Capítulo 46: Mãos de sangue
A semana correu sem mais problemas, mas o Alejandro tem-se tornado muito chato!
Deviam ser umas 6H da manhã de Sábado, e eu estava decidida a fazer o pequeno-almoço para o Justin. Eu ia mostrar-lhe que consigo fazer umas 6 panquecas e um bolo com chocolate!
Pesquisei uma boca receita na internet e meti os ingredientes em cima da mesa da cozinha.
Misture o açúcar com a farinha...
Peguei na balança e pesei as quantidades exatas, e meti tudo num recipiente para levar à batedeira.
Comecei na velocidade mais rápida, afinal... quanto mais depressa bater, mais depressa posso começar!
Péssima ideia! Enchi a cozinha de um névoa branca e fiquei parecida com um boneco de neve depois de muito espirros dados.
Decidi juntar um pouco de essência de baunilha, cheirava muito bem e água de rosa também, tinha um óptimo perfume!
Tinha uma boa cor, portanto deixei estar ali e comecei a fazer o bolo.
Seguindo as instruções: primeiro o forno.
Depois os ovos e tudo isso. Desta vez comecei devagar para não ter mais "nevões" indesejados.
Uma caneca de chocolate em pó...
Vamos ser generosos e meter duas!
Misturei tudo na batedeira durante um bom tempo e mandei a cozer em pequenas formas... para o caso da coisa correr mal na grande. Dizia 25 minutos e eu estive a olhar ora para o relógio ora para o forno durante esse tempo todo. Estes bolinhos iam sair perfeitos, quer quisessem quer não!
Esse tempo depois desliguei o forno e retirei os bolinhos: estavam tão fofos!!
Comecei a fazer as panquecas. Ok coragem!
Aqueci a frigideira e meti um pouco da mistura esbranquiçada. Fui buscar os utensílios e quando a virei... estava preta por baixo! Parecia carvão!!!
Deitei-a fora.
Recomecei. Vá... calma, concentração e precisão!
Fui verificando o seu estado e quando ficou moreninha o suficiente virei-a, atirando-a ao ar como os chefes fazem.
Acho que dei um gritinho, mas calei-me logo para não acordar o Justin. Estava tão feliz que tirei snap, para todo o mundo ver!!
A primeira já estava! Só faltavam 5!
Cada panqueca, com o lume no mínimo durou-me uns 15 minutos.
Despejei-lhes um xarope que fiz (depois de queimar umas 3 frigideiras) e umas flores comestíveis.
A seguir fui enfeitar os bolos! Meti-os numas forminhas coloridas de papel e deitei-lhes um pouco de açúcar em pó. Fiz o café na chaleira e aqueci o leite.
Eu gosto de café com leite, o Justin apenas de café.
Meti em dois tabuleiros e enfeitei. Estava tão querido e colorido! Tirei foto! Estava muito orgulhosa do meu trabalho!
Olhei para o relógio: 10:25H
Horas de acordar!
Bati à porta do quarto dele, mas não respondeu. Entrei na mesma e deixei o tabuleiro em cima da mesinha de cabeceira.
- Bom dia!- Disse sentando-me ao fundo da cama.
- Só... 5 minutos...- Disse ainda a ressorar, voltando-se na cama.
Abri os estores e deixei ficar à frente os cortinados escuros.
- Qual é a tua?!- Perguntou chateado/furioso todo despenteado e com um dos olhos fechado.- É sábado! Eu posso dormir até tarde! Estava logo na primeira linha do contrato!
- Bom dia!- Ignorei.
- É uma honra para vocês servir o vosso país e os seus governantes, especialmente a família real... Oh sim! O raio do instrutor nunca esteve na minha posição, estasse a ver...
Uns de manhã rezam, outros resmungam!
- Own... Não sejas assim comigo, eu fiz o pequeno-almoço!- Disse entusiasmada.
- Deve de estar uma coisa esperta, deve...
