Bonus IX - A Última Luta 02
Toni Topaz – Point Of View
Acordar cedo para correr nunca foi difícil para mim, mas se torna quando não durmo com minha esposa, quando meus dias são mais cansativos que o normal e principalmente quando tudo parece estar me testando.
Por exemplo ontem ao ouvir Cheryl confessar que tinha medo dos gêmeos ficarem agressivos ao conviverem comigo em minha profissão. Aquilo doeu. Doeu como o inferno porque sempre tentei demonstrar o melhor pra eles e pra ela.
— Bom dia.
Pulei de susto, levando a mão ao peito e sentindo o coração acelerado. Cheryl estava parada no corredor ainda de camisola e com o cabelo bagunçado.
— Que porra, Cheryl. – resmunguei em um sussurro. — O que faz acordada essa hora?
Franzi a testa.
Não acredito que acordou antes do amanhecer só pra tentar me pedir desculpas, preciso de espaço e atitudes, não de conversas que não levam a nada.
— Bom dia, mamãe!
A mini Cheryl apareceu em meu campo de visão após sair do nosso quarto, a garotinha usava manga longa preta e uma legging da mesma cor, o tênis escuro com detalhes brancos se destacavam.
— A mamãe Cher disse que podemos correr juntas.
Explicou olhando de relance para mais velha.
— Isso é sério?
— Sim. – respondeu. — Se você quiser a companhia, é claro.
Cheryl balançou os ombros ao falar.
Fixei meu olhar nela, desconfiando da sua mudança repentina de opinião, sei que está fazendo isso para conseguir meu perdão, mas não será tão fácil, Marjorie.
— Claro que quero companhia. – sorri para Scarlett. — Vamos ver até onde aguenta.
Desafiei a garotinha.
— Eu corro muito na escola, mamãe.
Falou cheia de orgulho.
Estendi a mão pra ela que pegou segurando com firmeza, iniciei nossa caminhada para ir até o primeiro andar e sairmos, mas fomos paradas.
— Ei.
Cheryl chamou nossa atenção, virei para encara-la e Scarlett fez o mesmo.
— Fiz um suco pra vocês, é de laranja e natural, coado do jeito que gostam.
— Obrigada, mamãe.
Scarlett agradeceu com um sorriso.
Percebi a maneira que Cheryl continuou parada com o corpo apoiado na parede apenas nos observando ir, queria lhe agradecer com beijos e dizer o quanto a amo, mas suas palavras acusadoras ainda estavam lá.
— A mamãe Cher sente muito sua falta.
A garotinha iniciou o assunto enquanto bebíamos o suco, ela estava sentada no balcão da cozinha com as pernas balançando no ar.
— Ela está triste que machucou a mamãe.
Seu tom era desanimado, encarando-me com olhos piedosos como se pedisse que perdoasse Cheryl. Abri um pequeno sorriso negando com a cabeça.
É adorável ver Scarlett pela primeira vez do lado da minha esposa.
— É por isso que está indo correr comigo? Quer que perdoe sua mãe?
— Não!
Respondeu rápido.
— Por que ela deixou você vir comigo?
Indaguei novamente.
A garotinha encolheu os ombros.
— A mamãe quer todo mundo feliz, mesmo que ela esteja triste.
Se disser que ouvir Scarlett falar assim de Cheryl não estava me balançando seria mentira, mas ainda não é o momento de perdoa-la, é melhor ter mais um tempo para pensar em suas palavras e atitudes.
— Então, nós vamos correr ou não? Você está me enrolando porque vai cansar rápido, né?
Brinquei com a ruivinha a desafiando.
Infelizmente não entrou na minha jogada.
— A senhora ainda ama a mamãe?
Perguntou deitando a cabeça um pouco para o lado como se estivesse me analisando. Suspirei.
— É claro que amo, Scar.
Ela sorriu.
— Eu com certeza vou correr mais do que você, mamãe.
Largou seu copo, pulando do balcão e caminhando em direção a saída, era como se só precisasse de uma segurança que ficaria tudo bem.
Balancei a cabeça deixando mais um sorriso escapar. Meus filhos são tão espertos que sinto como se pudessem me induzir a fazer o que quiserem, inclusive perdoar Cheryl.
É claro que a minha corrida com Scarlett seria bem diferente das outras, nós fizemos um caminho curto e mantemos um ritmo lento. Devo dizer que a garotinha até me surpreendeu, ela demorou dar o braço a torcer e admitir estar cansada.
