11. Stripper
Respiro fundo e olho para meu reflexo no espelho do camarim. Reparo nos detalhes, e sei que não é para Kristanna Barton que estou olhando neste exato momento. Essa garota no espelho não sou eu. Sei quem eu sou, e de fato temos muitas semelhanças, mas essa garota é uma performer. Uma dançarina exótica.
Ela é uma stripper.
Esconde-se sob o nome artístico Rainha do Gelo. Ela é tudo o que existe aqui, nesse instante, e está prestes a fazer parte dessa luxuriosa névoa de sexo que a está chamando.
A porta se abre e Dragon enfia a cabeça pela fresta.
— Rainha do Gelo, você precisa estar no palco agora mesmo.
Não perco o olhar de desejo misturado com aprovação quando ele me analisa dos pés à cabeça. Odeio seu sorriso. É o tipo de sorriso que se dá quando você sabe que conseguiu o que queria. E ele conseguiu o que queria de mim. Sou sua stripper agora. Estou prestes a dançar para dezenas e mais dezenas de homens e tirar minha roupa por dinheiro.
— Só mais cinco minutos — peço, voltando a olhar para o espelho.
— Kristanna... — Há um toque de censura em sua voz esganiçada.
— Mais cinco minutos, Dragon. — Viro-me para ele com irritação. — É tudo o que peço. Não vou fugir nem nada do tipo.
Seus dentes amarelados ficam visíveis quando sua boca se abre em um sorriso para mim.
— É bom que não. — Sinto a ameaça implícita. — Hoje é sexta-feira, a casa está cheia e movimentada, mais do que o normal. Eles querem ver você, então não brinque com o Dragon, querida. Só mais cinco minutos. Nada mais do que isso.
Ele fecha a porta com um baque e me vejo sozinha novamente, imersa em meus próprios pensamentos. Depois que anunciaram que eu seria a mais nova atração do clube, o número de clientes aumentou significativamente essa noite. É a noite da minha estreia, da minha apresentação e do meu ritual para me transformar oficialmente em uma stripper.
Encontro meu reflexo no espelho de novo. Ele me olha de forma estranha, sem emoção, como se fosse uma boneca de porcelana inexpressiva. Algo em seu olhar mudou. Seus olhos azuis são duros, frios e congelantes, com duas pequenas pedras de strass aplicadas nos cantos internos. Meu rosto é uma máscara endurecida pela maquiagem. É um visual todo trabalhado de forma a ressaltar meus olhos e a pele pálida. Lápis, sombra rosa, rímel, blush, tudo contribui para a construção de minha armadura.
Não sei se posso dizer que os pedaços de pano que uso são roupas. Eu mal estou vestida, na verdade. Ao invés das roupas comportadas que costumo usar na faculdade, estou usando um short de brim azul-claro, com as bainhas desfiadas em fios brancos, cortado tão curto que a parte posterior da minha bunda está pulando para fora. Literalmente. Os shorts são apertados o suficiente para colocar em evidência a grossura de minhas coxas.
Como se isso não fosse o bastante para criar o visual sexy, também estou vestindo uma camisa de cetim turquesa com mangas compridas que cobrem meus pulsos. Ela é curta, projetada apenas para cobrir os meus seios, e não tem botões. A camisa está amarrada na frente, com o nó bem no espaço entre meus seios que não estão contidos por nada, de modo que todo meu decote está aparecendo. A pele alva, a curva da parte superior, o jeito que meus seios estão esticados e apertados. É um prato cheio para despertar o desejo sexual nos homens. Essa é a grande intenção, afinal. Há toda uma linha de roupas como esta e fantasias no canto do camarim, uma vez que o clube é conhecido por fazer as mais variadas apresentações e números diferentes periodicamente. Mas esta aqui? Esta aqui é especial. É a combinação perfeita escolhida a dedo para marcar a entrada da Rainha do Gelo no mundo das strippers. Eu tenho que causar boa impressão, Dragon disse.
Então é o que farei.
A última parte da fantasia são as botas de borracha com cano alto. São brancas e lustrosas, e os saltos me deixam com pelo menos 1,83 metros de altura, já que tenho 1,74 metros sem saltos. Os meus cabelos louros estão soltos e mais brilhantes do que nunca, deslizando em cascatas sedosas por meus ombros. Minha boca pintada de vermelho é um convite para um beijo quente, um que os clientes sabem que não poderão dar. Isto por si só os deixará loucos.
Olho para a garota uma última vez. Ela é algum tipo de alter ego sexy que criei de mim mesma como uma estratégia de defesa, um enfrentamento que descobri ser útil e eficaz para a situação. Tem funcionado até agora, apesar das náuseas que estou sentindo.
