05 ₃
──── Observe os tronos.
Olivia assustou-se quando Kane entrou apressadamente no quarto.
— O que houve? — perguntou ela.
— A votação será realizada ao final do dia — respondeu ele, com um tom sério, cruzando os braços — E Pike também será candidato.
A notícia fez Olivia engolir em seco, seu rosto adquirindo uma expressão tensa. Lentamente, ela se levantou e caminhou até Kane.
— Vai dar tudo certo — disse, tentando parecer confiante, embora seu sorriso fosse contido e sem convicção — Mas, se não der, eu mesma cuidarei de Pike.
Marcus soltou uma risada curta, balançando a cabeça em desaprovação.
— Por favor, não faça nada.
Olivia arqueou uma sobrancelha e deu de ombros, um brilho desafiador em seu olhar.
— Não posso prometer isso.
O diálogo foi interrompido por batidas urgentes na porta. Olivia dirigiu-se até a entrada, abrindo-a para encontrar Harper, com o rosto pálido e preocupado.
— Harper? Está tudo bem? — perguntou Olivia, franzindo o cenho, desconfiada.
— Não, na verdade, não está — respondeu Harper, visivelmente agitada — Você precisa vir agora. Pike está tramando algo, e, para piorar, Bellamy está com ele.
Olivia arregalou os olhos, recusando-se a acreditar no que acabara de ouvir. Molhando os lábios nervosamente, balançou a cabeça em negação.
— Bellamy? Tem certeza? — perguntou, sua voz levemente trêmula, enquanto piscava rapidamente, tentando processar a informação.
— Absoluta.
— Certo — disse Olivia, agora com as sobrancelhas erguidas, tentando manter a calma — Onde eles estão?
— Precisamos encontrar Lincoln. Ele deve estar perto dos portões.
[...]
Como previsto, as garotas encontraram Lincoln perto dos portões. O terráqueo, com um semblante grave, explicou a Olivia tudo o que havia descoberto. Pike estava convencido de que o exército de terráqueos, que supostamente estava ali para protegê-los, era, na verdade, uma ameaça iminente. A solução? Eliminar a ameaça. Literalmente.
Olivia sentiu o sangue esvair-se de seu rosto ao perceber a quantidade de Arkadianos que apoiavam Pike. Mais de vinte pessoas se alinhavam com suas ideias perigosas e agora estavam de frente para os três.
No meio do pequeno exército de Pike, Bellamy se destacava. Ele engoliu em seco ao ver Olivia, com os braços cruzados e o maxilar tenso. Seu olhar estava repleto de confusão, talvez decepção, mas, sobretudo, de raiva. Raiva de Pike e de sua insensibilidade manipuladora.
— Preciso que se afastem — ordenou Bellamy, evitando cruzar o olhar com Olivia.
— Para que são as armas? — Harper questionou, erguendo o queixo, sem esconder o desafio em sua voz.
— Há um exército lá fora. Eles são perigosos. Precisamos atacar antes que nos ataquem — respondeu Bellamy, sua voz firme, embora algo em seus olhos denunciasse a incerteza.
— Como é que é? — exclamou Olivia, incrédula — Você sequer ouviu o que acabou de dizer? Eles estão aqui para nos proteger!
Bellamy suspirou profundamente antes de encará-la.
— Olivia está certa. Eles não representam uma ameaça, vieram para defender vocês — Lincoln interveio, sua voz carregada de convicção.
Nesse momento, Pike aproximou-se, seu olhar calculista focado em Bellamy.
— Temos algum problema? — perguntou ele, a voz baixa, mas repleta de ameaça.
— O único problema aqui é você! — disparou Olivia, seus olhos faiscando de raiva.
— Ei, eu sempre fiz o melhor por todos nós — Bellamy interveio, ainda encarando Olivia — Só preciso que confiem em mim.
— Bell, por favor, não faça isso — a garota suplicou, seu tom misturando frustração e desespero.
