Boa sorte
Toni Topaz – Point Of View
“Estou indo para minha antiga casa.”
Ainda não acredito que realmente ouvi essas palavras saírem pela boca de Cheryl e que justificou sua ida dizendo que era melhor para nós. Não, não é melhor para nós, é melhor para ela. Nada tira da minha cabeça o quanto essa ruiva foi egoísta ao me deixar em um dos momentos mais importantes, dificultar mais minha caminhada para o cinturão. Sinceramente, sinto um misto de raiva e mágoa, por confessar estar atraída por sua ex e por ir embora.
Os dias sem ela passavam mais devagar, tentei focar apenas em treinos, o dia todo e todos os dias da semana. Não era como se tivesse alguém me esperando além do Lion. Resolvi guardar meus sentimentos por enquanto, teria dificuldade em me abrir para qualquer pessoa nesse momento. Seria o meu jeito de lidar com nosso “tempo”, dando socos e chutes para esquecer que a perdi.
— Toni.
Willian interrompeu meu treino, chamando minha atenção.
No mesmo instante parei com os movimentos, virando meu corpo suado e ofegante em sua direção, antes mesmo que pudesse falar algo observei uma pequena equipe de três pessoas atrás de si. Um deles estava de luvas, máscara e uma pequena maletinha na mão.
— Fica tranquila.
Meu treinador tocou em meu ombro.
Os visitantes eram da organização do UFC, prontos para fazer o meu último teste de sangue antes da luta. Soltei o ar, retirando as luvas que usava para treinar e sentando no banco mais próximo. Não havia tomado nenhum comprimido hoje, mas não lembro de ontem e poderia muito bem aparecer em meu exame.
Uma agulha em minha veia, alguns milímetros de sangue e estava liberada. A equipe fez todo o procedimento, pegando uma ficha e me dando para assinar. Em poucos minutos, os três estavam fora da minha academia.
— O que você acha?
Encarei Willian.
— Não se preocupe, não vai aparecer nada. – piscou em minha direção. — E agora podemos usar o remédio a vontade, eles não virão mais antes da luta.
— É, tem razão.
Suspirei, relaxando os ombros.
— Vou pegar no meu armário.
Avisou-me, saindo por entre os corredores da academia e sumindo.
Quando fiquei sozinha bebendo água, me perdi em pensar o que Cheryl acharia se soubesse que estou tomando estimulantes. Provavelmente me mataria, quem sabe seria uma briga muito pior do que a do cigarro. Pois é, minha esposa é assim, não posso protege-la, mas a mesma pode ser superprotetora comigo. Chega a ser engraçado o quão hipócrita aquela ruiva consegue ser.
×××
Estava entrando na semana da luta, será no próximo sábado e hoje é domingo faz três dias que minha esposa saiu de casa. É tudo tão ruim sem ela, o silêncio na casa enorme ficou insuportável, meu convivo nesses dias tem sido apenas Willian, Debora e Lion.
Hoje tirei o dia para aproveitar o meu cachorro e lhe dar atenção, o mesmo tem se tornado cabisbaixo, o olhar a todo momento na porta esperando por uma volta da ruiva. Sei que Lion sente sua falta tanto quanto eu, por mais magoada que esteja ainda a queria aqui, pelo menos a olhar de vez em quando ou sentir seu cheiro.
— Vem, Lion... Rápido.
Incentivei o labrador a vir em minha direção, o mesmo nadava na piscina se esforçando para manter o corpo boiando e as patinhas se movendo. A raça dele adora água e me arrependo de ainda não ter colocado uma grade em volta da piscina porque o mesmo quando pode se atira para nadar, é seu passatempo favorito.
— Você está muito rápido!
O elogiei, segurando em seu rosto.
Me perdi no tempo que ficamos brincando na água, Lion ficou um pouco mais alegre e quando comecei a sentir fome saímos da água. Completamente molhados adentramos a casa vazia, por onde passávamos deixávamos nossos vestígios de respingos, era estranho não ouvir um grito da ruiva de repreensão ou o seu olhar que conseguia nos deixar amedrontados.
— Ela com certeza nos mataria agora, garoto.
Suspirei ao falar, Lion choramingou em resposta parecendo saber exatamente o que estava sentindo. Talvez ele soubesse, mas diferente de mim, o labrador não havia sido “trocado” por outro. Infelizmente, tinha a impressão que ao sair daqui, Cheryl correu para os braços da sua ex e só de pensar nessa possibilidade o meu coração se quebra em milhões de pedacinhos.
