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4. Namorado indesejado

Nunca pensei que Aiden Blackwell pudesse ser tão irritante. Tenho um namorado que não quero e que, durante todos os dias que se seguiram à sua pergunta de namoro retórica para mim, fez-me preferir mil vezes o inferno ao céu se isso significasse que ele não estaria lá comigo para me chantagear de uma forma tão baixa.

Quando saio do dormitório para ir para a aula, ele está lá. Quando saio da sala de aula, ele também está lá na porta me esperando com o seu sorriso sedutor de namorado para me acompanhar até o refeitório. Quando estamos no refeitório, ele me agarra e não desgruda mais de mim. Ele tem se tornado uma espécie de presença onisciente. Aiden me segue em todos os lugares e me faz ficar sem jeito na frente dos outros com a intimidade que tenta criar entre nós. Ele realmente não estava brincando quando disse que se fôssemos fingir alguma coisa, tínhamos que fingir muito bem para que todos acreditassem.

Mas isso é demais. Ele está exagerando e, ao olhar para a calmaria que é o casal Holly e Caden, eu me pergunto se ele está fazendo tudo isso comigo de propósito. Sei que ele não é de assumir compromisso com ninguém e que só assumiu um porque eu meio que impus indiretamente essa condição para não ser mal vista na universidade. Por isso tenho fortes razões para achar que ele só pode estar me punindo. Querendo fazer com que eu me arrependa de tê-lo feito entrar nessa comigo.

Metade das garotas ficaram surpresas com a notícia de que Aiden e a Rainha do Gelo estão namorando. E a outra metade... bastante decepcionada e hostil comigo, como se eu tivesse roubado a joia mais preciosa delas. O que elas não sabem é que a joia, na verdade, é amaldiçoada. Só que eu devolverei na mesma moeda. Farei Aiden se arrepender de ter me chantageado daquele jeito. Farei com que ele veja que eu não sou a garota certa para ele e o convencerei a parar com as tentativas de me deixar desconcertada na frente dos outros. O meu namorado indesejado logo concluirá que não sirvo para o papel que ele quer que eu faça — ou talvez veja que sirvo até demais, mas acabaria não me aguentando. Assim terminaria comigo, deixando-me livre do acordo e guardando para sempre o meu segredo consigo. É o fim perfeito imaginado pela minha mente controlada pela lógica e objetividade.

O fim de semana chega e, com ele, meus planos para serem postos em ação.

Elevo a mão e pressiono a campainha da república que ele divide com os outros caras. Não há nada, nem mesmo uma voz dizendo para que eu espere, então pressiono o botão de novo. De novo. E de novo. De novo e de novo e de novo, dançando ao próprio ritmo da música que estou criando com o barulho da campainha.

Sim, eu posso ser tão chata quanto um irmão caçula pentelho.

Finalmente a porta é aberta e um Caden mal-humorado aparece vestindo uma samba-canção azul. Quando ele me vê, seu mau humor só aumenta.

— O que você quer?

Abro um sorrisão e já vou logo entrando toda alegre no prédio sem que ele me convide. A sala está bem bagunçada e cheira a álcool. Há ainda um cara vestido com uma calça jeans rasgada dormindo com metade do corpo para fora do sofá enquanto está roncando. Esse certamente passou a noite na companhia de muita bebida. Pobre coitado.

Chego perto e o cutuco com o indicador para ver se ele ainda está vivo. De boca aberta, ele abre as pálpebras ainda cansadas de sono para mim e geme, como se estivesse perguntando na sua língua de ressaca quem sou e o que estou fazendo ali.

— Olá! — grito com euforia e dou um tchauzinho excitado ao estilo Holly.

Ele geme de dor ao ouvir o meu tom alto e eu continuo, como se estivesse muito interessada em saber quem é aquele pedaço de decadência humana jogado no sofá:

— Eu sou a Kris! E você?