Dragon disse que posso fazer três sequências no palco. E se os caras gostarem de mim, poderei fazer em torno de cinco séries. Eu ri e ele não entendeu o motivo da minha risada. Ele não entendeu que não é opção os caras não gostarem de mim. Ele não entendeu que, uma vez que estou dentro, eles vão gostar de mim. Esse é um emprego, que por sua vez me fornecerá uma renda, e estou mergulhando nisso de cabeça, como sempre fiz com qualquer objetivo em minha vida.
E não perderei essa partida.
Respiro profundamente antes de me forçar a sair da cadeira.
É hora do show.
Senhoras e senhores, tomem seus assentos.
Meus saltos clicam impiedosamente no chão quando passo pela porta do camarim. Dragon está lá, sorri para mim com deleite quando avista meus seios saltando do decote e dá um tapa forte no meu bumbum quando passo por ele.
Subitamente paro.
Respiro.
Meu nome é Kristanna Barton.
Tenho 24 anos.
E eu estou no controle.
A parte de trás começa a arder, mas não dou a satisfação de chorar e ficar para discutir com ele. Minha necessidade pelo trabalho está incrivelmente maior do que meu orgulho e fraqueza emocional. Ele tem as cartas, ele dá as cartas e eu jogo seu maldito jogo.
Fecho os olhos e inspiro, vendo-o desaparecer de vista enquanto caminho pelos bastidores, subo os degraus para o palco e fico atrás das cortinas vermelho-escuras. Não consigo evitar que meu coração fique martelando no peito e que minha respiração esteja tão errática. Estou no meio do caminho, querendo desmoronar em lágrimas pelo que não quero fazer. Mas não é assim que funciona. Não é uma escolha. Não se eu quiser terminar meus estudos e tirar Jo daquele lugar. Contrariando a mim mesma, eu vou.
Engulo forte e me posiciono ao lado do mastro, com o quadril para o lado, a mão esquerda descansando displicentemente sobre ele e a mão direita estendida para cima ao redor do metal frio.
Estou pronta.
Tudo o que ouço são burburinhos de conversa e a música tocando, até ser diminuída, e então a conversa se acalma.
— Senhoras e senhores — ouço a voz ofegante de Dragon ecoar nos alto-falantes da casa —, hoje é um grande dia. Um especial. Tenho uma surpresa fresquinha para vocês hoje à noite, vinda direto do coração da Antártida. — Isso é seguido por alguns risos e gemidos de interesse. — Uma verdadeira menina de coração frio, completamente desiludida com o amor. Mas não se deixem enganar por todo esse gelo... pois ela pode derreter o coração de todos vocês! A pergunta é: vocês conseguirão derreter o coração dela?
O discurso calculado de Dragon aumenta o interesse a ponto de os assobios e gritos se tornarem um barulho ensurdecedor.
Dragon ri maliciosamente.
— Sem mais delongas, permitam-me apresentar... a Rainha do Gelo!
As cortinas se abrem e um jogo de luzes vermelhas, azuis e brancas ofuscam meus olhos por alguns instantes. Estou de costas, na posição sexy e audaciosa enquanto deixo que olhem como sou por trás, dos pés à cabeça. Para que me apreciem. Em primeiro lugar, é por isso que estou aqui em cima. Sou um objeto de vitrine, um produto à venda. E eu preciso que me comprem. Que comprem minha imagem pronta para consumo.
Sei que não podem me tocar, e é por isso que estão fazendo um barulho estapafúrdio que vem de cada mesa preta pequena e redonda ao redor do palco semicircular. Estão assobiando para a minha bunda à mostra, estão aplaudindo para as minhas coxas, estão uivando loucamente para esta única parte de mim.
Não sou uma novata. Eu já dançava no clube há alguns meses quando era garçonete e observava de longe alguns números das meninas no palco. Era sensual, erótico, provocante. Mas não sabia de tudo, porque eu não era uma stripper como elas. Hannah me ajudou com o treino em cada dia da semana. Ensinou-me alguns truques no mastro, o jeito certo de envolver com meu joelho todo o metal frio e girar sem cair. Eu caí várias vezes até pegar o jeito. Os hematomas no meu corpo são a prova desse esforço. Cobri todos com maquiagem. Não gostam de imperfeições em nosso corpo, elas tiram toda a sensualidade.
— Mostra! — alguém grita de uma das mesas.
Não faço de imediato o que me pedem. Ergo a cabeça lentamente e deixo-os morrendo na beira da praia, ensandecidos pelo desejo. Oh, sim, eu posso ser má, muito má, especialmente quando não é difícil saber o que querem de mim.
No momento certo, dou um passo para o lado e começo a circular a barra de metal, desfilando como modelo de passarela, ousada e rebolando. Deixo-os ver o modo como meus seios balançam, o jeito que os músculos da coxa flexionam no short.
Então, paro com um movimento dramático.
