Chào các bạn! Vì nhiều lý do từ nay Truyen2U chính thức đổi tên là Truyen247.Pro. Mong các bạn tiếp tục ủng hộ truy cập tên miền mới này nhé! Mãi yêu... ♥

17. Opressão

A recepção de boas-vindas não é a das melhores.

Minha vida se transforma em meu inferno pessoal depois que volto do Canadá. O que eu mais temia se tornou realidade: as fofocas atravessaram as fronteiras canadenses para se espalharem pela universidade. Os rumores são de que sou uma stripper. Propositalmente focaram na parte mais sórdida da minha vida - ao menos a parte mais sórdida que conhecem -, e as atenções se voltam exclusivamente para isso. Ninguém ainda se deu ao trabalho de procurar saber quem foi Kylie Johnson, o que de certa forma é um alívio.

Não tenho dúvidas de quem começou os boatos, pois os garotos do time de futebol são os primeiros a me abordar e me cercar no dormitório fazendo piadas sem graça perguntando-me quanto cobro por um strip em festa particular.

Garotos. É tudo o que eles são. Não passam de caras imaturos e idiotas.

Estou escondida no quarto do dormitório, pensando sobre o dia de amanhã, quando Holly irrompe pela porta usando as roupas de ginástica que geralmente veste para ir à academia. Beth entra logo em seguida, fechando a porta atrás de si.

- Por que não nos contou? - Holly pergunta em um tom de briga tão alto que acho que posso ficar surda. - Por que você nunca nos conta o que realmente merece ser contado? Meu Deus, me segura, Beth! Ou eu vou dar uns tapas nessa garota.

- Se controla - Beth diz a Holly em tom de repreensão. - É a vida dela que está em jogo, e não a sua. Para de surtar ou vai acabar tendo um treco de verdade.

Holly se vira fungando e, quando volta-se para mim, vejo que está tentando inutilmente conter as lágrimas que já estão sendo derramadas.

- Eu sinto muito, Kris. Sinto muito mesmo. - Ela funga novamente, os nervos à flor da pele. - Caden me contou sobre os boatos. Ele disse que você e Aiden tiveram uma briga daquelas.

- Não são boatos, são a verdade. - Sento-me na cama para olhá-las. - Sou uma stripper e de fato estive internada em uma unidade psiquiátrica por conta de alguns problemas que tive no passado. Pronto, era isso o que escondia e que não queria que soubessem.

- Por quê? - Beth indaga.

- Por quê? - ecoo tristemente. - Porque isso é tão... horrível.

- Não há nada de horrível em trabalhar para conseguir seu dinheiro. - Beth se senta ao meu lado da cama.

- E não há nada de horrível em ter um passado do qual não se orgulha, porque o que importa é que você está bem. O que importa é o agora e quem você se tornou. - Holly hesita, depois, como Beth, senta-se no outro lado da cama. - Só por curiosidade... Não foi nenhum crime que cometeu, foi?

Eu rio fracamente.

- Não - respondo. - Há mais e juro que vou contar no momento certo, mas preciso de tempo para digerir o que já está acontecendo.

- Tudo bem, saber que você não é uma criminosa já basta.

- Holly! - Beth censura.

- O quê? O que eu falei?

- Está tudo bem - digo a Beth. - Não me sinto ofendida nem nada do tipo. Vocês duas deveriam se acalmar.

Beth e Holly se entreolham e depois me abraçam ao mesmo tempo.

- Apenas garanta que eu esteja presente quando você decidir contar o resto das coisas.

- Eu também - Holly pede. - Nós vamos te proteger, Kris. Vamos garantir que nada te aconteça.

- Isso é impossível, mas agradeço. Meninas, não posso ficar dependendo de vocês em cada instante da minha vida. Não seria justo. E do jeito que o mundo está em um complô para me aterrorizar, haverá algum momento em que vocês não poderão estar lá por mim.

Elas ficam em silêncio diante da realidade da minha afirmação. Permanecemos abraçadas, até que ouço batidas na porta do quarto. Eu reviro os olhos e bufo, impaciente, já me levantando e explicando:

- Já é a quinta vez no dia que vem algum idiota aqui para me azucrinar.