Adorava ter momentos assim com meus filhos, só meu e deles onde ninguém podia atrapalhar ou interromper. Scarlett também parecia animada, tanto que quando voltamos pra casa e encontramos sua mãe e irmão na cozinha, mesmo sem fôlego não parava de falar.
— ... E nós passamos por um parque, a gente devia levar a mamãe Cher e o Henry lá.
Contava de todo nosso trajeto.
— Claro que sim.
Concordei com ela.
— Eu quero fazer isso todos os dias!
— Você pode. – Cheryl falou, ela tinha um sorriso no rosto assim como eu ao observar a empolgação da nossa filha. — Mas não vou acordar cedo pra te arrumar, ok? Agora é com a mamãe Tee.
— Tudo bem, eu te ajudo.
Pisquei para Scarlett.
Ela sorriu largo.
— Vai tomar um banho, precisa ir pra escola.
Cheryl orientou e Scarlett assentiu.
Henry estava tomando café da manhã ainda um pouco sonolento e tonto com a falação da irmã.
— Henry, me ajuda a arrumar a mochila.
A ruivinha pediu.
O garoto franziu a testa.
— A mamãe já arrumou.
— Então me ajuda com outra coisa.
Lançou um olhar para o irmão praticamente o ameaçando. Henry pareceu finalmente entender, dando um último gole no suco e seguindo a mais nova.
Eles correram para o segundo andar, um silêncio se instalou na cozinha, Cheryl tomando café encostada contra a pia, o balcão nos separava.
— Estão desesperados pra que façamos as pazes.
Comentei.
A ruiva mordeu o lábio.
— Eles disseram que iriam me ajudar, confesso que fiquei animada, mas não se sinta pressionada, TeeTee. Sei que ainda não mereço que me desculpe.
— Você me magoou pra caralho.
Ela puxou o ar, largando a xícara e caminhando em minha direção.
— Amor, sinto muito. – pediu novamente. — Estou tentando me redimir, deixar nossos filhos mais livres com você e provar que confio totalmente nas suas decisões sobre eles.
Tocou em meu braço o alisando, suspirei de saudade. São poucos dias afastadas, mas sinto falta do seu toque, seu beijo e de tudo nessa ruiva.
— Posso leva-los pra ver meu treino hoje?
— Você não precisa pedir, são nossos filhos e estou me contendo para ser menos controladora. Vou esperar vocês em casa, com o jantar e ouvidos prontos para os dois que vão falar sem parar.
Riu um pouco e eu também.
Sinto tanto sua falta!
Queria dizer, mas apenas me afastei e forcei a garganta.
— Então até mais tarde, tenha um bom dia.
— Você também, TeeTee.
A ouvi enquanto caminhava em direção as escadas, uma movimentação em alguns degraus acima me fez perceber que estávamos sendo observadas.
Fingi não ouvir aqueles dois correndo pro quarto.
×××
Poderia me acostumar em uma rotinha de treinar com meus filhos por perto, eles realmente me dão um gás a mais para executar melhor os golpes.
Cheryl tinha razão sobre os dois chegarem falantes, contando tudo que fizeram na academia e o quanto gostaram de estar lá. A ruiva ficou feliz de vê-los animados, dava pra perceber no seu sorriso ao ouvi-los ou na maneira que estava concentrada em cada palavra pra não perder nenhum detalhe.
— Nós podemos voltar lá amanhã? O tio Nathan disse que a gente pode ajudar ele.
Henry terminava de comer ao perguntar, Scarlett olhou ansiosa para a mãe que engoliu sua comida com dificuldade.
— Amanhã vocês tem aula de música. – argumentou, trocando um rápido olhar comigo e suspirando em seguida. — Mas se quiserem faltar, tudo bem.
Balançou os ombros desviando o olhar para o prato novamente.
É claro que não está tudo bem.
— A gente devia ter um dia pra aprender a lutar com a mamãe.
O barulho do garfo de Cheryl caindo no prato ecoou, a vi respirar fundo e segurar o guardanapo ao seu lado com força.
— Scar, termina de comer, outro dia conversamos sobre isso.
Falei sabendo que é um pouco demais para minha esposa. A sorte é que nossa filha não retrucou ou continuou com o assunto. Troquei mais um olhar com Cheryl que pareceu me agradecer mentalmente.
Henry começou a falar sobre o que aprendeu na aula hoje, tirando a tensão que se criou na casa. O clima entre nós ficou leve, conversamos e rimos até a hora de ir dormir.
Deixei um beijo em cada um dos gêmeos quando deitaram em suas camas, Cheryl já havia desejado boa noite para os dois, mas não era uma surpresa que estivesse me esperando no corredor.
— Podemos conversar?