Ele geme mais, seus olhos mostram que está cansado demais para uma conversa comigo. Na verdade, o rapaz parece estar perdido em uma dimensão intergaláctica em que não há espaço para conversas humanas desse tipo. Então, simplesmente fecha as pálpebras e volta a roncar, como se nada tivesse acontecido.

— Ei! O que você pensa que está fazendo? — Caden me pega pelo braço e me afasta do cara desmaiado no sofá, como se eu fosse uma grande ameaça de perigo ambulante. — O Lester vai te matar se você acordar ele!

— Ele é sempre tão hospitaleiro assim?

Caden não acha graça nenhuma na minha piada.

— A namorada de Lester terminou com ele recentemente. Ele ainda está se recuperando do fora que levou.

Levo a mão aos lábios e evito dar uma risada. Que maneira para se superar um término. Ou ele aceita logo o inevitável ou então, se continuar desse jeito, terminará num coma alcóolico no hospital.

— Você ainda não disse o que está fazendo aqui, Rainha do Gelo.

— Eu vim ver o meu Biscoitinho.

As duas sobrancelhas castanhas de Caden se unem em confusão.

— Seu Biscoitinho?

— Meu namorado, Caden. Ele está? — Meus olhos caem na bagunça engraçada que estão os cabelos dele.

— Você veio para ver Aiden? — Ele parece surpreso. Depois cai na gargalhada ao entender a referência nada viril do "Biscoitinho". — Meu Deus, às vezes esqueço que vocês dois estão namorando. Guy achou que ele estivesse brincando quando nos contou.

— Guy?

— Outro cara que mora aqui com a gente. Ele é o mais novo — explica, olhando-me da cabeça aos pés, seus olhos parando na fita rosa que estou usando amarrada na cabeça, em seguida nas minhas roupas muito bem passadas e arrumadas, e depois no pequeno recipiente de vidro redondo com água todo enfeitado que carrego comigo.

Aiden disse que sou uma patricinha, então eu seria uma patricinha.

Caden sacode a cabeça, como se não estivesse acreditando em alguma coisa.

— O que ele viu em você? — ele se indaga e eu me sinto plenamente ofendida. De mentira, claro, porque se Caden não vê nada agradável em mim com toda aquela pose de patricinha, então isso quer dizer que o plano pode dar certo e que Aiden pode achar a mesma coisa, o que o faria me liberar do acordo.

Dou de ombros e pouso uma mão no ombro desnudo e tatuado de Caden.

— Eu também ainda não sei o que vi nele. Quando a paixão vem, a gente fica cego, baby — falo, dando a maior lição de moral em Caden, que tira a minha mão de cima dele com certa irritação.

— Você não deveria estar aqui, Rainha do Gelo. Aiden não vai gostar nada de saber que você veio até aqui e quase acordou Lester.

Lanço uma olhadela ao cara desmaiado que já caiu do sofá para o chão há muito tempo. Pergunto-me se todo esse receio de acordá-lo é porque ele vira o Hulk quando fazem isso com ele.

Faço um biquinho para Caden.

— Eu só quero ver o meu Biscoitinho. Acordei hoje de manhã sentindo muita falta dele.

Caden me olha com descrença, não parecendo que vai ceder. Ele sabe como eu costumo ser com os caras, que geralmente dou um gelo neles sem nem me importar. Então resolvo cumprir brilhantemente o meu papel de namorada devotada ao apelar para ele com uns pulinhos, fazendo biquinho de criança.

— Por favor, Caden, isso é muito importante para mim. — Então começo a fingir um choro fraco regado a fungadas. — Se você tivesse ideia de como passei a noite... Eu tive um pesadelo horrível. — Fungo e limpo as lágrimas imaginárias, com o rosto bastante contraído enquanto soluço, consciente de que estou parecendo a viúva inconsolável que acaba de perder o marido. — Sonhei que ele terminava comigo e eu ficava sem ele. E ainda tinha o Gary... O Gary sentia muita falta dele, e eu também. Não sabia o que fazer, e então acordei chorando e chorando e chorando sem parar... Desde então eu não como, não durmo, não bebo...