Senti-me mal. Ele tinha razão, devia estar uma porcaria.
- Mas fiz bolo...- Tentei um pouco triste.
- Bolo?!- Sentou-se imediatamente na cama.- Temos de ver se está bom não é? E... panquecas?! À séculos que não como panquecas!- Disse sentando-se e pegando no tabuleiro.
- Não!- Impedido.- Eu levantei-me às 6H da manhã para ter o teu pequeno-almoço pronto a esta hora e tu só reamungaste e disseste mal sem provar!!- Disse chateada.
- Ok... Desculpa Sofia, eu não fui simpático contigo. Eu não sabia que tinhas tido tanto trabalho assim comigo; tu não tinhas de o ter, eu estou aqui para te servir a ti e não o contrário...- Disse com aquele peitoral de Deus Grego Rebelde e Tatuado à mostra.
- E...- Desdenhei.
- És e serás sempre a princesa mais delicada, linda, perfeita e inteligente de todo o Mundo!- Revirou os olhos. Sorri.
- Acho que agora sim, já mereces pequeno-almoço.
Fui buscar o meu tabuleiro e sentei-me em frente a ele.
- Hum... Estas panquecas estão do outro Mundo!!- Disse deliciado.
Iei!!!
- Isto está demais Sofia! Obrigada.
- De nada.
Depois provamos o bolo.
- Petit Gateau!- Deliciou-se.
Pois... Petit Gateau... Que vergonha: com tanto chocolate não cozeu totalmente!
- O melhor pequeno-almoço de sempre! Obrigada Sofia!- Ele estava tao fofo! Despenteado e todo lambuzado de chocolate: a minha combinação preferida...
- Estás todo sujo!- Ri.
Ele olhou-se e limpou-se.
- Desculpa, eu vou vestir qualquer coisa...- Disse tentando levantar-se.
- Se estiveres confortável, tudo bem... eu não me importo, mas só... não andes de boxers pela casa, por favor. Isso é que não!- Disse vermelha.
- Tudo bem.- Disse passando a língua pelos lábios.- Agora que já estou de barriga cheia vou voltar para o meu sono santo. Chama-me se a casa começar a arder, sim? Até depois!- Deitou-se outra vez.
- Que pedregulho para dormir!- Queixei-me e dei-lhe um beijo na testa levando os tabuleiros comigo.
Fui ver TV para a sala e estava a dar o 007: Skyfall e eu não perco nenhum dos filmes nunca! (A ironia é que nos últimos meses tenho andado com um 008!)
Eu adorava aquela forma sofisticada como o Daniel Craig fazia o trabalho e sempre astuto e claro... tinha mel de certeza, porque boas ou feias, as mulheres iam todas parar à cama dele!
O Justin era mais ou menos assim, mas muito maia sexy!!!
- Eu vou fazer as pipocas...- Disse vendo-me deitada no sofá castanho da sala.
- Não ias dormir?!
- Está muita claridade no quarto.- Disse.
- Podes fechar o estor.
- Mas tenho preguiça!- Disse metendo as pipocas no microondas.
- Ok.
Eu ri.
Minutos depois sentou-se ao meu lado com as pipocas. Tentei tirar algumas mas impediu-me:
- Ei!! Eu fiz-te o pequeno-almoço!
- E eu levei um tiro pela tua vida insignificante e fiquei 3 meses de baixa!
- Eu... eu não tive a culpa... eu não queria que aquilo acontecesse... Porque é que tu às vezes viras um idiota autentico?!- Disse levantando-me com os olhos húmidos e correndo para o meu quarto.
- Sofia, eu estava a brincar, não era a sério...
- Tu brincas de mais! Eu realmente ando com dificuldades em perceber quando é que estás a falar a sério ou a brincar!- Gritei.
- Sofia...
- Não! Não digas mais nada!- Tranquei-me no meu quarto a ouvir piano no telemóvel e a chorar a lembrar-me daquele dia horrível.
