimentos.

— Aliás, meu café é sempre rápido antes do trabalho, não precisa se preocupar em prepara-lo com tantas coisas.

— Tudo bem. – assentiu. — Oi, Lion.

Debora acariciou o animal, Cheryl encarou a esposa sentada ao seu lado e a mesma tinha um sorriso vitorioso nos lábios. Esperou a mais velha sair em direção a cozinha, servindo sua xícara com café preto.

— Quanto ofereceu a ela? E quando?

Arqueou as sobrancelhas.

— Antes de você acordar nós conversamos. – Toni deu de ombros. — E não importa o quanto ofereci, foi mais do que você e agora Lion vai se acostumar com o verdadeiro nome.

— Para mim ainda é Leo.

— Até não te atender mais. – a morena riu em deboche, Cheryl revirou os olhos. — Vamos chamar o pessoal hoje?

Perguntou, lembrando da conversa que tiveram ontem a noite sobre trazer seus amigos para um jantar e apresentar a casa. Não tomaram uma decisão por causa de Veronica e Betty, havia um certo receio das duas não conseguirem se manter no mesmo local sem uma discussão.

— Não sei se é uma boa ideia, mas amanhã é sábado e seria bom reunir todos. Sinto falta de nossos encontros em grupo.

— Isso é um sim?

Toni estava esperançosa.

— É, mas com muito medo do que pode acontecer.

Suspirou ao falar, enquanto o divórcio não fosse definitivo e as duas não estivessem realmente de bem uma com a outra, não iria ter certeza de nada. Esperava que tudo desse certo, queria um momento bom com os amigos, como antes de toda essa confusão.

×××

No começo da noite, Nicholas, Jughead, Veronica e Sabrina já se encontravam na casa das Topaz. Faltava apenas uma pessoa para chegar, mas Toni nem tinha certeza se a melhor amiga viria. O clima estava bom, a gelada Seattle tinha um ar mais ameno e permitia todos ficarem na área externa. Cheryl conversou com a esposa sobre a empregada que acabará de contratar, era perfeita e a amou ainda mais hoje, deixou tudo pronto para o jantar, saladas e um doce de sobremesa, sendo assim só precisavam da carne que Nicholas assava na churrasqueira.

— É sério, eu amei nossa casa inteira.

Toni confessou, abraçada a ruiva que não tinha previsão para solta-la também. Do outro lado da piscina, observavam os amigos rirem uns com os outros.

— De verdade? Você nem quis escolher nada.

Cheryl a encarou, tocando em seu rosto.

— Não quis porque o gosto da minha esposa é maravilhoso, aliás adorei que tenha feito um cantinho apenas para as minhas vitórias na sala.

Sorriu ao falar, os cinturões, troféus e medalhas de luta que conquistou até aqui estavam todos expostos em uma armário de vidro. Cheryl o posicionou na sala, o cômodo principal da casa.

— É que tenho tanto orgulho da minha campeã.

— Tem?

— Muito! – respondeu com rapidez. — Ainda parece ser um sonho que me casei com Toni Topaz.

— Ainda parece um sonho que você é uma Topaz.

Toni suspirou ao falar, rendida pelos castanhos tão fixos nos seus ao se declarar. A ruiva sorriu, juntando seus lábios e a beijando. O tempo entre as duas tem sido escasso, Cheryl tem a escola e a morena está a procura novamente de um treinador, mas sempre que podiam aproveitavam cada segundo juntas como no momento.

— Estranho seria se nada nos atrapalhasse.

Cheryl murmurou ao ouvir a campainha, Toni lhe beijou uma última vez, correndo para atender a porta com Lion no seu enlaço. Só faltava uma convidada e lá estava ela, Betty Cooper parada a sua frente.

— Que casarão, Topaz!

Falou de primeira, a menor riu revirando seus olhos.

— É difícil ser rica, sabe? Foi quase impossível escolher...

— Escolher? – a loira adentrou a casa. — Aposto que nem deu opinião em nada e quem decidiu foi a Cheryl.

— Talvez você tenha um pouco de razão. – fez um gesto com a mão, as duas riram. — Vem, vou te mostrar tudo.

Puxou a amiga pela mão, a levando a cada canto da casa para que conhecesse. Betty ficou maravilhada com o tamanho e luxo do local, surpresa ao perceber que era maior ainda por dentro.

Ao chegarem na parte externa, o riso de Veronica se sessou na hora que viu a loira, Toni por alguns segundos se arrependeu de sugerir o jantar, mas logo depois enturmou suas amigas com as pessoas certas. Betty mal olhou para a – até então, esposa. Cheryl trocou olhares apreensivos com a lutadora, mas formaram alguns grupos de conversa sendo Betty, Jughead, Toni e Nicholas, Sabrina, Cheryl e Veronica. As únicas que não mudavam de lugar eram Betty e Veronica, claramente se evitando.

Quando o jantar ficou pronto, as anfitriãs deram graças a Deus. Encaminharam todos para sala de jantar onde Debora deixou a mesa preparada para os convidados, Cheryl não se cansava de enche-la de elogios.

— Ela me lembra a Mary por isso gostei tanto.