— Está bem! Está bem! — ele exclama, impaciente com uma garota aos prantos na frente dele. — É só subir as escadas. O quarto dele é o terceiro à esquerda. Mas não fale que fui eu que deixei você entrar!

Meu choro cessa tão rápido quanto começou. Caden fica confuso por um momento com a minha súbita recomposição.

— Obrigada, Caden. Você é o melhor! — agradeço com um sorriso amplo, antes que ele se arrependa de ter me deixado entrar.

Em seguida, decolo para as escadas à procura do quarto de Aiden.

Assim que alcanço o corredor principal, eu quase caio para trás. Meus Deus, está uma bagunça! Por que república de homem tem que ter tantas armadilhas perigosas espalhadas pelo corredor desse jeito? Há várias revistas pornôs jogadas no chão, pequenos aparelhos eletrônicos que estão quebrados num canto, sapatos com somente um dos pés em outro... Passo por todos os obstáculos com passos cautelosos, tomando cuidado para não tocar em nada. Dou alguns pulinhos quando os obstáculos vão aumentando de tamanho. Mas quando dou de cara com um sofá que está bloqueando o corredor, eu paro.

Nesse instante, uma porta se abre. Noto que é a do banheiro quando um rapaz com aparência bem jovem sai de lá apenas com uma toalha amarrada na cintura. Ele está com os cabelos molhados, tem olhos azuis, um corpo magnífico sem tatuagem alguma e está escovando os dentes.

Ele vem em direção ao sofá, até que vê que estou ali, observando-o deslumbrada.

Mmmm... Nada mau mesmo.

— Você deve ser o Guy — falo, jogando um dos meus melhores sorrisos para o gostoso de toalha, que concorda rapidamente com a cabeça, mesmo paralisado ao notar uma presença feminina por ali. — Pode segurar isso para mim, por favor, querido?

Ainda atordoado por ver uma garota na república, ele faz o que eu peço quando passo o recipiente de vidro com água a ele. Subo no sofá e pulo para o outro lado. Parando na frente de Guy, ajeito a saia que estou usando e olho mais para aquele corpo sensacional. Tiro minha caneta de pompom rosa de dentro da bolsa e estendo a outra mão para ele. Ainda com a escova de dentes na boca, ele me passa o recipiente, mas eu nego com a cabeça e digo, sorrindo como nunca:

— O outro braço, querido.

Confuso, ele ergue o outro braço. Estendo seu antebraço para mim e prontamente anoto alguns números na sua pele levemente bronzeada. Depois desenho e pinto alguns coraçõezinhos, tampando a caneta logo sem seguida.

— Meu número — explico. — Me liga. — Dou uma piscadela bastante sugestiva, recolhendo, por fim, o recipiente das mãos dele.

Guy cora encantadoramente na minha frente, sem jeito com o meu atrevimento. Não diz absolutamente nada e ainda está com a escova de dentes na boca, enquanto me observa dar um tchauzinho para ele.

Bem, Aiden não tinha dito nada sobre um possível relacionamento aberto entre nós. Quero dizer, nosso namoro nem sequer é de verdade! E como é ele que gosta de trocar de garota dia após dia, tenho quase certeza de que não haveria problema se eu abrisse um espaçozinho para um Guy na minha vida.

Suspiro sonhadoramente, ainda encantada com aquele corpo jovial, e paro em frente à terceira porta à esquerda. Penso em bater, mas depois meneio a cabeça e, com um sorriso maquiavélico, abro a porta silenciosamente.

Esperava encontrar mais bagunça e uma selva com os animais mais variados do mundo, mas tudo o que encontro é ordem e limpeza. Fecho a porta em silêncio e varro com os olhos o quarto pintado de branco, bastante surpresa.

Uma pequena estante de madeira com alguns livros está posicionada numa das laterais do quarto. Há um guarda-roupa branco na outra extremidade e uma escrivaninha com livros, cadernos e um laptop devidamente arrumados sobre a superfície de mogno. Há ainda um pequeno abajur e uma cadeira giratória cuidadosamente encaixada na escrivaninha de Aiden.