Assenti, a seguindo para nosso quarto quando caminhou para lá. Fechei a porta encostando as costas ali e com a ruiva parada bem a minha frente.
— Talvez seja bom que a Scarlett participe da academia.
Comentou vagamente, os braços cruzando abaixo do peito.
Franzi a testa, não esperava por isso.
— Eles tem aula de música e a natação, mas a Scarlett é apaixonada pelo que você faz. – mordeu o lábio. — É bom pra ela já que tem energia de sobra e precisa liberar em algo.
— Você realmente quer deixar ela frequentar a academia?
Cheryl respirou fundo.
— Quero. – falou relaxando os ombros. — E não é para que me perdoe, é pela Scarlett porque sei o quanto quer estar lá. O passatempo preferido dela é ficar com você, TeeTee.
— Então, você não quer o meu perdão?
Não consegui evitar o tom melancólico, formando um beicinho para a ruiva que revirou os olhos e sorriu.
— É o que mais quero.
— Ok, uma dúvida.
Fingi pensar, minha esposa fixou o olhar no meu.
— Se por acaso, Scarlett quiser seguir meus passos e ser uma lutadora. Qual sua reação?
— Você sabe exatamente qual seria. – respondeu de imediato e me fez cogitar que isso já passou por sua cabeça. — No início iria surtar porque teria medo como tenho por você toda vez que sobe naquele ringue.
— E depois?
Arqueei as sobrancelhas.
— Iria aceita-la e apoia-la se é isso o que quer. – balançou os ombros. — Te perdi uma vez por não aceitar sua profissão, não vou cometer o mesmo erro.
— Nem se for o Henry querendo ser um lutador?
A provoquei sorrindo.
— Oh, por favor. O Henry não tem força nem pra matar uma barata, Antoniette.
Nós rimos.
É a mais pura verdade.
Um silêncio se instalou no quarto, Cheryl que estava afastada deu alguns passos para se aproximar e segurou minha mão, entrelaçando nossos dedos.
— Se ainda não quiser me perdoar, entendo... – acariciou minha pele com seu polegar. — Mas pode voltar pra nossa cama? Sinto sua falta.
Ela sabe que não resisto a esse olhar, um olhar piedoso e de alguém que precisa de abraços, beijos... De tudo que posso lhe oferecer.
— Alguém me comentou algo sobre você mexer muito a noite sem mim.
— Scarlett? – sugeriu, assenti. — Claro que sim.
Revirou os olhos.
— Vai voltar?
Insistiu usando seu tom manhoso.
Eu amo que Cheryl seja assim só comigo.
— Claro, Cherry. – respondi, deslizando minha mão livre por seu rosto, cansada de tortura-la. — Não aguento mais ficar longe de você.
Confessei com um suspiro.
A ruiva sorriu, um sorriso largo que me mostra seus dentes perfeitos e derrete meu coração, curando qualquer magoa que possa ter.
Quando seus lábios chegaram nos meus, nós suspiramos juntas de saudade, minha mão que estava entrelaçada na sua foi parar na cintura a puxando para mim e grudando nossos corpos.
Cheryl segurou meu pescoço, aprofundando o beijo e tentando nos fundir ao pressionar meu corpo contra a porta. Suguei seu lábio inferior e introduzi minha língua, matando a saudade de seu gosto.
Girei nossos corpos, batendo as costas da ruiva contra a porta e sorrindo satisfeita ao ouvir um gemido seu.
Mas nós paramos assim que um barulho foi ouvido fora do quarto, nossas bocas se separaram e nos encaramos por alguns segundos.
Cheryl rapidamente me afastou e abriu a porta.
— Oi, mamãe.
Scarlett sorriu de nervosismo enquanto ajudava Henry a levantar do chão.
— O que estão fazendo?
Franzi a testa.
— Scarlett me empurrou.
Henry resmungou passando a mão na cabeça, Cheryl agachou para olhar se havia resquício de sangue.
— Assustei com o barulho na porta foi sem querer.
Encolheu os ombros.
— Por que estavam atrás da porta?
Cheryl os encarou de braços cruzados, aparentemente estava tudo bem com nosso filho.
— Só queríamos ter certeza que não iriam mais brigar.
Henry explicou sem nos encarar.
Meu olhar chegou em Cheryl que permanecia ao meu lado, nós sabemos o quanto os dois sofreram com a briga e nosso afastamento.
— Tudo bem, vocês querem dormir com nós hoje?
Perguntei.
— Fizeram as pazes?
Scarlett sorriu.
— Sim, nós fizemos.