Comentou com a melhor amiga, se deliciando com o que havia em seu prato. Todos estavam em conversas paralelas, Cheryl até cedeu ficar longe da esposa para terem um final de noite agradável.

— Vocês vão precisar de alguém para aquela piscina. – Nicholas falou em meio a conversa da ruiva. — Tenho um contato mando pra vocês depois.

— Estava pensando em colocar uma segurança em volta dela, o Lion caiu ontem na água.

Toni falou visivelmente preocupada.

— Viu? Trata como se fosse uma criança.

Cheryl resmungou com Veronica que riu.

— Ah, eu tenho uma novidade. – Jughead falou chamando a atenção de todos. — Nossa editora foi indicada a uma categoria do prêmio Pulitzer, é só uma indicação, mas...

— Vocês foram indicados ao Pulitzer?

Cheryl e Sabrina perguntaram juntas, trocando olhares surpresos. O prêmio é de Nova Iorque com categorias em jornalismo, literatura e composição musical, é claro que a ruiva conheceria.

— Sim, saiu essa semana a lista.

Betty concordou, recebendo os parabéns de Toni mesmo que não entendesse o que significava esse tal Pulitzer.

— Isso é sério? Parece incrível.

Veronica elogiou, atraindo o olhar da loira.

— Pois é, Lodge. Todos tem carreiras brilhantes aqui. – o tom irônico saindo por entre os lábios. — Diferente de você, sempre soube dividir muito bem minhas prioridades.

Forçou um sorriso, cansada de disfarçar o quanto a presença da ex lhe incomodava.

— B...

Toni tentou acalma-la.

— Sabia que isso não daria certo. – Veronica bufou, levantando o corpo. — Não deveria ter vindo.

— É, vai lá transar com uma qualquer!

Betty a acusou, levantando para focar o olhar na morena.

— Já disse que não tive caso...

— Não estou falando disso e sim da sua forma rápida de superar o fim do casamento, é tão fácil para você, né?

Arqueou as sobrancelhas.

Veronica encarou Cheryl, se perguntando como a loira descobriu, mas o olhar da melhor amiga estava na lutadora que encolheu o corpo na cadeira, silabando um "desculpa". A ruiva balançou a cabeça em negação, soltando um suspiro profundo.

— Não se preocupe, afinal, não era como se já não esperasse.

Betty chamou sua atenção novamente.

— Quer saber, Cooper? – o tom de Veronica se elevou. — Estou cansada de você me acusar sempre, o nosso casamento estava uma merda! A culpa não era só minha, nunca me apoiou em nada na minha profissão, recusei várias oportunidades por sua causa. Agora, não preciso recusar mais nada e não me arrependo disso, de nada na verdade. Eu quero um tempo pra mim, pra me reconhecer e crescer na minha carreira.

— Poderia ter me avisado antes, teria pedido o divórcio bem mais cedo. – Betty retrucou, tentando não parecer abalada com as palavras da morena. — E não sei o que mais você quer, Veronica. Já está no ápice da sua profissão, a tão sonhada cirurgia geral é sua, o que diabos mais quer? Ser premiada? Inventar a cura do câncer? Abrir um...

— Eu quero ir pra guerra.

Veronica a interrompeu, o tom firme e alto fazendo todos na mesa direcionarem seus olhares para a mesma. Betty abriu a boca, os lábios tremeram e sentiu suas pernas fraquejarem. Cheryl encarava a melhor amiga sentindo o coração saltar no peito, ela nunca havia mencionado nada do tipo.

— Não está falando sério.

— Estou, Betty. – respirou para falar. — Tenho pensado a muito tempo nisso e agora finalmente me alistei.

— Muito tempo? Você nunca me falou nada!

A loira gritou, as lágrimas aparecendo em seus olhos.

— Por que será? – o tom da morena era irônico. — Nunca me apoiaria, Betty.

— Claro que não! Além de salvar vidas agora quer dar a sua por outras? Você ao menos pensou em mim, Veronica? Como me sentiria com isso?

Betty desabou, um soluço escapou por entre os lábios e um choro que estava guardado foi liberado sem receios. Toni prontamente levantou, acolhendo a amiga em seus braços e tentando acalma-la.

— Acho que esse jantar acabou.

Nicholas falou em meio ao silêncio e choro agudo de Betty. Veronica levou as mãos ao rosto, soltando o ar. Cheryl que até o momento estava estática, apoiou as mãos na mesa, forçando para levantar o corpo que parecia não obedecer nenhum dos seus comandos.

— Scratch tem razão, o jantar acabou, sinto muito, mas quero todos fora daqui.

Toni a olhou, quando a ruiva chamava qualquer um pelo sobrenome não era um bom sinal, junto de seu tom completamente duro parecia quase ser o apocalipse. Todos começaram a levantar, a lutadora disse que Betty não precisava ir agora, sentando a mesma de volta em sua cadeira e lhe alcançando um copo com água.

— Você fica.

Cheryl rosnou para Veronica assim que a mesma fez menção de ir embora. A morena estremeceu ao ouvir a melhor amiga, sentando de volta em uma cadeira ficando e frente para Betty que ainda tentava se recuperar.