Definitivamente arrumado demais para um cara com tatuagens e piercings.

Então, olho para a cama e noto que toda a roupa de cama é também na cor branca. Esse cara parece ter algum fetiche pela cor branca, porque quase tudo no quarto é dessa cor e transmite a imagem de limpo.

Pouso com cuidado o recipiente de vidro e a bolsa sobre a escrivaninha e me aproximo da cama com passos furtivos. Os lençóis estão desarrumados e vejo metade de uma perna perdida. Ao chegar mais perto, uma cabeça com cabelos castanho-escuros sedosos desponta do lençol, o qual empurro mais para a direção dele para que eu possa me sentar ao seu lado.

Estou decidindo se acordo Aiden ou não. Como se soubesse que é a vida dele que está em jogo, ele se move ao meu lado e vira o corpo na minha direção. O lençol se movimenta, fazendo com que seu corpo musculoso seja revelado para mim. Com os olhos fechados e o rosto calmo e tranquilo pelo sono profundo em que está, ele parece um semideus com aqueles músculos expostos. Consigo ver de perto a tatuagem tribal preta no seu ombro esquerdo que se ramifica para a parte de seu pescoço, e o piercing de bolinhas prateadas no final de sua sobrancelha escura.

Inesperadamente o antebraço de Aiden agarra a minha cintura e me traz para si.

— Caroline... — ele murmura perto do meu rosto e eu reviro os olhos para aquele imoral e safado que está com outra garota em mente.

Decido entrar no jogo. Afinal, eu poderia descobrir algum segredo em meio ao sonho que ele está tendo e aí então poderia usar isso contra ele.

Sou mais calculista do que pareço.

— Sim, querido?

— Caroline, não vá embora...

— Por que eu iria embora?

— Eu deixei você. Sinto muito, não queria que as coisas tivessem acontecido daquele jeito...

Ele me puxa mais para si, de forma que fico deitada ao lado dele, colocando em volta de mim seu braço forte e torneado, como se não quisesse me deixar ir embora. Mmm, quem é Caroline? Uma amante, talvez? Tento tirar o braço de mim, mas ele me aperta mais e aproxima os lábios da minha bochecha, beijando-a. O beijo inesperado me faz estremecer, mas ouso continuar:

— Você me ama?

— Você sabe que eu sempre te amei.

Meu coração para por alguns segundos, bastante chocado com a descoberta.

Oh, meu Deus, o canalha do Aiden Blackwell já amou alguém!

Penso em toda a confusão em Toronto e que ele possivelmente teve que deixar uma garota para trás para perseguir o sonho de estudar e se formar em Direito. Só que isso não faz sentido. Ele disse que todas as garotas que já apresentou para o pai eram indecentes e incultas... Seria essa Caroline realmente indecente e inculta? Uma das que Philip chegou a conhecer e reprovou?

— Eu ainda quero você, Caroline...

Quando viro o rosto, encontro outro vindo na minha direção para me beijar na boca. Minha pulsação acelera e arregalo os olhos, pois Aiden e eu ainda nem demos o nosso primeiro beijo. E não seria logo agora, sozinha com ele e sem motivo para que fosse dado, que isso aconteceria!

Tapo a boca dele com uma mão e empurro o rosto para longe.

— Nem pensar!

Ele acorda instantaneamente, todo desnorteado ao ver que tem uma garota ali falando com ele. Quando nota que sou eu e o meu corpo o que ele agarra displicentemente, ele me larga na hora e dá um pulo da cama, gritando forte na minha direção como se tivesse acabado de ver o bicho-papão. O lençol cai, revelando que ele usa apenas uma cueca boxer preta.

Eu pensava que o abdômen jovial de Guy era ótimo. Mas quando vejo o de Aiden... Meu Deus. Bem mais forte e encorpado. O tatuado bad boy que na verdade é um playboy sabe se cuidar muito bem.