Cheryl B. Topaz – Point Of View
O conselho de Mary colocado em prática parecia melhor do que quando apenas o mentalizei. Quero dizer, em partes. Dormir sozinha a noite em uma cama e casa sem nenhuma companhia, é horrível. Não tem uma noite que deite no travesseiro e não sinta falta do calor do corpo da minha esposa, até mesmo do peso de nosso cachorro nos pés.
Sentia falta deles, todos os dias.
Hoje faz cinco dias da nossa última briga, de quando fui sincera ao confessar sobre Maeve e acabar dando um “tempo” em nosso casamento. Desde então venho ignorando minha colega de trabalho, sentia que indiretamente a culpa era sua de minha relação com Toni estar desse jeito. Não temos muito contato na escola, poderíamos ter menos, mas desde que Sabrina parou de trabalhar por causa da gravidez tem sido obrigatório nos vermos por uma questão ou outra de trabalho.
Nessas horas sentia falta da minha melhor amiga, aquela que está na guerra e nunca mais me contatou. Bem, depois do término da nossa ligação naquela correria por algo acontecendo, é óbvio que fiquei preocupada, mas esperei um tempo para falar com seus pais e perguntar se não havia chegado algum aviso de que a filha deles havia morrido. Dramático, eu sei, mas não usei essas palavras especificamente e eles tiveram contato com Veronica, aparentemente a mesma está bem e viva, é o que importa.
Após sair de casa e ir para a minha de antigamente, tenho focado mais em trabalhar. Não queria chegar em casa e ficar tanto tempo sozinha, não é como se isso não acontecesse na escola já que todos terminam seus turnos e vão, mas aqui sempre havia algo para ocupar minha mente, como hoje quando tentava organizar a grade de aulas que depois da saída da Spellman ficou uma bagunça.
Já era noite, havia acabado de abrir um doce recheado de caramelo para diminuir o ronco de minha barriga. Sentia falta da comida da Debora, dos seus cafés da manhã repletos de variedade, ultimamente a minha preguiça tem falado mais alto que a fome. Assim que dei a primeira mordida, degustando daquele pequeno gorduroso prazer, o meu celular tocou em cima da mesa, o nome da Marina brilhava em minha tela e como em um reflexo atendi a chamada preocupada com minha esposa.
— Alô? Marina?!
— Oi, Cheryl. – o seu tom parecia neutro. — Você está bem?
— Aconteceu alguma coisa?
Franzi a testa.
— Não! – respondeu com rapidez me tranquilizando. — Não se preocupe, não é nada ruim...
— Ah, ok. – encostei meu corpo na cadeira. — Então, estou bem e você?
— Na verdade, só saberei após me responder se vai a luta no final de semana.
Enquanto a assessora falava, deixei meu doce de lado.
— Claro que vou, por que... – fechei os olhos por alguns segundos me auto interrompendo. — Ela não quer que eu vá?
— Cheryl, pode me dizer o que está acontecendo? A Toni não me contou nada, apenas disse que vocês estavam dando um tempo e não sabia se iria estar na luta com ela. – Marina estava preocupada. — Sabe, a mídia com certeza vai estranhar e...
— Marina, eu vou. – respondi convicta. — Não há outra opção, sempre iria apoiar a Toni independente se estamos em um momento ruim ou não, me admira ela achar que não irei.
— E por que diabos vocês não conversam?
— Porque a gente vivia brigando, precisei sair de casa antes que fôssemos direto assinar o divórcio.
— Não brinca com isso! Vocês são o meu casal, Cheryl. Se acabar, eu nem procuro mais o amor porque provavelmente não existe.
Soltei uma risada, negando com a cabeça.
— Marina, as vezes amor não é suficiente... Sabe, para ficar juntos.
— Precisa mais do que amar? Oh, tudo bem, a partir de agora ficarei solteira para a vida toda. – nós rimos juntas. — Espero que você e a Toni se revolvam, vou comprar sua passagem e providenciar o crachá para poder andar livremente por lá.
— Me mande o valor.
— Você sabe que ela nunca vai deixar você pagar então, nem tente. – revirei os olhos. — Te vejo sábado, Cheryl.
— Até sábado, Marina.
Nos despedimos, encerrando a chamada em seguida. Coloquei meu aparelho de volta sobre a mesa, passando as mãos no rosto e levando os dedos até minhas têmporas iniciando uma massagem.
