Capítulo 2: Conversa pelo jardim
- Peço mil desculpas milady.- Disse o agente fazendo uma leve vénia.
Usava um fato preto completo e uns sapatos de verniz. Tinha o cabelo loiro escuro puxado para trás. As mangas do fato estavam levemente puxadas para trás, pelo que se viam as tatuagens definidas e atraentes nos braços. O senhor fez uma leve vénia e fechou a porta atrás de si.
- Que seja a ultima vez. Tenho de rever os pedidos ao MI6: não quero agentes mal-educados no meu país!- Disse Isabel autoritária e com um certo divertimento, enquanto bebia o chá.
- Volto a pedir as minhas mais sinceras desculpas, não era de modo algum minha intenção ofender ambas as senhoras.- Admitiu com uma mão dentro do bolso.
Sofia ainda observava absorta esta postura arrogante e elegante ao mesmo tempo.
- 008, a sua tarefa é cuidar da minha sobrinha, Sofia do Mónaco até receber ordens que digam o contrário.
- Com certeza, majestade. Será uma honra passar o meu tempo consigo, princesa.- Falou Justin de forma educada fazendo uma vénia, pegando na mão de Sofia e deixando um leve beijo cortês.
Giro pra... Uma princesa não usa desse vocabulário!
- Tia, posso mudar-me?- Sofia começava a sentir-se desconfortável dentro do vestido. Pelos vistos não se lembrou de mudar de roupa no avião. Pudera, com toda a confusão...
- Claro.- Sorriu a velhota.
Isabel bateu palmas e uma senhora com os seus 30 anos apareceu:
- Esta senhora, vai levar-te ao teu quarto, tens lá tudo o que precisas. Quando precisares de algo deves chamá-la.
- Hum... Serviços Secretos, empregada... Falta mais alguém para me servir?! O jardineiro, talvez?! Tia, eu sou perfeitamente capaz!
- Sim, mas és uma princesa e deves de ser tratada como tal!
Sofia apenas assentiu e fez uma leve vénia. Justin abriu a porta e deixou a princesa passar, sem nunca estabelecer contacto direto, depois que a empregada e Sofia passaram, o próprio fez uma vénia à rainha e fechou a porta atrás de si. Pôs os óculos de sol retangulares e seguiu-as.
Depois de muitos minutos a andar por aquele palácio enorme chegaram ao quarto de Sofia:
- É aqui, espero que se sinta confortável. Caso precise de algo não hesite em chamar-me, alteza.
- Obrigada...
- Olga, alteza.- Disse a empregada.
- Obrigada Olga.- Sofia sorriu e pouco depois fechou a porta atrás de si.
Justin esperou do lado de fora com aquele ar de durão com as pernas ligeiramente afastadas, mãos atrás das costas, maxilar tenso e sempre com muita atenção ao que acontecia, como se estivesse sempre desconfiado de algo.
A princesa tirou a tiara com cuidado e ficou a observá-la por algum tempo com imenso cuidado, como se a pudesse partir a qualquer momento. Umas lágrimas desciam devagar e pesadas; limpou-as com cuidado e elegância. Escolheu uma roupa mais confortável, onde se sentisse à vontade e fez um rabo de cavalo no topo da cabeça, olhou para o seu símbolo de nobreza uma vez mais e saiu.
- O próprio país está feliz em tê-la por cá: em Inglaterra nunca fez sol esta semana, aliás esteve sempre a chover!- Anunciou o agente com um sorriso simpático de modo gentil.
- Obrigada! Eu sempre gostei muito de vir visitar a minha tia-avó. São todos muito simpáticos e o próprio pais é muito divertido e bonito, a biblioteca real é fantástica, por outro lado nunca visitei Londres sozinha... tenho a certeza que terei muito tempo para o fazer, tempo demais!
Os dois foram caminhando em direção ao enorme jardim do palácio. Sofia percebeu que Justin não era de muitas palavras, ou isso, ou era proibido de o fazer. Caminharam sobre a relva húmida:
- E o senhor, com este...
- É só Justin, o Senhor está lá algures.- Disse fazendo Sofia rir.
- Sim, desculpe. O Justin também passa muito tempo longe de casa? Com este tipo de trabalho...
