³⁷|Can't Help Falling in Love
- Kate? Kate!
Piscando, encaro todos os pares de olhos que estão em mim.
- É a sua vez. - Genevieve aponta para a cadeira ao seu lado.
- Desculpe, estou distraída.
Ela não pergunta o motivo e eu agradeço por não estar apenas Lorelei, Genevieve e eu aqui, senão elas não me deixariam em paz até eu contar. A mãe de Genevieve e sua irmã estão aqui, assim como Carlota e mais duas primas de Genevieve. "Aqui" é o quarto principal da mansão onde estamos nos arrumando.
Enquanto a maquiadora começa a trabalhar em meu rosto, espero que ela esconda as bolsas debaixo dos meus olhos. Não dormi muito depois que saí do quarto que Khalil estava. E simplesmente não sei por quê.
Sim, você sabe. Você ficou relembrando cada palavra que tinha dito.
Bem, sim... Acontece que fui pega de surpresa. Foi a primeira vez que tivemos uma conversa real... e ele disse que ama outra pessoa. Eu sei que não deveria me importar porque o que está acontecendo entre nós não tem nada a ver com amor, obviamente, mas eu não consigo esquecer o tom da sua voz ao falar do Pax. Havia angústia em seu tom, mas também saudade e carinho. Eu nunca ouvi ele falar assim de ninguém.
Quase perguntei porque ele se afastou, porque não está com ele agora, mas as palavras não vieram e, em vez disso, eu fugi. Posso afirmar pela forma como disse suas palavras para mim ontem, que Khalil não ficou nada feliz com a desculpa que eu dei. Mas eu estava certa, é melhor assim. Existe uma linha entre nós que está ficando cada vez mais borrada. Ficar abraçados, jantares, dormir juntos... Isso não pode acontecer mais. É imprudente e idiota. Sexo é tudo o que estaremos tendo daqui para frente, até que um de nós dê um basta.
Limpando aquele homem dos meus pensamentos, sorrio para mim mesma no espelho. A maquiadora fez um ótimo trabalho. A sombra marrom clara que ela escolheu é suave e não muito pesada, além de ter feito um delineado perfeito. Adorei até a cor de batom que ela escolheu, um tom de pêssego, muito diferente do vermelho sangue que estou acostumada.
Também não sou uma mulher de tranças, mas adorei o penteado que a cabeleireira fez: uma coroa de tranças com um coque baixo. Tanto a maquiagem quanto o penteado combinam com o vestido elegante de modelo longo, confeccionado em seda azul. Possui alças finas e um decote em V profundo, realçando a elegância. A saia é levemente plissada e se abre em uma fenda lateral, adicionando um toque de ousadia. Como madrinha também, Lorelei está usando um da mesma cor, mas de outro modelo.
- Minha bebê está tão linda - Donna, a mãe de Genevieve, diz quando sua filha está pronta. Eu concordo com ela. O modelo do seu vestido é um com saia A-line e camadas, clássico e completamente encantador. A saia se estende suavemente da cintura até o chão, formando uma silhueta fluida e elegante. As camadas acrescentam profundidade e movimento ao vestido, proporcionando um visual romântico e impressionante, o que combina perfeitamente com a minha amiga.
- Mãe, não chore, senão vou começar a chorar também. - Genevieve sorri, seus olhos já cheios de lágrimas.
Enquanto as duas se abraçam, sinto uma leve pontada de inveja, acompanhada de tristeza. Minha mãe nunca me verá vestida de noiva. Nenhuma das duas verá. E mesmo que casamento não seja algo que eu tenha em mente para o meu futuro, dói saber que se um dia eu me casasse, nenhuma das duas estaria lá para me ver vestida de noiva.
Eu venho imaginando coisas como essas desde que Yuna morreu, mas tudo ficou mais intenso desde que descobri que tenho outra mãe e que ela está morta também.
Respirando fundo, ponho um sorriso no rosto e coloco esses pensamentos no fundo da minha mente. Hoje é um dia especial. Meus melhores amigos vão se casar e eu estou muito feliz por eles. É nisso que tenho que me concentrar.