- Sofia, corre...- Essas palavras matavam-me.
Abri os olhos com a respiração muito acelerada enquanto pequenas lágrimas deslizavam pela minha face.
A imagem dele naquela cama de hospital, quando esteve no chão à minha frente a sangrar e eu sem poder fazer nada...
Ele não sabe o quanto aquelas simples palavras me magoaram?!
Abracei uma almofada e chorei silenciosamente, a sensação de culpa apoderou-se de mim e era horrível.
Limpei as lágrimas e decidi ir ouvir música para a frente da casa.
- Onde é que vais?- Perguntou quando abri a porta.
- Para um sitio onde nao tenha de te aturar!- Curta e direta.
Tinha uns shorts de ganga e um crop-top branco e um quimono azul claro.
Eu nunca tinha usado shorts com crop-top 5 cm acima do umbigo, era muito ousado, mas uma pessoa normal podia usá-lo.
Desde que cheguei que não largo os meus óculos de armação pretos. Eu usava lentes, mas assim é muito mais confortável.
Fechei os olhos e senti o Sol beijar a minha pele clara, sabia bem aquele calor... Claro que outro calor também seria bom, mas quem mo podia dar está muito ocupado a olhar para a TV e a verificar a sua figura daqui a 20 anos.
O meu cabelo ondulado estava solto e para o meu ombro direito.
A música fazia-me vibrar. A música clássica é o meu tipo favorito porque expressa emoções sem usar palavras, até o mais vazio ser humano sentia as emoções que a música passava, felicidade, raiva, amor...
Uma melodia apaixonada era tão doce e feliz... Uma das minhas favoritas.
- Sofia?- Abri os olhos, mas não o olhei.
- Sim?!- Senti-me levantar fervura.
Ok minha linda, mantém a calma... Uma soberana não se pode enervar assim!
- Que é que queres almoçar?
- Eu não tenho fome!
- Tens de comer alguma coisa, Sofia...
- Eu já disse que não quero!
- Pronto, ok... Qual é a razão de toda a frescura, mesmo?!- Ele teve a lata de me perguntar isto?!
- Qual é a razão da frescura... Uma boa pergunta... Queres responder ou tenho eu mesma de explicar?!
- Se ainda é por aquilo eu estava na brincadeira, já tinha dito...
- E como eu já tinha dito, não achei piada. Eu não gostei nem um pouco dessa brincadeira! Maguou-me muito sabias?!
- Eu não fazia ideia...
- Eu vi-te sangrar na minha frente! Eu pensei que ias morrer por minha culpa! Eu já matei pessoas suficientes, não preciso que sejas o próximo, Justin!- Eu tirei todo o peso de mim neste desabafo.
Fez-se silêncio.
- Sofia, tu não mataste ninguém!- Garantiu.
- Isso é mentira! Eu tenho de camuflar a culpa todos os dias, eu... eu não ia conseguir viver comigo mesma se tu tivesses morrido por minha culpa.- Disse o mais baixo possível e a partir daí, nunca mais consegui conter as lágrimas.
- Princesa...
Abraçou-me com toda a força que tinha e eu retribui escondendo o rosto no seu peito e enchendo-o de lágrimas.
Ele passava a mao pelos meus cabelos e beijava a minha testa para me acalmar, mas eu mal conseguia respirar com os soluços.
- Desculpa, eu não sabia disso.- Disse aconchegando-me no seu ombro.
Eu não respondi.
- Anda, vamos para dentro.- Disse puxando-me pela mão.
Eu tentei parar de chorar.
Ele fechou a porta e limpou-me as lágrimas com cuidado, como se me pudesse partir.
- Lamento, mas não te sintas assim. Tu fizeste tudo o que podias...
- Não foi suficiente. Não é suficiente!
- Não sejas assim tao dura contigo mesma.
- Como é que fazes para esquecer isto?- Perguntei.
- Não se esquece, aprendes a viver com essa sensação.
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