- É algo que eu gosto de fazer. Aos 22 anos ser promovido para o destacamento de 00 é realmente difícil e tive de trabalhar imenso para o conseguir, não que seja guarda-costas da família real diariamente...
Sofia sorriu já que Justin carregou mais na última parte.
- É algo de que orgulho sim: defender o meu país até à ultima gota de sangue que tiver... existem muitos que queriam estar no meu lugar.
- Percebo... Sabe? Se não fosse britânico, seria uma honra tê-lo nos meus serviços secretos.- Sofia sorriu-lhe.
Justin sorriu com ela:
- Mas e a princesa, se me for permitido perguntar sem parecer intrometido, o que é que gosta de fazer?
- Na verdade, estudei nas melhores escolas da Europa para conseguir ser rainha um dia, porém ainda assim é difícil. Aos 20 anos, ainda sinto que estou um bocado "protegida". Só estou por ali a fazer de vela, praticamente.- Desligou-se do vocabulário dispensável usado pela família.
Às vezes gostava de se sentir uma jovem normal, sair com os amigos, dizer quantos palavrões quisesse, deixar de usar palavras delicadas, deixar de ser uma lady para ser uma devassa quando fosse preciso.
- Fazer de vela?- Os dois caminhavam entretidos com a conversa, Justin continuava com as mãos atrás das costas.
- Sim, presenças em eventos oficiais, reuniões, encontros com vários representantes de países... Torna-se aborrecido.- Baixou um pouco a cabeça, entristecida.
- É uma grande responsabilidade, quase tão grande como a que tenho agora.
Sofia sorriu.
- Eu não costumo dar muitos problemas...
- O problema não é a menina...
- Eu sou Sofia, e sou crescida o suficiente para deixar de me chamar "menina".- Impôs.
- Sofia também não serve; vai ter de ser princesa, seria uma ofensa para si tratá-la pelo seu nome, além disso toda a família real me cairia em cima.
Sofia não conseguiu evitar rir.
- Tudo bem.
- Como eu dizia o problema não é a princesa, o problema são os outros. Na família real Britânica existem vários descendentes ao trono, no Mónaco não, é só a menina...
- Sofia!- Corrigiu.
- Princesa!- Repôs Justin.
- No Mónaco é só a princesa e isso causaria imensos distúrbios e provavelmente uma guerra nas monarquias europeias. A disputa por um reino sem governante...
- Nessa parte nem tinha pensado como deve de ser.- Percebeu Sofia.
- Não sai muito, pois não?- Brincou Justin.
- Está a zoar de mim?!
- Não, de forma alguma.
- Ótimo, eu não saio muito é verdade. Cresci sozinha: os meus pais tratavam dos assuntos de estado, enquanto eu ficava com uma ama. Li e reli todos os livros e documentos históricos uma centena de vezes, passei pelos retratos dos meu antepassados uns milhares de vezes, e por causa disso, hoje tenho uma criatividade demasiado grande. É um risco para quem tem de tomar o trono futuramente. O Justin, viu algum dos filmes da Barbie?
Justin ficou confuso com a pergunta:
- Nem por isso, só vejo as bonecas nas montras das lojas de brinquedos...- Disse rindo.
- No filmes parece muito divertido: dinheiro, tempo livre, fazer o que se quer e bem apetece... não é tão simples assim. Todo o temo livre que tenho é ocupado com aulas de boas maneiras, literatura, história... é muita responsabilidade, mas existem pessoas, no Reino Unido por exemplo, a tomar o trono aos 16 anos ou mais cedo.
- Sim, embora depois também sejam duros de roer, e alguns ainda vão dançar por cima da sua campa quando morrer!
Sofia riu com a piada e Justin também soltou um leve sorriso. Falava claramente da rainha.
- Espero não ter ofendido ninguém. Nem devia estar a falar consigo.- Disse voltando a ficar sério.
- Não, não volte a ficar aborrecido, por favor.
Justin já não respondeu.
- Que treta!
- Socorro!!! Alguém?! Quando for rei vou ordenar para deitarem este jardim abaixo!!- Ouvia-se ao longe.
Os dois foram a correr ver o que se passava, quem se tinha magoado.
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