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3. Chantagem

Quando o despertador toca, avisando que já são sete da manhã, gemo como se estivesse sentindo dor e estico o braço para fazer aquele pequeno objeto torturador parar de gritar em meus ouvidos.

Arrasto-me pela cama e espio através da janela. O dia está ensolarado, alguns pássaros estão gorjeando por entre os galhos curvados das árvores. Parece realmente aquele tipo de dia promissor, em que acontecerão muitas coisas boas. O problema é que eu sei que de promissor ele não tem nada para mim. Estou completamente o contrário desse clima. Sinto-me nebulosa, uma chuva torrencial querendo cair com raios e trovões.

Não quero ir para as aulas de hoje. Pela primeira vez, sinto-me como um coelhinho com medo de levar a cajadada quando menos esperar. Estou receosa, para não dizer apavorada, de que no momento em que puser os pés para fora do quarto uma pessoa indesejável pode me abordar.

Não tenho problema com as pessoas, geralmente são elas que têm problema comigo. Só que, depois do que aconteceu na manhã de hoje, passei a ter um grande problema com alguém que eu espero que tenha uma péssima memória. Penso em pedras e um arremesso certeiro na cabeça. Seria a perfeita queima de arquivo, mas aí então eu correria o risco de ir para a cadeia.

- Acorda, dorminhoca!

Holly, minha colega de quarto e também amiga, entra no quarto e joga minha toalha em cima de mim. Ainda encolhida na cama, eu a seguro com uma mão e ponho os pés para fora do colchão antes que decida que faltar às aulas por causa de um idiota que estava onde não deveria estar vale a pena. Como a garota controlada e metódica que sou, eu iria de cara limpa e enfrentaria o que tivesse de enfrentar. Incluindo até mesmo tatuados que me viram com um vestido curto sensual, saltos mais compridos do que as minhas pernas, esbanjando luxúria num clube de striptease.

Pensando bem, o que é uma falta em comparação a meses inteiros de assiduidade?

- Acho que não vou hoje. - Dou duas tossidelas fracas e teatrais, querendo mostrar a Holly que posso estar doente. - Sinto meu corpo quente e fraco.

Holly penteia os cabelos úmidos com pressa, em seguida vai se sentar ao meu lado para medir a minha temperatura com a costa da mão.

- Não está com febre. Talvez esteja com ressaca dessas suas noites misteriosas que você não nos conta.

Na verdade, eu até contei, mas elas não engoliram a minha desculpa de que é porque gosto de virar a noite estudando.

- Eu já disse que elas nem são tão misteriosas assim.

Levanto da cama e capturo o meu kit de higiene. Tudo bem, estou indo para as aulas. Até eu reconheço que minha atuação foi ridícula.

- Aposto que não quer contar que está saindo com alguém.

- Por que eu faria uma coisa dessas?

- Exceto pelos caras que já ousaram falar com você, eu e Beth nunca vemos você com alguém. - Ela fica na frente do espelho e começa com a sessão de maquiagem. - Você só pode estar transando com alguém, Kris.

Quero rir, porque é meio impossível que eu esteja transando com alguém, levando-se em conta o meu trabalho secreto que exige muito esforço e dedicação.

- Não estou!

- Está! - ela rebate, divertindo-se com a careta que faço.

- Oh, por favor! Por que eu esconderia um cara de vocês? Se eu estivesse saindo com alguém, vocês seriam as primeiras a saber. Até mesmo Gary sabe disso!

Aponto para o pequeno aquário no criado-mudo, em seguida nós duas olhamos para Gary, o peixinho dourado que solta uma bolha pela boca para nós naquele exato momento.

- Viu? Ele concorda comigo.

Holly ri e vem me abraçar emitindo um barulho meloso com a garganta.

- Aww, isso foi tão fofo!

Reviro os olhos, mas retribuo o abraço. Eu vejo nas meninas uma parte minha que pouco mostro. Elas são o que a maioria das pessoas chamam de "patricinhas". Não me importo, porque se todas as patricinhas fossem tão legais quanto elas, o mundo seria menos estúpido e fútil com toda certeza.

- Eu saí com Caden ontem - segreda para mim.

- O cara da tatuagem?

Ela ri.

- O cara da tatuagem, da moto, dos piercings, do brinco... Você tem uma maneira engraçada de se referir aos caras da nossa universidade, Kris.

Para mim, todos parecem a mesma coisa. Tem os nerds, os bad boys, os jogadores de futebol, os da natureza, os que ainda estavam se decidindo... A lista é enorme. Mas como ultimamente os bad boys são os que mais estão fazendo parte da minha realidade momentânea, para mim todos são "o cara da tatuagem" ou simplesmente "o tatuado". Minha mente não gosta muito de se ater a esse tipo de detalhe.

