44
Lᴜᴄɪᴇɴ.
Acabei quebrando o braço ontem, quando fui trocar a lâmpada da casa, porquê minha avó não tem altura e nem condições físicas para isto... Os joelhos fracos e praticamente porosos.
Mandei mensagem à Violet e liguei diversas vezes também, resultado: nada.
A angústia e ansiedade não me deixaram dormir. Somente a ideia de pensar que Violet está decepcionada comigo e...
Fico enjoado.
Mais um dia se inicia e terei que enfrentar tudo... Inclusive aquela Naja peçonhenta.
— Filho, precisa comer mais, está perdendo muito peso e daqui a pouco não vai conseguir se sustentar em pé. — Eulália acaricia meu ombro esticando o braço por ser mais baixa.
A senhora tão bondosa e adorável, sofreu muito na época da juventude... Passou fome incontáveis vezes e sabe a sensação de estar faminto, mas não conseguir engolir a comida. Criar um tipo de rejeição por comida depois do longo sem comer. Você não sente mais falta, não faz tanta diferença.
Até porquê haviam coisas muito mais essenciais — como trabalhar nos cafezais e outras colheitas... Conseguir pagar aluguel e manter uma aparência razoável (roupas).
— Vou tomar café na empresa vó, prometo. — Seguro seu rostinho enrugado e dou um beijo na sua testa onde fios brancos cobrem.
— Não se preocupe. — Dou um abraço delicado para não quebrar seus ossos frágeis. A promessa que fiz à meu pai ressoa dentro da mente e os olhos ardem.
"Será feliz acima de tudo".
Perdão pai, eu não estou cumprindo isto.
Solto minha amável velhinha e sigo para a empresa deixando o barraco escuro. Irei juntar o suficiente para tirá-la daqui e conseguir uma casa maior.
Em seguida voltar à faculdade.
A dor destrói minha concentração e lembro da promessa que eu fiz à ele.
"Vai ficar tudo bem pai, descanse, estaremos sempre juntos".
Menti mais para mim mesmo do que para ele. Não nos veremos nunca mais.
Só queria deixá-lo tranquilo para morrer, não transparecer que sua morte estava arrancando um pedaço do meu coração despreparado. Precisava pelo menos aparentar ser forte e mentir que ele voltaria a contemplar meu rosto de novo.
A pior mentira que já disse.
Era necessário, ele precisava ir em paz e já certa que o filho dizia a verdade.
A saudade entorta meu peito fortemente. Ardendo e devastando toda minha mente.
━━━━━━━ ◆ ━━━━━━━
Não aguento mais esta porcaria de tala incômoda. Quero arrancar do meu antebraço.
A movimentação voltou ao normal depois da reunião, provavelmente porquê Violet e Unai resolveram as questões... Ou parte delas. Não sei se Arthur participou também.
Chegando próximo do balcão, vejo a barbie do mal mexendo em papéis distraída.
— Você está parecendo um anjo hoje. — Faço-a voltar sua atenção para mim.
— Sério? — Duvida estranhando o elogio.
— Sim, Lúcifer. — Sou bem direto, sem rodeios. A naja faz expressão de contentamento falso franzindo as sobrancelhas para baixo e apertando os finos lábios.
— Se eu fosse você não perderia seu tempo aqui me ofendendo... Não depois de ter dado com a língua nos dentes e cavado sua própria cova ontem. — A voz cortante e o olhar hostil, impiedoso da mulher dos cabelos loiros escuros e olhos esfumados me atinge.
Filha da...
Batendo forte os papéis organizados sob o balcão, víbora sorri forçado e desaparece feito fumaça.
Estou puro ódio, fumegando em ira.
Entro na sala da Violet após bater e receber a confirmação necessária.
Arthur e ela estavam cuidando dos setores provavelmente, pois tem uma espécie de mapa sob a mesa dela.
— Que zona, sinceramente... E você está fazendo o quê aqui? — Arthur solta suspiros indignados e impacientes ao se referir a mim. Retirando a mão da própria boca e colocando sob meu ombro. Audacioso.
— Arthur, é importante também, vamos acalmar os ânimos... Não levará a nada se comportar assim. — Violet tenta ficar plena e resolver da melhor forma a situação. Retiro a mão do sem noção do meu ombro num leve tapa.
— TENHA PULSO FIRME, PORRA VIOLET. — Avança alguns passos e espalma a mão na mesa a fazendo estremecer.
— Vai devagar aí Arthur, um braço meu está ruim, mas o outro está bem inteiro e você não quer sentir o peso da minha mão. Garanto. — Ameaço já sem um pingo de cordialidade ou paciência e seguro seu braço forte.
Violet ergue a cabeça sem se intimidar e estufa o peito.
— Estou doidinho para você me mostrar. — Me confronta bem próximo, desafiador.
Agora só tem nós dois aqui, estou querendo há um tempo considerável enfiar a porrada nele. Folgado incompetente, frustrado.
— Vamos lá fora, dois minutos. — Dou o convite ainda sem tirar os olhos dos seus azuis furiosos.