- Onde está Freya? - Gen pergunta, dando batidinhas nos cantos dos olhos para enxugar as lágrimas.
Todas nós começamos a olhar dentro do quarto, mas a pequena ruiva não está aqui.
- Eu vou procurá-la. Ela deve ter esquecido alguma coisa em... algum lugar - me ofereço, lançando um olhar para Lorelei que diz: Não deixe ela surtar.
Apresso-me em sair do quarto, já imaginando onde Freya está. Antes de ir até onde suspeito que ela se escondeu, passo no quarto que fiquei com Lorelei.
Só depois, vou até o quarto no início do corredor. Dou três batidas na porta.
- Entre.
Abrindo, me deparo com quatro Blackburn de terno, Dean e uma Freya vestida de noivinha chutando uma bola no meio do quarto.
- Freya Prescott-Blackburn. - Pigarreio. Ela ergue a cabeça, os olhos arregalados. - Sua mãe está procurando por você.
- Já tá na hora? Não aguento mais esperar!
Todos nós rimos da sua impaciência.
- Está quase. Por que você não vai ver como sua mãe ficou?
- Tá bom. - Sai correndo do quarto.
Eu, no entanto, permaneço na porta. Meu olhar encontra o de Eros. Não nos falamos direito desde sábado, quando discutimos.
- Você tem um minuto? - Propositalmente, ignoro o par de olhos esmeraldas do outro lado da sala. É difícil. Parece que existe algo magnético me puxando em direção a ele.
Mantenho meu foco em Eros. Ele anue, pedindo que seus irmãos, seu pai e Dean nos deixem a sós. Khalil é o último a sair. Eu inalo seu perfume quando ele passa por mim. Seus dedos roçam na minha pele. É tão rápido que eu nem teria notado que aconteceu se os arrepios não estivessem percorrendo meu corpo agora. Será que ele também sentiu isso ou minha mente estúpida está começando a imaginar coisas?
Tentando limpar minha cabeça, adentro o quarto e entrego a Eros a garrafa de whisky que eu estava escondendo atrás das costas. É um Macallan. E também a nossa tradição. Sempre que discutimos muito feio, damos uma garrafa de whisky ao outro para se desculpar.
Eros sorri.
- Sabe, eu comprei uma para você também. - Para provar isso, ele some dentro do closet, e quando volta, está com uma segunda garrafa Macallan na mão. Ele me entrega a que comprou. - Desculpe por ter sido um idiota.
- Desculpe por ter sido muito dura e horrível.
- Você não estava totalmente errada.
Não retruco. Eu não estava, apesar de saber que poderia ter sido menos cruel com minhas palavras.
Eros abre a garrafa que lhe dei e vai até o carrinho de bebidas - que não tem nada alcoólico, apenas suco e água - e pega dois copos. Ele despeja dois dedos de whisky em cada, então me entrega um.
- Está nervoso? - Sento no sofá, tomando um gole do whisky. Eros senta ao meu lado.
- Óbvio, porra. Precisei de três tentativas para colocar essa droga de gravata porque minhas mãos estavam tremendo. - Para provar, ele estende sua mão. Um leve tremor percorre seus dedos.
- Relaxe. O pior que pode acontecer é ela dizer "não". - Brinco. Eros empurra meu ombro com o seu. Dou risada. É bom finalmente voltar ao normal com a nossa amizade. - Mas, ei, é sério. Relaxe.
- Eu vou me casar em trinta minutos. Não tem como ficar relaxado com isso. Você vai descobrir isso quando for a sua vez.
Engasgo com o whisky.
- Acho que não.
Eros não diz nada por um minuto inteiro. Eu posso senti-lo me observando, por isso levanto, indo até a janela. Eros me conhece, ele vai sacar logo que algo está acontecendo. Por isso não contei a ele sobre meus pais ainda. Se é que um dia irei contar. Ele está se casando, está começando uma nova etapa da sua vida, e eu não quero preocupá-lo com isso.
- Posso perguntar uma coisa?
- Isso já é uma pergunta - murmuro. Depois, suspiro. - Ok. - Me preparo. Já imagino o que virá disso. E, para ser sincera, é melhor que ele esteja perguntando sobre isso do que sobre o meu passado.