- Caden é amigo de Aiden. Legal, não? Ele disse que Aiden estava querendo sair com você e eu disse que era minha amiga, então meio que podíamos marcar um encontro duplo ou algo assim.

Meus olhos acendem para Holly. Se Caden é amigo de Aiden, e ele me viu ontem, então é provável que Aiden tenha contado a Caden que poderia contar à Holly. O meu dia não tem como ficar melhor. O que diriam quando soubessem que a Rainha de Gelo trabalha numa casa de striptease? Não quero nem imaginar. Sinto-me como uma formiguinha prestes a ser pisoteada por um pé impiedoso.

Lançando uma olhadela para mim enquanto passa seu rímel, Holly nota como fico nervosa de um segundo para outro.

- Ficou pálida, Kris. O que houve?

Pigarreio.

- Eu acho que Caden não é uma boa influência para você, Holly.

Ela solta uma gargalhada.

- Está falando igual mamãe.

- É que eu não gosto desse tal de Aiden, o amigo dele. Ele é muito... insistente - falo, lembrando-me do dia na biblioteca.

- Insistente? Insistente como?

- Ele já me seguiu até a biblioteca e puxou conversa comigo.

Holly subitamente para com os seus movimentos e fica boquiaberta com o que eu disse, como se ser perseguida por um maníaco que tem tatuagem e usa piercing fosse a melhor coisa do mundo.

- Ah, meu Deus! E o que ele disse? Ele te chamou para sair ou algo assim?

- Chamou.

Os olhos dela brilham como dois diamantes lapidados quando pergunta:

- E o que você disse?

Ela está me olhando com tanta empolgação que, já prevendo suas críticas ao ouvir minha resposta, respondo com um ar de obviedade, como se eu tivesse sido a garota mais esperta do mundo ao negar um convite para sair com um homem:

- Eu disse que não.

Faço cara de "duh" para ela, mas Holly não engole essa.

- Francamente, Kris!

- Francamente nada! Sabe o que foi que ele me disse? Que ele e os amigos dele tinham feito uma aposta estúpida para ver se ele ia conseguir transar comigo em menos de um mês.

Ela parece surpresa e o batom que está passando para no meio de seu lábio inferior.

- Ele disse isso?

- Disse! Como exatamente eu iria aceitar de bom grado um convite para sair depois dessa?

Não que eu fosse realmente aceitar sair com ele, mas era bom fazê-la começar a pensar que não era boa coisa continuar saindo com Caden.

- Acha que Caden fez parte disso?

- Eu não sei. Mas homens são homens, certo? - E dou de ombros.

Ela faz uma pausa após ter terminado de passar o batom rosa nos lábios bem desenhados.

- Apenas tenha cuidado, Holly - peço, olhando-a preocupada. - Se eles fizeram isso comigo, podem fazer com qualquer uma, e eu não quero ver você sofrendo de novo por causa de um Charlie Parte II.

Sei que poder ser muito desgastante o término de um relacionamento ou o fim de algo que nem sequer começou, mas com Holly é diferente. Ela é sensível demais. Beth e eu sabemos bem disso.

Ela sorri para mim e dá outro de seus abraços melosos de amiga.

- Eu sei me cuidar, baby. Pode deixar. - Holly pega a bolsa de couro vermelho e, indo em direção à porta, manda beijos animados para mim. - Beijinhos!

Faço o mesmo e depois tudo o que vejo é um pequeno emaranhado de cabelos curtos esvoaçando atrás dela quando caminha com pressa para a aula. Arrasto-me até o banheiro com a toalha, o kit de higiene e as roupas que vestirei essa manhã. Tomo um banho rápido, visto o comportado cardigã rosa de lã com uma blusa branca por baixo, entro na calça jeans, ponho meus brincos de pedrinhas e faço uma maquiagem leve no rosto.

Ao olhar para o meu reflexo no espelho do quarto com os cabelos soltos, decido que uma trança cairia bem. Deslizo as madeixas louras por entre os dedos, fazendo rapidamente uma de raiz. Uma vez pronta, pego a mochila e saio caminhando pelo campus até alcançar a sala de aula.

As horas passam assustadoramente rápido demais para mim. Não consigo me concentrar um segundo sequer no que o professor diz para a classe. A manhã corre a passos de maratonista e, quando menos espero, já estou me encontrando com Holly e Beth para irmos almoçar no refeitório. Entretida com a conversa, conto também à Beth sobre o episódio da biblioteca com Aiden quando Holly toca no assunto ao dizer que Caden convidou-a para sair de novo. Beth e eu nos entreolhamos, já prevendo o mar de lágrimas caso alguma coisa dê errado, e depois voltamos os olhares para Holly, que está toda animada com a perspectiva de encontrar com o tatuado de novo.