— Venha comigo — pediu ele, sabendo muito bem que a resposta dela seria exatamente o oposto do que desejava.
Após alguns segundos, Olivia descruzou os braços.
— Não. Venha você comigo — insistiu ela, sua voz baixa, mas firme — Você está vulnerável, Bellamy. Acabou de perder alguém importante. Não deixe que Pike envenene sua mente com essas mentiras.
— Harper — Bellamy, ignorando as falas de Olivia, se virou para Harper.
— Desculpe Lincoln — a loira vacilou, antes de se virar e sair apressadamente, deixando o grupo para trás.
Lincoln e Olivia, no entanto, permaneceram firmes, desafiando o momento de tensão crescente. Pike, com os olhos frios, virou-se para Olivia, sua voz carregada de falsa compreensão.
— Olivia, sei que seu pai discorda de mim, mas você precisa aceitar a realidade. Ainda há tempo de mudar de ideia.
Olivia revirou os olhos, sua paciência claramente esgotada.
— Por favor — respondeu ela, com um sorriso cínico — Não finja que é ingênuo comigo.
Pike respirou fundo, então, seus olhos se voltaram para Lincoln.
— Se quiser provar sua lealdade, venha conosco — disse ele, sua voz suave, porém cheia de intenções sombrias.
Lincoln, previsivelmente, negou com firmeza, assim como Olivia. A resposta foi imediata: armas erguidas, mirando os dois, que mantiveram suas posições, inabaláveis.
Em um movimento repentino, Lincoln avançou contra um dos homens, o que deu início a uma briga feroz. Olivia se moveu para ajudá-lo, mas foi puxada pelo braço.
Bellamy bloqueou seu caminho, posicionando-se diante dela.
— Olivia, por favor — suplicou ele, sua voz revelando mais do que queria admitir.
— Por que está fazendo isso?
— Você não entende... — Bellamy murmurou, respirando fundo, seu olhar perdido — Eu preciso disso.
— Se você precisa matar para justificar suas ações, então, Bellamy, eu realmente não te entendo — afirmou Olivia, sua voz firme, mas com a dor latente em cada palavra.
O coração da garota disparava, refletindo a intensidade da situação. Bellamy apertou o maxilar com força, balançou a cabeça lentamente e, sem dizer mais nada, virou-se de costas para ela, como se evitasse confrontar tanto a verdade quanto seus próprios sentimentos.
— Lincoln, largue a faca! — exclamou Bellamy, com urgência na voz — Não há necessidade de ninguém se machucar!
— E o que vocês querem? Iniciar uma guerra? — Lincoln gritou em resposta, a tensão em seu corpo clara.
— Já estamos em guerra... só que entre nós mesmos — murmurou Olivia, com amargura, enquanto cerrava os punhos, frustrada com a situação que se desenrolava.
De repente, um alarme soou, ecoando no ar e atraindo a atenção de todos. Era Octavia.
— O que está acontecendo com você? — questionou ela, furiosa, colocando-se entre Lincoln e Olivia, encarando Bellamy.
Antes que a situação pudesse piorar, Kane e Abby chegaram com guardas, avançando rapidamente. O peito de Olivia, que antes parecia comprimido pela ansiedade, relaxou levemente quando seu pai se aproximou, sua presença trazendo um breve alívio em meio ao caos que se formava ao redor.
O grupo de Pike foi forçado a largar suas armas, entregando-se com expressões de derrota e hesitação.
— Lincoln, está tudo sob controle! — exclamou Marcus, sua voz carregada de autoridade e urgência — Deixe-o ir.
Lincoln hesitou, seus olhos movendo-se rapidamente entre Marcus e Octavia, a tensão visível em seu rosto. O dilema interno o consumia, mas, após um longo segundo, ele soltou o homem, sua mão lentamente se afastando, ainda relutante, mas consciente de que era o certo a fazer.