Dei passagem para os dois entrarem no quarto, Cheryl me deu um selinho antes de ir na direção do banheiro. Os gêmeos se acomodaram na cama, os sorrisos em seus rostos dizia muita coisa.
— Ei. – chamei atenção dos dois sentando na ponta da cama. — É muito feio ficar ouvindo atrás da porta, não quero que se repita, entendido?
Os dois assentiram.
— Mamãe. – Scarlett me chamou assim que fui pegar uma roupa para dormir, a olhei. — Posso ir correr amanhã de novo?
— Pode, Scar.
Concordei, ela finalmente deitou a cabeça no travesseiro e fechou os olhos. Sorri ao observar aquelas duas figuras esticadas em nossa cama.
Quando Cheryl saiu do banheiro já pronta pra dormir, a encontrei no caminho lhe roubando um selinho e arrancando mais um sorriso da ruiva.
Sai do banheiro e minha esposa cantarolava baixinho para os gêmeos pegarem no sono. Adoro guardar essas cenas em minha memória pra quando eles não quiserem mais dormir com nós por serem grandes ou pra quando saírem de casa e terem suas próprias vidas.
Ah... Eles estão crescendo rápido demais.
×××
"Como estão as coisas com Cheryl?"
Betty me enviou no meio da tarde, a loira sempre foi a que tenho mais intimidade para falar sobre minha relação com a minha esposa, é a única que esteve em todas nossas fases.
"Estamos bem, nos acertamos ontem."
"Que ótimo! Veronica estava pensando em convidar vocês pra jantar, o que acha?"
"Parece bom, vou confirmar com a Cheryl."
"Ok, estaremos esperando vocês."
— Então, Topaz. Vai ficar o dia todo no celular?
Mackenzie chamou minha atenção, levantei o olhar e a mesma estava a minha frente com os braços cruzados.
— Não posso nem ter cinco minutos de descanso?
— Você quer o cinturão ou não?
Arqueou as sobrancelhas.
— Sabe mais do que ninguém o quanto quero.
Suspirei relaxando os ombros.
Perder o cinturão da última vez foi um baque muito forte e não quero passar por essa experiência novamente tão cedo.
Preciso ganhar.
— Nós vamos ganhar, ok?
Mackenzie sentou ao meu lado ao falar.
Acho que ela também está cansada.
— E sei lá, estive pensando... – respirou fundo. — Nossa parceria é ótima, se ela tiver que acabar espero que seja com uma vitória.
— O que está querendo dizer?
A treinadora suspirou.
— Não estou te desmerecendo, Toni, é a melhor que treinei, mas tem muitas lutadoras jovens chegando.
— Quer me trocar, é isso?
Estreitei o olhar.
Mackenzie gargalhou.
Aquilo estava me deixando irritada.
— Não, idiota. – balançou a cabeça. — Estou querendo dizer que quando abandonar os ringues, vou abandonar junto e quem sabe viver viajando com o meu marido.
Abri a boca, tentando formular uma resposta. Suas palavras me pegaram de surpresa, nossa parceria dura anos, mas nunca havia pensado em parar.
— Vai me dizer que ainda não pensou em se aposentar, Topaz?
— Sinceramente? – a encarei. — Não.
— Por um momento achei que era por isso que queria ganhar tanto essa luta, porque quer passar mais tempo com os filhos e esposa, e que talvez estivesse com medo de me contar.
Balançou os ombros.
— Acredito que você seja a mais velha nesse ramo ainda na ativa.
Comentou, mordi o lábio.
É, parece que já posso ser considerada uma veterana.
— Enfim... – levantou. — Bora treinar porque você não está aposentada ainda.
Bateu palmas.
Deixei meu celular de lado, pegando a garrafa com água e bebendo um grande gole. Passei o dia todo treinando e pensando pela primeira vez como seria uma vida de aposentada.
Cheryl ficou animada com a ideia de irmos jantar na casa de nossas amigas, tanto que disse que passaria para me buscar e irmos direto da academia. Os gêmeos tinham aula de música hoje, então seria mais fácil para trazê-los.
— Você anda recebendo muitas visitas, Topaz.
Mackenzie estreitou o olhar e apontou com a cabeça em direção a entrada de nossa área de treino. Scarlett e Henry apostavam uma corrida pra ver quem chegaria primeiro, Cheryl vinha em passos lentos atrás dos dois.
— É bom te ver sorrindo assim.
A treinadora comentou, sempre que os vejo não consigo evitar o sorriso e muito menos de parar tudo que estou fazendo para ter atenção neles.
— Ganhei!
Henry falou batendo no ringue primeiro que a irmã.
