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16. Impostora

Às vezes sinto que isso não passa de um conto de fadas.

Tudo é simplesmente bom demais para ser verdade. É o terceiro fim de semana consecutivo que me encontro com Aiden. Antes disso, pedi demissão do trabalho. Dragon ficou bastante aborrecido e naturalmente não perdeu a oportunidade de me ameaçar verbalmente, dizendo que não me recontrataria caso eu me arrependesse de minha escolha.

Já era de se esperar a perseguição.

Prometi a mim mesma que começarei a procurar por um novo emprego semana que vem. Um que realmente me agrade até eu terminar a faculdade. Um que ofereça um estilo de vida ao qual eu possa me adequar facilmente. Não que eu tenha muitas alternativas, mas poder fazer uma escolha desse tipo é uma dádiva, uma vez que dias atrás eu precisava de cada centavo que ganhava como stripper.

Aterrissamos no Canadá em um horário razoavelmente cedo. Assim que chegamos à casa dos Blackwell, não sabia que uma festa longa e intensa nos aguardava. Todos que conheci estavam lá, inclusive algumas pessoas da universidade, como alunos e professores.

Lorelai foi a mulher doce de sempre quando me recebeu. Seu sorriso foi radiante quando reencontrou Aiden. Jack cresceu alguns bons centímetros, e vendo-o agora em seu mini smoking, ele parece um rapazinho altivo enquanto flutua de um nó de convidados para o outro. Jax não está aqui neste momento, mas fui recebida com muitas lambidas regadas a saliva e excitação por me ver. Então, há Penelope e Paul Anderson, envoltos em sua camada de ouro e diamantes. Eles acenam de longe para mim e eu aceno de volta, sorrindo e tentando agir como uma garota normal.

Às vezes me sinto como uma impostora. Como se alguém fosse olhar através de meu disfarce, apontar para mim, contar tudo o que sou e tudo o que fiz para chegar até aqui. Como se pudessem gritar a qualquer momento: Ela não pertence a este lugar! Não é nada além de uma maluca e demente!

Algumas pessoas ditas normais, civilizadas e conservadoras costumam me ver como um perigo, uma espécie de ameaça à ordem social. Elas não sabem aceitar essa ruptura maligna que existe dentro da própria sociedade, por isso ficam impressionadas a ponto de não saberem como lidar com o problema, chegando até mesmo a negá-lo ou ignorá-lo. Talvez porque elas sejam mais felizes assim.

Encontro os olhos de Aiden em meio à multidão de convidados. Ele está lindo em seu terno preto com lapela de cetim e a gravata borboleta. A conexão é instantânea. O calor toma conta de minha barriga, minha pele é magnetizada pela intensidade de seu olhar e meus olhos não conseguem acompanhar nada além de seus passos confiantes até mim.

Ergo minha taça.

— Champanhe?

Ele levanta uma sobrancelha, captando minha piada, e sorri.

— Está tentando me embebedar?

— Não posso evitar. Você fica menos chato quando está bêbado.

Ele ri com descontração, tomando a taça de minha mão para dar um gole e, em seguida, segura minha nuca para me beijar sem se importar que os convidados da festa estejam nos assistindo. Na última vez que tentou ficar bêbado, Aiden revelou que não passava de um cara chato que se escondia atrás de suas máscaras. Discordo totalmente. Muitas coisas mudaram entre nós. Felizmente, para melhor.

Suspiro enfeitiçada quando o beijo termina.

— Você está linda hoje — Aiden me elogia cortesmente.

— Não tanto quanto você.

— Você realmente tem um galanteio para cada coisa que digo, não é?

— Não posso evitar, você me inspira a ficar toda poética. — Olho-o por cima da borda da taça de champanhe, notando seu sorriso. — Vamos lá, conte o que está achando da festa.

Ele medita um pouco sobre minha pergunta, inspirando e olhando em sua volta.

— Tolerável.

— Tolerável — repito. — É, acho que essa é uma palavra que eu usaria para a ocasião. O que o fez mudar de ideia sobre visitar sua família após quase um ano sem vê-los?