Holly passa por mim em disparada.

- Deixa comigo. - Ela abre a porta e grita a plenos pulmões, sem nem ao menos ver quem é: - Vai se foder, seu babaca! - E fecha a porta com tudo, satisfeita consigo mesma.

- Holly - Beth chama, o cenho franzido -, aquele não era o Caden?

Com merecida rapidez, o sorriso de Holly se desfaz. Ela escancara a porta aberta e, com uma expressão toda arrependida, cruza a soleira às pressas.

Eu e Beth somos capazes de ouvir os gritos dela no corredor:

- Amorzinho, volte aqui! Não foi de propósito, eu juro!

* * * * *

A primeira semana é meu terror. Não tenho ideia do que esperar, e talvez isso me assuste mais do que deveria. Caminho em silêncio pelos corredores, com o coração dilacerado e a solidão guiando os batimentos mortos em meu peito, enquanto estou me dirigindo quase como um robô para a sala de aula.

Estou arduamente engajada em terminar de uma vez por todas a faculdade. São os últimos meses para a reta final, que se revelam serem os piores de minha vida acadêmica. Embora não diga o motivo, o Professor Fincham tem agido de modo estranho comigo. Eu o havia procurado para tirar uma dúvida e ele mal conseguiu olhar nos meus olhos enquanto estava falando comigo.

Não sei tudo o que andaram falando de mim, porém sei como os fatos tendem a ser enaltecidos quando são transmitidos oralmente por pessoas diferentes, especialmente quando são pessoas que me odeiam.

Holly e Beth tentam me acompanhar em tudo, mas, conforme previ, sempre haveria algum momento em que não poderiam estar comigo.

Assim que chego ao refeitório, sozinha, uma atenção exorbitante é direcionada a mim. Ouço risos, cantadas, assobios para o meu corpo e vejo olhares de julgamento e lascívia. As garotas que me odiaram quando namorei Aiden Blackwell estão mostrando suas garras afiadas como nunca.

Respiro fundo e tento me manter de pé. Caminho decididamente para a mesa vazia mais próxima e me sento, pousando minha bandeja sobre a superfície. São minutos nervosos de silêncio que passo comendo meu almoço. A intensidade do burburinho diminui, embora ainda possa ouvir comentários maldosos sobre mim.

Meu corpo fica tenso quando um cara que não conheço vem se sentar ao meu lado. Quero pedir para que saia, mas não posso fazer isso.

- Não ligue para eles. - Seu tom parece ser sincero enquanto me tem em seu olhar, com um sorriso gentil desenhado em seus lábios.

Reconheço-o segundos depois de analisar suas faces com cuidado. Dei o fora nele ano passado, antes de me tornar a namorada falsa de Aiden. E mesmo com os foras, existem caras que ficam obcecados quando lhe negam algo que querem.

De alguma forma, relaxo com seu comentário. Ele incrivelmente está agindo como se não se interessasse mais por mim e não tivesse intenções de me ter para uma foda casual. Calada, continuo me alimentando, oprimida por sua presença masculina, e só percebo que meus dedos estão tremendo quando o garfo cai de minha mão.

Olho para frente, petrificada. Uma mão está em minha coxa, apertando-a e alisando-a, deslizando para cima e para baixo. Antes que ela alcance meu sexo nos jeans, afasto-me para o lado no banco, olhando-o entre amedrontada e confusa.

- O que... o que está fazendo? - Minha voz está querendo falhar.

Ele não responde de antemão, apenas sorri com uma onda maliciosa em seu lábio.

- O que foi? Você só tira a roupa quando te pagam?

Fico calada, com a vergonha e culpa consumindo meu orgulho. Eu não era mais stripper quando retornei, mas agora voltei a ser. Dragon me aceitou de volta dias depois que me humilhei aos seus pés implorando para me deixar voltar a trabalhar no clube. Mas com uma condição: que eu pagasse em dobro as taxas para ele durante o período de uma semana que fiquei fora. Segundo Dragon, essa é a forma de me redimir por tê-lo deixado na mão. Desesperada pelo dinheiro que ganharia com o emprego, terminei aceitando.