A situação é difícil, tudo tem dois lados e nessa, nenhum quer ceder. Me sentia mais leve por ficar longe nesses dias, mas também morria de saudades dela, era como Mary falou: Os momentos bons vieram a minha mente e queria eles, não os ruins. Por mais que não estamos nos falando ou qualquer coisa do tipo, estamos casadas, nos amamos e isso não muda de uma noite pro dia, pelo contrario, tenho sentido que só aumenta.
×××
No sábado o meu vôo foi no meio da manhã, o que significa que minha esposa não me queria em sua pesagem, naquela onde rende fotos e uma pequena entrevista sobre o que esperam da disputa. Era esperado que Toni quisesse um pouco de distância, ainda não tivemos nenhum contato e provavelmente teremos o primeiro hoje, depois de tudo.
Quando desci do avião já sabia quem me receberia, os meus sogros e minha cunhada. Assim que os avistei, abri um pequeno sorriso puxando a mala média de rodinhas e me aproximando da família de minha esposa.
— Finalmente, minha filha.
Katy esticou os braços, me acolhendo da sua forma protetora e materna de sempre. Me vi um pouco mais necessitada de seu abraço, ficando alguns segundos naquela bolha onde ninguém poderia me atingir.
— Sam, você está tão grande!
Sorri para a Topaz mais nova, a mesma com seus nove anos está quase na altura de meu peito.
— Merida.
Ela sussurrou em meus braços, os anos passaram e o apelido ainda continuava, era incrível o quanto essa garotinha consegue aquecer meu coração com poucas palavras.
— Nós achamos que você viria com a Toni.
Antônio comentou após separarmos nosso abraço.
— Ela nos falou que você estava ocupada com a escola. – Katy completou. — Sabemos que deve estar louca para encontra-la, mas pediu para que ficasse em nossa casa já que irá treinar mais um pouco antes da luta.
Encarei minha sogra, balançando a cabeça positivamente enquanto percebia que eles não sabiam sobre nossa briga. Odeio esconder algo da Katy, principalmente porque é uma das que mais nos apoia, a que sempre nos ajuda não importa quem esteja errada.
— Claro, vou adorar matar a saudade de vocês.
Dei meu melhor sorriso para eles, focando para tentar levar a mentira adiante... Descobri que não sou muito boa nisso.
×××
Samantha demorou a terminar seu papo comigo, ela tinha muitas coisas da escola para me contar. O quanto todos querem ser seus amigos por ter uma irmã campeã, que adora ser bajulada e é como uma popular no seu local estudantil. Eu não esperava menos da irmã da minha esposa, as duas por vezes são iguaizinhas e a menor já demonstrou ter um ego elevado.
Katy acabou com nosso momento mandando a filha tomar seu banho e vestir-se para mais tarde, a mesma me chamou para a cozinha onde nos preparou um café passado na hora. Peguei a xícara quentinha em mãos, bebericando o primeiro gole enquanto sentia o olhar de minha sogra queimar em mim.
— Vocês estão com problemas.
Falou, sem ao menos perguntar algo.
— Quem?
Franzi a testa, me fazendo de desentendida.
— Cheryl, sei quando minha filha está mentindo e só não falei nada de primeira por causa de Samantha e Antônio.
— Nós estamos bem.
Insisti, se Toni não havia falado, por que eu falaria?
— Sei exatamente quando está mentindo, seu tom muda e se não estivesse segurando essa xícara com as duas mãos provavelmente cairia por sua tremedeira.
Observou, arqueando as sobrancelhas.
— Katy, é complicado...
Murmurei rendendo-me.
— O que a Toni fez dessa vez? Aquela menina não aprende.
Acabei rindo, negando com a cabeça e tomando mais um gole de meu café.
— Ela não fez nada. – pressionei os lábios em um sorriso. — Na verdade... – puxei o ar. — É uma longa história, vários lados e...
— E você irá me contar tudo.
Completou interrompendo-me.
— Vamos, não me esconda nada, por favor...
Respirei fundo, ela não me deixaria voltar para Seattle sem lhe contar os mínimos detalhes e era isso que faria, porque assim como Mary a minha sogra é uma ótima conselheira.
×××
O horário da luta estava chegando, no ringue já havia algumas disputas menos importante acontecendo, como sempre a minha esposa seria a principal e o centro das atenções. Sentada em meu lugar, estava tentada a ir até ela e lhe desejar boa sorte como todas as outras vezes, me sentia inquieta e louca para vê-la.
Ao meu lado estavam Katy, Antônio e Samantha, nenhum de nossos amigos veio desta vez. Sabrina pela gravidez, Betty e Jughead por algum outro motivo que não chegou até mim, provavelmente o casal anda namorando muito e sem tempo para comparecer a eventos.