— Você saiu primeiro.
Scarlett cruzou os braços ao falar.
— Ei. – chamei a atenção dos dois enquanto tirava minhas luvas. — Vem cá, cadê meu abraço?
Fiz um beicinho.
Os dois subiram no ringue.
— Mamãe está suada.
Scarlett fez uma careta, revirei os olhos.
É igualzinha a mãe.
— Tem razão, filha. E nós temos um jantar para ir.
Cheryl orientou já me apressando, ouvi uma risadinha de Mackenzie ao fundo, depois que as duas começaram a se dar bem sofro mais ainda com piadinhas.
— Ok, estou indo tomar um banho.
Falei a contra gosto, desci do ringue deixando um selinho em Cheryl que suspirou profundamente quase como se quisesse manter o contato.
Mentalizei que tomaria um banho rápido e o fiz, estava ansiosa para estar com eles novamente. Pelo menos tinha tudo que precisava na academia, então quando voltei pra lá já estava pronta para visitarmos nossas amigas.
— ... E por favor não se sujem, temos um jantar para ir.
Ouvi Cheryl enquanto me aproximava.
— Seria engraçado ver a mamãe Cher lutando.
Scarlett falou, a mesma estava de um lado do saco de box, batendo nele sem luvas. Henry fazia o mesmo do outro lado.
Mackenzie riu da fala da nossa filha.
— Eu adoraria ver sua mãe tentando dar um soco.
Parada atrás delas consegui ver Cheryl fechar o punho direito e bater no braço da brasileira. Segurei o riso ao ouvir Mackenzie resmungar.
Os gêmeos riram da cena.
— Ok, agora minha vez.
A treinadora levantou o punho.
— Mackenzie, se você encostar um dedo nela... – caminhei na direção das duas chamando a atenção. — Ser demitida vai ser com certeza o menor dos seus problemas.
Ameacei, ela abaixou a mão na hora.
Cheryl sorriu orgulhosa, deixando um beijo rápido em meus lábios assim que fiquei ao seu lado.
— Nem iria bater de verdade, sabe... Só deixar um roxo, nada demais.
Balançou os ombros ao falar.
Soltei uma risada, balançando a cabeça.
— O seu soco de mentira pode desmontar minha esposa.
— Toni!
Cheryl me repreendeu, nós rimos.
— É brincadeira, Cherry.
Beijei sua bochecha.
— Que tal irmos logo? Veronica e Betty estão nos esperando.
— Vamos! Quero brincar com o Arthur.
Scarlett respondeu pulando em animação.
Tenho observado que minha filha gosta muito de brincar com o primogênito das nossas amigas, mas tento não pensar ou me aprofundar nesse assunto.
Muito menos minha esposa.
×××
— Então, vocês estão bem? Tudo certo?
Betty perguntou assim que contei sobre a semana turbulenta que tive com Cheryl. Ela já sabia da maior parte, só detalhei os últimos dias em que a ruiva teve atitudes para se redimir.
— É, estamos bem.
Balancei os ombros.
Betty estreitou o olhar desconfiada, dei um gole na taça de vinho tinto que compartilhávamos antes de lhe alcançar.
— Vai me contar ou tenho que insistir?
Arqueou as sobrancelhas.
Abri um sorriso de canto negando.
— Não é um problema, ok? – iniciei já avisando. — Mackenzie comentou sobre aposentadoria hoje.
— O que? Você quer se aposentar?
Franziu a testa.
— Não sei?!
Meu tom tinha dúvida, Betty bebeu o vinho antes de me devolver a taça.
— Bom, você já tem quase quarenta anos...
— Mas nunca havia pensado nisso.
— Eu sei. – suspirou. — Quer dizer, sempre te apoiei na profissão, mas se quando jovem já ficava preocupada cada vez que você entrava naquele ringue, agora fico ainda mais.
Aquilo me pegou, sempre soube que Betty é como a Cheryl, protetora com os que gosta, ela demonstrou isso ao me pedir pra voltar viva das lutas e me ameaçando toda vez que ficava muito machucada.
— Só imagino o quão difícil deve ser pra Cheryl.
Parecendo ler meus pensamentos, Betty falou ao pegar a taça de vinho novamente da minha mão bebendo mais um gole.
— Não tinha pensado por esse lado.
Falei mais para mim mesma do que para a loira.
— Me promete guardar segredo? – Betty perguntou, assenti sem ao menos saber o que era. — Na sua última luta, Cheryl quase morreu do coração porque estava muito machucada.
— Eu sei.