- Dance para mim, Rainha do Gelo. - O pedido é feito num tom de zombaria misturada com o desejo escurecido em seu olhar. - Nós dois sabemos o que você realmente é. - Ele está me olhando como se eu fosse uma prostituta.

Com as lágrimas e a dor infinita presas na garganta, eu me levanto e caminho com pressa até estar longe daquelas pessoas.

Essa foi a última vez que comi no refeitório.

Minha reserva de forças está chegando ao fim e prefiro direcioná-la para o que realmente importa: Jo.

A novidade é que ela finalmente está morando comigo, o que significa que não estou mais dormindo no dormitório. Quando estava empacotando minhas coisas para a mudança, Holly protestou veementemente dizendo que sentiria minha falta, e, ao final, nos despedimos com lágrimas nos olhos, relembrando como duas idiotas sentimentais os bons momentos que passamos juntas. Eu também sentiria sua falta.

Quando a bomba explodiu, Holly e Beth foram as únicas que ficaram realmente ao meu lado me apoiando como duas verdadeiras amigas sempre que podiam. Elas respeitam meus limites ao não me fazerem muitas perguntas sobre meu passado.

Beth me ajudou com o deslocamento das malas até minha nova moradia. Nós fomos em seu carro, depois mostrei a ela meu apartamento, cômodo por cômodo. É humilde e simples, com uma cozinha, uma sala, um banheiro e dois quartos pequenos. Mas é um lugar para chamar de meu. E Jo estaria nele, então seria nosso.

Assim que termino o estágio não remunerado, passo a fazer turnos dobrados no clube sempre que posso, o que me leva a estar exausta na maior parte do tempo que estou fora do trabalho.

Devolvo o cheque de dez mil dólares através da recepção do hotel em que sei que Aiden está hospedado, agora me forçando a lembrar que perdi o amor de minha vida. Tenho uma conversa breve com a recepcionista que me informa que ele ainda está em Oregon, o que possibilitaria a devolução do dinheiro. Ao mesmo tempo em que vem o alívio, também vem a apreensão de encontrá-lo por ali.

A recepcionista tira o telefone discando números, perguntando-me se quero falar com ele. Nego imediatamente, com o coração tamborilando só de imaginar como seria ouvir sua voz de novo.

- Preciso apenas que me faça um favor. - Deslizo o envelope pelo balcão com um movimento rápido e afobado. - Devolva isso a ele, por favor. Obrigada.

Retiro-me para fora do saguão sem nem poder respirar. Não o vejo desde que voltei para os Estados Unidos, mas seu rosto ainda é bastante nítido em meus sonhos e pensamentos.

Mais uma noite longa e trabalhosa, e então estou abrindo a porta do meu novo lar. Encontro Jo assistindo televisão com uma vasilha de pipoca sobre as coxas. Sorrio, observando-a da soleira. Ela nunca me pareceu tão em paz e concentrada, com o brilho radiante de sua jovialidade finalmente liberta. Ao seu lado, está o pequeno aquário de Gary sobre uma mesinha de madeira envelhecida. Jo está cuidando dele para mim. Ele meio que se tornou um amigo para ela. Provavelmente o único até agora, até ela poder frequentar a escola ano que vem.

Faço o caminho para meu quarto, desabando na cama com um suspiro cansado, e fecho os olhos sentindo uma dor de cabeça chegando. Em seguida, ouço passos que cessam quando o colchão afunda ao meu lado.

Olho para o lado, encontrando dois olhos altivos e sinceros.

- Um dia você ainda vai morrer de tanto trabalhar.

- Estou fazendo isso pelo nosso futuro. De nada.

Ela sorri para mim e se apoia em seu cotovelo para me olhar.

- Eu sei. E te agradeço por isso, Kris. Mas não quero que você morra tão cedo. Do que me valerá ter uma irmã morta? Eu não conseguiria me virar sozinha em tão pouco tempo.

Reviro os olhos. Qualquer um que escute nossas conversas diria que somos duas malucas.

- Você é tão gananciosa - comento em tom brincalhão. Depois enrugo a testa para ela. - Acho que sou uma péssima influência para você. O que mamãe diria sobre isso?

- Ela diria que você tem razão.