- O que está acontecendo entre você e Khalil?
Bebo mais um pouco do whisky. Meus olhos encontram os seus mesmo com vários metros entre nós. Khalil está lá embaixo, perto do altar. Sinto aquele arrepio de novo e dessa vez ele nem me tocou. Estou certa quando digo que precisamos voltar para quando tudo era apenas sexo. Eu com certeza não sentia arrepios quando ele estava constantemente agindo como um idiota e me tirando do sério.
Lembrando da pergunta de Eros, me afasto da janela.
- É complicado. - Assim como a relação de Khalil e Pax. Parece que tudo com é complicado.
- Vocês estão...
- Fazendo sexo? Estamos.
- ... se dando bem? - termina sua frase. Ops.
- Não.
Eros ergue as sobrancelhas.
- Não?
- Sim, estamos fazendo sexo. Não, não estamos nos dando bem. Complicado, lembra?
- Certo.
Espero mais dez segundos. Quando ele não diz nada, arqueio a sobrancelha.
- Então? Não tem mais nada a dizer?
- Não. Alguém tem me dito constantemente que sou um super protetor de merda. Bem, estou oficialmente mudando.
Semicerro os olhos.
- Ok...
- Apenas... - começa. Arqueio a sobrancelha novamente. - Tome cuidado. Para não se machucar.
- Está tudo sob controle - mesmo quando falo, as palavras parecem uma mentira.
☠️
A cerimônia acontece em um amplo gramado cercado por altas árvores, que se ergue majestosamente, criando uma espécie de catedral natural sob um dossel de folhas. Uma trilha de luzinhas delicadas entrelaçadas nas árvores ilumina o caminho até o altar, emitindo uma luz suave e dourada que dá um toque de brilho ao ambiente quando o sol se põe. O altar em si é adornado com flores silvestres, que parecem ter sido colhidas do próprio campo essa tarde, criando uma mistura harmoniosa de cores suaves e vibrantes. Bancos de madeira rústica acomodam os convidados, enquanto lanternas e velas estrategicamente posicionadas emitem uma luminosidade acolhedora enquanto o juiz celebra a cerimônia, que foi simplesmente linda.
O sol tinha começado a se pôr quando o juiz os declarou casados. Eu não cheguei a chorar, mas meus olhos ficaram cheios de lágrimas durante todo o momento. Já fui à casamentos antes, mas nunca de pessoas que significam tanto para mim. O ar estava carregado de um amor palpável, e cada olhar trocado entre eles foi carregado de promessas e memórias futuras. Houve risadas enquanto os votos eram trocados, mas no final, estávamos todos emocionados pela união dos dois.
Nem a presença de Khalil ao meu lado foi capaz de me distanciar desse momento.
Mas isso foi uma horas atrás. Agora, eu não consigo tirar meus olhos dele. Percebi que não sou a única com esse "problema". Homens e mulheres têm dado olhares furtivos a Khalil. Ele os ignorou. Não sei por que, mas gostei disso.
Pensando bem, não posso culpar essas pessoas de ficar salivando por ele. Khalil está usando um terno de três peças com um paletó preto clássico e a porra de um colete branco. Khalil de smoking é um risco sexual, mas de colete? Ele com certeza está derretendo muitas calcinhas. Inclusive a minha.
A tenda de recepção é ampla e arejada, com laterais abertas para permitir que a brisa noturna suave passe. No teto, cortinas leves e transparentes balançam suavemente, adicionando um toque etéreo à atmosfera. Longas mesas de madeira estão dispostas com talheres de prata e elegantes arranjos florais no centro. E todos observam conforme Khalil sobe no palco para fazer o discurso do padrinho. Não sabia que ele faria um. Suas mãos estão dentro dos bolsos, sua postura relaxada quando ele começa a falar no microfone.