Aos poucos, os outros três já não estavam mais presentes, se despediram com acenos e palavras curtas. Cheryl não retribuiu nada a ninguém, Toni estava temendo ao que a esposa poderia fazer. Poderia jurar que os castanhos da ruiva pegavam fogo e o incêndio seria em Veronica.

— Quando caralhos você ia me contar que vai pra guerra, Lodge?

Cheryl esbravejou contra a melhor amiga, liberando toda sua raiva, mágoa e chateação por não ser avisada antes, pior, nem mesmo ser avisada.

— Cheryl...

— Você não vai, nem pensar. Eu não vou deixar!

— Olha, é algo que realmente quero, por favor, não seja mais uma a tentar me impedir.

Suplicou a ruiva.

— É ótimo saber que em dez anos te impedi de tanta coisa. – Betty se pronunciou, levantando o corpo. — Eu te odeio definitivamente e não vejo a hora de assinarmos aqueles malditos papéis!

Pegou sua bolsa, afastando-se da mesa e caminhando para a saída. Toni a seguiu, parando a amiga antes que a mesma saísse pela porta. Não tinha ideia do que faria, não podia de maneira alguma deixar Cheryl sozinha com uma notícia dessas, mas e Betty? Também não poderia deixa-la ir embora.

— Ei, por que não dorme aqui hoje? Provavelmente Veronica será banida dessa casa depois disso.

Toni brincou, tentando descontrair a amiga que limpava os resquícios de lágrimas que escorriam por seu rosto. Tinha cada vez mais certeza que não havia mais volta o seu casamento.

— Preciso ficar sozinha. – falou, suspirando. — E seria horrível ter que ver você e Cheryl cheia de amores quando a mulher que amo não da a mínima para meus sentimentos.

— Betty... Quer que vá com você?

— Não, quero ficar sozinha, de verdade. – decretou. — Cuide da sua esposa, vai doer tanto quanto está doendo pra mim.

— Bom, a Cheryl tem um jeitinho de lidar com a dor e...

Parou de falar, ouvindo um grito da ruiva vindo da sala de jantar. Não identificou o que era, mas arregalou os olhos, estava com medo do que encontraria.

— É melhor ir, prometo ficar bem. – Betty a abraçou. — Boa sorte.

Sussurrou.

— Obrigada, me mande mensagens.

Se despediram uma última vez, Toni a observou entrar no carro e dar partida. Fechando a porta em velocidade recorde e correndo para onde sua esposa estava. Era um caos. Veronica e Cheryl disparavam argumentos uma contra a outra, Lion estava deitado ao lado da ruiva com as orelhas abaixadas assustado com a confusão.

— Você nunca me falou nada disso, Lodge!

— Estava esperando o momento certo, será que não entende? Eu sei que as coisas com você são complicadas, Cheryl. Fiquei com medo de te contar e ter uma crise.

— E acha que não estou tendo agora? – a ruiva gritou, contendo as lágrimas que queria soltar. — Que porra, Veronica. Eu sou sua melhor amiga a vida toda, você me salvou no momento mais importante e agora não estarei por perto para te salvar.

— Cheryl, eu só...

— Não quero mais te ouvir!

Decretou, interrompendo a morena e desviando seus olhares.

Veronica encarou Toni que não sabia como intervir ou ajudar, Cheryl jogou o corpo na cadeira sentindo sua cabeça doer. Por mais que quisesse chorar por horas, não faria, a melhor amiga não merecia suas lágrimas.

— Toni, por favor.

Pediu ajuda a lutadora.

— Não meta minha esposa nisso. – Cheryl elevou o olhar, a raiva voltando a correr por suas veias. — Vá embora antes que morra por minhas mãos em vez de por tiros ou bombas.

— Vou ir porque sei que vai precisar de um tempo. – suspirou, pegando sua bolsa. — Não irei te deixar, Cheryl, sei que é isso que pensa, mas não é verdade. Só quero ter essa experiência, sempre continuarei sendo sua melhor amiga e espero que entenda minha decisão. Eu te amo, de verdade.

A ruiva que estava a encarando, desviou novamente os olhares assim que a morena terminou de falar. Focou em qualquer coisa, menos na melhor amiga que agora caminhava para a saída, Toni a acompanhou levando a mesma até a porta.

— Ela precisa se acostumar com a ideia.

— Eu sei. – Veronica sorriu fraco. — Você me entende, não é?

— De verdade? – a morena assentiu. — Acho que sim. Quando me separei da Cheryl por causa do alcoolismo, fiquei magoada e tão brava por seu erro, mas olha o quanto foi importante para nós... Ela se transformou em alguém muito melhor, se reconheceu e se amou. Quem sabe essa experiência não faça isso com você?

— Só precisava de um "entendo", mas você realmente conseguiu me deixar melhor. – sorriu ao falar. — Cuide dela, ok?

— Pode deixar.

Toni piscou, se despedindo de Veronica.

Respirou fundo, fechando uma última vez a porta e a trancando. Caminhou em passos lentos até a sala, Cheryl continuava sentada a mesa, uma taça com água em uma mão e a outra com o punho fechado. Seu olhar parecia longe e Toni foi cautelosa ao se aproximar.

— Amor.

Tocou no ombro da esposa.