Pousamos nossas bandejas na mesa e nos sentamos.

- Será que fui só eu que ouvi o que a Kris disse?

Holly faz beicinho para Beth.

- Vocês duas são malvadas. Caden não tem nada a ver com isso.

Reviro os olhos com impaciência. Quando Holly gosta de alguém, é difícil desgrudar a garota do rapaz. Ela é a mais nova de todas nós e talvez isso seja um agravante para a sua inocência com relação aos rapazes. Não que ela seja de fato inocente em relação a tudo... Aos seus 20 anos, ela é a que mais teve namorados entre nós em menos de um ano. Os números são espantosamente exorbitantes. Eu, que estou com 23, não chego nem perto do que Holly conquistou por causa dos oito anos sombrios da minha vida.

Levanto a mão e a empurro para trás de mim como se estivesse jogando uma bola de papel imaginária fora.

- Está bem, chega desse assunto. Não aguento mais ter que ouvir sobre Aiden e Caden. Deus, isso parece até nome de uma dupla de roqueiros falidos!

Elas riem e eu também. Beth separa os seus hashis e fala ao acaso:

- Eu me tornei a capitã das animadoras de torcida, meninas.

Holly e eu arregalamos nossos olhos para Beth. Sabemos que ela costuma animar com o restante das animadoras de torcida as partidas de futebol do time da universidade. Alguns dias atrás ela disse que tinha participado de um seletivo entre as garotas porque a líder se transferiria para outro estado. Apenas não sabíamos que Beth tinha passado, o que é ótimo, claro.

- Sem essa! - eu falo.

- Isso é ótimo, Beth!

Nós três não nos contemos de alegria e damos uns gritinhos ridículos, em seguida seguramos a mão de Beth sobre a mesa. Alguns pares de olhos se voltam em nossa direção. Alguns repreendendo-nos, outros, achando a nossa atitude engraçada, e outros, curiosos. Ao sentirmos os olhares impiedosos sobre nós, baixamos um pouco o volume da risada e voltamos ao modo normal, contendo-nos como as três garotas civilizadas que esperam que sejamos.

- Então eu vou assistir ao próximo jogo - Holly declara, esfuziante. - Vamos ver do que a nova capitã do time de torcida é capaz!

Beth e eu rimos, mas depois nos entreolhamos desconfiadas diante de tanto furor vindo de uma única pessoa. Não que Holly seja interesseira, mas sabemos do pequeno problema de carência dela.

- Certo. É só por causa de Beth que você vai? - brinco.

- Oh, por favor. - Ela abana comicamente com a mão. - São dezenas de caras sarados, suados e gatos que estarão se pegando no campo de futebol, então é claro eu tenho que estar lá!

Cubro os lábios com a mão para não rir de boca cheia enquanto Beth se faz de ofendida quando fica boquiaberta, com seus olhos espremidos para Holly.

- Mas eu te amo, baby. Estarei torcendo por você. - Holly joga um beijinho para Beth, depois uma piscadela matreira.

Beth gira os seus olhos castanhos e me olha com cara de "é, ela não tem jeito mesmo". Então eu transmito meu olhar de "eu disse".

Inesperadamente uma bandeja é pousada sobre nossa mesa e segundos depois aparece um cara com tatuagens e piercings sentando ao lado de Holly ao mesmo tempo em que planta um beijo na bochecha dela.

- Ei, baby! Decidiu vir almoçar com a gente?

Quando reconheço quem é, meu sangue congela nas veias. O tatuado é Caden, amigo de Aiden.

Não.

Não, não, não, não.

Tem um extraterrestre sentado à nossa calma e comportada mesa. Alguém tem que guiá-lo de volta à sua própria. Isso está muito, muito errado.

- Eu te vi de longe e me lembrei daquela resposta que você ainda não me deu.

- Resposta? Oh, sim! - Holly bate na testa como se tivesse acabado de se lembrar de alguma coisa. - O show! Eu havia me esquecido completamente. É claro que vou com você, baby.

Ela vai para um show com ele? Por que eu estou com a sensação de que terei problemas à vista? Ela faz uma rápida apresentação de Caden para nós e eu o encaro de volta quando o tatuado fica olhando para mim por mais tempo do que deveria.

Ele parece estar rindo de mim ou algo assim pela forma como me olha. De repente seus olhos vão para além de mim, e não demora muito até outra bandeja ser pousada em nossa mesa, ao lado da minha, e um cara, imitando Caden com Holly, estala um beijo na minha bochecha. Quando olho para o lado para ver quem é o descarado que está tomando liberdades comigo, tenho vontade de gritar horrorizada.