Nós duas rimos e Jo me abraça. Fecho as pálpebras cansadas enquanto estou afagando seus cabelos louros. Ficamos por, pelo menos, um bom tempo assim, em silêncio, com sua face lateral encostada ao meu peito, braços ao meu redor pedindo por conforto fraternal.

- Eu sinto falta dela, sabe. De mamãe.

Suspiro.

- Eu, também.

- E de Aiden - acrescenta em tom cuidadoso.

Abro os olhos, surpresa.

- O quê?

Jo retrocede o corpo para ficar sentada sobre o colchão.

- Ele é legal. - Casualmente ela dá de ombros. - E ele gosta de você.

Preciso de pelo menos alguns longos minutos para me recuperar do choque.

- Jo, nós já conversamos sobre isso. As coisas não são o que parecem. Ele não gosta de mim. Se gostasse, teria vindo atrás de mim há muito tempo.

Ela gira os olhos com um bufo.

- Vocês, adultos, às vezes são tão cegos que não conseguem ver um palmo diante do nariz. - Jo dá um pulo da cama, em seguida coloca as mãos na cintura em uma atitude desafiadora. - Claro que o homem não foi atrás de você. Dê um desconto a ele! Ele precisa de um tempo. - Abro a boca para falar. - E não negue que você também precisa disso para colocar a cabeça no lugar - ela me corta. - Caso contrário, conte-me o que você faria se ele estivesse agora mesmo na sua frente? - Eu me calo quando sou atingida pela verdade. Ela está certa, pois minha reação não seria a das melhores. - Vocês dois são iguaizinhos! Farinha do mesmo saco. Tiveram suas cabeças ferradas por pessoas perversas que lhes fizeram mal. Aquele Philip é um sacana! Você está colando os cacos da sua vida, e Aiden também. Ninguém aqui está realmente bem, okay?

Franzo as sobrancelhas para ela num gesto de desconfiança. Ela parece estar bastante por dentro do assunto. Como isso é possível?

- Vocês andaram se encontrando de novo? - sondo.

Ela arregala os olhos para mim, mal sabendo como disfarçar sua reação denunciadora. Meu queixo escancara para aquela pequena traidora.

- Jo! - grito em repreensão, fingindo a raiva que não sinto. Ergo metade do corpo na cama. - Como pôde?

- Não fiz nada! - Ergue as mãos num sinal de paz, mas fica toda vermelha. - É que ele... está reformando a casa e precisava de uma opinião feminina.

Aiden está reformando a casa? Para quê? Até onde posso lembrar, a única coisa que precisava de reforma era a sala de jogos que ele planejava construir. Um ciúmes inexplicável toma conta de mim. Então eles se tornaram tão amigos a ponto de ele pedir conselhos a Jo? E ela, por outro lado, não me contou nada sobre esses encontros furtivos com ele. Desvio o olhar tentando encobrir a reação ciumenta inesperada.

- Espere aí, eu conheço esse olhar. Está com ciúmes! - aponta para me irritar de propósito. - Quer dizer que você ainda gosta dele! - Jo parece estar cantando vitória enquanto dá pulos de alegria pelo meu quarto, sorrindo de orelha a orelha.

- Não gosto! - Sinto necessidade de negar, mas, ao dizer essa mentira, dói muito aqui dentro e não posso deixar de pensar: ele está seriamente pensando em morar definitivamente aqui depois do que descobriu sobre mim? - Francamente, não sei de onde você tira essas besteiras.

- Caramba, Kris. Você é difícil, garota! Só um santo para querer ficar te perseguindo até você abandonar essa camada grossa de gelo, esse verdadeiro iceberg que você sabe ser. Aposto que o Titanic afundou por sua causa, porque topou com você!

Num acesso de fúria fingida, pego o travesseiro e o atiro na direção de Jo, que está correndo às risadas em direção à porta. O travesseiro bate na parede e em seguida aterrissa no chão com um barulho macio. Sozinha novamente, tombo contra a cama, apertando os olhos.

Embora seja verdade o que ela disse, Aiden não sabe do resto. Mesmo que volte, ele não sabe que sou uma garota que já foi sequestrada, abusada sexualmente, mantida em cativeiro durante quatro anos, e que foi isso o que me levou a ser tratada em um hospital psiquiátrico. Se ele ficou perturbado e desnorteado por saber que estive em uma instituição mental e que tenho uma mãe que ainda se encontra em tratamento, tenho quase certeza de que sua reação ao restante de meus segredos pode ser oriunda de um efeito fatal.