Nenhuma das duas sabe explicar ao certo o que aconteceu, mas Cheryl parecia tão distante e tão cheia de adrenalina que descontou tudo na taça em sua mão. O vidro se quebrou em meio aos seus dedos, causando um estouro que assustou a lutadora e a si mesma.

— Cheryl, meu Deus...

Estendeu as mãos para ajuda-la.

— Não, não me toca!

Ordenou, se afastando de Toni.

A menor a encarou, não acreditando que estava mesmo pedindo aquilo quando sua mão estava sangrando em cima da mesa. Cheryl nem sentia dor, levantando o corpo com rapidez e fechando os olhos com força ao ficar tonta.

— Amor, me deixe te ajudar.

— Quero ficar sozinha, preciso ficar sozinha. – o seu tom era ríspido, Toni suspirou. — Não preciso de ajuda.

Desviou do corpo da morena, caminhando para o segundo andar. Lion a seguiu, Toni até pensou em chama-lo, mas deixou que pelo menos o animal estivesse por perto já que não poderia. Olhou para a bagunça na mesa, queria limpar, mas só conseguia ter Cheryl em mente com a mão cortada.

Puxou o ar, disposta a ignorar o pedido da esposa e ficar por perto. Caminhou para o segundo andar, havia alguns pingos de sangue nas escadas o que a fez acelerar os passos. Assim que chegou em frente ao quarto, abriu a porta de forma lenta, vendo Cheryl andar de um lado para o outro no cômodo.

— Cherry...

A ruiva a encarou.

— Mas que porra, Toni! Eu preciso ficar sozinha.

Esbravejou, a morena continuou parada em seu lugar. Cheryl bufou, negando com a cabeça e caminhando para o banheiro, Lion a seguiu novamente, mas antes que conseguisse adentrar junto da dona, a mesma fechou a porta com força. O trinque foi ouvido assim como um grito de raiva que fez o cachorro expressar um choro olhando para a porta. Toni suspirou, em todas crises da esposa – algo que só aconteceu uma vez depois da praia por estar comemorando quatro anos sóbria, nunca a viu dessa maneira.

Dentro do banheiro, Cheryl agarrava os próprios cabelos. Sentia seu corpo suar, o coração acelerar e uma vontade absurda de beber como antigamente. Era como e só o álcool pudesse eliminar a dor de ter sua melhor amiga indo para longe. Ela sempre pensou que qualquer um pudesse a deixar, menos Veronica, ainda mais para ir a um lugar onde arriscara a própria vida. Não havia sentido ou lógica a morena fazer isso.

— Cheryl, só me diz que está bem, por favor...

Toni pediu, a testa colada na porta.

— Como quer que eu esteja bem? Ela vai embora! Aquela filha da puta. – gritou se negando a deixar alguma lágrima cair. — Eu vim pra Seattle porque ficaria perto dela, como antigamente... Sempre pensei na Veronica enquanto ela nem me diz seus planos.

— Amor, vem cá.

— Não quero falar com você! – levou as mãos ao rosto. — Quero meu whisky, eu sinto falta dele mais do que tudo hoje...

Murmurou as ultimas palavras, fechando os olhos.

— Não precisa do whisky, você sabe disso.

— Só... Me deixa sozinha, por favor

Implorou, sentando no chão do banheiro e encostando o corpo no armário abaixo da pia que ficava de frente para a porta. Encarou a mão sangrando, havia alguns cortes e mal enxergava a própria pele por causa do vermelho sangue. Deitou a cabeça para trás, lembrando de todos momentos que passou junto da amiga, os altos e baixos. Não podia acreditar que logo Veronica estava a deixando para trás. Se odiava por em sua vida ser tudo um drama, sentir demais, ser explosiva e principalmente afastar todos.

Toni ficou parada, a testa encostada na porta, os olhos fechados e imaginando tudo que a esposa estava fazendo. O seu coração parecia querer pular para fora de seu corpo, queria arrombar aquela porta e abraçar sua mulher, mas pressiona-la seria ainda pior.

— Eu odeio ser assim...

A voz de Cheryl soou de dentro do cômodo, embargada e dando lugar ao choro logo em seguida. Toni soltou um longo suspiro de alívio. Por mais que ouvir a esposa chorar fosse horrível, naquele momento era bom, no final a ruiva só precisa liberar sua tristeza e dor, que no início é só raiva.

Toni sentou no chão, o corpo apoiado contra a porta enquanto encarava Lion que tinha o focinho grudado na mesma em busca de Cheryl. Acariciou o animal, o mesmo choramingou junto com a dona que soluçava dentro do banheiro, abraçada as próprias pernas, a ruiva só conseguia pensar no quanto odiava se afastar das pessoas.

Foram incontáveis os minutos que ficaram nessa posição, os três cada um no seu lugar. O choro de Cheryl aos poucos foi se acalmando, o corpo se ergueu, disposta a levantar e abrir a porta. Quando a fechadura foi destravada, Toni levantou e Lion apontou as orelhas, ansioso para ver a ruiva. A mesma abriu a porta, devagar e avistando a esposa a sua espera.

Ao ficarem frente a frente, Cheryl estendeu a mão cortada e suja de sangue. Os olhos estavam vermelhos pelo choro, algumas lágrimas ainda caiam por suas bochechas e os lábios tremiam.