Desvio o olhar, por alguma razão precisando fingir que nada daquilo me afeta.

— Quem deixou você entrar aqui? — ele pergunta, parecendo estar com muita raiva.

Lembrando-me do que Caden me pediu, eu faço propositalmente o contrário sem titubear:

— Foi Caden.

Sua testa se enruga por um segundo.

— Por que diabos ele deixaria você entrar no meu quarto?

— Porque eu senti sua falta, Biscoitinho! — falo com uma voz irritante e me levanto para pegar o recipiente de vidro que está em cima da escrivaninha para entregá-lo com cuidado a Aiden. — Aqui. Tome conta de Gary até o próximo fim de semana. Ele quer muito conhecer você desde que lhe contei que começamos a namorar!

Ainda atrapalhado com tudo o que está acontecendo ao seu redor, Aiden eleva o vidro redondo em suas mãos e encara o meu peixinho dourado, que solta uma bolha pela boca para ele naquele exato momento.

— Oh, ele gostou de você!

Bato palminhas com as mãos e vou saltitando em direção à escrivaninha como uma garotinha, a fim de pegar minha bolsa e ir embora antes que Aiden recupere a sanidade e me devolva o Gary.

A porta é violentamente aberta quando quatro caras invadem o quarto em diferentes estados. Guy ainda está de toalha para o meu deleite; Caden ainda com a samba-canção; Lester está com as suas calças jeans rasgadas e com cara de ressaca; e ainda há um outro usando uma calça de moletom preta e o pingente do colar dourado que está usando no pescoço diz "Ray".

— O que está acontecendo aqui? Nós ouvimos gritos de lá de baixo! — exclama Caden, todo eufórico.

Os rapazes olham para Aiden, que ainda está de cueca, segurando o meu peixinho com uma expressão de perplexidade para aquela entrada triunfal do quarteto que quase pôs a porta abaixo. E então depois seus olhares sincronizados vão para mim. Estou me segurando para não rir das expressões deles.

— Foi só o Biscoitinho que gritou de surpresa ao me ver. — Não aguento e começo a rir de verdade.

— Por que merda você gritou, cara? — Caden ignora as minhas risadas com uma carranca. — A gente pensou que fosse algum bandido na casa!

— Não foi um bandido. Foi ela! — ele aponta com o vidro em mãos para mim, fazendo com que Gary dê algumas boas balançadas na água. — Por que inferno você deixou ela entrar aqui?

— Ela é a sua namorada, porra! Por que eu não deixaria ela entrar aqui? — Caden fala como se fosse óbvio.

Os olhares do restante dos rapazes e o meu vão e voltam para Aiden e depois para Caden, que parecem estar entrando numa espécie de briga de amigos na nossa frente. Estou prendendo o riso com os dedos estrategicamente posicionados contra os meus lábios. Depois dessa, duvido que ele ainda vá querer continuar comigo.

— Que merda! — exclama Aiden ao se dar conta de que eu realmente sou a namorada dele, mas apenas nós dois sabemos que é de mentira.

Os olhos de Caden descem para o objeto cheio de fitinhas coloridas penduradas que Aiden ainda segura ridiculamente.

— E que porra é essa que você está segurando?

— É o Gary!

— Gary?

Somente quando Caden vê o peixe dourado no interior do vidro é que ele entende e cai na gargalhada. O restante dos rapazes faz o mesmo e eu não aguento e os acompanho, porque aquela situação está sendo estupidamente ridícula. Primeiro, a invasão que quase quebrou desnecessariamente a porta do quarto. Depois surgem os caras como se fossem o Quarteto Fantástico prontos para entrar em ação para abater algum possível bandido. E então a briga de casal entre os dois amigos e agora o Gary, que é o único inocente na história.

O rosto de Aiden fica vermelho de raiva. Ele é o único que não está rindo.

