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𝙻𝚞𝚌𝚒𝚎𝚗.
São sete da manhã e o despertador já está tocando, preciso pôr o lixo no duto para a coleta daqui a pouco.
Moro sozinho e estou devendo meses, se eu atrasar mais esta semana vou ser despejado, fui demitido após uma demissão seletiva da empresa, por questões governamentais.
Trabalhava como segurança e pretendia pagar a faculdade com um esforço —, mesmo que demorasse mais tempo para entrar.
Poderia ter alguém a quem eu pudesse recorrer, mas não tem. Meu pai está doente e mora com minha avó numa casa bem pequena e simples, os remédios dele sou eu quem pago na maioria das vezes, eles são muito caros e minha avó não consegue pagar tudo com sua aposentadoria.
Quando ela consegue um dinheiro a mais com as toalhas e mantas que borda, dividimos o custo dos medicamentos.
Não estou morando junto deles há cerca de nove meses, pois os custos eram altos e não queria prejudicá-los, fora que eles precisam da casa para si mesmos muito mais que eu... que posso me virar.
O estômago ronca e eu tento distraí-lo, o armário está vazio, ontem foi o último dia do seguro-desemprego.
Sento à frente do computador velho no canto do meu quarto e clico no mouse para ligar a tela. A internet será cortada amanhã, vou aproveitar que ainda posso usar hoje e rezar para encontrar vagas de emprego.
Ele estava aqui quando me mudei, o último morador o deixou cheio de raiva dizendo que travava muito... Exagero, é muito eficiente.
Busco por: vagas de emprego.
E os resultados logo aparecem.
Vaga para seguranças:
Idade máxima: 24.
Requisitos: Ser fluente em inglês e espanhol.
Já não dá para mim, tenho trinta anos e não falo nem português direito, quanto mais inglês.
I Don't speak english.
Que desastre.
Acendo a luz e continuo buscando por mais vagas... nada que se encaixe no meu perfil.
Eu paguei por alguns anos minha faculdade, mas parei quando não pude mais... Aumentou o valor e eu acabei ficando com uma mão na frente e outra atrás, podendo pagar só os remédios do meu pai. Foi um sacrifício e não me arrependo.
Parece ser isto... Vou virar morador de rua amanhã mesmo.
Só espero que não me tirem aos pontapés daqui.
Levanto da cadeira após tentativas falhas, indo até o banheiro.
Faço tudo o que é necessário e tomo um banho rápido.
Sinto uma dor de cabeça incomodar e tento achar algum dorflex ou algo do tipo... Nada.
Caminho pelo corredor estreito e escuro, chegando até a pia que contém alguns copos sujos, a preguiça não me permiti lavá-los.
Suspiro fundo olhando através da pequena janela acima da pia, onde tenho a vista da cidade movimentada lá embaixo —, o clima está frio pelo visto... Céu cinzento e sem vida.
Coloco um pouco de café num copo limpo sob a pia e fecho a tampa da garrafa.
Só um café quentinho para me animar nestes dias tão decisivos.
Volto para o quarto e coloco uma regata branca que peguei em meio a pilha de roupas desdobradas no guarda-roupa bege.
Talvez eu consiga algo, preciso conseguir.
Não vou desistir fácil.
Acendo a luz tocando o interruptor na parede ao lado da porta e sento na cadeira giratória novamente, deixando o copo perto da parte debaixo do raque para não derrubar café em cima do teclado... Já sou pouco azarado.
Continuo navegando e entrando nos sites que anunciam vagas de emprego, até achar algo que realmente "se encaixa", no meu conhecimento e capacidade.
Dona das empresas, Maldonado está fazendo seleção para novo(a) secretário (a) pessoal.
Requisitos: ter disponibilidade de 12 horas por dia. Ser fluente em outra língua. Ter até 30 anos.
Estar sempre em prontidão, ser prestativo... E saber lidar com relatórios.
Ótimo! Achei a minha oportunidade perfeita.
— Obrigado! — Agradeço aos céus beijando as pontas dos dedos e comemorando, erguendo eles ao alto.
Canditato-me logo, aguardo concluir... feito.
Poderei pagar o aluguel e sair deste cubículo que cheira a mofo e nem sequer consigo mexer os músculos, direito.
Mal entra a luz do sol e às vezes quase sinto espíritos ruins pesando sob meu ombro.
Preciso arrumar minha melhor roupa, talvez eu tenha sorte e ainda esta semana eles chamem, já que diz no anúncio que precisam com urgência.
Uma mulher tão rica e poderosa... Não tem ninguém por perto a altura do cargo?
Não tem uma foto ou algo que indique sua aparência, só as informações necessárias e seu sobrenome... Poderoso e inabalável.
Maldonado.
Como será que são as pessoas que convivem ao redor dela? Provavelmente bem cutas e influentes... Mal chego aos pés deles.
Seria estupidez me comparar.
Mas torço para que esteja a altura do que eles querem, preciso tanto de um emprego que estou disposto até a estender tapete na frente do carro quando a porta se abre para os ricaços.
Dignidade é uma coisa que temos que pisar quando a situação financeira fica apertada.
Suspiro fundo após ajeitar em linha vertical o meu terno com o paletó preto e a calça da mesma cor... É o mais novo e bem preservado que tenho.
O sapato está um pouco surrado, mas com uma boa cola super bonder vai servir pelo menos para a entrevista.
Não tenho muitas roupas, mas o suficiente para ocasiões assim... apesar de não sair a quase um mês.
Minha vida se resume a: trabalhar.
Tem pessoas que dependem de mim e eu não posso ter uma distração e desampara-las.
As empresas Maldonado são uma das maiores empresas do país e ninguém sabe sequer um escândalo... Nem sequer fofocas deles, nada sobre a família ou os amigos mais próximos vaza —, nem antigos funcionários dizem nada sobre, mantendo a maior descrição. Também nunca, ouvi alguém maldizendo das empresas espalhadas por várias cidades.
Só se sabe que a herdeira foi a tal senhora Maldonado e por boatos o acidente foi provocado, o carro sabotado.
Era para morrerem todos eles, mas só faleceram; pai, mãe e a filha adotiva (não sei ao certo).
Sobrando somente a misteriosa herdeira original dos bens das empresas Gaia Century.
A qual praticamente ninguém sabe o nome ou alguma notícia cita.
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