Não o culpo, de fato. Um dia ele descobre que sou uma stripper e fica perplexo. Em outro, ele descobre que tenho uma irmã. Depois, ele desvenda parte da minha vida quando tem conhecimento sobre minha passagem no hospital psiquiátrico e fica sem rumo. Então, descobre que tenho uma mãe e que ela ainda está viva. Tudo o que Aiden sabe sobre minha vida é assim: ele vai descobrindo ao longo do caminho, sem o mínimo de minha ajuda. Nesse aspecto, tenho que concordar com Jo. Às vezes sou uma pessoa difícil demais para lidar. Não ficaria surpresa se ouvisse de Aiden que ele já não sabe mais o que esperar de mim.

Na verdade, nem eu sei mais.

Talvez simplesmente não haja mais salvação para garotas como eu.

No dia seguinte, concluo que realmente não há. As coisas vão de mal a pior no clube. Eu me obrigo a dançar todas as noites, no entanto, hoje está sendo mais difícil do que nunca, porque os caras da faculdade descobriram onde eu trabalho. Estou no palco e eles estão ali, na plateia, esparramados em suas cadeiras enquanto estão me comendo com os olhos, com sorrisos maliciosos.

Para alguém que tem meses de experiência como stripper, isso supostamente deveria ser fácil, mas não é. Mesmo assim, eles me assistem tirar a roupa e isso me causa um mal-estar sem precedentes. Quando arranco a blusa, forço-me a afastar os braços para mostrar os seios, mas olho para longe de tudo. Afasto minha mente do momento. Saber que fui perseguida até o trabalho por esses abutres da existência humana me deixa nauseada, querendo chorar como nunca. É uma crueldade que não precisa de nenhum dano físico para ser configurada como tal. Infelizmente não há nada que eu possa fazer a não ser esperar.

Na faculdade, não sou mais a Rainha do Gelo. Agora sou a "Vadia do Gelo", segundo as línguas mais maldosas. Chego ao meu limite quando sou convidada para uma festa em comemoração à vitória do time da casa. É o tipo de festa que é uma mistura de recepção de calouros com American Pie e a vibração de uma torcida inteira de um estádio de futebol, o que significa que a maioria dos universitários estará lá. Não é o convite que é ofensivo, é o modo como é feito. Falaram que posso ir... se eu fizer um strip. Eu seria paga. É assim que veem. Não sou nada além de uma stripper. Ao ouvir a oferta, não me contenho e dou um tapa forte no rosto cínico do capitão do time.

Obviamente, decido não ir. Contudo, há algo no fundo que me faz colocar as pernas para fora da cama e ligar para as meninas para pedir que me encontrem na festa. Instantes depois, estou batendo à porta do clube de festas. Essa é a minha vida, estou farta de ficar calada.

Percorro um corredor cheio de estudantes vestidos e outros com roupas de banho que, assim que me veem, começam a me assediar com seus assobios e cantadas nojentas. Alguns me pedem para mostrar os peitos e, em vez disso, mostro o meu dedo médio para eles.

Encontro o DJ na parte externa da área da piscina. Tomo o microfone dele.

- Abaixe o volume da música - ordeno, ao que o jovem DJ me olha em confusão. Levanto o microfone na altura da boca, olhando cuidadosamente ao redor. - Boa noite a todos - ouço minha voz reverberar através do sistema PA. A música termina tendo que ser diminuída gradativamente para que eu possa falar. Não tremo e não retrocedo quando consigo a atenção de todos para mim e me certifico de que minhas amigas estão lá. - Para quem ainda não me conhece, prazer, meu nome é Kristanna Barton. Costumava ser chamada de Kylie Johnson alguns anos atrás, desde o momento de minha concepção até o dia em que decidi mudar meu nome.

Assisto dezenas de pares de olhos atentos em mim. Estou cansada de segredos. Estou cansada de mentiras. Não preciso de mais coragem, porque este é o momento. O meu grito de libertação.