- Aiden? - pergunto no susto, piscando algumas vezes.

Por que, diabos, ele acha que pode sentar ao meu lado e me beijar na bochecha?

Aiden desmancha os lábios num sorriso com a marca de conquistador número um para mim. Então, inclina o rosto para me beijar de novo, dessa vez na boca, mas intercepto-o colocando a mão em seu peito, impedindo-o antes que algo muito indesejado aconteça naquele refeitório aos olhos de todos.

- Ah, ela está tímida hoje - ele comenta sorrindo para o restante do pessoal da nossa mesa, que estão nos olhando pasmos, exceto Caden. - Não me lembro de ter estado tão tímida assim ontem, minha adorável Rainha de Gelo.

Pisco, meio em choque com aquela forma tão íntima com que se dirigiu a mim.

- Perdão?

Os olhos castanhos brilham com cinismo que pode facilmente ser confundido com romantismo aos olhos de qualquer um. Mas eu sei que não é romantismo em se tratando de Aiden. Ele está sendo deliberadamente meloso para me deixar desconfortável na frente das minhas amigas, que estão surpresas comigo.

- Ontem, não lembra? Na boate, a música alta, o vestido vermelho...

Ele balança sugestivamente as sobrancelhas para mim e pisca galanteadoramente, confirmando as minhas suspeitas de que não, ele não estava chapado, e que sim, ele se lembra da droga do vestido curto, bem como de sua dona.

Eu paraliso.

Quase não consigo respirar.

Então ele sabe que a Rainha de Gelo está tendendo mais para o lado do fogo, levando-se em conta o lugar que ela trabalha. Jesus, alguém sabe. Um universitário babaca sabe do meu segredo e pode revelá-lo a qualquer momento para as pessoas que conheço. Fecho os olhos e procuro respirar com toda a calma. Bem, ele ainda não me desmascarou na frente das minhas amigas. Certamente quer alguma coisa de mim com toda essa conversa...

Abro as pálpebras, meu sorriso amigável forjado desenhando-se em meus lábios.

- Oh, sim - falo, concordando com a cabeça e entrando na roda de fingimento dele. - De fato, estou começando a me lembrar. Ontem, certo?

- Exato. Foi uma ótima noite, não?

Ergo a sobrancelha, sabendo aonde ele quer chegar com aquela pergunta de duplo sentido. Obviamente ainda está com aquela aposta ridícula na cabeça, mas prefiro morrer a ter que confirmar indiretamente na frente de outros que dormi com ele.

- Foi ótima mesmo - confirmo sorrindo e acrescento: - Todas aquelas flores, chocolates, a música lenta, a poesia... Quem diria? Eu nunca esperaria isso de você.

Ele retribui o meu sorriso meloso, até demais, mas sei que na verdade ele quer me matar por fazê-lo parecer tão efeminado.

Alguém chama a minha atenção quando bate na mesa.

- Eu sabia! - Holly exclama, completamente excitada com o que acha que acabou de descobrir. - Você realmente estava escondendo um cara, Kris!

- Mas e aquele papo sobre a biblioteca e que ele te perseguiu? E a aposta? - inquiri Beth, confusa com a reviravolta da situação.

- Aquele foi o único jeito que encontrei para conseguir chegar perto da Rainha de Gelo. E deu certo, não deu?

Ele olha para mim, como se estivesse esperando por uma confirmação.

- Aparentemente, sim - resmungo baixinho.

É bom demais para ser verdade. Onde estão as câmeras? Isso só pode ser uma brincadeira. Não estou gostando nada porque sei que isso significa que estou nas mãos dele.

- Vocês formam um bonito casal - comenta Holly, apertando-se apaixonadamente ao seu par, Caden. - Não é, baby?

- Pode apostar que sim - confirma Caden, apertando os lábios como se quisesse rir. Fico me perguntando se ele sabe o que realmente está se passando ali entre eu e seu amigo tatuado.

O comentário de Holly seguido pela confirmação de Caden provoca um formigamento nas minhas mãos e me deixa desconfortável. Ela logicamente acha que eu e Aiden estamos tendo alguma coisa, o que não é verdade. Então procuro explicar:

- Não é o que estão pensando.

- É exatamente o que estão pensando - intervém Aiden.

Viro o rosto para dar o meu olhar mortal a ele.

- Não, não é.

- É claro que é, Minha Loirinha. Será que vou ter que repassar os fatos de ontem? Detalhe por detalhe para fazê-la se lembrar do que exatamente aconteceu?

Fico boquiaberta com a petulância dele ao me chamar por outro apelido ridículo e me ameaçar daquele jeito oculto. Tudo bem, eu ainda descobrirei aonde ele quer chegar com aquilo, mas não deixarei que pensem que dormi com aquela pessoa desvirtuada.