— Você — ele simplesmente diz. — Não sei exatamente por quê, mas quando estou com você me sinto bem o suficiente para enfrentar o que quer que seja.

Balanço a cabeça dramaticamente em concordância.

— Eu sabia. Cara, eu sou demais — falo, bancando a megalomaníaca.

E então ele está rindo junto comigo e me puxando para outro beijo. Assim que abro os olhos, encontro os de Philip em mim. Tenho calafrios de medo por algum motivo que não consigo entender. Desde que cheguei, ele me olha como se tudo o que eu estivesse fazendo fosse errado. Como se fosse errado eu ser a namorada de Aiden. Como se fosse errado eu estar naquela casa, conversando com seus convidados. Como se, por si só, fosse errado eu existir e estar em seu caminho. Como uma pedra em seu sapato.

Philip Blackwell é o tipo de pessoa que me faz sentir-me errada.

Ter essa sensação, de algum modo, deixa-me contrita com meus segredos ainda não contados a Aiden, que tem seus braços em volta de mim enquanto está conversando sobre alguma coisa com Paul. Peço licença, vendo-me obrigada a me afastar do calor reconfortante de seu corpo.

A conversa é bruscamente interrompida e sinto seu olhar confuso e preocupado sobre mim quando alcanço a outra extremidade do salão respirando muito mal. Não sei bem o que é, mas sei que durante a semana inteira estive lutando para criar forças e revelar-lhe o que ninguém gostaria de ouvir de uma pessoa.

Aperto os olhos assim que um nome me vem à cabeça. Essa garota não existe mais. Só que eu não estaria sendo honesta se não deixar Aiden saber sobre isso, ainda que seja difícil e doloroso desenterrar o que já foi enterrado.

Como se soubesse que estou sendo observada, de repente me viro e flagro Aiden me encarando de longe.

— Eu preciso... contar algo a você — treino, sem deixar seu olhar. Inicialmente sai como um sussurro dificultoso, mas depois melhora a cada nova tentativa. — Tenho uma coisa que... preciso contar... para você.

Sua testa enruga para mim. Sem nada entender, ele move os lábios dizendo um mudo "O quê?". Uma e outra pessoa cruza minha frente, tampando temporariamente meu campo de visão. Então, lá está ele de novo.

Respiro fundo.

— Aiden, há algo que você deve saber sobre mim.

Por causa da distância que estamos um do outro, ele naturalmente não está me escutando. Diz rapidamente alguma coisa para Paul, ao que ele acena com a cabeça tomando um gole de seu champanhe, e em seguida começa a caminhar entre a nuvem de convidados em direção a mim. Meu coração fica tão agitado que está a ponto de sair pela minha garganta. É agora. É o momento.

Um corpo masculino em trajes formais se estabelece na minha frente. Percebo com frustração ser Nathaniel. Ele está usando a aliança de casamento, assim como Caroline. Depois do que descobri, tudo o que sinto por ele é um profundo desprezo.

— É realmente uma bela festa para o belo casal que é você e Aiden juntos. Diga-me, o que está achando da fantástica recepção? Humildade não é bem uma característica que acompanha os Blackwell em tudo o que fazem.

— Não tenho tempo para você agora, Nathaniel.

Estranhamente feliz, ele abre um sorriso para mim e bebe o resto de seu champanhe.

— É uma decepção ouvir isso de uma amiga por quem tenho tamanha consideração.

Tenho que rir em voz alta.

— Amiga? Eu e você nunca fomos amigos. Posso conhecer todas as manobras e truques que usou para ferrar a vida de Aiden, o que revela muito de seu caráter insidioso, mas você não sabe nada sobre mim.

Não gosto do que encontro em seu olhar satírico.

— Ah, eu sei exatamente quem você é, Kristanna. Ou devo dizer... Kylie? — Nathaniel sussurra a última palavra.

O ar escapa de meus lábios. Imediatamente sei que algo está errado. O chão parece estar desmoronando debaixo de meus pés. Não tenho nenhum controle sobre isso.

Ela é uma impostora! — É a voz dura de Philip lembrando-me de que minha existência constitui um erro.

