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Lᴜᴄɪᴇɴ.

Acabei quebrando o braço ontem, quando fui trocar a lâmpada da casa, porquê minha avó não tem altura e nem condições físicas para isto... Os joelhos fracos e praticamente porosos.

Mandei mensagem à Violet e liguei diversas vezes também, resultado: nada.

A angústia e ansiedade não me deixaram dormir. Somente a ideia de pensar que Violet está decepcionada comigo e...

Fico enjoado.

Mais um dia se inicia e terei que enfrentar tudo... Inclusive aquela Naja peçonhenta.

— Filho, precisa comer mais, está perdendo muito peso e daqui a pouco não vai conseguir se sustentar em pé. — Eulália acaricia meu ombro esticando o braço por ser mais baixa.

A senhora tão bondosa e adorável, sofreu muito na época da juventude... Passou fome incontáveis vezes e sabe a sensação de estar faminto, mas não conseguir engolir a comida. Criar um tipo de rejeição por comida depois do longo sem comer. Você não sente mais falta, não faz tanta diferença.

Até porquê haviam coisas muito mais essenciais — como trabalhar nos cafezais e outras colheitas... Conseguir pagar aluguel e manter uma aparência razoável (roupas).

— Vou tomar café na empresa vó, prometo. — Seguro seu rostinho enrugado e dou um beijo na sua testa onde fios brancos cobrem.

— Não se preocupe. — Dou um abraço delicado para não quebrar seus ossos frágeis. A promessa que fiz à meu pai ressoa dentro da mente e os olhos ardem.

"Será feliz acima de tudo".

Perdão pai, eu não estou cumprindo isto.

Solto minha amável velhinha e sigo para a empresa deixando o barraco escuro. Irei juntar o suficiente para tirá-la daqui e conseguir uma casa maior.

Em seguida voltar à faculdade.

A dor destrói minha concentração e lembro da promessa que eu fiz à ele.

"Vai ficar tudo bem pai, descanse, estaremos sempre juntos".

Menti mais para mim mesmo do que para ele. Não nos veremos nunca mais.

Só queria deixá-lo tranquilo para morrer, não transparecer que sua morte estava arrancando um pedaço do meu coração despreparado. Precisava pelo menos aparentar ser forte e mentir que ele voltaria a contemplar meu rosto de novo.

A pior mentira que já disse.

Era necessário, ele precisava ir em paz e já certa que o filho dizia a verdade.

A saudade entorta meu peito fortemente. Ardendo e devastando toda minha mente.

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Não aguento mais esta porcaria de tala incômoda. Quero arrancar do meu antebraço.

A movimentação voltou ao normal depois da reunião, provavelmente porquê Violet e Unai resolveram as questões... Ou parte delas. Não sei se Arthur participou também.

Chegando próximo do balcão, vejo a barbie do mal mexendo em papéis distraída.

— Você está parecendo um anjo hoje. — Faço-a voltar sua atenção para mim.

— Sério? — Duvida estranhando o elogio.

— Sim, Lúcifer. — Sou bem direto, sem rodeios. A naja faz expressão de contentamento falso franzindo as sobrancelhas para baixo e apertando os finos lábios.

— Se eu fosse você não perderia seu tempo aqui me ofendendo... Não depois de ter dado com a língua nos dentes e cavado sua própria cova ontem. — A voz cortante e o olhar hostil, impiedoso da mulher dos cabelos loiros escuros e olhos esfumados me atinge.

Filha da...

Batendo forte os papéis organizados sob o balcão, víbora sorri forçado e desaparece feito fumaça.

Estou puro ódio, fumegando em ira.

Entro na sala da Violet após bater e receber a confirmação necessária.

Arthur e ela estavam cuidando dos setores provavelmente, pois tem uma espécie de mapa sob a mesa dela.

— Que zona, sinceramente... E você está fazendo o quê aqui? — Arthur solta suspiros indignados e impacientes ao se referir a mim. Retirando a mão da própria boca e colocando sob meu ombro. Audacioso.

— Arthur, é importante também, vamos acalmar os ânimos... Não levará a nada se comportar assim. — Violet tenta ficar plena e resolver da melhor forma a situação. Retiro a mão do sem noção do meu ombro num leve tapa.

— TENHA PULSO FIRME, PORRA VIOLET. — Avança alguns passos e espalma a mão na mesa a fazendo estremecer.

— Vai devagar aí Arthur, um braço meu está ruim, mas o outro está bem inteiro e você não quer sentir o peso da minha mão. Garanto. — Ameaço já sem um pingo de cordialidade ou paciência e seguro seu braço forte.

Violet ergue a cabeça sem se intimidar e estufa o peito.

— Estou doidinho para você me mostrar. — Me confronta bem próximo, desafiador.

Agora só tem nós dois aqui, estou querendo há um tempo considerável enfiar a porrada nele. Folgado incompetente, frustrado.

— Vamos lá fora, dois minutos. — Dou o convite ainda sem tirar os olhos dos seus azuis furiosos.