Suspirei, foi a luta que mais apanhei, Mackenzie tem razão sobre ter lutadoras mais jovens e com mais fôlego, foi comprovado da última vez.
— Veronica aconselhou ela a conversar com você e pedir pra parar, mas a Cheryl disse que nunca pediria, que sabe o quanto a luta é importante.
— E realmente é.
Relaxei os ombros.
— Toni, sei que a emoção de estar em um ringue e ganhar deve ser única, mas você pode substituir isso ajudando alguém a ter esse sentimento também. – Betty balançou os ombros. — Você seria uma ótima treinadora.
— Tem razão. – sorri sem mostrar os dentes. — Seria legal, vou pensar no assunto.
— E teria mais tempo com seus filhos.
Lembrou.
Abri um sorriso.
— Acho que eles vão começar a frequentar a academia.
— Sério? Será que o Arthur pode também? Esse garoto tem muita energia.
Betty revirou os olhos ao falar.
— Quem tem muita energia?
Veronica perguntou, ela adentrou a sala junto da minha esposa. Cheryl sentou em meu colo, deixando um beijo demorado em meus lábios.
— Já percebeu que elas ficam mais grudentas depois de uma briga.
A morena fez uma careta ao falar.
— Estávamos falando sobre a academia, os gêmeos vão começar a ir, o Arthur poderia também.
Cheryl se mexeu em meu colo.
Ela obviamente não gostou.
— Nossa isso seria bom.
Veronica concordou.
— Talvez eu comece a dar aula de boxe para crianças e eles podem ser meus primeiro alunos.
Comentei, balançando os ombros.
Olhei para Cheryl e a mesma mordia o lábio.
— Claro, seria ótimo.
Forçou um sorriso.
Não segurei a risada chamando a atenção das três.
— O que?
A ruiva franziu a testa.
— Amor, você precisa superar que Scarlett gosta do Arthur.
— Toni...
Murmurou insatisfeita.
— Qual é, Bombshell? Vamos ser parentes!
Veronica riu ao falar.
Ela adora provocar minha esposa.
— Nos seus sonhos, Lodge. – ameaçou. — Minha garotinha não vai ficar com seu filho.
— Mamãe.
Scarlett apareceu na hora como se soubesse o assunto.
Olhamos para lá.
— Será que podemos dormir aqui hoje?
— Não. Já conversamos sobre isso.
Negou de imediato.
Quando olhou novamente para Veronica, a mesma tinha um sorriso vitorioso no rosto. Scarlett abaixou os ombros e voltou correndo para a área externa onde brincava com os outros dois.
— É melhor aceitar, Cheryl, fica mais fácil.
Veronica piscou.
Betty também ria.
— Aliás... – seu tom mudou. — Nós chamamos vocês aqui porque temos um convite.
Veronica trocou um olhar com a esposa.
— Estamos pensando em ir a Riverdale no final do ano, mais precisamente no Halloween para deixar o Arthur livre e poder aproveitar o feriado.
A fala da minha melhor amiga nos pegou de surpresa, não tínhamos uma resposta na hora para aquele convite, Cheryl me olhou sem saber o que dizer.
— Vocês não precisam responder agora, ok? Mas podemos convidar o Nicholas e a Sabrina, acho que seria legal mostrar pra nossos filhos onde tudo começou.
— Vamos pensar sobre.
Cheryl respondeu.
Nunca passou pela minha cabeça voltar naquela cidade, talvez realmente fosse bom os gêmeos ficarem um pouco mais livres para aproveitarem o feriado de verdade e com certeza gostaria de relembrar os momentos com a ruiva onde nossa história começou.
Não é uma má ideia.
— Então, os gêmeos vão assistir a luta também.
Cheryl falou de repente, mudando o assunto.
— Vão?
Arqueei as sobrancelhas.
— Achei que tivesse ficado claro. – balançou os ombros sem se importar. — Podemos ficar todos no mesmo hotel...
Ela começou a falar, me perdi um pouco na conversa porque fiquei pensando em meus filhos me assistindo, torcendo por mim.
Eu preciso muito ganhar essa luta.
×××
Ouvi a risada de Cheryl quando suas costas bateram contra a porta do nosso quarto, me afastei alguns centímetros.
— O que foi?
— Uhn, é que geralmente quem está com pressa sou eu.
Ela riu novamente.
Revirei os olhos.
— Você trouxe nossos filhos para dormir com nós ontem, pensei que nem queria transar comigo.
Um beicinho apareceu em seus lábios.
— Ok, é melhor eu demonstrar o quanto quero você, Topaz.
