A Rainha Alicent Hightower estava sentada em seus aposentos, suas mãos trêmulas apertando o rosário que sempre carregava. A ansiedade tomava conta dela, suas preocupações aumentando a cada minuto. A situação estava cada vez mais fora de seu controle. Desde que seu pai, Otto Hightower, havia sido destituído de seu cargo como Mão do Rei, tudo parecia estar desmoronando. Agora, com Rhaenyra assumindo o lugar no conselho, o futuro de seus filhos, especialmente de Aegon, estava incerto. A rainha sentia o peso da responsabilidade em seus ombros, e sua mente fervilhava com pensamentos de como proteger sua família.

A seus pés, Aegon e Helaena brincavam inocentemente com alguns brinquedos de madeira. Aegon, com seus cabelos loiros desgrenhados e olhos brilhantes, era a imagem de um jovem príncipe cheio de energia. Helaena, mais tranquila, observava os movimentos de seu irmão com um olhar atento, seus próprios pensamentos envoltos em uma nuvem de silêncio e introspecção.

Alicent olhou para os filhos, tentando encontrar alguma forma de acalmar suas inquietações. Mas, ao invés disso, suas preocupações aumentaram. A lembrança da conversa que teve com Viserys no dia anterior ainda ecoava em sua mente. Ele havia mencionado que Aegon e Helaena se casariam com os filhos de Rhaenyra, Visenya II e Maegor. A simples ideia disso a deixou inquieta. Aquela aliança parecia mais uma sentença de perda de poder para sua própria linha, algo que Alicent não podia aceitar.

Aegon, notando o olhar distante da mãe, parou de brincar e se aproximou dela.

— Mamãe, por que você está tão preocupada? — perguntou ele, sua voz infantil cheia de curiosidade.

Alicent sorriu suavemente, tentando esconder sua agitação.

— Oh, meu querido, não é nada com o que você precise se preocupar. — respondeu ela, passando os dedos pelos cabelos de Aegon. — Só estou pensando em como garantir que tudo seja bom para você e sua irmã.

Helaena, que até então estava calada, levantou o olhar para a mãe.

— Papai disse que eu vou me casar com o Maegor, e Aegon com Visenya. — disse ela, sua voz serena e cheia de uma calma incomum para uma criança de sua idade.

O rosto de Alicent endureceu por um momento, a menção desse plano reacendendo suas frustrações.

— Sim, ele mencionou isso. — respondeu Alicent, sua voz ligeiramente tensa. — Mas ainda não é definitivo. Eu tenho certeza de que podemos encontrar uma solução melhor para todos nós.

Aegon inclinou a cabeça, confuso com a resposta de sua mãe.

— O que há de errado com isso, mamãe? Eu gosto de Visenya. — disse ele, inocentemente.

Alicent respirou fundo, tentando esconder sua frustração. Ela não podia explicar a complexidade da situação para uma criança tão jovem. Para Aegon, tudo parecia simples, mas para ela, aquilo representava uma perda iminente de poder e influência.

— Não há nada de errado, meu amor. — disse ela, forçando um sorriso. — Apenas... eu quero ter certeza de que você estará seguro e protegido. E que terá o futuro que merece.

Aegon e Helaena trocaram olhares curiosos, mas decidiram não questionar mais. Alicent, no entanto, sabia que não podia deixar isso assim. Precisava tomar uma atitude, precisava falar com Viserys sobre tudo aquilo. Precisava garantir que seus filhos tivessem o futuro que ela sempre sonhou para eles.

Determinada, Alicent se levantou e decidiu que era hora de confrontar Viserys. Ela sabia onde encontrá-lo — ele estaria com Rhaenyra, claro. Isso só aumentava sua raiva. A presença constante de Rhaenyra ao lado de Viserys, a maneira como ela parecia ter conquistado novamente a confiança de seu pai, tudo isso a irritava profundamente.

Alicent saiu de seus aposentos com passos firmes, deixando Aegon e Helaena aos cuidados de suas amas. Ela caminhou pelos corredores do Red Keep, o som de seus passos ecoando nas paredes de pedra. Seu coração estava acelerado, mas sua determinação a mantinha firme. Ela sabia que Viserys não iria gostar do que ela tinha a dizer, mas não podia se dar ao luxo de se manter em silêncio.

Quando chegou à porta da sala onde Viserys estava com Rhaenyra, Alicent parou por um momento. Respirou fundo, preparando-se para o que viria a seguir, e então abriu a porta com um movimento brusco.

Lá estava Viserys, sentado em uma cadeira próxima à lareira, segurando Visenya II em seus braços. Rhaenyra estava ao lado, com Maegor aninhado em seu colo. Ambos levantaram o olhar quando Alicent entrou na sala, o clima de tranquilidade que haviam criado sendo rapidamente rompido pela súbita intrusão da rainha.

— Alicent. — disse Viserys, a surpresa em sua voz evidente. — O que houve?

Rhaenyra olhou para a madrasta com um olhar curioso, mas também havia uma sombra de desdém em seus olhos. Ela sabia que algo estava errado, e a expressão de Alicent apenas confirmava suas suspeitas.

— Nós precisamos conversar, Viserys. — Alicent começou, sua voz firme. — Agora.

Viserys franziu o cenho, percebendo a tensão no ar.

— Muito bem. — disse ele, fazendo um gesto para que Rhaenyra esperasse. — O que quer discutir, Alicent?

Alicent se aproximou, seus olhos verdes brilhando com intensidade.