Se quer brigar então vamos. Não tenho nada a perder... Talvez o emprego, dependerá da Violet.
— OS DOIS TONTOS... Chega. — Pondera a loira autoritária e gesticula elegante com a mão. Arthur contém a vontade de sair no soco comigo e eu também engulo tal vontade saindo do alcance da sua respiração descompassada.
Bufo perdendo as estribeiras.
Quero expulsá-lo da droga desta sala a pontapés.
Cada músculo do corpo pegando fogo e desejando profundamente surtar.
— Saiam da minha sala, preciso pensar e não vou conseguir com essa algazarra infernal aqui. Façam o festival de socos lá fora. — Aponta a porta sem nos olhar diretamente, impiedosa e decidida.
Arthur bufa saindo feito um furacão, por quê este cara está sempre tão irritadinho?
— Não vou sair, temos que conversar. — Persisto firme na intenção que tenho desde que cheguei aqui.
— Eu falo grego? Não é possível. — Esfrega a testa se auto-repreendendo.
Tomo coragem e avanço alguns passos ficando à frente da mesa.
— Não adianta cogitar jogar coisas em mim ou gritar, porquê vim aqui conversar civilizadamente e não vou sair até fazer isto. — Violet mantém os olhos fixos e procura no fundo de si paciência.
— O quê te faz pensar que eu vou te escutar? E MAIS, tendo toda esta valentia insuportável, metido à besta... Distribuir porrada a torto e a esquerda, sério isso? — Diz citando perfeitamente as situações anteriores.
Tento colocar a mão sob a sua e ela a puxa para si friamente. Negando meu toque.
— Eu penso isto porquê sei... Sei que você me ama. — Digo as palavras sem peso, é a certeza que tenho.
Violet dá risada com escárnio.
— É hilário o modo como é convencido. Me poupe, Lucien. — Ergue as mãos para cima debochando e os olhos vão junto.
Caminho um pouco mais e me posiciono em sua frente.
— Olha nos meus olhos... — Inclino o corpo um pouco para frente e fixo minhas íris na imensidão azul cruel dela.
— Olha nos meus olhos e diz que não me ama, e eu vou embora. — Tal pedido a deixa petrificada.
Aguardo uma palavra sequer sair dos seus lábios e não obtenho nada por uma eternidade isolada.
— E então. — Insisto ansiando pela resposta definitiva.
— Não. Me. Pressione. — Novamente volta a ser desafiadora e inabalável.
Não consegue rebaixar o ego nem por minutos.
Óbvio. Típico do seu temperamento.
Suspiro não acreditando.
— Eu estive do seu lado desde o início, nunca trai sua confiança até o presente momento... Quis te proteger, diferente da sua irmã cínica que voltou sem mais nem menos e já de olho grande na empresa... Meu Deus, Violet, acorda. — Tento mostrar o quanto Raquel é manipuladora e fez sua cabeça. Uma lavagem cerebral quase completa.
Violet é tão forte e calculista, não sei como se deixou levar pelas ladainhas da barbie do mal.
A loira desvia o rosto do meu alcance visual.
— Não pode sair por aí julgando sem saber do contexto por trás disto... Você não a conhece, e nem imagina o que passamos. — Sua recordação tristonha é dolorida a mim.
— Você não quis me proteger, quis guardar isto porquê era cômodo não é? Me levar para cama logo em seguida e me usar... Como bem quis. — Volta a me olhar e desta vez sombria e distante.
Dói ouvir tais palavras. Jamais quis planejar as coisas do modo que ela diz, como se eu fosse um canalha aproveitador.
— Acha que eu não quero sua felicidade? Pensei que confiasse em mim, pensei que fossemos sinceros uns com o outro... Mas pelo visto sua impressão sobre seu secretário perrapado, é bem diferente do que eu imaginava. — Distancio o corpo andando para trás na sala que parece girar violentamente.
Violet perplexa. Sem resposta prontas.
— Não posso escolher ente vocês dois, não posso. — Não é como se fosse escolher um só, mas duvido também que me escolheria. Seu instinto familiar fala mais alto.
— Sinto muito por ter escondido o que Raquel fez de você... Não faria diferença talvez, e queria ter dito antes. — Mal percebi que cheguei a porta já.
Meu corpo se movendo por conta própria. Automático, já sabendo que rumo tomar.
— Tem mais alguma coisa que queira contar? — Não encontro forças nem palavras para dizer agora. Covarde.
— Não vou mais te atrapalhar senhorita Maldonado. — A dor das letras soando como se fossemos estranhos um para o outro faz minha garganta ser apertada por uma corda invisível grossa.
Agarro a maçaneta e saio antes de escutar as palavras a seguir da loira original. Busco amparo escorando as costas do lado de fora. Eu estraguei tudo... Parcialmente tudo.
Bile sobe a garganta e eu vejo tudo embaçado, o peito necessita mais ar do que o necessário e as pernas ficam rígidas.
Bạn đang đọc truyện trên: Truyen247.Pro