Eu me contorço nas gargalhadas e os outros também, até que há um barulho de vidro sendo espatifado no chão, e então eu sinto que quase morro. A roda de gargalhadas cessa no mesmo instante em que eles olham preocupados para mim quando rodeio a cama e murmuro, quase chorando:

— Não...

A água molha o carpete enquanto Gary se debate em agonia no chão entre os cacos de vidro, profundamente vulnerável e quase à beira da morte. Não consigo controlar quando as lágrimas se estabelecem nas bordas de meus olhos ao ver o meu peixinho sofrendo daquele jeito por causa de um crápula que não soube se controlar diante de uma brincadeira.

Eu me ajoelho e uno as mãos em concha para pegá-lo.

— Rainha do Gelo...? — Aiden me chama, o tom bastante mudado. Parece arrependido da merda que fez. — Rainha do Gelo, eu...

— Seu insensível! — grito na cara dele, prendendo as lágrimas que querem escorrer contra minha vontade, e corro na direção dos rapazes, que abrem passagem para mim na porta. — Eu preciso de um copo com água!

— Desça com ela, Lester — Caden pede.

O cara das calças jeans rasgadas corre comigo, afastando o sofá do meio do corredor para que eu possa passar. Descemos as escadas com pressa e ele vai como uma flecha para a cozinha, enche um copo de vidro com água da torneira e coloca-o no balcão para mim. Gary ainda está pulando sobre as minhas mãos, avisando que não aguentará por muito tempo, até que cuidadosamente baixo-as e deixo que ele deslize para dentro da água do copo. Ele nada dentro da extensão de vidro, dá algumas voltas exploratórias ao redor, familiarizando-se com sua nova moradia temporária.

— Ele está bem, certo? — Lester inquire, parecendo realmente preocupado com o bem-estar do meu peixinho.

Seco meus olhos com as costas das mãos e tento sorrir para o cara que salvou Gary da morte. Eu seria eternamente grata a ele.

— Aparentemente, sim. Obrigada, Lester. Você salvou a vida de Gary.

Ele retribui o meu sorriso e fico surpresa como aquele sorriso me parece tão bonito e verdadeiro vindo de um cara que esteve desmaiado no sofá numa espécie de coma alcóolico minutos atrás. Estive descobrindo mais coisas sobre as pessoas ao meu redor nas últimas semanas do que em toda uma vida. Não sabia que o bêbado do Lester podia ser um doce. Concluo isso quando ele me oferece todo atencioso uma caixa de lenços. Aceito um e assoo o nariz.

— Não fique com raiva dele. Às vezes Aiden sabe ser um idiota quando quer e acaba ferrando com tudo.

Sorrio e brinco:

— Às vezes?

Ele me acompanha nos risos fracos, mas sinto que foi mais por altruísmo que por vontade própria. Oh, meu Deus, ele realmente é um doce. Xingo mentalmente milhões de vezes a garota idiota que terminou com ele. Sem que eu possa controlar, mais lágrimas caem quando me ponho no lugar dele. Ele fica mais preocupado comigo enquanto assoo mais o nariz. A que estado de mal-estar uma pessoa não chega por causa de outra de quem gosta? Lester tinha encontrado na bebida uma válvula de escape, mas é nociva.

— Eu não entendo como uma garota pôde terminar com você.

Ele ri sem graça, indicando o banco perto do balcão da cozinha para que eu me sente. Ele faz o mesmo e começa a brincar com o pequeno recipiente de frutas nas mãos.

— Digamos que Cassie sempre deixou claro que não era eu quem de fato ela queria para namorado. Eu costumava ser louco por ela desde o dia em que pus os pés nessa cidade. Por isso, quando ela finalmente me deu uma chance, aceitei, mesmo sabendo que ela não queria um futuro comigo. Só que eu e a minha estupidez acreditávamos que se fizéssemos tudo por aquela garota mimada, ela talvez visse o quanto eu realmente estava apaixonado por ela.

— Você a amava?

Ele hesita. Depois suspira.

— É, eu amava Cassie.

— E o que aconteceu depois de você ter feito o seu tudo por ela?