- Prezados amigos e familiares, só estou aqui porque perdi no cara ou coroa com Anthony. Então fiquem avisados. - O local explode em risadas. É claro que ele começaria o discurso assim. Dando um pequeno sorriso, ele se concentra nos noivos. - É uma honra estar aqui hoje como padrinho e como irmão mais velho do noivo. - Faz uma pausa. - Nossa relação nem sempre foi um mar de rosas, mas é incrível como os desafios que enfrentamos juntos nos tornaram mais fortes. Ao longo dos anos, aprendemos que o apoio incondicional de um irmão é algo verdadeiramente especial. Sou grato a toda a minha família, mas foi esse idiota persistente que me salvou mais vezes do que eu posso contar. Então... valeu, idiota. - Ele pisca, fazendo mais risadas serem ouvidas. - Hoje, olho para Eros e para Genevieve e vejo não apenas um casal apaixonado, mas duas pessoas que estão dispostas a enfrentar qualquer desafio que a vida lhes apresentar. Sei que a força que os une é algo que os guiará em todos os momentos, sejam eles fáceis ou difíceis. Já vi algo assim antes, com nossos pais, e fico muito feliz que meu irmão tenha encontrado um amor tão especial quanto o deles. Desejo a vocês uma vida cheia de amor, respeito e compreensão mútua. Que cada dia fortaleça ainda mais esse vínculo especial que compartilham. - Suspira então. - Só tenho um pedido: permaneçam casados. Eu esgotei toda a minha bateria emocional nesse discurso. - Sorri. - Um brinde ao idiota do meu irmão, Eros, e sua noiva irritante e muito ruiva, Genevieve.
Todos ainda estão rindo do final do seu discurso enquanto aplaudem quando Khalil desce do palco. Ele volta para nossa mesa, onde Eros o recebe com um abraço. Eles dizem alguma coisa um paro o outro, mas é baixo demais para ouvirmos.
Quando se afastam, Khalil também abraça Genevieve e lhe dá um beijo na bochecha.
Eu já estou de pé quando ele passa por mim, então sussurro baixinho:
- Belo discurso.
Vou em direção ao palco antes que ele tenha a chance de responder. Quando todos estão silenciosos e esperando, me concentro no casal da noite.
- Ei, recém-casados. - Sorrio, talvez um pouco nervosa. - Estou muito honrada em estar aqui hoje para esse momento tão especial. - Olho em volta. - Para aqueles que ainda não me conhecem, eu sou a Super Kate, a melhor amiga de Eros e de Genevieve. Vocês podem imaginar como esses dois me deixam louca, às vezes. - Depois de algumas risadas, engulo em seco, deixando a emoção tomar conta. - Hoje, estou emocionada ao ver essas duas pessoas incríveis unindo suas vidas em amor e compromisso. Eros, meu amigo e irmão segundo os últimos dez anos, não consigo expressar o quão grata sou por ter você na minha vida. Você me ajudou em um dos momentos mais difíceis da minha vida e sem você, não sei onde estaria hoje. Você me deu uma família quando eu não sabia que precisava de uma. E sei que você vai me importunar com isso pela próxima década, mas sua amizade é com certeza uma das melhores coisas que me aconteceu. Obrigada. - Eros sorri para mim e tenho a impressão dos seus olhos estarem brilhando com lágrimas. Minha atenção muda para Genevieve. - Genevieve, garota, eu amo você. E não só porque você é uma das pessoas mais incríveis que já conheci, mas também porque você trouxe luz e alegria para a vida de Eros. Sua presença é uma bênção para todos nós, e tenho a sorte de tê-la como uma das minhas melhores amigas. Nossa amizade é uma daquelas conexões especiais que fazem a vida mais bonita, sabe? - Da mesa principal, Gen anue, com certeza chorando. - E, é claro, não posso deixar de mencionar o papel que desempenhei, com muito orgulho, em unir esses dois corações apaixonados. Ver o amor de vocês crescer e se fortalecer ao longo do tempo foi verdadeiramente incrível. Viva a analogia da batata. - Os convidados riem apesar das suas caras de confusão, mas Genevieve entende. Estendo minha taça. - Hoje, estamos aqui para celebrar não apenas o amor entre Eros e Genevieve, mas também a força da amizade que nos une a todos. Que cada dia seja uma nova aventura, cheia de risos, aprendizados e, claro, muito amor... À Eros e a Genevieve, que o caminho à frente seja iluminado por uma vida repleta de alegria, compreensão e momentos inesquecíveis. Brindo ao casal maravilhoso que são, e à jornada emocionante que estão apenas começando. Saúde!