O burburinho morre. Não há nada além do silêncio inquiridor quando muitos pares de olhos confusos e agitados se voltam para mim.

Meu corpo enrijece, estou alheia a todas as coisas ao meu redor apenas para notar o jeito que o sorriso de Nathaniel muda. Escurece de uma forma sutil. Sei que, de algum modo, ele está envolvido nisso, e que o que acabou de dizer é verdade, deixando claro que sabe exatamente quem sou. Nathaniel conseguiu ser o braço direito de Philip após ter cometido uma série de traições ao homem a quem, um dia, já chamou de melhor amigo. E agora ele vasculhou minha vida, descobriu meus podres. Se Philip já fez de tudo para separar o próprio filho da garota de quem ele gostava, não sei por que cheguei a pensar que comigo poderia ser diferente. Não sei até onde sabem sobre mim, mas o problema é que posso ser facilmente exposta e então não teria mais volta. Minha vida voltaria a ser um inferno.

— O que significa isso, Philip? — ouço a voz de Aiden soar calma e confiante, uma pergunta feita num tom implacável, quase como se estivesse com raiva. Alcançando-me facilmente, coloca-se a postos ao meu lado, com um braço protetor em torno de minha cintura.

E eu estou paralisada, sem conseguir respirar direito. Nada está acontecendo como eu esperava. O medo corrói minhas entranhas e me deixa muda, sem qualquer reação.

— Essa mulher é uma stripper. Enganou a todos nós contando mentiras sobre quem realmente é. — Philip está apontando para mim, transmitindo a ira em seu tom de voz alterado sem ao menos considerar que mais de cem pessoas estão escutando tudo. — Você sabia disso? Não, não posso acreditar que, mesmo sabendo de tudo isso, optou por continuar com ela.

Agora, todos sabem que sou uma stripper. O oxigênio me falta e estou prestes a passar mal, sentindo uma ânsia de vômito. Olho em minha volta e tudo o que encontro são olhares que vão de surpresa até menosprezo e zombaria. O time de futebol da faculdade me vê como uma piada enquanto estão disfarçando suas risadas. Um professor meu está ali por alguma razão que desconheço, e ele acabou de descobrir que uma de suas alunas tira a roupa por dinheiro. Aquelas pessoas não deveriam estar ali. Isso só pode ter sido coisa de Philip, ou então de Nathaniel, já que ele tem provado ser um fiel assecla. Tudo o que tenho tentado evitar, todos os meus pesadelos estão se tornando realidade.

Aiden fecha os olhos. Sinto uma impaciência e fúria querendo se alastrar quando aperta a mandíbula. Como o bom namorado que é, ele está me defendendo, mas tenho certeza de que mudará de ideia assim que descobrir o que ainda não sabe sobre mim.

— Philip. — É um comando dito entre dentes. Uma única palavra cheia de censura. — Está passando dos limites. Ainda que pense o contrário e se ache acima de todas estas pessoas, você não tem o direito de expor a vida da minha namorada desse jeito. Se não quiser estar tendo que lidar com um processo judicial daqui a alguns dias, recomendo que pare agora mesmo com isso.

— Faria isso com seu próprio pai? — Philip está claramente ofendido.

— Farei qualquer coisa para colocá-lo em seu devido lugar, se for necessário. É o que queria ter feito há muito tempo. Em nome da boa convivência, tenho aturado todas as suas merdas. Agora já chega. Se decidir dar mais um passo, eu o farei pagar por isso. — Aiden inclina a cabeça, seus olhos estão afiados como lâminas, e há um sorriso traiçoeiro em seus lábios. — Literalmente. E seu precioso nome ficará na lama. Seria algo divertido de se assistir, não?

— Aiden — ouço o pedido de Lorelai, que está caminhando com pressa para se posicionar entre Philip e o filho. — Vocês dois querem parar com isso! — ordena num tom baixo. Ela está realmente tentando apaziguar a situação, mas não está adiantando.

Philip ignora Lorelai, dando um passo em direção a mim, sem deixar de manter o olhar em Aiden como se numa espécie de batalha visual.