Se quer brigar então vamos. Não tenho nada a perder... Talvez o emprego, dependerá da Violet.

— OS DOIS TONTOS... Chega. — Pondera a loira autoritária e gesticula elegante com a mão. Arthur contém a vontade de sair no soco comigo e eu também engulo tal vontade saindo do alcance da sua respiração descompassada.

Bufo perdendo as estribeiras.
Quero expulsá-lo da droga desta sala a pontapés.

Cada músculo do corpo pegando fogo e desejando profundamente surtar.

— Saiam da minha sala, preciso pensar e não vou conseguir com essa algazarra infernal aqui. Façam o festival de socos lá fora. — Aponta a porta sem nos olhar diretamente, impiedosa e decidida.

Arthur bufa saindo feito um furacão, por quê este cara está sempre tão irritadinho?

— Não vou sair, temos que conversar. — Persisto firme na intenção que tenho desde que cheguei aqui.

— Eu falo grego? Não é possível. — Esfrega a testa se auto-repreendendo.

Tomo coragem e avanço alguns passos ficando à frente da mesa.

— Não adianta cogitar jogar coisas em mim ou gritar, porquê vim aqui conversar civilizadamente e não vou sair até fazer isto. — Violet mantém os olhos fixos e procura no fundo de si paciência.

— O quê te faz pensar que eu vou te escutar? E MAIS, tendo toda esta valentia insuportável, metido à besta... Distribuir porrada a torto e a esquerda, sério isso? — Diz citando perfeitamente as situações anteriores.

Tento colocar a mão sob a sua e ela a puxa para si friamente. Negando meu toque.

— Eu penso isto porquê sei... Sei que você me ama. — Digo as palavras sem peso, é a certeza que tenho.

Violet dá risada com escárnio.

— É hilário o modo como é convencido. Me poupe, Lucien. — Ergue as mãos para cima debochando e os olhos vão junto.

Caminho um pouco mais e me posiciono em sua frente.

— Olha nos meus olhos... — Inclino o corpo um pouco para frente e fixo minhas íris na imensidão azul cruel dela.

— Olha nos meus olhos e diz que não me ama, e eu vou embora. — Tal pedido a deixa petrificada.

Aguardo uma palavra sequer sair dos seus lábios e não obtenho nada por uma eternidade isolada.

— E então. — Insisto ansiando pela resposta definitiva.

— Não. Me. Pressione. — Novamente volta a ser desafiadora e inabalável.

Não consegue rebaixar o ego nem por minutos.

Óbvio. Típico do seu temperamento.

Suspiro não acreditando.

— Eu estive do seu lado desde o início, nunca trai sua confiança até o presente momento... Quis te proteger, diferente da sua irmã cínica que voltou sem mais nem menos e já de olho grande na empresa... Meu Deus, Violet, acorda. — Tento mostrar o quanto Raquel é manipuladora e fez sua cabeça. Uma lavagem cerebral quase completa.

Violet é tão forte e calculista, não sei como se deixou levar pelas ladainhas da barbie do mal.

A loira desvia o rosto do meu alcance visual.

— Não pode sair por aí julgando sem saber do contexto por trás disto... Você não a conhece, e nem imagina o que passamos. — Sua recordação tristonha é dolorida a mim.

— Você não quis me proteger, quis guardar isto porquê era cômodo não é? Me levar para cama logo em seguida e me usar... Como bem quis. — Volta a me olhar e desta vez sombria e distante.

Dói ouvir tais palavras. Jamais quis planejar as coisas do modo que ela diz, como se eu fosse um canalha aproveitador.

— Acha que eu não quero sua felicidade? Pensei que confiasse em mim, pensei que fossemos sinceros uns com o outro... Mas pelo visto sua impressão sobre seu secretário perrapado, é bem diferente do que eu imaginava. — Distancio o corpo andando para trás na sala que parece girar violentamente.

Violet perplexa. Sem resposta prontas.

— Não posso escolher ente vocês dois, não posso. — Não é como se fosse escolher um só, mas duvido também que me escolheria. Seu instinto familiar fala mais alto.

— Sinto muito por ter escondido o que Raquel fez de você... Não faria diferença talvez, e queria ter dito antes. — Mal percebi que cheguei a porta já.

Meu corpo se movendo por conta própria. Automático, já sabendo que rumo tomar.

— Tem mais alguma coisa que queira contar? — Não encontro forças nem palavras para dizer agora. Covarde.

— Não vou mais te atrapalhar senhorita Maldonado. — A dor das letras soando como se fossemos estranhos um para o outro faz minha garganta ser apertada por uma corda invisível grossa.

Agarro a maçaneta e saio antes de escutar as palavras a seguir da loira original. Busco amparo escorando as costas do lado de fora. Eu estraguei tudo... Parcialmente tudo.

Bile sobe a garganta e eu vejo tudo embaçado, o peito necessita mais ar do que o necessário e as pernas ficam rígidas.

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