— Já volto.
Sussurrei para minha sogra antes de levantar.
A mesma me deu um sorrisinho, ela com certeza sabia que iria atrás de sua filha. Caminhando por entre as pessoas procurei pelo “camarim” da minha esposa, acreditava que continuava sendo o mesmo de sempre e não estava enganada. Assim que cheguei respirei fundo e dei toques na porta.
— Cheryl!
Marina sorriu ao me receber, adentrei o cômodo.
O meu olhar correu a procura de Toni, a morena estava sentada enfaixando a própria mão. Nos encaramos por um mísero segundo já que a mesma desviou para se concentrar no que estava fazendo.
— Sabia que viria.
A assessora sussurrou para mim, apertando meu ombro e incentivando-me a ir até a lutadora. As minhas pernas se moveram na direção dela quase que automaticamente, o banco em que estava sentada cabia mais de uma pessoa então, sentei ao seu lado sentindo meu coração bater mais forte no peito.
Era nervosismo. Um nervosismo que sempre aparece quando minha esposa vai lutar, tenho medo que saía machucada e até mesmo apagada de dentro daquele ringue. Eu a amo, por mais que não acredite ou esteja com raiva para não perceber, mas me preocupo com ela da mesma maneira.
— Contei pra sua mãe.
Falei tentando puxar um assunto, meu olhar estava em sua mão quase terminada de ser enfaixada. Toni arqueou as sobrancelhas, focada na bandagem de algodão envolvendo sua palma.
— Claro que contou.
Deu de ombros.
Estreitei o olhar, raciocinando aos poucos.
— Entendi, você sabia que se eu fosse pra lá iria contar a ela.
— Me poupou de muita coisa, obrigada.
Seu tom era regado de ironia.
— Deveria ter contado.
— Pra que? Ela me xingar e dizer que estou afastando a querida nora para longe? Não, valeu.
— Se te ajuda, Katy nem soube o que dizer! – respondi, o seu olhar veio ao meu. — É, provavelmente ela queria me mandar a merda.
Os meus braços cruzaram, desviando nossos olhares.
— Então.. – o tom baixo, ela forçou a garganta. — Você disse que está interessada por outra?
— Achou que iria esconder? – a encarei. — Nunca faria isso com você, Toni. É a sua mãe e merece saber toda a verdade, ela está chateada que não contou.
— Porra.
Murmurou, voltando a atenção a mão.
Um silêncio se instalou, Toni terminou de enfaixar uma das mãos e fez menção de levantar para pedir a alguém que fizesse o mesmo na outra, segurei em seu braço a fazendo cair de volta no banco.
— Eu ajudo.
Falei, pegando o utensílio.
— Não precisa fazer...
— Eu quero.
A interrompi, pegando na mão livre e enrolando a bandagem aos poucos, quanto mais tempo demorasse mais ficaria perto dela e era o que importava no momento. Posso ter atração por Maeve sim, mas Toni ainda é a mulher que amo e quero estar, não há dúvidas quanto a isso.
— Pode tentar fazer a luta não demorar muito? – pedi, dessa vez eu que não a encarava concentrada em enfaixar sua mão. — Ainda sinto todo aquele nervosismo e preocupação da primeira vez.
Confessei, olhei para os castanhos ao final.
— É, eu sei. – pressionou os lábios. — Você sempre fica nervosa.
Balancei a cabeça em concordância retornando a atenção a sua mão, decidi me calar porque Toni estava fechada e não prosseguia meus assuntos. Queria que a mesma tentasse entender meu lado, mas por vezes nem eu entendo. A amo, quero estar perto, mas sinto que se voltar para casa será o inferno novamente, brigas, silêncio, acusações, falas sem pensar... Ah, dava tudo para nossa vida voltar a como era antes disso tudo.
— Pronto.
Falei, finalizando a proteção.
— Obrigada.
— Acho que preciso ir agora...
Mordi os lábios.
— Precisa sim.
Suspirei, realmente Toni parecia irredutível.
— Boa sorte.
Desejei, a morena forçou um sorriso em resposta.
Revirei os olhos, levantando do banco e dando três passos rápidos em direção a saída, foi o que contei antes de girar meu corpo de volta para ela. Apressei os passos retornando em sua direção, segurei seu rosto entre minhas mãos, inclinando-me para me aproximar e pressionei os lábios contra os seus, um selinho que demorou alguns – poucos, segundos.
— Agora sim. – puxei o ar. — Boa sorte.