- Vocês devem estar se perguntando: por que Kylie Johnson? Bem, Kylie Johnson foi uma garota que, aos seus 11 anos foi sequestrada por Bernard Russell.

Algumas sobrancelhas se franzem para os nomes que devem estar soando incrivelmente familiares. Vejo pessoas puxarem seus celulares, digitando palavras como se estivessem pesquisando no Google. Cabeças se levantam para mim, chocadas. Os celulares são passados de mão em mão. Provavelmente estão vendo dezenas e mais dezenas de fotos de quando eu era adolescente.

Sorrio sem emoção.

- Essa garota que vocês estão vendo nesse exato momento foi encontrada pelos policiais que trabalhavam no caso, quatro anos após ter sido sequestrada. Mas o mundo teria sido um lugar melhor para ela se fosse somente o sequestro e a privação de sua liberdade as únicas coisas que tivessem lhe acontecido. - O tom sereno de minha voz cria um contraste cruel com a natureza da informação. - Ela foi molestada, violentada, estuprada. Durante quatro anos foi abusada física, sexual e emocionalmente. Teve todos os seus direitos arrancados de si de forma brutal. Todas as suas escolhas de ser uma garota normal lhe foram tiradas à força. Kylie Johnson era a garota que tinha todos os motivos do mundo para querer morrer.

O clima de repente fica tão pesado quanto o microfone nas minhas mãos. Quando Aiden me pediu para confiar nele, eu falhei. Não posso confiar em ninguém se eu não for uma pessoa verdadeira.

Respiro fundo.

- Depois de tudo isso, ela passou mais quatro anos em um hospital psiquiátrico tentando não se autodestruir. E, por incrível que pareça, ela conseguiu sair de lá para finalmente ter uma vida normal. Ela agora é Kristanna Barton. Mas não é esse o ponto a que quero chegar. - Eu me preparo para soltar a verdadeira bomba. - Vocês têm ideia do que é ser sequestrada, estuprada diariamente? Sabem o que é ter seus direitos violados e sua cabeça virar uma merda suicida e destrutiva a ponto de você ter que ir para um centro psiquiátrico?

Encontro Holly na multidão. Lágrimas silenciosas estão escorrendo de seus olhos enquanto Caden está acalentando-a em seus braços.

- Não, vocês não têm, porque não passam de filhinhos de papai, ricos e mimados, que nem sequer sabem o que é sustentar suas próprias bundas sem ter ninguém com quem contar. Vocês não sabem o que é passar fome. Nunca tiveram que contar as moedas para uma passagem de ônibus. Nunca tiveram que tirar a roupa por dinheiro se quisesse continuar na faculdade. Sabe, é muito fácil tomar uma decisão dessas quando você se vê entre ser uma sem-teto e morrer de fome. Mais fácil do que imaginam. Mas então, tudo isso é transformado em piada para ser compartilhada com os amigos.

Faço uma pausa para respirar.

- Me desculpem, mas vocês são uns idiotas. É isso o que vocês são. Idiotas de merda sem cérebro, o tipo de ser humano que me causa repúdio. E se vocês acham que ser um idiota é a coisa mais legal do mundo, então continuem sendo assim. Obrigada pela atenção. - Faço uma reverência irônica. - Aproveitem a festa.

Largo o microfone, que faz um ruído eletrônico irritante quando é passado às pressas para o DJ, e vou embora.

Ouço os gritos de Holly e Beth atrás de mim.

- Kris!

Não paro. Não posso parar, mas elas me alcançam, me abraçam chorando e se despedem quando prometo conversar com elas com mais calma. Estou a ponto de chorar, mas me sinto muito melhor. O que fiz foi como um tapa na cara de cada pessoa presente. Isso, de alguma forma, me traz alívio. Espero que eles realmente se sintam mal e desconfortáveis, mas não por vingança, e sim porque tenho a esperança de que muitas coisas mudem em suas vidas enquanto seres humanos. Para melhor.

Agora mesmo, tenho certeza de uma coisa: estou livre.

Em seguida, desapareço.

Suave e sutilmente.

Como uma folha que se deixa ser levada pelo vento.

Bạn đang đọc truyện trên: Truyen247.Pro