— Vou cuidar de você, amor.

Toni falou calmamente, a ruiva assentiu fechando os olhos por alguns segundos ao receber um beijo na testa antes da esposa buscar por curativos.

Como sempre, a lutadora foi seu ponto de paz e cura. Lhe deu banho, cuidou dos cortes e a deitou na cama como uma criança. Toni a abraçou com força, uma certa possessividade e medo que a ruiva acabasse se descontrolando mais uma vez.

— Desculpa por te afastar...

Cheryl murmurou contra a pele morena, com o rosto afundado na curvatura do pescoço da esposa, estava encolhida em seus braços buscando por proteção e aconchego, tinha os dois ali.

— Tudo bem, Cherry.

— A Veronica não me contou nada, quando ela falou fiquei pensando em todas maneiras que pode morrer em meio a uma guerra... – suspirou... — Eu fiquei com tanta raiva, só precisava de um tempo, não queria descontar tudo em você.

Confessou.

— Amor, se precisar deixo até me bater... Eu sou forte e aguento.

Riu ao falar, Cheryl abriu um pequeno sorriso, saindo do seu casulo apenas para encarar a sua protetora. Recebeu um carinho no rosto, algo que a fez fechar os olhos se sentindo relaxada.

— Fazia algum tempo que não tinha crises assim, no início eram todas explosivas. Sentia tanta falta do álcool que ficava com raiva por ser uma viciada, queria descontar em qualquer coisa ou pessoa... Sabrina foi incrível, viu todas minhas fases.

— Me arrependo de não estar com você naquela época..

Toni sussurrou, os castanhos de Cheryl a encararam.

— Você está aqui agora e é o que realmente importa. – juntou seus lábios, suspirando com o selar demorado. — Ouvi o Leo chorar, devo ter assustado ele.

Virou a cabeça para os pés da cama, o cachorro cada vez maior estava deitado de olho em Cheryl como um guarda costas. Suspirando, a ruiva afastou seu corpo da esposa, batendo com a mão enfaixa em meio a elas. Lion é obediente até demais, aprende rápido e sabe quando as donas querem algo, inclusive agora quando se enfiou em meio as duas com as orelhas abaixadas e patas abaixo do rosto.

— Ele merece ficar aqui em cima. – Cheryl falou, deslizando a mão no pelo amarelo. — Você é um bom garoto, Leo.

— Desisti de te corrigir, sabia?

Toni suspirou, a ruiva deu de ombros.

— Estou ficando cansada, mas sem sono.

Confessou, os dedos arranhados pelo vidro deslizavam por Lion que fechava os olhos com o carinho, pronto para dormir o melhor sono ao ser acariciado por Cheryl. A lutadora se movimentou na cama, descendo de seu lado e fazendo a volta para deitar atrás da esposa. A mesma virou seu rosto para encarar a morena que deu de ombros, abraçando seu corpo por trás.

— Sei que o Lion ama dormir no meio, mas não consigo te soltar hoje. – sussurrou, apertando a ruiva cada vez mais em seus braços. — Preciso ter certeza que está aqui.

— Não vou fugir, amor.

— Só quero confirmar que não.

Cheryl concordou, focada em dar carinho a Lion e alguns segundos depois sentiu Toni lhe iniciando um cafuné. Fechou os olhos, soltando o ar. O coração batia de forma calma, o corpo estava tranquilo e se sentia tão segura perto da esposa que o sono começou a vir. Ensaiou seu cérebro para desejar um boa noite, mas não conseguiu, acabou sendo vencida e dormindo com a mão em Lion.

Toni tinha certeza que a esposa já havia dormido, sua respiração tranquila e o corpo sem movimentos. Apoiou o cotovelo no colchão e a cabeça em sua mão, observando Cheryl e Lion. Queria dormir, aproveitar uma noite de sono com os dois, mas não conseguia. Havia um certo receio da esposa acordar se sentindo mal, talvez com dor, mesmo sabendo que lhe deu um remédio para tal. Não sabia se dormiria essa noite, ficar de olho na ruiva parecia ser mais produtivo e seguro, precisava ter certeza que a mesma teria uma boa noite.

×××

Debora chegou para seu segundo dia de trabalho na casa das Topaz, estava feliz em ter um emprego novamente e ainda mais com duas moças muito educadas. Tinha certeza que tudo ali seria tranquilo, o casal parece ser harmonioso e apaixonado. Não havia com o que se preocupar.

Era o que pensava ao adentrar o local, passando pela sala e indo até a sala de jantar que foi onde percebeu toda a bagunça da noite passada. Os pratos e copos ainda estavam em cima da mesa, mas o que a assustou foi o sangue na ponta da mesma, fazendo uma trilha de pingos vermelhos no chão em direção as escadas. Se assustou, criando algumas teorias até tomar coragem de limpar tudo.

Decidiu começar pela louça, haviam tantos pratos, copos e talheres para lavar que se perdeu em meio ao tempo que ficou ali. Seus pensamentos voaram para longe, sabia que Toni era uma lutadora e se tivesse machucado sua esposa? Elas estão bem? Cheryl está bem? Deus, não sabia de nada sobre as duas e se estivesse metida em uma enrascada?

