Eu sou doente
Cheryl Blossom – Point Of View
Meus olhos se fecharam com força, mal havia tentado abri-los e senti minha cabeça latejar como nunca. Toquei minha nuca, a massageando em uma tentativa frustrada de fazer aquela dor passar. Os minutos correram, mantive os olhos fechados e concentrei minha mente, quando consegui enxergar onde estava vi meu quarto. No mesmo instante me perguntei como vim parar aqui, não lembrava de absolutamente nada de ontem, apenas de estar na luta e... Droga.
Toni!
Ergui meu corpo na cama, sentando na mesma e levando a mão a testa. Minha cabeça doía muito, era a pior ressaca de toda minha vida. Ao olhar para minhas próprias roupas, percebi ser as mesmas de ontem. Levantei, com muito esforço conseguindo me manter em pé e dando alguns passos. Não fui ao banheiro, eu precisava sair daquele quarto e saber o que estava acontecendo.
Me surpreendi quando consegui descer as escadas sem cair, apoiada no corrimão me arrastava em direção a sala, algumas vozes podiam ser ouvidas. As conhecia muito bem, todas. Quando cheguei ao final dos degraus, as vi sentadas, os olhares vieram a mim.
Veronica, Betty, Lauren e Camila.
Não precisava pensar muito para saber que muita coisa havia acontecido, que provavelmente alguma merda foi feita, mas torcia para que tivesse sido pouca coisa. Agradeci mentalmente quando Veronica – que percebeu meu estado, chegou até mim e me encaminhou até o sofá mais próximo. O silêncio naquele apartamento era torturante, queria fazer muitas perguntas, mas minha cabeça doía tanto que só consegui dizer uma coisa:
— Alguém pode me contar?
Minha voz quase não saiu, os meus olhos não conseguiam se manter abertos por muito tempo pois a cada dez segundos minha cabeça latejava forte me fazendo quase gemer de dor. Nem havia percebido, mas Betty tinha deixado a sala e apareceu com remédio ao meu lado. Balancei a cabeça em agradecimento, engolindo as capsulas e bebendo a água que a mesma me trouxe.
— Quem começa?
Perguntei novamente incentivando alguém a me falar o porque do silêncio, de Camila e Lauren estarem ali e principalmente: O porque de Toni não estar ali. Ouvi um suspiro ao meu lado, era Veronica, mexendo nervosamente suas mãos.
— Já que não lembra de nada... – iniciou. — Irei fazer um resumo.
Seu corpo virou de frente para o meu.
— Você bebeu, bebeu muito, Cheryl. – o tom duro de Veronica me assustava, estava me repreendendo. — E você contou toda a verdade a Toni, que não parou de beber e fumar, e que não foi ao AA.
— Merda.
Murmurei.
Um embrulho se fez presente em meu estômago, minha cabeça latejou e fechei os olhos com força levando a mão ao rosto. Puxei o ar, tentando amenizar a sensação horrível que começava a se instalar em meu corpo e mente.
— Tem mais...
Ouvi Camila, levantei o olhar para ela que estava de frente para mim.
— Seu rosto está em todas revistas, em toda a internet e a minha equipe... Não quer mais você compondo no meu álbum, Cheryl.
— O que?
Praticamente gritei.
O meu corpo levantou automaticamente, tudo pareceu girar e um enjoo forte se instalou em meu estômago. Levei a mão a barriga, sentindo minha náusea ficar cada vez mais aguda. Caminhei o mais rápido que consegui para o banheiro mais próximo, era no corredor, não precisei subir escadas.
Quando abri a porta, meu corpo cambaleou e eu cai, antes mesmo que pudesse me levantar, o meu refluxo veio com tudo e vomitei no chão. Era apenas água ou bebida, me sujei toda assim como o chão do banheiro. Consegui me erguer, arrastando o corpo para perto do vaso sanitário e o abrindo. O enjoo não havia passado e como previsto, vomitei novamente, usando da pouca força que tinha para colocar tudo para fora. Em certo momento, não havia mais nada, mas ainda sim, forçava fazendo minha garganta doer.