— O que diabos está acontecendo aqui? — exclamou Abby, posicionando-se firmemente diante de Pike.
— Estou fazendo o que você não teve coragem de fazer — respondeu Pike, com o maxilar travado e o olhar frio — Todos concordamos que os terráqueos são uma ameaça.
Olivia desviou o olhar para Pike, seus dentes cerrados em frustração contida. Uma de suas mãos subiu até sua testa, onde começou a massagear, como se tentasse aliviar a tensão crescente diante da insensatez da situação.
— Guardas, levem-nos para o confinamento. Agora! — ordenou Abby, sua voz firme e resoluta — Todos, voltem para seus alojamentos. Está terminado.
Olivia revirou os olhos, irritada, quando Pike, claro, se recusou a ficar em silêncio.
— Nada está terminado! — vociferou ele, sua voz cheia de indignação — Estamos cercados por guerreiros que nos querem mortos! Por que não nos conta a verdade?
— Chega! — rugiu Marcus, sua paciência no limite.
— Não! — continuou Pike, desafiador — Por que não mostra a eles o que você permitiu que fizessem com você?
Marcus balançou a cabeça, claramente relutante. A tensão no ar era palpável.
— Vamos, Kane! As pessoas que vão votar em você têm o direito de saber.
Com um suspiro pesado, Marcus ergueu a manga de sua jaqueta, revelando a marca da coalizão. O símbolo que agora tornava os Arkadianos, o povo do céu, o décimo terceiro clã.
— Isso significa que estamos nessa luta juntos! — declarou Kane, com convicção.
— Não! — retrucou Pike, com desdém — Isso é o que fazendeiros fazem com seus animais.
— Logo antes de mandá-los para o abate! — acrescentou Hannah, mãe de Monty, que, claramente, estava ao lado de Pike.
As palavras de Hannah foram o gatilho. Vários Arkadianos começaram a murmurar entre si, e logo vozes se ergueram em apoio a Pike. Alguns já falavam abertamente sobre elegê-lo como o próximo Chanceler.
— Basta! — ordenou Abby, dirigindo-se aos guardas — Levem-no daqui.
Um dos guardas agarrou o braço de Pike, mas antes que ele pudesse ser levado, uma voz familiar ecoou pelo espaço, gritando o nome de Pike. O coração de Olivia parou por um momento. Ela não queria acreditar no que estava ouvindo. Não podia ser verdade.
Virou-se lentamente e sentiu as pernas fraquejarem. Suas sobrancelhas se juntaram em uma mistura de choque e dor.
Era Bellamy.
Mesmo depois de tudo o que haviam passado juntos, ele estava ao lado de Pike. Contra Marcus, contra Abby... e, pior, do lado oposto de Olivia.
Marcus engoliu em seco, seus olhos endurecendo com a decisão que acabara de tomar. Ele sinalizou com a cabeça para um dos guardas, indicando Bellamy.
— Todos eles — afirmou com sua voz baixa.
Enquanto o nome de Pike era vociferado pelos Arkadianos como se ele fosse um salvador, aqueles que estavam ao lado dele, envolvidos na tentativa de atacar o exército, eram conduzidos ao confinamento, suas expressões variando entre fúria e resignação.
Marcus se aproximou de Olivia, posicionando-se ao seu lado e envolvendo-a em um abraço de lado. Seus olhos observavam atentamente o rosto da garota, preocupado com a tempestade de emoções que ela escondia.
— Vai ficar tudo bem — garantiu ele, tentando transmitir confiança, embora soubesse que as coisas estavam longe de estarem resolvidas.
— Só se você ganhar a eleição — replicou Olivia, franzindo o nariz em desgosto, enquanto seus olhos se fixavam nas costas de Bellamy, que era levado com os outros — Se o contrário acontecer, se prepare para o pior.
[...]