Paro na frente deles, as pernas abertas na largura dos ombros e com as mãos voltadas para trás, agarradas firmemente na barra. Estou olhando-os timidamente através de meus cílios com um sorriso doce calculado que não sinto. Sei o que Hannah me ajudou a coreografar, mas, de improviso, jogo um beijo para provocar a plateia. Não estou ali só para tirar a roupa ou fazer pole dance. Estou ali para apresentá-los à Rainha do Gelo e ao seu estilo dominador e sensual. Estou ali para fazê-los caírem de amores por ela.
Mais gritos, urros. É um bom sinal de que há homens loucos ali para se deixarem ser dominados pela minha dança, pela minha mera presença.
A música explode nos alto-falantes e eu salto no ar, dando um giro acrobático no mastro balançando o meu corpo, e engancho a perna em volta da barra, jogo a cabeça para trás para que minhas madeixas louras escorreguem propositalmente atrás de mim.
É indesejável, é nauseante mesmo já estando no palco, mas estou fazendo. Só tenho que manter tudo afastado e não deixar nenhum sentimento me atingir no momento. Eu não sou Kristanna Barton. Agora mesmo, sou a Rainha do Gelo, a garota fria sem sentimentos.
Posso sentir qualquer coisa, mas não vergonha do meu corpo. Oh, não. A forma como me vejo é o que me diferencia das outras garotas. A relação com meu corpo é como a convivência de um funcionário com uma máquina com defeito. Não funciona mais, mas eu simplesmente não posso ignorá-lo, porque acaba se tornando uma parte inconveniente de mim. Embora eu me esconda debaixo das roupas, conheço cada pedaço inútil que me compõe. São apenas membros. Não vejo necessidade de embaraço por causa do meu físico, quando muitas outras possuem a mesma constituição anatômica que tenho. É apenas biologia. É assim que é para mim.
É assim que tem que ser.
Meu corpo esfrega eroticamente contra o metal. Primeiro a parte da frente, depois minhas costas e bunda quando desço até o chão com os joelhos bem abertos mostrando parte de minha virilha. Eles vão ao delírio. Volto e me balanço mais uma vez, exibindo a extensão de minhas coxas enquanto estou suando por causa do esforço empregado na dança. O momento está chegando. De alguma forma, eu sabia que meu coração ficaria assustado, disparando através do meu peito quando estivesse para chegar ao ápice do meu número.
Então... acontece.
Ignoro os meus nervos saltando fazendo uma pequena dança sensual na frente do palco. Estou trêmula quando me atrevo a chegar perto de uma extremidade com mesas e homens loucos para me tocar. Eu me abaixo remexendo os quadris, meus dedos lentamente indo para o nó da minha camisa como se eu fosse abri-la. Então, só para provocar aquele lado do palco, levanto-me e ponho os braços atrás do corpo como se estivessem presos.
Desfilo para o outro lado com mesas, um sorriso malicioso enquanto sacudo meu corpo, ao som da música, até o chão com as pernas abertas. Dezenas de pares de olhos descarados vão para o meio do meu short. Eu quase sinto como se eles realmente estivessem vendo meu órgão sexual. Quase posso prever o que estão imaginando fazer comigo quando um cara põe os braços para frente e simula empurrar os quadris na minha direção com uma expressão de gozo. É nojento ver tudo de perto. Levo os dedos ao nó da camisa, fingindo que vou tirá-la, e me retiro novamente para longe.
Ao chegar no meio do palco, estou desamarrando o nó e seguro o tecido junto. Não deixo ainda que me vejam. Espero até a música atingir o clímax para arrancá-la de meu corpo com um gesto dramático. Meus seios pulam para frente, livres, e os gritos e assobios aumentam.
Eu odeio isso. Eu quero sair dali. Quero me cobrir.
Mas ainda não acabou.
Seguro meus seios, apalpo-os olhando para a plateia, vendo o tamanho da loucura que estou exercendo sobre ela. Forço meus dedos irem para o cós do short. Provoco-os tocando-me. Num movimento tímido e envergonhado, desabotoo. Dou um giro e depois outro, descendo o tronco lentamente com a bunda apontando para um lado e depois para outro à medida que deslizo para baixo o tecido, para fora de minhas pernas.
Agora, estou com apenas uma calcinha fio dental, um pequeno triângulo cobrindo minha privacidade, e todos estão vendo minha bunda. Eu me viro e o que sinto irremediavelmente é humilhação por ficar de topless com uma calcinha minúscula na frente de tantos homens.
Guardo tudo dentro de mim enquanto exibo meu sorriso falso, com as mãos para cima e o queixo erguido como se eu fosse uma vencedora.
Mas, de verdade, eu não sou.
Agora mesmo, sou apenas uma stripper tentando ganhar a vida.
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