— Aqui, Cheryl. – Veronica apareceu com uma garrafa de água. — Beba.
— Se eu beber, vou vomitar.
Choraminguei, sentindo-me uma invalidada por estar naquela situação. Arrastei meu corpo em meu próprio vomito, tudo a minha volta fedia as roupas, o cabelo e o banheiro. Minha garganta estava ardida, o enjoo não havia passado e minha cabeça estava latejando. Era o suficiente para haver lágrimas em meus olhos.
— Não importa se vai vomitar, precisa beber.
Insistiu, empurrando a garrafa em minha direção. Aceitei, pegando a mesma e obrigando-me a tomar alguns goles. Era horrível a sensação de pensar que não melhoraria nunca. O meu corpo estava fraco, mal sabia se conseguiria levantar e o olhar de Veronica... Porra. Ela me olhava como se fosse uma doente.
— Tenta tomar um banho, Cheryl.
Ela pegou em minha mão, pouco se importando se estava suja ou não e me ergueu. Apoiei-me em seus ombros, olhando para meu próprio corpo e vendo o estado de minhas roupas.
Não conseguiria, não tinha forças pra nada.
— Eu... Eu quero saber o que aconteceu. – sussurrei, o meu coração batia forte no peito. — Eu preciso, Ronnie.
— Irei te mostrar, Cheryl, eu juro, mas precisa tomar um banho.
Mostrar? Mas o que...
— Entre no banho e eu mostro.
Falou, ajudando-me a adentrar o box do banheiro. Percebi que minha melhor amiga queria tirar minha roupa, não vi utilidade e liguei o chuveiro, adentrando para debaixo do mesmo sem retirar nada. Ouvi o suspiro de Veronica, mas não me importei. Estava com pressa de ouvir ou ver o que havia acontecido, precisava acabar com essa curiosidade.
Fiquei sozinha no box do banheiro, molhando-me inteira e sentindo minha tontura e enjoo aliviarem um pouco, recuperando minhas forças. Coloquei toda minha cabeça embaixo da água, apoiando minhas mãos na parede e implorando para aquela merda de dor passar. Pelo visto demoraria porque provavelmente coloquei fora o remédio que Betty acabará de me dar.
— Cheryl.
Veronica me chamou, ela estava fora do box e com celular em mãos. Vi seu receio, mantendo a tela virada para si. Retirei os cabelos molhados que atrapalhavam minha visão e suspirei, balançando minha cabeça em positivo pedindo para que a mesma me mostrasse logo.
— Primeiro, isso é de quando você começou a beber, alguém te reconheceu e filmou.
Explicou, virando a tela para mim e lá estava, eu e Nick, sentados no chão com uma garrafa de whisky. Nós riamos, brincávamos e ao fundo, ouvia a luta acontecendo. Pequenas recordações vieram a minha cabeça de quando encontrei o meu antigo amigo e ele me ofereceu seu copo. Não entendo o que aconteceu, mas eu precisava daquela bebida ou iria acabar surtando.
— Agora, você precisa se manter calma, Cheryl. – Veronica pediu. — Porque isso vai doer.
Encarei minha amiga, o seu receio era cada vez maior.
— Me mostre.
Pedi, desligando a água do chuveiro e saindo debaixo da mesma. O meu rosto estava molhado, as gotas caindo me atrapalhavam, passei a mão em minha pele a enxugando e fixei meu olhar na tele esperando o vídeo começar.
Ao ver a imagem de Toni indo para cima do Nick, meu peito doeu. Fechei meus punhos, tentando controlar minha respiração que estava ficando ofegante. A lutadora parou com o meu chamado, a câmera foi a mim e aquela... Aquela não era eu. Um sorriso de deboche no rosto, o copo na mão e as palavras mal sendo pronunciadas.