Volto para a mesa, onde abraço meus amigos, rindo enquanto Genevieve chora e reclama sobre borrar a maquiagem ao mesmo tempo que diz que também me ama. Eros é mais discreto, me dando um abraço de urso, daqueles que sempre fez eu me sentir como a irmãzinha mais nova que ele sempre irá proteger.
Depois dos discursos de Carlota e Enrico, da mãe de Genevieve, e mais alguns brindes, a festa começa.
A pista de dança montada acima do gramado contém algumas pilastras em cada ponta da madeira polida acima do gramado. Há algumas luzinhas suspensas entre elas formando um ambiente suave e convidativo.
Lorelei e eu estamos sentadas com os outros convidados ao redor da pista, nos bancos e assentos acolhedores para aqueles que desejam descansar, mas que no momento estão assistindo a valsa dos noivos, como nós.
- É tudo tão mágico. Parece que eles saíram de um conto de fadas - Lola diz, sorrindo.
- De uma comédia romântica, com certeza - Anthony surge atrás de nós. - Parece que estou assistindo a uma porra de filme produzido pela Netflix.
Não perco a forma como todo o comportamento de Lorelei muda quando Anthony senta ao seu lado. A última vez que vi esses dois interagirem foi uma amostra de como foi a Guerra Fria. Agora, ambos parecem ter aprendido a ser civilizados.
- Ah, meu Deus... Eles são tipo a Bela e a Fera - Lorelei murmura, como se tivesse feito uma grande descoberta.
- Sabe, quando eles ficaram noivos de repente, a primeira coisa que veio na minha cabeça foi "A Proposta". Aquele filme com a Sandra Bullock e Ryan Reynolds - diz Anthony.
- Sim! Nossa, como eu nunca tinha pensado nisso antes? É tipo, uma das melhores comédias românticas já feitas.
- Exatamente!
Os dois se encaram, então, com sorrisos no rosto. Eu sei que não depende de mim, mas eles são tão lindos juntos que não consigo entender porque não estão juntos. Está óbvio, independente do que Anthony diga, que ele ainda está apaixonado por Lorelei. E por mais que Lola sempre desconverse quando tocamos no assunto, pela forma que ela olha para ele, dá para ver que ela sente pelo menos alguma coisa por ele.
Os dois desviam o olhar rapidamente, como se nada tivesse acontecido e eu fico aqui, querendo começar uma briga com o universo.
Mesmo depois dos aplausos quando a valsa acaba e outros casais começam a dançar na pista, estou tão envolvida na atração óbvia que esses dois sentem um pelo outro que eu não vejo ele chegando.
Sentindo sua presença, ergo o rosto, encontrando seu olhar. Khalil está parado na minha frente, estendendo a mão para mim.
- Me daria a honra? - Sua voz percorre meu corpo com uma carícia sombria.
Antes que eu negue, meu corpo já está reagindo e eu estou colocando minha mão sobre a sua. Entrego minha bolsa a Lorelei, que me dá um sorriso malicioso, e deixo Khalil guiar o caminho.
Na pista de dança, em meio a outros casais, nós começamos a dançar "Can't Help Falling in Love" do Elvis Presley. Enquanto uma das suas mãos segura a minha, a outra está em minha cintura.
- Então você dança - digo porque preciso dizer alguma coisa para me distrair das mãos de Khalil em meu corpo.
Diversão brilha em seus olhos e um pequeno e quase inexistente sorriso surge em seus lábios.
- Sim, Kathryn, eu danço. Surpresa?
- Um pouco. Não sabia que bad boys dançavam valsa.
- As pessoas podem nos surpreender.
Ficamos nos encarando. Pela terceira vez, sinto a atmosfera mudar. Sob o céu estrelado, nós dançamos sem tirar os olhos um do outro, como se estivéssemos presos em um transe, envoltos em uma bolha só nossa. Isso é perigoso. Porque as bolhas nunca duram, elas são uma ilusão temporária criada pelo desejo de que um momento especial nunca acabe. Mas sempre acaba, porque as bolhas sempre estouram.