Olivia jamais imaginou que suas palavras pudessem prever o próprio futuro, mas ali estava ela, diante da cruel realidade. O pior, de fato, estava prestes a acontecer. Na manhã seguinte, Charles Pike havia sido o mais votado na eleição.
Pike era agora o novo Chanceler de Arkadia, e não havia absolutamente nada que Olivia pudesse fazer para mudar isso.
Caminhando pelos corredores metálicos da Arca, seus braços cruzados apertadamente contra o corpo, Olivia mantinha os olhos fixos no chão, evitando qualquer contato visual com os Arkadianos que passavam por ela. Estava tomada pela raiva, e simpatia era algo que não tinha espaço naquele momento.
Ao colocar os pés na grama pálida e acinzentada do lado de fora, Olivia ergueu a cabeça, o coração pesado. Os primeiros rostos familiares que viu foram de Octavia e Lincoln, imersos em uma conversa.
Quando os olhos de Octavia encontraram os de Olivia, a garota lhe ofereceu um sorriso forçado, quase sarcástico. Assim como Olivia, muitos dos Arkadianos estavam profundamente irritados e decepcionados com o resultado daquela eleição. A vitória de Pike havia deixado um rastro de desconfiança e desespero entre aqueles que não apoiavam sua liderança.
Olivia endireitou a postura e caminhou até os dois amigos. Lincoln voltou-se para ela, seu semblante neutro e habitual.
— Eu diria que esse dia é desolador pela falta de sol, mas há muitas outras razões para isso — resmungou Octavia ao ver Olivia se aproximar.
— Não consigo imaginar o que poderia tornar isso aqui — disse Olivia, gesticulando para o acampamento com um dedo indicador — pior do que já está.
Os três voltaram suas cabeças em direção aos portões do acampamento quando ouviram os guardas de vigília exigindo que fossem abertos.
Olivia estreitou os olhos, tentando entender a situação que se desenrolava diante dela. Quando Pike havia declarado que o exército de terráqueos representava uma ameaça, Olivia havia considerado a possibilidade, mas nunca acreditara que a situação fosse tão extrema. No entanto, o cenário que se desenhava agora sugeria que, de fato, o pior havia acontecido.
Seu maxilar se travou ao ver Bellamy à frente dos soldados de Pike. Sua camiseta verde-musgo e colete à prova de balas estavam manchados de sangue, um claro sinal do caos e da violência que ocorreram.
Olivia saiu de seu estado de choque quando Octavia, com passos largos e decididos, avançou em direção ao irmão. Ela observou a discussão acalorada entre os Blake antes de Octavia se afastar, furiosa, retornando ao local onde estava antes.
Quando Pike finalmente entrou no acampamento, começou a proferir um de seus discursos habituais, que Olivia detestava. Falava sobre a terra ser agora dos Arkadianos e que lutariam e morreriam por ela. No entanto, Kane não prestava atenção às palavras de Pike. Sua concentração estava inteiramente voltada para Bellamy, que acenava com a cabeça em sinal de concordância com tudo o que Pike dizia, como se estivesse alinhado com suas declarações.
— Nenhum deles está ferido — murmurou Olivia, franzindo as sobrancelhas em dúvida.
— O que? — perguntou Lincoln, voltando o olhar para ela.
— São apenas dez Arkadianos contra trezentos terráqueos, e ninguém está ferido.
Ela descruzou os braços e começou a olhar ao redor, procurando seu pai. Quando se aproximou dele, notou Bellamy seguindo Pike como um mero subordinado.
Bellamy lançou um olhar breve para Olivia. Um sorriso discreto surgiu no canto de seus lábios antes de ele retornar seu olhar para frente, como se tentasse manter a compostura. Olivia engoliu em seco, o coração apertado ao encontrar o olhar do garoto, sentindo como se seu peito estivesse prestes a se despedaçar.
Finalmente alcançando seu pai, que estava ao lado de Abby, Olivia percebeu a expressão horrorizada de Kane, seus olhos ligeiramente arregalados.