As palavras.
“Pelo jeito nunca me amou.”
“Você ama a merda desse álcool.”
Eu vi suas lágrimas caindo, a maneira que as palavras foram desferidas a mim. Quando a toquei, parecia que a mesma tinha nojo de mim. A maneira que seu olhar pareceu me repugnar, era como se fosse um pecado a sua frente. E com certeza era. Eu era mentira pura e naquele momento ela viu toda a verdade, a verdade que tanto lutei para esconder porque poderia acontecer... Isso. Vi a mesma sair sem olhar para trás, os meus gritos escandalosos pedindo por sua volta e a maneira que todos me encaravam. Aquela não era eu. Não podia ser. O vídeo continuou por mais minutos e só acabou quando meu corpo caiu desmaiado, minha melhor amiga era a única a estar lá para me segurar.
Meus olhos se fecharam, as lágrimas deslizaram por minhas bochechas e a dor que sentia em meu peito era insuportável. Deu tudo errado. Fiz tudo errado. Senti a mão de Veronica em meu ombro, tentando me dar um conforto que era impossível no momento.
— Ronnie. – a encarei, meu tom falhando por conta do choro. — Me diz que ela ganhou a luta, por favor.
Veronica mordeu os lábios, suspirando.
— Ela não ganhou, Cheryl.
Um soluço escapou por minha boca, o meu corpo se curvou com a dor que sentia naquele momento. Minha cabeça balançava em negação. Era tudo culpa minha, a fiz perder, quebrei seu coração e ainda por cima, acabei com minha própria carreira.
— Cheryl...
— Me deixe sozinha.
Pedi, minha cabeça latejando a todo momento.
— Não, é melhor...
— Caralho! – levantei gritando. — Me deixa sozinha.
Esbravejei contra Veronica que se assustou, mas não moveu nenhum músculo. Rangi os dentes, brava com a maneira que ela não me obedecia e minhas mãos entraram em contato com seu corpo a empurrando.
— Cheryl, para.
Falou calmamente.
— Eu. Quero. Ficar. Sozinha.
Enquanto falava, empurrava seu corpo para fora do banheiro e ao final, gritei a ultima palavra batendo a porta. Tranquei, apoiando minha cabeça na madeira e socando a mesma com força. As lágrimas voltaram, um choro alto começou a sair por entre meus lábios. Soluços, gritos, batidas na porta. Nada fazia aquela maldita dor passar, nem a do peito e muito menos a da cabeça.
Eu a perdi.
Tenho certeza disso.
E o pior, é saber que tive a chance de tê-la pra sempre.
Não tenho noção de quanto tempo fiquei naquele choro, mas ele me deixou exausta ao ponto de que estava sentada no chão novamente. O corpo encostado na porta, os olhos ardiam e algumas lágrimas ainda caiam. As minhas roupas molhadas faziam meu corpo tremer de frio, mas essa era minha última preocupação. Aquela dor... Aquela dor na cabeça insistente estava me matando.
Apoiei uma não no chão, forçando-me a levantar. De cabeça baixa dei passos até conseguir me apoiar na pia, quando ergui meu olhar, consegui me ver no espelho redondo. Eu estava acabada. Os cabelos molhados pingando água, os olhos vermelhos e escorrendo maquiagem preta, a cor da minha pele estava mais branca que o normal. Estava um caco, literalmente. Me encarei, por um longo tempo tentando me encontrar e buscar a Cheryl. Não sei qual. A vixen, a neta, a namorada, a filha amada, a filha rejeitada, a amiga... Eu só queria encontrar uma Cheryl feliz, com vontade de viver e longe desse maldito vício.
Vício.
A palavra ecoou na minha cabeça e acabei por rir, encarando meu reflexo.