— Caralho!

Debora se assustou ao ouvir o palavrão, virando o corpo e dando de cara com Toni. A mão das duas foi ao peito, não era só a empregada que estava assustada.

— Desculpa, eu esqueci que a gente contratou alguém. – suspirou ao falar. — Bom dia, Debora.

— Bom dia.

Murmurou, voltando a lavar a louça.

Toni caminhou pela cozinha, buscando por suas vitaminas. Preparou uma em um copo, dando passos para voltar a vigiar a esposa que dormia, mas parou ao ver o sangue no chão. Girou o corpo, sentindo que devia explicar a Debora, Cheryl com certeza explicaria.

— Debora.

Chamou a mais velha.

— Preciso que me olhe por alguns minutos, por favor. – pediu, a mesma sentiu o coração acelerar virando o corpo de frente para a lutadora. — Não sei se a Cheryl contou, mas...

Mordeu os lábios, não sabendo ao certo como começar.

— Bom... – respirou para falar. — Minha esposa é alcoólatra, você sabe o que significa? – assentiu. — Ela raramente tem crises, geralmente é em seus aniversários de sobriedade ou quando tem emoções muito fortes como ontem. Cheryl recebeu uma notícia e não soube lidar muito bem, ficou com raiva, acabou quebrando um copo na própria mão.

Explicou, Debora a encarava a todo momento percebendo sua dificuldade para falar sobre a doença da esposa. Parecia cansada, conseguia ver em seus olhos que não dormiu bem.

— Sei que ela deveria ter contado, mas a Cheryl espera ter intimidade e segurança com a pessoa. Ela está sóbria a quatro anos e não quero que se preocupe, minha esposa não é agressiva ou algo do tipo, ok? É rara as crises e quase sempre estou por perto. Agora que sabe, qualquer comportamento diferente nela, você me liga sem hesitar e não ouça se ela disser que não precisa. – Debora balançava a cabeça, concordando com tudo. — Alguma pergunta?

— Não, está tudo bem e entendo... Quero dizer, meu marido era alcoólatra, mas nunca se tratou. – deu de ombros. — Ele acabou morrendo por causa do vício.

— Sinto muito. – Toni lamentou. — Um dia vou te contar toda minha história com Cheryl, você vai se surpreender.

— Não estão juntas desde o ensino médio? – franziu a testa, a morena negou sorrindo em diversão. — É que vi uma foto de vocês, ela estava de uniforme de líder de torcida, estavam se beijando e juntas.

O tom de Debora era confuso, Toni riu.

— Longa história, longa história...

Cantarolou, deixando a mais velha curiosa.

Toni pediu para que Debora preparasse um café para levar a Cheryl enquanto a mais velha preparava as duas conversavam. A morena descobriu que sua empregada vive sozinha, seus três filhos estão casados e tem quatro netos, sendo um bem novinho de apenas alguns meses.

Só encerraram o assunto quando a bandeja estava pronta, Toni subiu para o quarto, adentrando o cômodo devagar. Lion ainda estava vigiando Cheryl, a lutadora tinha cada vez mais certeza que apesar da ruiva ser um pouco dura com a animal, ela é sua preferida. A mesma já se mexia na cama, dando indícios que iria acordar. A menor se aproximou, deixando a bandeja no bidê, sentando ao lado do corpo da esposa.

— Cherry...

Sussurrou a chamando, tocando em seu rosto.

A ruiva ronronou, virando o corpo e soltando um suspiro, ficou de cara com Lion e ao abrir os olhos riu ao se deparar com o cão lhe encarando fixamente.

— Ele continua preocupado.

Cheryl falou, a voz se arrastando.

— Continua. – Toni confirmou, pegando na mão enfaixada da esposa. — Doendo?

— Não, amor. – deu de ombros, erguendo o corpo para sentar na cama. — Bom dia, Tee.

Sorriu ao falar, puxando a morena para perto de si e juntando os lábios em um selinho demorado. Toni suspirou, ela estava bem e segura. Era o que importava.

— Bom dia, Cherry. – retribuiu o sorriso. — Debora fez café.

— Ela está aqui? – arregalou os olhos. — Deus, esqueci que viria hoje...

— Não se preocupe, conversei com ela e expliquei tudo.

— Obrigada.

Cheryl suspirou em alívio, não queria ter que contar toda sua situação a Debora agora, que bom que Toni havia feito. Se encontrava mais calma, arrependida da explosão que causou ontem a noite e focada em conversar com sua melhor amiga, precisam acertas as pendências.

— Quero ver a Veronica.

Falou em meio ao café da manhã, bebendo o líquido preto que tanto lhe da forças para iniciar o dia. Toni a observava, enquanto Lion havia ido lá embaixo procurar por sua ração.

— Quer? Agora?

A morena arqueou as sobrancelhas.

— Sim, pode ligar pra ela enquanto tomo banho? – pediu, Toni concordou. — E volte para cama, quero ficar agarrada em você o dia todo.

— Ah, isso será um sacrifício tão grande.

Toni fingiu uma falsa lamentação, Cheryl riu lhe beijando os lábios uma última vez antes de correr para o banheiro. A menor a acompanhou com o olhar, tendo certeza que chegaria bem até o cômodo, talvez não conseguisse mais a deixar nenhum segundo longe.