— O que faremos agora? — perguntou ela em um sussurro, o tom carregado de desespero.
Kane balançou a cabeça lentamente, desanimado.
— Não há nada que possamos fazer, Liv.
[...]
Olivia e Kane caminhavam pelos estreitos corredores metálicos da Arca, o homem à procura de Octavia, embora ainda não tivesse explicado o motivo a Olivia.
— Ouvi dizer que você tentou sair do acampamento para encontrar Indra. Isso é verdade? — perguntou Kane, olhando diretamente para Octavia.
— Não tem nada mais importante do que controlar quem sai ou fica no acampamento? — Octavia respondeu com uma expressão desdenhosa.
— Foi justamente por isso que te chamei aqui — Kane respondeu, parando em um corredor sem saída junto das duas — Indra fez contato pelo rádio. Ela quer se encontrar conosco. Eu poderia ir, mas Pike está me vigiando de perto.
— Quer que eu vá no seu lugar?
— Preciso que você vá — confirmou Kane com firmeza.
— Tudo bem. Mas como vou sair? O portão está sob vigilância constante e...
Octavia parou ao ver Kane, surpreendentemente, abrir uma passagem oculta na parede. Olivia arqueou as sobrancelhas, soltando uma risada curta e sarcástica.
— Certo, mas ainda não entendi qual é o meu papel nisso — Olivia comentou, cruzando os braços.
— Você vai distrair o seu amigo Bellamy Blake — explicou Kane — Ele é praticamente a sombra de Pike. Onde a atenção de Bellamy estiver, a de Pike estará também.
Enquanto passava pela passagem secreta, Octavia resmungou:
— Boa sorte com isso. Talvez ele até tente pregar o discurso de Pike como se fosse um pastor fanático — revirou os olhos com desdém.
— Descubra o que está acontecendo e nos avise. Pode fazer isso? — Marcus pediu, voltando sua atenção para Octavia.
— Nasci para isso — ela respondeu, assentindo com determinação.
Antes que pudessem continuar, o som agudo de um alarme ecoou pelos corredores da Arca.
"Marcus e Olivia Kane, compareçam imediatamente à sala do Chanceler."
Kane fechou a passagem rapidamente e, ao se virar para Olivia, notou o olhar dela, a testa franzida.
— O que ele quer agora? Nos doutrinar?
— Olivia, agora você vai ter que fingir que suporta o cara — Kane respondeu, começando a caminhar, com Olivia logo atrás — Ele é o Chanceler, afinal.
— Infelizmente, eu sei — ela resmungou, baixinho — Não posso simplesmente atirar nele?
Marcus soltou uma risada curta e, olhando para a filha, respondeu:
— Não em público.
[...]
Enquanto Olivia e Marcus aguardavam o término da reunião de Pike, Lincoln também estava presente, e ele e Marcus conversavam em voz baixa sobre o novo Chanceler. Olivia, por sua vez, encostou a cabeça na parede, deixando seu olhar perdido no teto.
Tudo parecia sufocá-la naquele momento. A jaqueta da Guarda, que ela ainda vestia por uma espécie de hábito involuntário, parecia pesar toneladas em seus ombros. O suor fazia com que os cabelos grudassem em sua testa, causando-lhe uma coceira incômoda, e a dor persistente em seu quadril voltava a incomodá-la.
Quando a porta da sala finalmente se abriu, Bellamy surgiu no corredor. Ele também vestia novamente a jaqueta da Guarda, a mesma que outrora havia abandonado, acreditando não merecê-la. Parou diante dos Kane, os olhos fixos em Olivia.
— Ele está pronto para vocês — anunciou, ainda mirando apenas Olivia.
— O que diabos aconteceu lá fora? — Lincoln questionou, tentando impedir que Bellamy passasse direto por eles.
— Fizemos o que precisávamos fazer — foi a resposta curta de Bellamy.