— Eu ouvi seus planos para nossos filhos, Viserys. — disse ela, a frustração transparecendo em sua voz. — Casar Aegon com Visenya e Helaena com Maegor... isso é inaceitável.

Rhaenyra levantou uma sobrancelha, surpresa com a ousadia de Alicent em falar daquele jeito na frente de seu pai.

— Inaceitável? — repetiu Viserys, sua voz assumindo um tom de advertência. — Você ousa questionar minhas decisões, Alicent?

— Eu questiono sim! — Alicent exclamou, a raiva finalmente rompendo o controle que ela havia mantido até então. — Porque você está colocando em risco o futuro de Aegon! Ele deveria se casar com Helaena, para que juntos possam garantir o trono e a segurança de nossa casa. Mas ao invés disso, você escolhe favorecê-la! — ela apontou para Rhaenyra, a acusação clara.

Rhaenyra apertou os lábios, seu olhar fixo em Alicent. Havia uma parte dela que se deliciava ao ver a rainha perder a compostura, mas também havia um ressentimento crescente pela maneira como Alicent estava tentando manipular a situação.

— Isso não é uma questão de favoritismo, Alicent. — Viserys respondeu, sua voz agora carregada de irritação. — É sobre o que é melhor para a Casa Targaryen.

Alicent bufou, sua paciência se esgotando.

— O que é melhor para a Casa Targaryen ou o que é melhor para Rhaenyra? — retrucou ela, as palavras carregadas de veneno. — Você sempre a favoreceu, mesmo quando ela desafia nossas tradições e coloca tudo em risco!

A tensão na sala aumentou, o ar quase palpável com o conflito que estava prestes a explodir.

— Alicent, você está ultrapassando seus limites. — Viserys disse, sua voz baixa e perigosa. — Eu sou o rei. E minhas decisões são finais.

— E eu sou sua esposa! — Alicent gritou, sua voz elevada, algo que ela raramente fazia. — E mãe dos seus filhos! Você deveria estar protegendo Aegon, não sacrificando o futuro dele por causa das ambições de Rhaenyra!

Nesse momento, o olhar de Viserys escureceu. Ele se levantou abruptamente, entregando Visenya II para Rhaenyra antes de dar um passo em direção a Alicent. A ira em seus olhos era evidente, e em um movimento rápido, ele levantou a mão e deu um tapa firme no rosto da rainha.

O som do tapa ecoou pela sala, deixando um silêncio absoluto no ar. Alicent ficou parada, o choque evidente em seu rosto enquanto sua bochecha começava a corar devido ao impacto. Viserys olhou para ela com um misto de raiva e decepção.

— Eu não permitirei que você fale assim comigo, ou que coloque seus interesses acima do bem da nossa casa. — Viserys rosnou, sua voz carregada de autoridade.

Alicent, ainda atordoada pelo tapa, levou a mão ao rosto, os olhos arregalados e brilhando com lágrimas não derramadas. Ela nunca imaginou que Viserys levantaria a mão contra ela, e o choque de sua ação a deixou sem palavras por um momento.

Rhaenyra, que havia permanecido em silêncio durante a maior parte da discussão, não pôde deixar de sentir uma pontada de satisfação ao ver seu pai protegendo-a de forma tão enfática. Ela sabia que Alicent estava errada em tentar manipular a situação para favorecer Aegon, e ver Viserys tomar uma posição tão firme era um alívio, ainda que de uma forma que ela não esperava.

— Saia. — Viserys disse, sua voz baixa mas carregada de comando. — Saia antes que eu perca ainda mais a paciência.

Alicent abriu a boca para responder, mas nenhuma palavra saiu. Com o orgulho ferido e o coração em pedaços, ela virou-se bruscamente e saiu da sala, o som de seus passos apressados ecoando pelos corredores enquanto ela se afastava.

Rhaenyra observou a saída de Alicent, o silêncio que seguiu sendo pesado e tenso. Finalmente, ela olhou para Viserys, seu pai ainda de pé com a mão estendida que ele havia usado para golpear a esposa.

— Pai... — começou ela, hesitante.

Viserys suspirou, fechando os olhos por um momento e abaixando a mão.

— Não vamos falar mais disso agora, Rhaenyra. — ele disse, sua voz cansada. — Eu preciso de um momento.

Rhaenyra assentiu, compreendendo a angústia de seu pai. Ela se levantou, segurando Visenya II em seus braços, e se aproximou de Viserys.

— Obrigada por me proteger, pai. — ela disse suavemente, tocando seu braço com carinho. — Eu sei que essa não é uma situação fácil.

Viserys olhou para sua filha e, por um breve momento, seu rosto suavizou. Ele colocou a mão sobre a de Rhaenyra, um gesto de carinho e compreensão.

— Eu farei o que for necessário para manter esta família unida. — ele disse, sua voz grave mas sincera. — Mesmo que isso signifique tomar decisões difíceis.

Rhaenyra assentiu novamente, seus olhos encontrando os de seu pai com uma mistura de respeito e gratidão.

— Nós superaremos isso. — ela disse, tentando transmitir confiança tanto para Viserys quanto para si mesma.

Viserys soltou um longo suspiro e, finalmente, sorriu de forma tênue.

— Espero que sim, minha filha. Espero que sim.

E com isso, o silêncio voltou a reinar na sala, um silêncio pesado, mas que carregava consigo a promessa de que, de uma forma ou de outra, a família Targaryen enfrentaria juntos os desafios que estavam por vir.