- Não é necessário. Foi um ótimo encontro e só isso.

- Só isso?

Não cedo e deixo bem claro quando friso:

- isso.

Todos ficam ligeiramente impressionados com a nossa conversa mirabolante de duas pessoas que tiveram um encontro sobre o qual não fazem ideia de que nunca existiu. Holly está plenamente entusiasmada e Beth, ainda um pouco confusa, mas não deixa de dar um sorriso e uma piscadela sugestiva quando me viro para olhá-la. E Caden... Bem, Caden ainda vê alguma piada em mim que não consigo captar. Vou matar Aiden se souber que ele contou a Caden. Ninguém mais pode saber sobre mim. Nem mesmo ele deveria saber sobre a vida dupla que levo.

Nos minutos seguintes procuro ficar calada, respondendo uma coisa ou outra às perguntas curiosas de Holly e Beth. Sinto-me espremida entre Beth e Aiden, que parece estar se apertarndo a mim no banco de propósito. Termino o almoço rapidamente e jogo o lixo da bandeja na lixeira com Aiden no meu encalço fazendo o mesmo.

- O que você quer de mim, afinal? - Vou direto ao ponto quando estamos fora do prédio, sozinhos.

Ele não responde de imediato minha pergunta. Apenas move a alça da mochila nos ombros, apreciando a paisagem à nossa frente com um sorriso misterioso e, em última instância, volta-se para mim.

- Então a Rainha de Gelo é uma stripper.

- Não sou uma stripper - nego, varrendo com o olhar o campus ao nosso redor para me certificar de que ninguém está perto o suficiente para nos escutar.

- Eu vi você naquele clube de striptease. Estava com aquele vestido chamativo, toda maquiada, com metade dos seios para fora, e com a bunda quase à mostra. O que mais poderia ser?

Ele se planta na minha frente para me encarar enquanto minhas faces assumem um ar desesperado ante o comentário dele sobre os meus seios e bunda.

Isso é ótimo.

Agora ele pensa que sou uma stripper!

Querendo disfarçar meu ligeiro embaraço, pigarreio e procuro olhar fixamente para além dele.

- Você ainda não disse o que quer de mim. Por que não me desmascarou na frente de todos? Pensei que me odiasse como todos os outros depois do gelo que dei em você.

Ele ri guturalmente.

- Besteira, Rainha de Gelo.

- Bem...? - insisto.

- Você sabe que agora está nas minhas mãos e vai ter que fazer tudo o que eu mandar.

É a minha vez de rir.

Quem ele pensa que é?

- Como é?

- Quer que todos saibam que você é uma stripper? Agora eu sei onde você trabalha e vai todas as noites. Posso mandar facilmente todos os caras que conheço até lá e então descobririam a farsante que você é.

Esfrego as mãos no rosto com impaciência por ter de lidar com alguém tão oportunista quanto aquele tatuado descarado. Não, claro que não quero ser descoberta. Caso contrário, por que ainda manter as aparências? É, ele me tem nas mãos e isso não é nada bom.

- Fale logo de uma vez o que você quer.

- Lembra da aposta? - ele fala como quem não quer nada. Mas sei que ele quer, sim, uma coisa que eu jamais faria.

- Ah, não, nem vem! Não vou sair falando por aí que transei com você. Isso está fora de questão!

Ele sorri de uma forma muito maldosa.

- Como eu disse, está nas minhas mãos.

- Pois então conte tudo para quem quiser. Passar bem!

Estou prestes a dar meia-volta, completamente alterada que alguém está me chantageando daquele jeito ridículo, mas sou puxada com tudo e acabo colidindo contra algo duro, forte e muito bem dividido. Com a boca dele perto da minha, meu coração dispara e não sei como controlar isso. Saio de perto dele como se ele fosse portador de uma doença contagiosa, antes que eu fique toda atrapalhada sem motivo algum.

Com um suspiro, Aiden corre os dedos pelos cabelos castanhos sedosos, bagunçando-os charmosamente em sua cabeça. Ele sabe que não vou aceitar uma coisa daquelas. Deixei claro desde o início que admitir uma mentira daquelas seria inviável para mim.

- Escute, você vai ter que fazer o que eu pedir. Não é uma escolha.

- Não vou fazer uma coisa dessas, Aiden.

- Certo, então não terei os meus mil dólares - ele diz, resignado. - Mas ainda quero que faça outra coisa, e essa não é uma opção, Rainha de Gelo.

Por dentro, fico aliviada que não terei minha vida dupla descoberta. Se as pessoas descobrirem que sou uma stripper... Bem, na verdade não sou, mas isso não seria nada legal. É muito provável que eu precise me transferir de universidade para recomeçar a vida sem muitos escândalos.