Antes que pudesse continuar, Marcus segurou-o firmemente pelo braço.
— Acorde, Bellamy! Vocês atacaram um exército que veio para nos ajudar! — Marcus sussurrou com intensidade — Mataram pessoas inocentes. É isso que você se tornou? Achou que não poderia se perdoar por Monte Weather? Pois bem, acabaram de iniciar uma guerra que vai acabar com todos nós.
Bellamy travou o maxilar, sua expressão endurecendo.
— Quem precisa acordar é você. E não venha me falar sobre a diferença entre Azgeda e Trikru. Trikru matou trinta e sete dos meus amigos antes mesmo de vocês aterrissarem aqui.
A tensão no ar era palpável. Lincoln, que ouvia tudo, começava a respirar mais fundo, a raiva evidente no modo como cerrava os punhos, tentando se controlar.
— Nós não começamos nada — insistiu Bellamy — Eles começaram.
— Eles? — Lincoln perguntou, aproximando-se de Bellamy até ficarem frente a frente, olhos nos olhos.
— Você sabe do que estou falando — Bellamy respondeu, com convicção, mas sem encarar diretamente o terráqueo.
Lincoln se inclinou um pouco mais, a voz grave e carregada de decepção.
— Eu costumava saber.
Com essas palavras, Lincoln virou-se e caminhou em direção à sala do Chanceler, deixando Bellamy e Olivia sozinhos com Marcus. O olhar de Bellamy pousou mais uma vez em Olivia, mas ela evitou seus olhos. Balançou a cabeça, desaprovando silenciosamente, e indicou com um gesto para que Marcus a acompanhasse.
Ao entrarem na sala, Pike os aguardava com uma expressão séria. Ele não perdeu tempo com formalidades.
— Vou direto ao ponto — começou, a voz firme — Marcus, Lincoln, vocês estão dispensados de suas funções na Guarda.
Olivia franziu a testa, não surpresa com a decisão, mas por perceber que seu nome não havia sido mencionado. Marcus e Lincoln tiraram suas jaquetas sem hesitar, colocando-as sobre a mesa à frente.
Pike, então, voltou seu olhar para Olivia.
— Quanto a você, Olivia — disse ele, a voz assumindo um tom um pouco mais calculado — Eu não concordava com isso no início, mas, querendo ou não, você é uma boa soldada, senhorita Kane. Bellamy confia em você, então acredito que também deva confiar.
Olivia sentiu seu coração acelerar, mas conseguiu manter a compostura, reprimindo qualquer reação visível. A única coisa que fez foi acenar com a cabeça em silêncio, embora sua mente estivesse a mil.
"Eu deveria dizer algo agora? O que eu falo, meu Deus?" era o pensamento que martelava em sua cabeça. Ela engoliu em seco, levantou o queixo e, forçando um sorriso sem brilho, respondeu:
— Obrigada, senhor.
[...]
Os Kane caminhavam em direção à enfermaria quando Olivia percebeu o comportamento inquieto de seu pai. Ela parou de repente, o que fez com que Marcus se virasse imediatamente para encará-la.
— O que foi? — ele perguntou, franzindo o cenho.
— O que está acontecendo com você? — ela rebateu, estreitando os olhos, a expressão carregada de preocupação.
Marcus suspirou profundamente, seus olhos rapidamente varrendo o ambiente ao redor, garantindo que ninguém estivesse ouvindo a conversa.
— Pike sabe que você não gosta dele — começou ele, com a voz baixa — Mas ele parece ter alguma esperança de que você, eventualmente, se volte para o lado dele. O que você pretende fazer?
Olivia deu um passo à frente, se aproximando do pai com firmeza no olhar.
— Eu estou, e sempre estarei, ao seu lado — ela afirmou com convicção — Você duvida disso?
Marcus balançou a cabeça, preocupado.