— Você acha que a conhece, mas não conhece.

— O que está dizendo agora? — Aiden aperta o braço ao meu redor como se pudesse me perder a qualquer momento. — Não basta ter usado a sua influência de merda para desgraçar minha vida depois que saí desse país, e quer fazer o mesmo agora que estou voltando?

— Tome cuidado com suas palavras. Podem ser as suas últimas.

— Ou então você vai fazer o quê?

Só percebo que estou começando a hiperventilar quando minha respiração se torna tão rápida e pesada a ponto de ser ouvida por mim mesma. As brigas de Aiden com o pai nunca foram as melhores. Qualquer pessoa com a cabeça no lugar não desejaria presenciar esse tipo de coisa. Ambos estão posicionados como se estivessem em uma linha de frente, prontos para a guerra. Philip, querendo me desmascarar, e Aiden, querendo me proteger. E eu sou a causa de toda essa guerra, mas não posso chorar e fugir para longe de tudo como se nada estivesse acontecendo.

— O verdadeiro nome dela é Kylie Johnson — Philip denuncia o que tenho tentado contar a Aiden há algum tempo. Algo se quebra dentro de mim. Sei que não tem mais volta. Memórias ruins dominam meus pensamentos, deixando-me estática de medo de ser descoberta em público. — Passou quatro anos trancafiada em um sanatório depois que perdeu a razão e o controle. Agrediu pelo menos alguns enfermeiros antes que fosse capaz de chegar aqui, entre nós, em nossa casa!

Ouço exclamações de surpresa, murmúrios de incredulidade e sussurros de consternação.

— Isso é algum tipo de piada? — Nathaniel está rindo, atiçando ainda mais o show de horrores que ele quer que aconteça.

— Ela tem uma irmã mais nova chamada Jo que esteve abandonada em um lar adotivo. Sua mãe se chama Serena — Philip continua.

Quando ouço o nome delas usado de maneira tão maldosa, negligente e irresponsável, não sou mais capaz de aguentar.

— Não! — dou um grito fraco. Minha garganta se aperta, ferida, e as lágrimas começam a encher as bordas de meus olhos. Não quero que ele continue. — Por favor, pare.

— E a mãe dela esteve recebendo tratamento em uma unidade psiquiátrica durante anos — ele completa.

O braço de Aiden se afrouxa ao meu redor com o impacto do segredo vindo à tona. Sua mandíbula se move, apertada, mas ele não diz absolutamente nada. Apenas está olhando para frente, para nenhum ponto em específico. Eu me sinto instantaneamente fria, porque sei que estou perdendo-o para a realidade. Meu coração se rasga em mil pedaços por vê-lo assim, imerso em uma luta interior depois de descobrir que a mulher por quem está apaixonado não é a pessoa que ele achava que era. Ambos de nós dois estamos machucados com a dor que está apenas sendo somada.

Durante os fins de semana que temos nos encontrado, Aiden abriu todo seu coração e me contou coisas que sei que o Aiden do passado jamais teria dito a mim. Ele era fechado e silencioso, fruto de uma educação repressora e rigorosa, e carregava uma armadura através da qual era difícil penetrar para alcançar seu emocional. E como eu retribuí? Enganando-o. Mentindo por omissão. Agora ele sabe que tive minha cabeça ferrada e que já fui uma transtornada destrutiva com alto potencial para agressão, mas ainda não consigo vislumbrar o repúdio que estava esperando vir dele, embora isso esteja nítido nas reações das outras pessoas naquele lugar.

— Kristanna. — Aiden se vira lentamente para mim e, por um momento de esperança, seus olhos se abrandam quando me olham. Suas sobrancelhas estão levemente franzidas. Vejo tentativas de negação e a dúvida em seu olhar enquanto está se preparando para fazer sua pergunta. — Isso é verdade?

O ruído se acalma e eu quase posso ouvir meu coração batendo fraco em meu peito. Estou tentando não chorar, mas isso está se revelando ser impossível, porque a Rainha do Gelo já não existe mais. Tudo o que ficou foi uma mulher que descobriu o amor e o carinho nos braços de um homem.