Segurando firmemente minha mão, Khalil guia meu corpo, fazendo-me girar antes de me puxar de volta para ele. O ar foge dos meus pulmões quando nossos corpos colidem. Minhas mãos vão parar em seu peito e as suas, em minha cintura. Seus olhos caem para meus lábios. Seria preciso apenas que ele inclinasse um pouco mais a cabeça para que nos beijássemos aqui mesmo.
Mas eu não posso. As pessoas já sabem o que está acontecendo entre nós, é verdade, mas beijá-lo na frente de todo mundo faria parecer que o que temo é sério, quando, na verdade, não é.
Por isso digo as palavras que o fará entender isso:
- Deveríamos começar a sair com outras pessoas.
Khalil arqueia a sobrancelha, sem vacilar nos passos.
- Já falamos sobre isso.
- Não. Você decidiu que não queria sair com outras pessoas.
Vejo-o trabalhar a mandíbula por alguns segundos, a tensão se infiltrando em seu corpo.
- Não gosto de compartilhar - afirma, então.
- Bem, sinto muito, mas não sou sua propriedade. Se quiser continuar com o nosso... arranjo, terá que aceitar os meus termos.
- E se eu me opôr?
Dou de ombros.
- Tudo acaba.
Eu sei que ele não gosta disso. Está lá no seu olhar, na tensão em seu corpo e em como ele desvia o olhar para longe. Queria saber o que está se passando na sua cabeça. Ele está pensando em formas de me convencer? Eu irei aceitar?
O suspense acaba quando a música também termina e nós paramos de dançar. Tiro minhas mãos de seu corpo e Khalil também dá um passo para trás. Algo em mim aperta com o fato de ele ter se afastado tão rápido.
- Ok - Khalil declara, interrompendo meus pensamentos. Mantenho minhas feições neutras, mas por dentro estou no mínimo um pouco chocada. "Ok"? Ele está aceitando isso tão rápido quando negou com a mesma rapidez da primeira vez. Qual a pegadinha?
Examino seu rosto à procura de indícios de que ele não está falando sério, mas ele está inexpressivo.
- Tudo bem, então - apesar das palavras, não consigo entender a decepção que sinto. Era isso que eu queria, certo? Por que estou chateada?
Pigarreio, forçando um sorriso que eu espero que não pareça forçado.
- Vejo você por aí. - Não saio correndo ao lhe dar as costas. Esse não é o Estilo Kate. Não, eu desfilo calmamente pela pista de dança. Mesmo que doa manter meu sorriso no rosto.
Durante as próximas horas, faço algumas visitas ao bar, sempre pedindo um drink diferente. Um dos barmans, Clifford - eu acho que é esse o seu nome -, até me deu seu telefone. Não estávamos nem flertando, eu apenas elogiei os coquetéis porque sou uma boa apreciadora deles, mas da última vez, seu número estava lá rabiscado no guardanapo e ele piscou o olho. O coquetel virou cinzas na minha boca. Eu quase joguei o papel fora, mas então lembrei do meu novo acordo com Khalil. Preciso manter minhas opções abertas para encontros futuros. Por isso guardei o maldito papel na minha bolsa.
Não estou bêbada ou tentando ficar. Levemente embriagada, no entanto...
Eu danço com Eros e depois com Anthony, depois com as meninas. Nós realmente damos um show na pista, apesar de termos rido mais do que dançado.
- Estou tão feliz - Genevieve diz de repente. Ainda estamos na pista.
- Awnn. - Paramos de dançar para abraçá-la. - Também estamos felizes por você. Nós te amamos muito. Certo, Lola? - Lorelei anue. Lhe dou um tapa leve no braço. - Diga as palavras, garota. Estamos tendo um momento aqui.
Lorelei geme, claramente sofrendo, mas há um sorriso brincalhão em seus lábios.
- Eu amo vocês, vadias.
- Isso! - exclamo.