Minha respiração era pela boca, meu nariz estava trancado devido ao choro. Minha cabeça latejou, forte, fazendo meus olhos se fecharem e uma de minhas mãos ir a nuca massageando. Mais algumas lembranças da noite de ontem, as piores. O olhar de Toni ao dizer que eu amo o álcool é algo que marcou naquele momento, ela estava... Quebrada. Eu a quebrei. Como sempre faço com tudo. Arruinando pessoas e sentimentos.
Abri meus olhos, encarando-me no espelho e vendo aquela Cheryl, aquela do vídeo que acabou com tudo. Minhas mãos se firmaram na pia, meu sangue pareceu correr mais rápido nas veias e senti ódio. Ódio de mim mesma, das minhas atitudes e principalmente do álcool.
Meus lábios se afastaram, dando espaço para um grito agudo e com som da vogal “a” sair. Demorado, ensurdecedor. A minha raiva estava sendo liberada a cada segundo a mais que mantinha meu grito, os meus dedos estavam ficando sem circulação devido a maneira que os pressionava contra a pia. Quando não havia mais forças, mais voz... Puxei o ar com força, minha respiração ficou ofegante e me senti sufocada... Suja.
Suja de mentiras.
Olhei para meu próprio corpo, o cheiro do álcool em minhas roupas pareceu me enojar. Arranquei de meu corpo, jogando em qualquer canto do banheiro. Só parei quando fiquei totalmente nua, mas ainda sentia o cheiro... O gosto. Era horrível. Abaixei minha cabeça, apoiando-me no vaso e forçando para vomitar, mas não vinha nada. Não havia nada. Caminhei para o box, ligando o chuveiro e enfiando meu corpo para debaixo da água.
— Sai, por favor.
Implorei, esfregando meu corpo com o sabonete. Era como se o cheiro de whisky estivesse impregnado em meu corpo. Não quero mais. Não posso mais. Não consigo mais. Essa Cheryl, ela não pode mais existir. O desejo pelo álcool, tem que acabar. Por favor, sai.
— Cheryl!
Ouvi a voz de Veronica na porta, misturada com batidas.
— Ronnie.
Voltei a chorar ao chama-la, as mãos arranhando meu próprio corpo na tentativa de acabar com aquela tortura, aquele cheiro, aquele gosto... Coloquei água em minha boca, cuspindo fora, mas sem sucesso. O whisky parecia que estava impregnado em mim.
— Me ajuda.
Pedi, a porta batia.
— Tem que haver outra chave, Camila.
Conseguia ouvir o desespero no tom de Veronica. A partir desse momento, o meu cérebro pareceu ter desligado e tudo estava em câmera lenta, silencioso. A dor de cabeça ficou ainda mais forte, me fazendo curvar o corpo embaixo da água. Minhas mãos se enfiaram em meus cabelos, eu gritava pedindo para que aquilo passasse logo, era como se ninguém me ouvisse e nada acontecia só ficava cada vez pior.
O cheiro.
O gosto.
A dor.
Meu peito ardia, o coração batia tão forte dentro do peito que doía.
Tudo doía.
Eu estava doente.
Eu sou doente.
— Me ajuda, por favor!
Implorei gritando.
Assim que terminei de falar, senti braços me envolvendo em um abraço apertado. Tudo pareceu voltar ao normal, o som da água do chuveiro, a voz de Veronica dizendo que estava comigo. Abri os olhos, percebendo que estava como uma criança assustada em seus braços, as lágrimas ainda caiam, mas o cheiro, o gosto e a dor sumiram. As mãos de minha amiga afagavam meus cabelos no intuito de me acalmar.
— Cheryl. – me chamou. — Você está bem?