— Meu nome é Kristanna Barton. — Está audível o embargo em minha voz. Pisco algumas vezes, tentando afastar as lágrimas. — Kylie Johnson é uma garota que não existe mais.

Tive que mudar meu nome se não quisesse que me reconhecessem depois que fui liberada do tratamento. E ainda havia minha aparência, mas eu cresci e mudei muito. As pessoas não me reconheceriam logo à primeira vista, a não ser que pesquisassem meu nome e ligassem os fatos. Transformei-me em outra pessoa para superar o que eu achava que era o fim. Foi um árduo trabalho de reconstrução de identidade sob os cuidados do Dr. Montgomery. Foi a partir desse processo de reconstrução que nasceu Kristanna Barton, a garota que ingressaria na faculdade em busca de uma vida normal. A mulher que conseguiria lidar com qualquer adversidade que surgisse em seu caminho. A irredutível garota com um coração de gelo. Kristanna Barton é a pessoa de quem o trauma faz parte, porém não a destrói.

— Ela é perigosa. Não pertence a este lugar. Fique longe de todos nós, sua demente! — As palavras ácidas de Philip apunhalam meu peito diversas vezes, aumentando a dor de meu sofrimento.

Viro-me para Aiden, tentando, em vão, pensar em palavras que possam remediar a surrealidade da situação. Reconheço a feiura de meu passado. É inexplicável, grotesco e repudiante.

— Eu... eu sinto muito. Queria ter contado antes, mas...

Aiden levanta a palma da mão aberta para mim. Eu paro. Ele está abalado, ainda que pareça que suas faces estão relaxadas.

— E ainda cheguei a pensar que valia a pena desistir de um sonho por sua causa — diz, sem nem ao menos me olhar.

Morro pelo menos cem vezes. De algum modo, sei que o traí, e que ele deve estar pensando que não passo de mais uma pessoa que o fez de idiota. Caroline, Nathaniel, Philip... e agora eu. Todos mentirosos e traidores. Aiden não aceitou o trabalho em outra cidade por minha causa, porque ele queria ficar por perto. Desistiu desse sonho por minha causa.

— Contei tudo sobre mim. Mostrei minha alma para você. — Seu sorriso é de uma dureza dolorosa. — Confiei coisas a você que ninguém jamais soube sobre mim. Em troca de quê? Para ser enganado. De novo. Mas por que eu estou surpreso? Afinal, eu sou o idiota da história que sempre termina sendo enganado por causa da minha estupidez de querer acreditar nas pessoas. Você foi apenas outra mentira que vivi.

Fungo, tentando alcançá-lo com um passo, mas ele se afasta antes que possa ser tocado por minha mão.

— Não é o que está pensando. Se me der uma chance, eu posso me explicar...

— O que é verdadeiro sobre você, afinal? — ele me corta. Assisto toda a paixão de seus olhos desparecendo para dar lugar à amargura.

As palavras ficam presas em minha garganta. Não consigo nem ao menos formular um argumento em minha defesa. Minhas mãos estão tremendo e todo o meu organismo parece não querer funcionar com racionalidade. Eu quero chorar. Quero gritar. Quero me ajoelhar e pedir perdão até que ele me aceite de volta. Mas então, quero lhe explicar que as coisas não se resumem a isso e que há muito mais fatos envolvidos. Eu o amo, mas talvez realmente não valha a pena fazer isso aqui. Talvez essas pessoas estejam certas: não pertenço a este lugar. Nunca pertenci. Estou completamente desprotegida em uma zona perigosa como esta.

Engulo as lágrimas. Olho em volta para o burburinho, sentindo a profunda vergonha, a culpa, o mal-estar e a humilhação.

Então, movo os ombros para cima, sorrindo com angústia.

— Aparentemente, nada — respondo, por fim.

Testemunho a morte em seus olhos que ficam endurecidos. Depois, faço algum esforço para manter o olhar de Philip.

— Sinto lhe dizer que está mal informado, Sr. Blackwell. Mas há coisas que trazem muito mais dor do que uma informação pela metade.