- O que é?

- Eu preciso que... - Hesita, analisando-me da cabeça aos pés de repente, como se estivesse verificando se a qualidade de meus atributos físicos vale a pena. - Bem, eu preciso que seja a minha namorada, temporariamente.

Todos os meus sentidos falham e dão lugar a uma vontade incontrolável de rir. Se não fosse Aiden estar parecendo falar realmente sério, é o que eu teria feito.

- Por quê?

- Eu estava testando você no refeitório. Como você se sairia numa situação em que fôssemos bem próximos na frente de outras pessoas.

- Uau, que beleza descobrir que eu estava sendo testada minutos atrás - ironizo. - E como me saí, professor?

Há um brilho enigmático em seu olhar assim que ouve como eu o chamei.

- Você foi bem. E agora terá que ser a minha namorada, querendo ou não.

Ainda estou esperando que seja uma piada, mas a expressão serena dele não me dá margem alguma para continuar pensando aquilo.

Pelo amor de Deus, por que logo eu tinha que ser a namorada dele? Quero dizer, ele é Aiden Blackwell, o cara por quem as garotas queimam por dentro! Ele é o tipo de homem que pode ter qualquer garota apenas chamando-a com o dedo.

- Por que eu?

- Você é fresca, metódica, objetiva, educada e patricinha. É o tipo ideal de namorada para ser apresentada aos meus pais.

Bufo, não acreditando que ele disse aquelas coisas sobre mim em voz alta. Fresca? Patricinha? Ora, por favor. Sou normal. Apenas normal.

Ou talvez não.

- Aos seus pais? - repito.

- Sim. Não sabe quem é a família Blackwell, Kristanna?

Busco nos recônditos mais profundos da minha mente, porém não acho nada que me ajude. Nego com a cabeça, notando como ele se delicia com o meu desentendimento.

- Acontece. Se fosse em Toronto, todos aqui já teriam descoberto há muito tempo que sou o herdeiro da famosa cadeia de hotéis Blackwell. Digamos que vim refugiado para cá e mantive-me escondido desde então.

Permaneço fitando-o sem entender, enquanto seu sobrenome ecoa continuamente em minha mente. Realmente, ele não me é estranho. Pensando bem, já tinha ouvido em algum lugar... De repente, arregalo os olhos ao me recordar da propaganda na televisão. Havia um Hotel Blackwell bem no centro da cidade!

- Oh, meu Deus! - Levo a mão aos lábios. - Aiden Blackwell não passa de um playboy!

Não que ser um bad boy com piercings e tatuagens seja mais atrativo. Mas é meio difícil pensar nesse bad boy como sendo um riquinho excêntrico. Com sua jaqueta de couro e calças jeans surradas, ele não parece nada esbanjador. Pelo contrário, chega bem perto do tipo de decadência humana que tenho em mente.

Ele sorri e concluo que na verdade é da minha cara de espanto que ele quer rir.

- Eu por acaso pareço com um maldito playboy para você?

- Bem, não... Se você veio "refugiado" - executo as aspas com os dedos -, o que seus pais acharam da sua fuga?

A expressão dele muda totalmente de entretido para sério.

- Não tiveram muito o que dizer. Philip queria que eu cursasse Administração para dar conta do império da família, mas eu queria Direito, então fiz o que tive de fazer. Ainda cheguei a iniciar Direito em Toronto, mas acho que meu pai tomou o meu desejo como uma afronta à autoridade dele, pois ameaçou me deserdar e me negar o nome da família.

- E o que você disse?

Ele dá de ombros, como se não se importasse com o assunto. Ou talvez seja o que ele queira fazer parecer aos meus olhos.

- Eu disse que tudo bem.

Fico surpresa, profundamente chocada. Aiden tinha enfrentado o pai rico e poderoso para perseguir um sonho. Esse é o tipo de história que não se ouve todo dia. Preciso de longos minutos para acalmar os nervos e digerir o que ele me contou. Caminhamos mais um pouco em silêncio até chegarmos perto do campo de futebol, onde nos sentamos na arquibancada.

- Deus, que história mirabolante. - Coloco meus cabelos atrás das orelhas. - Mas se você veio para cá refugiado, então isso significa que eles não sabem que está aqui? Se for assim, ainda não entendo o motivo de seu pedido.

Ele pousa sem pressa a mochila sobre a arquibancada, apreciando o horizonte à nossa frente.

- Eles sabem, sim. É um pouco difícil esconder as coisas de Philip. Ele sempre acaba descobrindo, mas não tinha muito o que ser feito. - Faz uma breve pausa, meditando sobre algo. - Na verdade, ele fez. Tirou o carro de mim, bloqueou os meus cartões de crédito, fez com que eu fosse demitido do meu antigo emprego em um escritório... De forma geral, ele ferrou com a minha vida no Canadá, por isso vim para cá começar do zero e continuar a graduação.