Ele bagunça os cabelos com os dedos da mão, num claro gesto de desconforto por estar contando algo tão delicado quanto aquilo.

— Ela me traiu com o primeiro que apareceu.

— Vadia — xingo com os olhos estreitados, com um ódio mortal da tal de Cassie sem nem mesmo conhecê-la.

Lester arregala os olhos para mim, mas não parece nada decepcionado por eu estar xingando sua ex.

— É, talvez ela seja.

Aquela esquiva só pode significar uma coisa: ele ainda gosta da megera.

— Ela é. Depois de você ter feito coisas por ela que nenhum cara teria feito, ela te traiu, te enxotou como se fosse um cachorro e aposto que ainda deve rir da sua cara quando encontra com você. Sem ofensas.

— Não ofendeu. Infelizmente é verdade o que você disse — admite com pesar.

— Viu só? — Bato no balcão com a palma da mão. — Você sabe que ela não presta e que nem serve para você. Por que não coloca isso na sua cabeça de uma vez por todas e para com a bebedeira?

— Não é tão fácil, Rainha do Gelo. Eu ainda gosto dela.

— Vai acabar se matando com todo esse álcool, Lester.

Ele baixa a cabeça, fita os próprios dedos das mãos como um garoto arrependido.

— Eu não sei mais o que fazer. Tento manter minha mente ocupada, mas não consigo por muito tempo.

De repente lembro-me da similaridade do caso dele com outros de antigos pacientes de alguns dos meus professores.

Assinto com a cabeça.

— Entendo. Bem, se precisar de mim, sabe onde estarei naquele campus. E se precisar de uma amiga... saiba que estarei sempre à disposição.

Pisco e ele agradece. Uma ideia subitamente invade os meus pensamentos e me deixa muito animada. Pode ser legal. Claro, há Dragon, meu chefe, mas posso pedir um dia de folga do trabalho. Ou ao menos tentar isso.

— Vai fazer alguma coisa amanhã à noite?

— Não. Não tenho muito o que fazer de noite a não ser beber.

Faço uma careta de reprovação.

— Deus, você está uma bagunça, garoto! Pensei que talvez pudéssemos assistir filmes ou séries e comer algumas besteiras. Algo assim. Se você quiser, claro. E se não achar que isso é programa de garota.

Olho para ele. Lester não ri e nem nada disso. Na verdade, ele parece estar solitário e carente o suficiente para achar a minha ideia sensacional.

— Uma garota nunca me convidou para um programa desses. Você... faria isso por mim?

Jesus, ele está a ponto de chorar?

Cassie filha da mãe.

Sorrio.

— Claro, Lester. Sei que essas coisas do coração não acontecem apenas com garotas. Além disso, você salvou Gary, então tecnicamente estou te devendo uma.

Ele se empertiga sobre o banco, deixando o corpo ereto.

— Amanhã à noite, então? Aqui? Que horas?

São tantas perguntas que me deixam meio atordoada.

— Hum... Às sete está bom para você?

— Está ótimo!

Ele bate no balcão e se levanta com pressa, sorrindo de orelha a orelha. Naquele momento, todos os rapazes descem da escada e nos encontram na cozinha.

— Aonde você vai com tanta pressa? — Guy pergunta quando Lester força passagem entre eles.

Lester se vira com os olhos brilhando e coloca ambas as mãos abertas para baixo, na altura do queixo, como se estivesse executando um passo de uma música de rap ou algo assim.

— Festa do pijama, caras! — Ele solta um "haaa" excitado com a garganta e então se vira para ir embora, deixando-me duvidosa sobre se a sanidade dele está realmente intacta depois do término de namoro com Cassie, a cobra venenosa.

A cozinha é tomada pela testosterona quando Aiden, Ray, Guy e Caden se aboletam nos bancos perto de mim. Fico completamente muda, evitando o olhar do meu namorado indesejado.

— Você parece melhor — Aiden diz após muitos pigarros.

— Não graças a você.