— Não, Liv. Não é isso. Mas você sabe o que acontece se descobrirem. A pena por traição, de acordo com a Carta de Êxodo da Arca, é... a morte. Eu só estou preocupado com você.
Olivia ergueu a mão, tocando suavemente o ombro do pai, seu olhar tentando transmitir calma.
— Ei, nada vai acontecer — assegurou, esboçando um pequeno sorriso — Eu sou bem persuasiva, e se Pike conseguiu manipular Bellamy, eu também consigo, de certa forma.
Marcus torceu o nariz, desconfortável com a ideia.
— E você está bem com isso? — ele perguntou, cauteloso — Em relação a Bellamy?
Olivia desviou o olhar por um segundo, respirando fundo antes de responder.
— Não, claro que não. Estou decepcionada, no mínimo. Mas não é algo que eu posso me dar ao luxo de focar agora — ela endireitou os ombros, tentando recuperar a compostura — Vamos, você não precisava falar com a Abby?
Marcus assentiu lentamente, embora a apreensão ainda estivesse clara em sua expressão.
Quando chegaram à enfermaria, Olivia sentiu uma estranha sensação de desconforto, como se estivesse em uma montanha-russa, embora jamais tivesse visto uma.
Diante dela, estava Thelonious Jaha, ninguém menos que o ex-Chanceler. A jovem não sabia ao certo o que sentir — felicidade, confusão, ou uma ponta de desconforto pelo fato de ele ainda estar vivo.
Ela e Marcus pararam frente a Jaha, ambos sem saber exatamente o que dizer, com expressões que provavelmente espelhavam o mesmo misto de surpresa e apreensão.
— Kane! — Jaha exclamou com um sorriso, estendendo os braços para abraçar Marcus.
Olivia desviou o olhar para Abby, que respondeu com um simples levantar de ombros, igualmente surpresa.
— Bem-vindo de volta, meu amigo — disse Marcus, retribuindo o abraço.
— E onde está o seu uniforme? — Abby indagou, sua voz carregada de desconfiança.
— Pike me dispensou da função — respondeu Kane, com um suspiro cansado, enquanto colocava as mãos na cintura — Também removeu Lincoln. Mas, aparentemente, ele tem um fraco por Olivia.
Ele soltou uma risada sarcástica, voltando-se para Jaha.
— Você sempre aparece nos momentos mais... oportunos.
"Ah, sim, com certeza" Olivia ironizou em pensamento, sem revelar seus verdadeiros sentimentos.
— Sinto muito pela eleição, Marcus — disse Jaha com uma expressão compreensiva.
— Esqueça a eleição — respondeu Kane, a voz agora mais grave — A guerra que você previu no dia que partiu está prestes a explodir.
Olivia franziu o cenho, confusa. Ela havia estado em Mount Weather quando Jaha reapareceu vivo, mas nunca entendeu completamente suas profecias e suas estranhas declarações.
— Pergunte onde ele esteve — sugeriu Abby, incisiva.
— Onde? — Olivia perguntou, ainda perplexa.
— Eu encontrei a Cidade da Luz — Jaha sorriu, como se tivesse revelado um segredo divino.
— Cidade da... o quê? — Olivia fez uma careta, incrédula.
— A Cidade da Luz. Lá, não há dor, ódio, doença ou sofrimento — afirmou Jaha, com um olhar distante e sonhador.
— Isso soa ótimo... não é? — Kane disse, com uma expressão de desconfiança.
— Pergunte ao amigo dele, Otan — Abby apontou para um corpo coberto por um pano — Aparentemente, ele já está lá agora.
— Não a culpo por duvidar, Abby — Jaha continuou, impassível — Sei que parece surreal. Mas é verdade. Tudo aquilo que vocês consideram importante agora, guerra, poder... nada disso importa na Cidade da Luz.
Antes que Olivia pudesse evitar uma risada irônica, Hannah, a mãe de Monty, apareceu, sorridente com a chegada do ex-Chanceler.