- Seu pai é muito simpático - comento, pasma com o demônio em forma de pessoa que o pai de Aiden é.

Ele ri, apoiando as mãos atrás de si na arquibancada para inclinar a cabeça para o lado e me olhar, curioso.

- E onde eu entro nisso tudo?

- Depois de dois anos sem contato algum com eles por ordem de Philip, minha mãe, Lorelai, conseguiu convencê-lo de alguma forma a permitir que eu voltasse.

- E você quer voltar?

Ele faz uma careta.

- Claro que não. Mas ela ainda quer que eu os visite em um fim de semana.

- Não pode fazer essa visita solteiro e sozinho? - pergunto.

Ainda não entendo por que Aiden quer arrastar alguém com ele nessa empreitada. Afinal, são os pais dele. Uma garota poderia se sentir completamente perdida naquele meio hostil.

Ele coloca o tornozelo direito sobre o joelho esquerdo e pensa por um momento, provavelmente buscando pelas palavras certas para falar de um assunto tão delicado quanto esse.

- Philip nunca aprovou nenhuma das garotas que eu já levei para que ele as conhecesse. Ele dizia que elas eram indecentes e incultas.

- E elas eram? - indago com uma inexplicável curiosidade.

Ele ri.

- Elas eram, mas eu não era obrigado a concordar. Acho que fazia aquilo de propósito, sabe. Para irritá-lo, fazê-lo ver que ele não podia mais controlar a minha vida. Quando se é jovem, você faz muita besteira. Pensa que sabe de tudo e, mesmo depois de atingir a maioridade, vê que na verdade ainda há muito o que aprender.

Levo a mão ao coração, emocionada com aquelas frases tão sábias vindas de um cara que eu pensava que era o maior idiota da universidade. Ele naturalmente não precisa saber que eu costumava pensar isso dele, claro.

- Oh, meu Deus, estou frente a frente com um Aristóteles. - Meu tom sai mais meloso do que gostaria.

Ele franze o cenho, mas depois acaba rindo do meu comportamento fresco.

- Não é para tanto. Tenho 25 anos. Já estava mais do que na hora de aprender um pouco, não acha?

- Bem - falo, tentando me recompor da comoção -, você parece ter aprendido bastante. Da pior maneira, eu diria.

- Talvez - ele diz, bastante pensativo.

Ver Aiden Blackwell tantas vezes pensativo é muita novidade para mim.

- Deixe-me ver se entendi. Então você quer apresentar essa garota para os seus pais a fim de que Philip veja o grande erro que cometeu ao... ferrar com a sua vida? - termino, meio incerta.

- Mais ou menos. Eu queria apresentá-la e fazê-lo ver que estou muito bem sem ele. Sabe qual foi a última coisa que ele me disse antes que eu saísse de casa? Que mais cedo ou mais tarde eu voltaria rastejando para ele, implorando para que me desse outra chance. Só que não quero nenhuma merda de outra chance. No momento, eu quero apenas me formar e poder construir mais coisas aqui. Mas para isso, preciso de alguém que não seja indecente e inculta - ele termina, rindo.

Acho o riso dele contagiante e rio junto, mas quando me lembro do buraco em que estou prestes a me enfiar, meu sorriso morre para dar lugar à preocupação.

- Espere aí - faço o sinal de pare com a mão. - Você está querendo que eu seja a sua namorada para passarmos um final de semana na casa dos seus pais no Canadá?

- Exatamente.

Sacudo a cabeça. Como possivelmente eu poderia aguentar uma coisa dessas?

- Isso é ridículo, Aiden.

- Isso não é ridículo. - Ele me olha seriamente de onde está. - Isso é a minha vida, Rainha de Gelo.

O contraste criado entre o uso do apelido com a frase dele faz eu me sentir mal por estar desmerecendo a história de vida de alguém.

- Desculpe - trato de dizer. - Mas não posso fazer uma coisa dessas.

- Por que não?

Eu realmente não quero ser a escolhida para aquele sacrifício maia, por isso digo a primeira coisa que vem à minha cabeça:

- Porque, como você disse, eu sou uma stripper! Se os seus pais descobrirem isso, é o fim para qualquer imagem imaculada de bem-estar que você esteja pretendendo passar.

- Ninguém vai ficar sabendo disso. Não contei a ninguém. Sou o único que sabe do seu segredo e, se você aceitar ser a minha namorada, ninguém jamais ficará sabendo que trabalha naquele clube como stripper.

Então isso significa que Caden não sabe sobre minha dupla identidade...