Caden leva a mão ao coração, aperta os olhos e contrai o rosto teatralmente como se estivesse sentindo dor. É, eu sei que essa foi um verdadeiro iceberg cortante. Provavelmente o mesmo que afundou o Titanic.

Guy pousa algo em cima do balcão.

— Sua bolsa.

Sorrio com simpatia.

— Obrigada, Guy.

Uma pena que ele já está vestido. Não teria sido problema nenhum vê-lo de toalha de novo.

Pego a bolsa e coloco a alça sobre o meu ombro. Eu também teria pego o copo em que Gary está, se não fosse Aiden roubá-lo de mim.

— Eu cuidarei dele para você.

Ah, agora ele quer cuidar do Gary, não é?

— Tem certeza?

— Tenho, Rainha do Gelo.

Solto um suspiro.

— Okay. — Coloco um pequeno pote branco de plástico nas mãos dele e dou as instruções: — Alimente-o com isso de duas a três vezes ao dia.

— Pode deixar. Gary vai ficar muito bem comigo — afirma com convicção. De alguma forma, sinto que aquela é sua maneira neandertal de me pedir desculpas.

Quando olho para Gary, que está imerso na água do copo, ele solta uma bolha pela boca para mim.

— Viu? Ele concorda comigo também — Aiden brinca e eu não consigo evitar rir, nem mesmo os outros rapazes. Sou eu quem costuma dizer aquilo a Holly.

— Bem, então eu vou indo, rapazes.

Acostumada a me despedir das garotas com frequência, automaticamente dou beijinhos rápidos na direção deles, ao que eles franzem o cenho para mim, e Caden se atreve a retribuir os meus beijos da mesma forma fresca, porém cômica.

Dou um sorriso e me explico:

— Desculpe. É que é a primeira vez que visito uma república de homens. Até mais!

Caminho até a porta e a abro para mim. Uma vez na calçada, ajeito a alça da bolsa sobre o ombro, ouvindo alguém me chamar. É Aiden.

— O que você disse?

— Venha comigo. Darei uma carona a você até o dormitório.

Ele já tinha tomado banho antes de descer as escadas, e havia colocado uma blusa e uma calça jeans que se ajustavam perfeitamente ao seu corpo de semideus.

— Okay — murmuro quando ele chega perto de mim. — Onde está sua moto?

De repente confuso, ele pergunta, ainda caminhando ao meu lado:

— Moto? Que moto?

Todo bom bad boy que se preze tem uma moto para exibir por aí.

— Vocês sempre têm uma moto.

Estranho quando percebo que estamos caminhando para a parada de ônibus. Algo está errado.

— Não se lembra de nada do que eu disse, não é? Depois do que Philip fez comigo, eu fiquei pobre e quebrado. Logicamente vamos de ônibus.

Chegando na parada, ele se escora contra a placa com os braços cruzados, estica o pescoço para olhar para o final da rua todo esperançoso, como se estivesse esperando por alguém.

— Mas e a carona? — Nunca soei tão decepcionada.

— Foi uma metáfora.

Meu Deus, eu tenho um namorado mais pobre do que eu.

— Está brincando comigo!

Ele cai na gargalhada ao ouvir o que eu disse num tom de incredulidade.

— É claro que estou, Rainha do Gelo. — Aiden captura minha mão com a sua. — Vamos, a moto está logo ali.

— Muito engraçado — retruco.

Ele me leva até o estacionamento onde está a sua Harley e me entrega um capacete. Afivelo o fecho, esperando que ele se sente primeiro para que eu possa me sentar depois sem medo de mostrar a calcinha para ele por causa da saia que estou usando. As minhas coxas internas encostam-se nas externas dele e, quando Aiden me faz agarrar sua cintura, eu quase imploro para irmos de ônibus. A proximidade e intimidade criadas é tanta que chego a sentir o aroma de seu perfume, bem como cada centímetro de seus músculos contra meu corpo.

Respiro fundo e espero até ele dar partida na moto para irmos embora.

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