- Também amo vocês. Cara, vou borrar minha maquiagem desse jeito. - Genevieve abana o rosto, segurando o choro. Ainda estamos com os braços envoltos umas das outras num abraço.
- E isso não pode acontecer porque em duas horas você estará sendo macetada pelo gostoso do seu marido. Tem que estar impecável até lá pra só então ele te deixar destruída com o sexo muito selvagem que vocês irão fazer. - Lorelei concorda com as minhas palavras, fazendo Genevieve rir.
- Não sei o que seria de mim sem vocês. Obrigada por aceitarem ser minhas madrinhas.
A abraçamos novamente. Acho que ouço uma câmera clicando de algum lugar, com certeza obra do fotógrafo contratado.
Depois que Eros chega para roubar sua noiva de nós, nós dançamos mais um pouco. Eu puxei Dean para dançar comigo e de alguma forma a música acabou e outra começou e eu vim parar nos braços de Enrico.
- Então é de você que vem todo o estilo daqueles lá, hein? - brinco.
- É claro. Eles herdaram todas as coisas boas de mim.
- E você tem algo ruim? - Olho para ele, fingindo estar insultada.
Sua risada me deixa feliz. Às vezes ainda sou assombrada por memórias de quando ele ficou doente ano passado. Todos nós achamos que fôssemos perdê-lo. Foi a primeira vez que chorei em anos.
Como Carlota está descansando seus pés porque ao que parece seu marido gosta muito de dançar, eu permaneço como parceira de dança de Khalil por mais algum tempo enquanto ela se recupera. Depois da terceira música, percebo que estou aliviada com isso. O tio de Genevieve, Phillipe, me puxou para uma dança alguns minutos atrás, mas eu consegui me safar depois sem ser mal educada. Não me entenda mal, o cara até que não é ruim, apesar da nossa diferença de idade, mas não quero dançar com homens que claramente estão interessados em mim.
Veja, eu tenho um enorme problema em mãos. Disse a Khalil que deveríamos sair com outras pessoas, mas o simples fato de socializar e flertar com outro homem, me dá náuseas.
Mas obviamente sou a única me sentindo assim. Não muito longe de nós na pista de dança, há um casal. A mulher é uma das primas de Genevieve, Harper, tão alta quanto uma modelo e tão bonita quanto. E o homem é Khalil.
Eu não deveria parecer tão chocada, mas é por causa do meu autocontrole que meu queixo não vai parar no chão. Eles parecem estar se dando bem. Isso me surpreende. A garota - ela tem vinte e dois, mas quem liga - não parecia ter um pouco mais do que vento na cabeça quando estávamos conversando mais cedo. Sobre o que eles estão falando? Ela está triste porque o papai cancelou a mesada?
Meu Deus, que horror, Kate! Você está sendo cruel porque está com ciúmes. Aquela pobre garota não fez nada para você falar dela desse jeito.
Ela está nos braços do meu...
Seu o que? Se esqueceu que você não tem relacionamentos? Ele não é seu namorado. Ele só está fazendo o que você disse.
Sim, bem. Ele nunca me ouve. Ótimo momento para escolher fazê-lo.
Estou tão furiosa - não sei ao certo com o quê -, que acabo pisando no pé de Enrico.
- Porra, desculpe. Você está bem? - pergunto quando obviamente paramos de dançar.
- Jovens, vocês estão sempre xingando, não é? - Ele ri, espantando minha preocupação com a mão. - Estou bem. Não foi nada.
Solto um suspiro, meus olhos traidores encontrando o motivo da minha frustração. Quando Khalil inclina o rosto para ouvir o que a Cabeça de Vento - desculpe, Harper - tem a dizer, sinto um tremor no meu olho esquerdo. Khalil diz alguma coisa, então Harper sorri. Posso literalmente ver todos os implantes dentários dela daqui. O que ele disse a ela? Com certeza nada romântico. Ele não é romântico. Provavelmente sussurrou - com aquela voz rouca que faz os pelos da minha nuca arrepiarem - como deve ter acontecido com a Cabeça de Vento, vulgo Harper - convidando-a para uma rapidinha em algum quarto da mansão.