Penso sobre as minhas opções e constato com decepção que elas não são muitas. Na verdade, elas são quase nada e eu não tenho muita escolha, mas resolvo perguntar só para ter certeza de que aquela pessoa ao meu lado não tem um pouco de bom samaritano dentro de si:

- E se eu me negar ao seu pedido?

- Todos ficam sabendo do seu pequeno segredo e todo o gelo vai derreter - ele brinca, mas não acho nada engraçado. É a minha vida que também está em jogo.

- Por que não escolhe outra garota, uma que realmente queira fazer o que você quer? Há muitas por aí que não se negariam a fazer isso por você. Você sabe disso.

- Impossível. Elas não são tão frescas e patricinhas quanto você. - Tanta naturalidade em seu tom me faz ter vontade de esbofetear seu belo rosto.

- Nossa, obrigada - falo em tom de sátira. - Acha realmente que eles vão gostar de mim?

Após encarar meus cabelos louros, meus olhos azuis e depois as maçãs delicadas de meu rosto, ele responde sem hesitar:

- Vão, sim.

Não sei se fico feliz ou triste por saber que há grandes probabilidades de os pais terroristas de Aiden gostarem de mim.

Suspiro, desanimada.

- Não estou muito certa sobre isso, Aiden.

- Não está muito certa sobre o que exatamente? Você fala bem, é educada, tem bons modos, sabe se controlar... Ficaria surpresa se eu dissesse que tenho andado reparando em você já há algum tempo.

E realmente fico surpresa. Eu tinha um stalker na minha cola e nem sabia disso.

- Meu Deus - murmuro com os olhos arregalados para ele.

- Pois é. O que o desespero não faz com uma pessoa?

Ele me elogiou segundos atrás e agora desfez tudo isso com uma simples pergunta? Porque, se para que eu seja notada por um homem exija desespero nele, então eu estou muito mal na fita. Não que isso importe, claro.

- A partir do momento em que as pessoas nos verem juntos, elas vão falar. Passar um final de semana fora com você, então, é motivo suficiente para pararmos na primeira página da parte de fofocas do jornal universitário.

Ele ergue uma sobrancelha escura para mim.

- Você liga para essas coisas?

- Claro que ligo. É a minha vida também, Aiden. Você é um homem. Pode bater no seu peito de Tarzan e sair agarrando os cipós pela selva que ninguém vai ligar. - Ele prende o riso com a minha analogia peculiar e espera eu terminar. - Mas eu? Eu não quero parecer a mais fácil, a vadia daqui. Porque eu realmente não sou e se vou fazer uma coisa dessas é porque estou sendo chantageada por um golpista como você.

Ele respira fundo, sabendo que tenho razão, e começa a bater os polegares na arquibancada, emitindo alguns pequenos barulhos com isso. Ele está pensando, tentando arranjar uma saída para o meu problema que agora virou o nosso problema.

Aiden dá uma última batida e diz, por fim:

- Está bem. Vamos oficializar a coisa.

Arregalo os olhos. Ele quer... oficializar? O que ele quer dizer com isso? Não, ele é Aiden Blackwell. Jamais oficializa coisas.

- Oficializar...?

- O nosso namoro. Você quer ser a minha namorada?

Pisco, atordoada com a pergunta repentina, mas já tenho a resposta na ponta da língua.

- Não.

Ele não fica aborrecido. Apenas ri e explica calmamente:

- Foi uma pergunta retórica. A partir de hoje, você é oficialmente a minha namorada, Kristanna Barton.

Ele nem ao menos se importa com o que tenho para dizer.

Incrível.

- Que cavalheiro - retruco, mas sei que não tenho escapatória.

- Você vai superar, Rainha de Gelo. Se vamos fingir na frente dos outros, é melhor que façamos isso muito bem.

Faço uma careta ao me lembrar de um pequeno e incômodo detalhe sobre os namoros.

- Eu não vou ter que beijar você na frente dos outros, vou?

- Claro que vai, Minha Loirinha - ele prontamente responde. Fico irritada por ter ouvido de novo o apelido junto com a presunção com que ele disse as palavras. - Afinal, que forma melhor de demonstrar a paixão intensa e incontrolável que sentimos um pelo outro, senão através de uma coisa tão íntima quanto um beijo?

Batendo em você, é a resposta que quero dizer, mas trato de me controlar como a pessoa tão culta e decente que ele pensa que sou.

Como dois bons atores, fingimos sorrir amavelmente um para o outro de uma forma tão exagerada que dá para saber que é forçado. Kristanna Barton, a Rainha de Gelo, e Aiden Blackwell, o bad boy que na verdade é um playboy, estão namorando.

Tem tudo para dar errado, mas deixarei que ele descubra isso por conta própria.

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