A confusão perpassa os olhos de Philip, que tem sua testa enrugada quando olha para Nathaniel como se estivesse procurando por alguma explicação. Só posso concluir que Nathaniel não contou tudo sobre mim. Não sei se agradeço ou não por isso. Talvez não faça diferença se todos souberem. Pensando bem, os mesmos holofotes cairiam de novo sobre mim, impedindo-me de ter uma vida normal. Eu seria vítima de olhares tortos, de comportamentos de desconforto ou de piedade.

Retrocedo um passo, mal conseguindo me manter de pé. Meu corpo está pesado, minhas pernas estão fracas e minha visão está turva das lágrimas que ainda não foram liberadas.

O vestido caro que estou usando não pode esconder quem sou. Olho para todos ao meu redor, que parecem estar gritando através de suas expressões de desdém e aversão que meu lugar não é ali. Uma plebeia reabilitada e stripper tentando entrar para a realeza. Finais felizes são apenas vistos em filmes. A realidade é bem diferente.

Antes de virar as costas, dou uma última olhada em Aiden. Ele não está me olhando nos olhos, ainda aparenta estar tão perdido como quando descobriu meus segredos. Isso me derrota. Eu o perdi. Para sempre. Essa coisa de felicidade no amor verdadeiro é uma mentira de merda inventada para fazer o mundo parecer belo.

Começo a correr para longe, com a cabeça baixa, escondendo minhas lágrimas com as mãos. Não quero ver nada. Não quero ver ninguém. Julgamentos e preconcepções, sinto-os todos sobre mim.

— Srta. Barton! — Howard me chama, ajeitando-se de sua posição relaxada contra o carro assim que explodo pela porta principal. Desço os degraus sobre os saltos com tanta pressa que meus tornozelos doem. — Srta. Barton!

No meio do caminho para os portões, tropeço e caio no chão, sentindo meus joelhos começarem a arder dos arranhões. Howard ainda está me chamando, vindo em meu socorro.

— Não se aproxime! — peço com a voz estrangulada. Eu o faço parar quando ele vê meu rosto molhado pelas lágrimas. — Você não quer ser contaminado por mim.

Vejo um aglomerado de pessoas começando a tomar conta da entrada principal. Não sei sobre o que estão falando, mas sei que é sobre mim. Sou o centro das atenções. O escândalo do momento. Elas giram suas cabeças em minha direção, encontrando-me desabada no chão, e me olham de longe como se eu fosse um animal selvagem e altamente perigoso solto em um zoológico.

As lágrimas continuam caindo quando minha tristeza aumenta. O estrondo que reverbera no céu na forma de um trovão me assusta. Olho para o alto. Então desamarro as tiras delicadas dos saltos e me levanto, segurando o vestido longo pela barra enquanto corro para além dos portões da casa. Não conheço nada sobre Kingston, muito menos sei onde fica o aeroporto mais próximo. Eu apenas corro. Para longe. Longe de tudo e de todos.

É uma fuga sem volta.

Passo horas caminhando sem rumo. Pessoas passam por mim e apenas me lançam olhares condescendentes que não acrescentam absolutamente nada em minha vida. Um raio luminoso corta a escuridão da noite e de repente está chovendo torrencialmente. Os céus estão descontando sua fúria em mim.

Continuo andando, chorando todas as minhas lágrimas que estão se misturando às gotas frias da chuva, até encontrar o que parece ser uma igreja. Está fechada, então eu sento sobre os degraus, mas não há uma cobertura adequada para me abrigar da chuva.

Meu vestido está encharcado e já não é tão deslumbrante quanto antes. A maquiagem está sendo lavada do meu rosto. Não tenho mais uma máscara atrás da qual posso me esconder. Agora sou apenas eu. Kristanna Barton. Apenas Kristanna Barton.

Estou morrendo de frio, abraçando a mim mesma numa tentativa de me aquecer. Olho para cima, para a escuridão do céu da noite que está desabando em chuva e trovões. Estou quebrada demais por dentro, pensando que nem mesmo Deus parece ter sentimentos.

— O que mais você quer de mim? — grito tão alto quanto posso e a única resposta que tenho é uma cegante luz branca rasgando o céu seguido do novo estrugido de um trovão.