Cheryl sorriu com minha fala antes que meus lábios o desmanchasse em um beijo cheio de saudade. Apertei sua cintura, subindo as mãos por sua camisa e tocando diretamente na pele.
Nós suspirávamos e gemíamos baixinho enquanto tirávamos nossas roupas. Caminhando para a cama, não deixei nunca de lhe tocar ou beijar, não queria ficar um segundo sem estar em contato com minha esposa.
— Você trancou a porta?
Sussurrou assim que a deitei na cama.
— Droga.
Resmunguei, deixando um selinho em seus lábios e apressando os passos até a porta, tranquei a mesma voltando para ficar por cima da ruiva que estava só de calcinha.
— É melhor nos cobrirmos.
Cheryl falou, franzi a testa.
— Por que?
— Nossos filhos podem espiar, ontem mesmo estavam ouvindo atrás da porta.
— Resolvi isso, falei com eles.
Balancei os ombros, a ruiva suspirou. Sei que não iria conseguir relaxar. Puxei a coberta que havia em nossos pés para cima, nos cobrindo até o pescoço.
— Melhor?
Arqueei as sobrancelhas.
Ela assentiu.
Me acomodei em meio as suas pernas voltando a beija-la, passei as mãos por seu corpo a sentindo tão quente quanto eu. Cheryl agarrou minha nuca, arranhando meu couro cabeludo e suspirando em meio aos beijos.
Desci os lábios para seu pescoço, beijando, mordendo e lambendo a pele pálida. Minha esposa reagia aos meus toques baixinho, se contendo por causa de nossos filhos.
— Scarlett e Henry estão dormindo, Cherry. – sussurrei, beijando o vão entre seus seios. — Por isso ficamos no quarto deles até que pegassem no sono.
— Eu sei. – soltou o ar com força. — Mas eles podem acordar e...
— Amor.
A interrompi encarando seus castanhos.
— Relaxa, ok?
Toquei em seus ruivos, Cheryl mordeu o lábio.
— Então, me ajude a relaxar, TeeTee.
Pediu, o tom cheio de malícia do jeito que amo ouvi-la. Um sorriso se apossou de meus lábios, deixei um beijo em sua boca e desci para a barriga.
— Você que manda.
Beijei sua pele, descendo até a calcinha vermelha e não perdendo tempo com preliminares a tirando do seu corpo. Abri suas pernas, ajoelhando-me e aproximando o rosto da sua intimidade. Passei a língua por toda sua extensão sentindo o gosto que tanto amo, Cheryl gemeu, arqueando o corpo e segurando meus cabelos.
Chupei sua umidade, deslizando minha língua pra dentro dela e fazendo um vai e vem. A ruiva me incentivava com seus gemidos, abrindo suas pernas e forçando meu rosto contra ela. Estar embaixo daquelas cobertas era quente e sufocante como o inferno, mas continuei a estimula-la chupando seu clitóris e enfiando dois dedos em sua entrada.
Cheryl gemeu um pouco mais alto mexendo seus quadris em busca do próprio prazer. Acelerei os movimentos dos dedos, sugando seu nervo inchado, pausando meu trabalho com a boca apenas para respirar alguns segundos. A ruiva ofegava assim como eu, continuei a estimular seu clitóris com a língua e quando percebi seu ápice chegando o suguei, fazendo minha esposa gozar em minha boca.
Subi pelo seu corpo deixando beijos, assim que consegui respirar fora daquelas cobertas, puxei o ar com força. Meu corpo inteiro suava assim como o de Cheryl que tinha os olhos fechados tentando controlar a respiração.
Beijei seus lábios, os castanhos abriram aos poucos.
— Consegui te relaxar?
Cheryl sorriu.
— Como sempre. – retribuiu o beijo. — Agora é minha vez.
Abraçou meu corpo nos rolando na cama para ficar por cima, Cheryl sorriu ainda mais tocando em meu pescoço e juntando nossos lábios sem perder tempo.
Ultimamente somos assim, com pressa de sermos pegas, interrompidas...
O beijo não durou muito, a ruiva mordeu meu lábio o deslizando por entre seus dentes e desceu para meu pescoço. Suspirei com as mordidas e lambidas que deixava em minha pele, sentindo a excitação aumentar a cada segundo.
— Você está tão molhada, TeeTee.
Sussurrou em meu ouvido, a mão deslizando por entre minhas pernas e passando sobre minha intimidade coberta apenas por uma calcinha. Cheryl desviou sua atenção para meus seios, os chupando e mordendo arrancando-me gemidos baixos, contidos.
Por mais que dissesse para minha esposa relaxar, me sentia da mesma maneira, com medo que nossos filhos estejam ouvindo.