Tentei acalmar minha respiração para responde-la, mentalizando que só precisava inspirar e soltar, enquanto sentia meus lábios tremerem. Levantei meu olhar para a morena, ela estava assustada conseguia perceber isso apenas na forma que me encarava. Fechei meus olhos alguns segundos, sentindo os mesmos arderem ao descer mais algumas lagrimas insistentes. Eu estava nua, nos braços da minha amiga, surtando por algo que talvez nem era real. Essa sensação, nunca mais quero ter em minha vida. Me sentia envergonhada, impotente, completamente refém de algo que não queria mais estar. Voltei a olhar para minha melhor amiga, era o meu refúgio no momento.
— Eu sou alcoólatra, Veronica.
Sussurrei, sentindo a dor e peso daquelas palavras.
Ela ficou me encarando, sem reação. Era difícil, torturante e sufocante dizer essa frase, me auto titular doente. Porém, não aguentava mais viver assim, estragando e perdendo tudo. Não tem uma pessoa a minha volta que não foi machucada por conta do meu vício.
E Toni, sempre esteve certa.
— Sou a porra de uma alcoólatra.
Voltei a falar, o tom saindo entre dentes, sentia raiva de mim mesma por deixar chegar a esse estado e por ter perdido Toni mais uma vez. Não podia, não dessa maneira, não quando ela mais precisava de mim. Mas como sempre coloquei algo a sua frente.
— Está tudo bem, Cheryl.
Veronica falou, tocando em meu rosto.
— Preciso de ajuda.
Confessei, sentindo as lágrimas voltarem com ainda mais força. Solucei, forçando mais meu corpo contra o dele em busca de apoio e conforto.
— Shh... – voltou a me abraçar. — Eu vou te ajudar.
Sussurrou, acolhendo-me em seus braços e balançando meu corpo como uma criança quando está sendo ninada. Pra lá e para cá, sem se importar de estarmos sendo completamente molhadas pelo chuveiro. Fechei os olhos, vulnerável nos braços da única pessoa que conseguiu lidar comigo naquele momento. Veronica era minha salvação, e meu coração – todo despedaçado, sentiu uma pontinha de esperança ao ouvir suas palavras:
— Vai ficar tudo bem, eu prometo.
|Olá.
Me sinto na obrigação de falar algo sobre esse capitulo aqui nas notas finais entao, vamos la.
Eu sinceramente sempre que termino de escrever releio o capitulo no minimo umas 10 vezes, colocando mais detalhes e corrigindo erros, palavras repetidas. Esse capitulo, eu escrevi ele e reli no maximo três vezes. Não sei se aconteceu com vocês, mas senti tantas coisas lendo que fiquei mal e não consegui ler mais. Peço perdão se houver muitos erros porque é um ponto fraco meu esses capitulos emocionais demais.
Tenho que confessar, desde os últimos capitulos da primeira temporada, a "be my forever" onde elas estavam encaminhando para ficarem longe uma da outra, eu já tinha todo esse caminho delas até aqui e principalmente o da Cheryl. Vocês me imploraram para que acabasse com o vício dela, mas diferente de uma outra fanfic minha, eu quis detalhar muito bem o que é um alcoólatra. Nunca tive experiência, mas acredito que esteja bem perto da maneira que aconteceu com a Cheryl. Alcoólatras são doentes, eles precisam admitir isso, a Cheryl precisou admitir isso pra ELA MESMA. Infelizmente, ela agora parece estar no fundo do poço, acabou aceitando tarde demais e provavelmente vai carregar isso pelo resto da fanfic.
Bom, eu só estou falando isso porque MUITA gente desistiu da fanfic pelo caminho, já falei uma vez que escrevo a história que EU quero ler. Não estou menosprezando quem me acompanha, mas vocês deveriam respeitar mais alguns escritores que estão aqui de graça alimentando vocês. Espero que não levem na grosseria, eu estou apenas sendo sincera com vocês e realmente não me importo com criticas, porém muitos já desistiram por terem criticas desnecessárias sobre suas histórias.
Espero que tenham gostado, estejam gostando, era só isso mesmo, um pequeno desabafo.|
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