Logo depois, Jaha se despediu, já que era evidente que Pike exigia sua presença. Assim que o silêncio recaiu sobre eles, Olivia voltou a falar, seu rosto distorcido em confusão:
— Ele está drogado?
— Por incrível que pareça, não — Abby suspirou — Eu o examinei pessoalmente.
[...]
Olivia achou que seguir as ordens de Pike seria uma tarefa simples, mas agora, sentia o coração disparar de ansiedade. Pike havia ordenado que todos os terráqueos presentes na enfermaria fossem removidos, doentes ou não. Abby tentava, em vão, argumentar contra a decisão, mas o homem permanecia irredutível.
Bellamy, de braços cruzados, mantinha-se alheio. Olivia, enquanto ajudava uma criança debilitada a se levantar da maca, sentia o peso da situação apertar seu coração. A criança estava gravemente doente, e Olivia sabia que a estava retirando do único lugar onde poderia se recuperar. Depois de ajudar os enfermos a saírem, ela se posicionou ao lado de Bellamy.
Foi nesse momento que Lincoln entrou na enfermaria. Seus passos pesados e decididos refletiam a fúria que dominava seu ser, uma fúria ainda mais evidente que qualquer expressão que pudesse demonstrar.
— Lincoln, é melhor você sair daqui — Bellamy alertou, sua voz tensa.
— Fomos nós que pedimos para que eles viessem para cá — Lincoln retrucou, aproximando-se mais de Bellamy.
— Não podemos ceder os suprimentos — respondeu Pike, inabalável.
"E você também não consegue ceder essa sua arrogância?", Olivia pensou, mas, como sempre, se segurou.
Lincoln se moveu em direção a uma amiga que estava visivelmente debilitada, mas foi imediatamente detido pelos guardas.
— Ela está doente demais para andar — Lincoln protestou, sua voz carregada de preocupação.
— Parece que está andando bem para mim — ironizou o guarda, indiferente.
— Gillmer, chega disso — Bellamy interveio, voltando-se para Jackson — Jackson, por que a trouxe aqui?
A amiga de Lincoln, sem forças para continuar, caiu no chão. Lincoln tentou ajudá-la, mas foi impedido por Gillmer, que apontou uma arma diretamente para sua cabeça. Em defesa própria, Lincoln reagiu, desferindo um soco contra o guarda. Bellamy tentou contê-lo, mas acabou levando uma cotovelada.
Quando finalmente se levantou, Lincoln estava pronto para enfrentá-lo, ignorando os apelos de Abby para que parasse.
— Lincoln! — Olivia gritou, sua voz finalmente quebrando o caos.
Ele se virou, mas não para ela. Ao invés disso, sinalizou com a cabeça para Pike, que agora, em mais um ato típico de sua "coerência", apontava uma arma para a cabeça da amiga de Lincoln.
— Ele vai com eles — decretou Pike, sem hesitação.
Em questão de segundos, Lincoln foi levado pelos guardas para o confinamento. Olivia caminhou até Bellamy, parando à sua frente. Ela usou o dedão para limpar o sangue que escorria do nariz dele, resultado do golpe.
— Você realmente gosta de apanhar, não é? — ela ironizou, limpando o rastro de sangue com delicadeza.
— Ha, ha — Bellamy fingiu uma risada, estreitando os olhos para ela — Tudo está completamente fora de controle.
"Por que será, né?" Olivia pensou, sem verbalizar sua crítica.
— É, mas vamos mudar isso — disse ela, com um gosto amargo na boca.
Bellamy a olhou com um sorriso confuso, mas sincero.
— Fico feliz que você tenha mudado de ideia e esteja ao meu lado agora — confessou ele, com um brilho de esperança nos olhos.
Olivia coçou o nariz, comprimindo os lábios em um sorriso forçado.
— Eu também — murmurou, tentando esconder a repulsa que sentia.
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