×××

— Tee, você quer me confundir e sei disso!

Cheryl retrucou, começando a ficar brava com a esposa. Toni estava sentada na cama, a ruiva em meio as suas pernas e completamente apoiada contra o corpo da menor. Olhares focados na enorme televisão que passava Com amor, Simon, o filme que assistiram na adolescência e a lutadora sabia quem era que enviava as cartas, já a maior pareceu ter apagado da memoria.

— Não quero te confundir, você que é ruim de memória.

Tentava puxar na memória as partes mais importantes do filme, estavam no meio do mesmo, mas tudo que Cheryl lembra daquele dia é de Toni a beijando na sessão, o braço timidamente passando por seus ombros...

— A culpa é sua, me beijou e sugou minha memória.

Cheryl acusou, Toni riu negando.

— Claro que sim, suguei todos pensamentos impuros que teve comigo naquele cinema.

— Como sabe?

A ruiva ergueu sua cabeça, encarando a esposa.

— Não sabia, mas agora sei. – riu ao falar, Cheryl revirou os olhos. — E é óbvio que você tem um certo fetiche por locais públicos e...

Não conseguiu terminar seus argumentos, batidas na porta do quarto foram ouvidas. Toni murmurou um "entra" e logo após Debora apareceu junto de Veronica.

— Ela disse que queria falar com a Cheryl.

Explicou, Lodge estava acuada e com medo da melhor amiga.

— Tudo bem, Debora. Obrigada.

Toni sorriu para empregada que assentiu, saindo do quarto e deixando as três sozinhas. Lion não havia voltado desde que desceu para comer sua ração provavelmente estava correndo no pátio, gastando energias.

— Fica.

Cheryl firmou o corpo contra o da esposa quando a mesma tentou levantar para deixa-las sozinhas, não queria se meter na conversa, mas aceitou continuar a acolhendo.

— Você sabe que não vou te matar, não é?

Arqueou as sobrancelhas pra Veronica.

— Hum... Sei?! – deu de ombros. — O que houve na mão?

Cheryl suspirou, ignorando a pergunta, erguendo seu corpo e posteriormente levantando da cama para encarar a melhor amiga de frente. Toni continuou sentada, apenas observando a interação das duas.

— Se você morrer, eu não vou no seu velório, está ouvindo? Pior, juro que quebro sua lápide enquanto grito "eu avisei".

— Não vou morrer, Cheryl.

— Não vai mesmo porque nem tenho forças pra quebrar uma lápide e não quero ter que envolver a Toni nisso.

Cruzou os braços, Veronica trocou um rápido olhar com a lutadora e as duas riram negando. Cheryl puxou o ar, analisando a morena de cima a baixo, ela saberia se cuidar.

— Eu amo você, Lodge. Já que quer ir, vou aceitar, mas se voltar com um arranhão...

Veronica revirou os olhos, a puxando para seus braços e obrigando a mesma a abraça-la de volta. Suspiros foram ouvidos das duas partes. A morena ainda nem tinha previsão para ir, mas já sentia falta de tudo aqui em Seattle.

— Vou ficar bem, Cheryl. – encarou a amiga. — Só preciso que fique bem também.

— Então, se eu disser que não vou ficar bem, você não vai?

Arqueou as sobrancelhas.

— Não, porque sei que tem uma esposa incrível que vai cuidar de você, além de que estaria mentindo, certo?

— Certo. – relaxou os ombros. — Agora, me conta tudo sobre essa tal guerra.

Falou puxando a amiga para sentar na cama e voltando para os braços de Toni que beijou o topo de sua cabeça, orgulhosa por apoiar Veronica em sua decisão.

— Olha, o nome é médico sem fronteiras...

×××

O silêncio na sala de espera era torturante, Cheryl tinha a cabeça sobre o ombro da esposa, as mãos entrelaçadas e corpos colados. Sentadas em um banco, encaravam a porta fechada onde não poderiam entrar, mas no fundo queriam.

La dentro havia um juiz, dois advogados e suas melhores amigas, dividindo bens, assinando papéis e dando um fim definitivo para o casamento que elas viram começar. Estava acabado. Apesar de todas complicações, se sentiam tristes por presenciar algo que jamais imaginariam, confiavam tanto no amor das duas.

— Quando acabar, vou ir com a Veronica até em casa, você se importa?

Cheryl murmurou baixinho em meio aquele silêncio.

— Não, farei o mesmo com a Betty.

Toni respondeu, deixando um suspiro escapar por entre os lábios e sendo acompanhada pela ruiva. A situação era horrível, os sentimentos que se apossavam de seus corpos, pensavam que nunca mais poderão ser aquele quarteto. O encontro de casais nunca mais será o mesmo, talvez nem exista daqui pra frente.

— Se algum dia, você não me amar mais e quiser separar...

A maior iniciou.

— O que? – Toni a interrompeu, levantando o rosto da ruiva para lhe encarar. — Impossível!

— Tudo é possível, além do mais é só uma hipótese.

— Então, use você como exemplo, eu não.

