dezoito - um desenho
(Jack)
Ao meu lado, na sua carteira, Nolan ainda está concentrado fazendo a prova. Eu termino de preencher o gabarito. Então me levanto, entrego o meu caderno de avaliação na mesa da Srta. Jeong e deixo a sala. No corredor, me sento no primeiro banco vago que encontro e fico esperando. Respiro fundo. Finalmente posso pensar.
Eu sei que vou magoar o Nolan se eu seguir para o próximo passo do meu plano. Algo dentro de mim diz que ele não vai entender. Mas um pedaço de mim está tentado a magoá-lo mesmo assim. Um pedaço de mim quer deixá-lo de lado para ter o parazer de ser eu a pisar na cabeça do safado do Bailey.
Será que eu também estou me tornando um monstro tão frio e insensível quanto o Bailey?
O que é mais importante para mim? A amizade do Nolan ou humilhar o Bailey? Por que é tão difícil escolher entre os dois? Por que eu preciso escolher? Por que não posso simplesmente ter os dois?
— Droga! — Abano a cabeça, discutindo comigo mesmo.
É inevitável. Já tomei a minha decisão desde o dia que aquele filho da puta arrogante decidiu pisar no meu calo. E não vou abaixar a bola justo agora. Nolan vai me desculpar, mas os dias de valentão do Bailey nesta escola estão contados.
Saco o meu iPhone do bolso e reviso o que vou fazer. Abro a galeria de fotos, abaixo o volume e revejo o vídeo do Bailey e do Alex no banheiro. Não tem mais volta e não vou desperdiçar essa oportunidade. Já tomei a minha decisão!
Nolan chega onde estou de repente, me pegando de surpresa. Eu não vi ele se aproximar. Bloqueio a tela e devolvo o celular no bolso. Acho que ele não percebeu o que eu estava assistindo. Sua cara está muito séria. Como se ele guardasse uma angústia.
Ele senta ao meu lado e ficamos um instante em silêncio. Ele, eu não sei no que está pensando; mas eu estou escolhendo as palavras de como vou dizer para ele que não vou parar com os meus planos. Preciso ser sincero com o Nolan. Ele é o meu melhor amigo. Mas antes que eu diga qualquer coisa, é ele quem fala primeiro:
— Jack... — Ele está tremendo.
— Quê?
Mas ele apenas enfia a mão dentro da mochila e tira de lá uma folha dobrada. Seus olhos estão baixos, no chão. Suas mãos tremem e eu sinto que ele está muito nervoso.
— Eu... É que... — ele gagueja como se buscasse as palavras.
Eu puxo o seu queixo com o polegar, colocando os olhos dele nos meus.
— O que é? Pode se abrir comigo — digo.
Mas ele não fala nada, apenas estica o papel dobrado para mim. Eu o pego da sua mão, mas não tenho tempo de desdobrá-lo para saber o que é. Alex chega e agora senta do nosso lado.
— Eu vou ajudar vocês dois — ele diz, simplesmente.
Eu sorrio e olho para o Nolan como se quisesse dizer que agora vamos atropelar o Bailey. Nolan sorri de volta, mas eu sei que ele não está totalmente feliz com isso.
— Eu sei — eu falo para o Alex. — Eu estava escondido no quarto do Nolan quando vocês conversaram.
Alex cora e me olha um pouco confuso, mas não pergunta nada a respeito disso. Eu prossigo:
— Você falou que o Bailey pega todos os amiguinhos dele, mas você não falou uma coisa, Alex.
— E o que é?
— Os amiguinhos gostam de ser pegos pelo Bailey?
Alex sorri. Ele entende exatamente o que quero saber.
— O Krys eu não sei, mas o Lamar não curte muito. Acho que ele faz mais para não bater de frente com o Bailey. É que ele é muito apaixonado pela namorada.
— Namorada?
— Sim, Sina. Aquela garota loira que vive andando junto com a Anne Marielly.