— Está comigo, amor?
Cheryl perguntou, seu olhar chegando no meu e realmente havia me desligado por alguns segundos. Balancei a cabeça em positivo, a ruiva pressionou os lábios e subiu para me beijar novamente.
Sua língua tocou a minha, a mão apertou minha coxa a subindo para ficar dobrada. Cheryl nos separou quebrando o beijo, seus castanhos estavam nos meus quando seus dedos tocaram meu sexo molhado.
Não evitei o gemido, a encarando e sentindo meu corpo reagir a cada vez que subia e descia pressionando meu nervo inchado. Aos poucos seus movimentos foram pegando ritmo e quando adentrou minha calcinha tocando direto em minha intimidade, um gemido mais alto escapou.
Cheryl sorriu satisfeita deslizando seus dedos para dentro de mim, minha boca se abriu e no mesmo instante a de minha esposa a cobriu, iniciando mais um beijo enquanto me invadia com movimentos de vai e vem.
Suspiros e gemidos eram calados por sua boca, tudo que conseguia pensar era nos seus dedos entrando e saindo e no polegar estimulando meu clitóris, para quem estava no limite, não foi preciso muito para chegar até o ápice.
A intimidade tem isso, Cheryl sabe exatamente onde me tocar e o que fazer para que relaxe inteiramente.
— Acho que precisamos de um banho, uhn?
Ela sugeriu beijando meu pescoço.
Suspirei assentindo.
— É o que mais quero agora, Cherry.
Nós ainda trocamos alguns beijos e carinhos antes de ir para o banheiro. O banho foi demorado, como sempre que tomamos juntas, a gente aproveita ao máximo podermos estar nuas e sem preocupações.
Quando voltamos ao quarto, Cheryl vestiu sua camisola e eu meu pijama de seda – ela que comprou. Por mim, continuava a dormir apenas de calcinha e top, mas entendo que de manhã por vezes nossos filhos invadem o quarto ou estão com tanta pressa que mal temos tempo de nos vestir.
— O que achou da ideia da Veronica?
Cheryl iniciou o assunto.
— Boa. – balancei os ombros, deitando ao seu lado. — E você?
— Pensei um pouco e seria bom, ver a Mary...
Concordei, a ruiva suspirou deitando sua cabeça em meu braço e encarando-me. Resolvi não desligar o abajur, algo me dizia que ainda ficaríamos algum tempo acordadas.
— Acho que podemos ir, se você quiser.
— Eu quero. – respondi. — Quero mostrar para nossos filhos onde conheci a melhor mãe que poderia dar a eles.
Toquei em seu rosto ao falar, Cheryl sorriu.
— E relembrar nossas loucuras.
Balançou as sobrancelhas.
Foi minha vez de sorrir.
— Sente falta delas?
Aproveitei a deixa para perguntar, Cheryl desviou nossos olhares e balançou os ombros.
É claro que sente.
— Nós somos mães agora, é diferente.
— Não deveria ser tão diferente. – falei, ela me encarou novamente. — Sabe, não quero ser aqueles casais que esquecem da vida sexual por causa dos filhos.
— Nós acabamos de transar, Topaz.
Ela riu.
Revirei os olhos.
— Estou falando transar de verdade... – deslizei meus dedos para a pele de seu pescoço. — Fazer devagar, tocar, sentir, ouvir... Sem medo de ser interrompida.
— Você está me excitando novamente, sabia?
Sorriu maliciosamente.
— Quero uma noite com você. – declarei. — Uma noite nossa, onde vamos foder e fazer amor.
Cheryl estalou o olhar.
— Ok, agora estou excitada e molhada.
— Você aceita uma noite dessas comigo?
Continuei, dessa vez deslizando os dedos pelo vão dos seus seios, a ruiva suspirou assentindo.
— Palavras, Cherry.
— Claro que quero, TeeTee.
— Então, nós vamos ter uma lá em Los Angeles. – beijei sua boca. — Pode ser?
Ela respirou fundo.
— Você quer me deixar ansiosa, não é?
Sorri, assentindo.
— Mesmo depois de anos ainda consegue me enlouquecer.
— É desse jeito que faço você se apaixonar por mim, Cherry. – toquei seu queixo. — Agora... Eu acho que te ouvi dizer que estava excitada e molhada?
— Parece que vamos ter que tomar outro banho.
Cheryl mordeu os lábios antes de me puxar para mais um beijo.
Ela tinha razão, teríamos que tomar outro banho depois de transar embaixo da coberta e suar enquanto abafávamos os gemidos uma da outra.
[É isso.]
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