Minha vida foi cruelmente exposta. Fui humilhada da pior forma possível, diante de professores e colegas de faculdade. Não preciso ser uma gênia para saber o que acontecerá a seguir. As notícias se espalharão pelos corredores. Todos saberão que a verdadeira Kristanna Barton é uma stripper. Bem, ao menos ela foi. Pensando melhor, talvez ela tenha que voltar a ser. A ideia não me agrada nem um pouco, mas não sinto mais como se o dinheiro de Aiden pudesse ser usado por mim. Ainda não descontei o cheque de dez mil dólares. Eles estão lá, intactos, na forma do retângulo de papel guardado cuidadosamente dentro da gaveta da mesa de cabeceira. Consegui alugar o apartamento com todo o dinheiro que tinha na poupança e o restante do montante que ficou será destinado aos gastos adicionais com Jo. Roupas, comida, contas para pagar. É muito pouco para sobreviver um mês e ainda conseguir pagar as mensalidades da faculdade.

Encosto contra a porta de madeira e bato a cabeça algumas vezes, punindo-me de alguma forma. O que eu faço? Dragon deixou bastante claro que não me recontrataria, o que significa que estarei na merda se não conseguir algo que pague tão bem quanto o trabalho como dançarina exótica. Odeio fazer isso, pensar que terei de rastejar até Dragon para conseguir o emprego de volta, mas é o que tenho que fazer se quiser conseguir a guarda de Jo. Mas, ainda que seja um detalhe importante, não é isso o que realmente importa agora.

Meu coração está sangrando. Há um vazio irreparável dentro de mim. Eu choro em desespero. Meus ossos estão congelados, sinto-os como se estivessem quebrando um a um, provocando uma dor insuportável em minha estrutura corporal, que descobri que não é defeituosa porque Aiden me fez ver isso. Ganhei compreensão e entendimento sobre mim mesma, mas, em troca, perdi o homem que amo mais do que tudo nesse mundo.

Eu o perdi.

A verdade é que desde o início sabia que nunca deveria tê-lo tido.

Não o mereço, de verdade. Uma pessoa tão mentirosa como eu não merece ser feliz.

Será que realmente tudo valeu a pena? O que as pessoas estão pensando de mim agora? O que será da minha vida depois que eu voltar para Oregon? Serei uma stripper de novo? As pessoas vão me deixar viver minha vida em paz?

Estremeço com a infinidade de possibilidades de respostas, abraçando-me com força como se estivesse com medo de cair de uma grande altura.

Nesse momento, minha vida é o meu precipício.

E não sei se tenho mais forças para enfrentá-la.

* * * * *

Meu corpo está gelado e tremendo. Enclausurada em minha dor, perdi a noção de quanto tempo se passou desde que cheguei àquela igreja.

A chuva não havia cedido. A água fria continua me lavando, me congelando.

Eu adoeceria seriamente se não saísse logo dali.

De repente, não sinto mais os pingos da chuva. Quando olho para cima, vejo uma sombrinha aberta acima da minha cabeça.

É Aiden quem a está segurando.

Ele me olha enquanto não parece ligar para o fato de que suas roupas estão se molhando, e não fala nada. Não precisa falar. Vejo a mágoa em seus olhos.

A raiva. A frustração.

Estão todas lá, soterradas em sua boa educação e cuidado em não ter me deixado sozinha em uma cidade desconhecida. Ele veio atrás de mim, mas não significa que deveria me sentir feliz por isso. Agora é simplesmente difícil olhar para seu rosto e ver toda aquela decepção.

Meu coração retorce em meu peito por saber que agi errado não devolvendo a confiança que ele depositou em mim. Eu quis me envolver, mas não quis corresponder.

Ele olha para frente e sigo seu olhar, encontrando o carro da família.

— Vamos sair dessa chuva — ordena com o tom curto e seco.

Me levanto e ando até o carro, me sentindo completamente desmontada.

E tudo o que eu queria é que me consertassem.

Mas no fim das contas, não se conserta o que não tem conserto.

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