Sina. Eu lembro dela. Mas não imaginava que o Lamar e ela namorassem. Agora as coisas começam a ficar interessantes...
— Legal — eu falo enquanto algumas coisas passeiam pelos meus pensamentos. — E você acha que a Sina também gosta tanto assim do Lamar?
— Não.
Eu ergo as sobrancelhas, surpreso. Nolan também está com a mesma expressão no rosto. O Alex tem se mostrado um poço de sinceridade até agora. Isso tudo é medo de mim? Ou ele tem alguma predisposição a trair os amigos mesmo?
— Pelo que sei — Alex conclui —, ela vive esnobando ele... Ele reclamava bastante disso quando a gente conversava, mas nunca parou de correr atrás dela.
Eu olho a hora na tela bloqueada do meu celular, está quase na hora do treino.
— Valeu, Alex. A gente se vê no treino?
— Claro — ele sorri, murcho. — Já tava indo para lá. Depois, ainda tenho aula de História.
— Legal. Depois te alcanço.
Ele se levanta e sai andando. De novo, ficamos só eu e Nolan no banco. Não consigo esconder um sorrisinho de satisfação nos lábios, e Nolan parece repetir a minha expressão. Mas antes que eu diga alguma coisa, ele também se levanta, se despede e sai andando. No meio do caminho ele para, se vira para mim e fala:
— Eu também vou entrar pro time, Jack.
E logo volta a andar sem me dar tempo de dizer alguma coisa.
Fico pensando nisso. Nolan não parece o tipo de cara que gosta de esportes. Nem consigo imaginá-lo correndo no campo no meio da macharada.
Ele é magrelo, esguio. Os jogadores do time são grandes, musculosos. O oposto dele. Não duvido da sua força de vontade, mas fico pensando no que levou ele a tomar uma decisão dessas. Será que ele está fazendo isso por mim? Por achar que, ficando mais perto de mim, nos treinos, vai poder me ajudar? Ele está se sacrificando por mim?
A coragem dele me inspira, mas também me deixa um pouco apreensivo. Bailey sabe que eu e Nolan somos melhores amigos. Não duvido que ele tente machucar o Nolan em campo só para me atingir. Mas se ele fizer isso, eu... Ah, eu não respondo por mim! Eu o atropelo na mesma hora sem pena!
Mas fico olhando a silhueta do Nolan se afastar lá no fim do corredor. Se você soubesse o quanto sou grato por você ser meu amigo. Nós somos uma dupla imbatível!
Então, finalmente olho para o papel dobrado que ele me deu. Eu o desdobro e fico deslumbrado com o que vejo. É um desenho. Um desenho a lápis do meu rosto. Eu estou de moletom, óculos e capuz. Sou eu quando cheguei aqui no colégio, no meu primeiro dia de aula. No dia em que nos conhecemos. Um lado do meu coração agora está aquecido pelo talento gigante desse cara, mas o outro lado está cercado de dúvidas.
Por que o Nolan só me mostrou esse desenho agora? Por que ele está se sacrificando ao entrar para o time só para ficar mais perto de mim? E por que ele fica sempre tão nervoso quando está comigo? São tantas perguntas. Mas será que...
Será que o Nolan... gosta de mim?
Não sei o que pensar, mas essa hipótese começa a fazer sentido. Eu sei que o Nolan é muito tímido, então não quero perguntar isso diretamente para ele. Vou pensar em algo que o deixe mais à vontade. Sei que vai ter uma festa para receber os calouros daqui uns dias. Vou levar o Nolan. Se ele beber um pouquinho, então talvez ele se abra comigo, né? Mas vou pensar nisso depois.
Dobro o desenho de novo, ainda maravilhado. Saco meu celular, desbloqueio a tela e volto a encarar o vídeo do Bailey e do Alex. Sorrio, sozinho.
A partir de hoje, as coisas vão mudar nesse colégio.
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