Abri um pequeno sorriso, virando para realmente ir para meu lugar novamente. Não consegui ver sua reação, talvez ainda estivesse um pouco surpresa com nosso contato. Antes de sair ainda troquei um high five com Marina que sorria satisfeita com minha atitude, eu também estava porque apesar de tudo, Toni ainda era minha esposa, a minha lutadora e merecia o meu beijo – mesmo que muito diferente dos outros, de boa sorte.
Quando sentei em meu lugar, havia um sorriso em meu rosto que não passou despercebido por minha sogra, Katy torce por nós, sempre torceu e acredito que apesar de tudo seguirá torcendo. Na verdade somos todos praticamente um time, os Topaz.
Atenta no octógono esperava a luta começar, estava ansiosa para que Toni ganhasse logo, odeio os curtos momentos que fico a vendo dentro daquela grade trocando socos e chutes. Bom, talvez o universo não estivesse ao meu favor hoje. Foi a luta mais demorada da minha esposa, não houve nocaute e nem sabia como funcionava se a vitória não viesse assim.
Toni e Peaches estavam com rostos e corpos ensanguentados, era perceptível que a luta foi bem equilibrada tendo melhores momentos de uma e de outra, mas muito acirrada. Fiquei apreensiva com o resultado, seria por avaliações dos juízes. O meu corpo se mantinha em pé, as mãos juntas e olhar focado em minha esposa, nossos lugares eram perto do octógono então, consegui ver a mesma passar um pano no rosto enquanto esperava, retirando os vestígios de sangue.
Um sorriso largo se abriu em meus lábios e nos dela quando o seu nome foi anunciado como o vitorioso. Me senti aliviada, havia um medo de Toni perder a luta por não estar focada totalmente e sim abalada com nossas brigas, porém me arrependo de não ter confiado no seu talento e amor pela profissão, é óbvio que faria de tudo pelo cinturão.
Acordei de um pequeno transe quando percebi uma movimentação a minha volta, o meu olhar procurou por Toni e quando menos esperei a mesma estava a minha frente, é claro, ela sempre me beijava ao final das vitórias.
— Desculpe.
Falou antes de colar nossas bocas em um selinho demorado dando tempo de todas câmeras pegarem nosso beijo de comemoração. Sorri ao vê-la se afastar, mesmo que tenha pedido desculpa antes de me beijar, ainda sentia que era desejo das duas e que sentíamos uma a falta da outra.
×××
Sou acostumada com a rotina da Toni em dia de luta, após ganhar e a entrega do cinturão, muitas fotos e uma entrevista rápida no octógono mesmo, ela se limpa e veste para entrevistas mais demoradas. Sempre a esperei nesses processos e dessa vez não seria diferente, junto de seus pais aguardei a minha esposa por no mínimo duas horas.
Quando a avistei finalmente vindo nos encontrar, a lutadora ainda parou no meio do caminho porque encontrou Peaches. Claro que fiquei de olho nas duas, elas sorriam enquanto conversavam, aconteceu um aperto de mão e abraço rápido. Lambi os lábios que ficaram secos e cruzei os braços automaticamente, odiava quando se aproximavam da minha mulher.
— Oi, família.
Ela abriu um pequeno sorriso.
— Nossa campeã!
Antônio a puxou para os braços, Toni estava com o cinturão em seu ombro, diferente das outras vezes em que sempre deixava com Dimitri para guardar, acredito que não confie muito em Willian, é melhor porque meu sexto sentido para ele é péssimo. Troquei um rápido olhar com Katy, a única a saber de nossos problemas, a mesma tocou em meu ombro dando-me apoio.
— Então, não estou afim de comemorar...
Toni falou cabisbaixa e evitando de encarar qualquer um de nós.
— Que isso, filha. – Antônio tentou anima-la. — Só porque seus amigos não vieram? Nós também podemos nos divertir.
— Não, pai... É que...
Encarou o mais velho.
— Nossa filha está toda machucada e a Cheryl cansada do voo que teve hoje. – Katy interrompeu Toni, fazendo a mesma olha-la. — Vamos deixar elas irem para o apartamento e terem uma boa noite de sono.
— Ah, tudo bem...
Antônio relaxou os ombros, indo até a esposa.
— Você vai ficar no meu apartamento?
Toni sussurrou franzindo a testa.
— Não se preocupe, posso ir para um hotel e...
— Pare, não quis dizer isso. – tocou em meu braço, o meu olhar caiu para o pequeno contato e ela o desfez. — Só fiquei surpresa.
— Não vou ficar em cima de você, não precisa ter medo.
Toni revirou os olhos.
— Vamos logo!
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