Ralhou, sem conseguir imaginar um dia de sua vida que não ame Cheryl. A mesma abriu um sorriso bobo, tocando seus lábios nos da lutadora por um breve momento.

— Ok, um dia se não te amar mais e quiser separar... Vamos por favor, pensar em toda nossa história e ter um divórcio amigável? Não quero nunca perder meu respeito por você.

— Prefiro pensar que esse dia não exista, mas concordo. Se perceber que estou te machucando, não deixe as coisas irem de mal a pior, tentar manter o respeito é sempre o principal.

— Sei que nunca me machucaria. – Cheryl deu de ombros, voltando a deitar a cabeça no ombro da menor. — Tanto que me deixaria ficar com o Leo.

— Nem pensar. – Toni respondeu rápido arrancando uma risada da ruiva. — Você não gosta dele, Cheryl!

— E preciso gostar pra querer ficar com ele?

— Obvio?!

— Ah, podemos combinar três dias comigo e dois com você.

— Piada. – Toni negou freneticamente. — Um dia pra cada.

— Nada feito, sabemos que o Leo gosta mais de mim.

A morena revirou os olhos, ela sabia.

— Por que estamos discutindo a guarda do Lion se nem vamos nos separar?

Cheryl levantou o olhar, dando de ombros.

— Verdade, mas pode admitir que seu cachorro gosta mais de mim?

— Ele ainda não sabe direito distinguir seus sentimentos!

— Está com ciúmes.

A ruiva cantarolou, rindo. Toni rolou os olhos, cruzando os braços como uma criança emburrada. Não entendia, dava tanto amor ao Lion, comida, passeios, carinho, mas em qualquer situação ele corre para o lado de Cheryl que não demonstra nenhum afeto. Só poderia ser a vida querendo lhe pregar alguma peça.

Antes que pudessem continuar a discussão sobre quem o cachorro mais gosta, a porta que antes lhes deixava tensas foi aberta. Os advogados e suas melhores amigas saíram, as duas se despediram dos profissionais contratados e o casal a espera se levantou.

— Tudo certo?

Toni foi a primeira a perguntar a Betty que assentiu, estavam uma de frente para a outra e lado a lado. Cheryl mordeu os lábios, suspirando com o clima pesado que havia entre elas.

— Nós não precisamos nos odiar, certo? – perguntou, atraindo o olhar das outras três pra si. — Acabou e foi melhor assim. Concordam?

As três assentiram.

— Então... Vamos?

Veronica pediu, encarando a ruiva.

— Claro. – virou-se para Toni. — Te vejo em casa?

A lutadora assentiu, trocando um breve selinho com sua esposa e acenando para Veronica que já se distanciava. Observou a ruiva até a mesma adentrar no elevador, uma mania de mantê-la sobre seu olhar até quando pudesse. As portas se fecharam e virou o rosto para Betty, a mesma deixava lágrimas escaparem.

— B, está tudo bem.

Tentou confortar a amiga, puxando a loira para seus braços e lhe acariciando os cabelos. Betty fungou sobre o ombro da menor, sentindo seu peito doer ao saber que tudo estava acabado, definitivamente e talvez para sempre. Sabia que era melhor assim, mas por que doía tanto?

— É tão doloroso acabar com tudo.

Desabafou.

— Eu sei, mas vocês não estavam bem. – Toni falou as afastando um pouco para encarar a loira. — É o melhor para as duas assim.

— Tem razão.

Betty enxugou as lágrimas.

— Só que... A amo tanto, Toni.

— Sabemos, mas vocês precisam de um tempo. Veronica quer ter um experiência nova, precisa focar em si também.

Toni balançou os ombros.

A loira encarou a melhor amiga, assentindo ao conselho e tentando acreditar que era melhor assim, estava acabado pra sempre – ou, até se reencontrarem.

×××

Cheryl passava um café na cozinha de sua antiga casa, sentia saudades do lugar onde morava, mas é claro que já considera seu novo local um lar e o principal: Um lar com Toni. Serviu duas xícaras com o líquido quente e forte, caminhando para a sala onde Veronica estava cabisbaixa.

— Você veio o caminho todo em silêncio.

Comentou ao alcançar a xícara para a morena.

— É, estou em... Luto?!

Pronunciou a palavra com dúvida, Cheryl balançou a cabeça positivamente e sentou ao seu lado, bebendo um gole do café que lhe aqueceu por dentro.

— Sabe quando você ama tanto alguém que precisa se afastar dela antes que as coisas fiquem piores? – olhou para a ruiva que assentiu. — Não sei, acho que precisamos aprender a viver sozinhas um pouco, ainda nem sei quando irei, mas estou tão ansiosa...

— Entendo. – Cheryl tocou em seu ombro a confortando. — Fique tranquila, se for pra vocês voltarem vai acontecer antes mesmo que perceberam.

Sorriu, Veronica suspirou, deitando a cabeça no outro da amiga.

— Vou sentir sua falta, Bombshell.

— Eu sei, Ronnie, qualquer um sentiria...

Se gabou, as duas riram.

×××

[ Capitulo gigantesco, encerrando o plot de divórcio beronica, os próximos capitulos serão com a visão de Cheryl e Toni.

Até mais!

Desculpe se houver muitos erros. ]

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