Passo apressadamente por Enrico. Consigo contornar a tenda principal e achar uma árvore, onde me apoio ao pôr para fora todo o álcool e os aperitivos da festa. Depois que aparentemente todo o conteúdo do meu estômago foi colocado para fora, caminho até um tronco caído e me sento nele.
Pelo menos não tem ninguém para me ver nesse estado deplorável...
Uma garrafa de água surge na minha frente. Ergo os olhos, meu coração disparando quando vejo seus olhos esmeraldas. Mas não é Khalil, e sim Enrico.
- Obrigada - murmuro, aceitando a garrafa. Enquanto ele senta ao meu lado, eu bochecho um pouco de água na boca, cuspindo ao meu lado depois.
A festa está acontecendo além da tenda, mas está estranhamente silencioso aqui atrás. Eu sei que Enrico não está me julgando. Ele e Carlota já me fizeram dormir em sua casa porque bebi vinho demais, mas nunca me senti julgada por eles, apenas protegida. O que significa que o sentimento muito semelhante à culpa que estou sentindo não tem a ver com isso.
- Eu sei que você sabe sobre Khalil e eu - digo então.
Enrico ri baixinho. Viro o rosto para encará-lo.
- Querida, qualquer pessoa a um raio de um quilômetro vê que está acontecendo alguma coisa entre vocês.
Devo estar corando. É compreensível, ok? O pai do cara que eu estou transando está dizendo que sabe que estamos transando e que somos muito ruins em esconder isso.
- Achei que disfarçávamos bem.
Enrico me dá um tapinha no joelho.
- Sinto te dizer, filha, mas vocês são péssimos nisso. - Eu sei que o que estamos conversando é embaraçoso, mas ouvi-lo me chamar de filha aquece meu coração.
- A culpa é do seu filho. Eu sou uma ótima atriz.
- Os pais sempre sabem quando seus filhos estão escondendo alguma coisa.
Oh, cara, este homem vai me fazer chorar.
E ele sabe disso. Enrico sorri, sabendo como me sinto sobre ele me chamando assim, mas também não fala nada porque sabe também que tenho que manter minha pose-de-garota-durona.
- Apenas me avise se ele machucar seu coração.
Desvio o olhar.
- Eu, hã... Nós não temos esse tipo de... hã... relacionamento. Na verdade, não existe um relacionamento, sabe? É apenas... - Pigarreio. - Coisas... que pessoas que não tem relacionamentos sérios, fazem.
- Qual é o termo que vocês usam hoje em dia...? - Ele parece pensativo. - "Ficando". Estou certo?
- Sim - dou risada.
- Nunca entendi o que isso quer dizer. Vocês namoram, mas dão outro nome para isso?
- É algo menos sério do que o namoro. Não tem compromisso. Na maioria dos casos é apenas... relações... íntimas.
- Você pode falar sexo, sabe?
Faço uma careta. Não, eu não estou falando a palavra "sexo" na frente do homem que eu tenho como figura paterna.
- Certo, certo... - Enrico ri. - Então... são apenas relações íntimas. O que acontece com os sentimentos?
- Não tem. Essa é a graça. Não têm sentimentos, não têm preocupações. Nós apenas nos divertimos.
Sua testa franze.
- Você também pode se divertir quando está gostando de alguém.
- Algumas pessoas não pensam assim. Algumas pessoas acham que sentir algo pela outra pessoa é perigoso. A pessoa pode ir embora a qualquer momento. E o que acontece com os sentimentos que você desenvolveu por ela? - Balanço a cabeça, suspirando. - É um risco que nem todos estão dispostos a correr.
- Amar é arriscar todos os dias. - Enrico me encara como se soubesse de algo que eu não sei. Pela sua experiência de vida, com certeza são muitas coisas, por isso presto muita atenção nas suas próximas palavras. - Eu também tive medo, sabe, quando Lottie e eu nos conhecemos. Eu era um pai solteiro, ela era uma mãe solteira. Parece perfeito, mas na prática, tínhamos muito a perder se desse errado. E houve muitos "e se" naquela época. O suficiente para quase nos afastar para sempre. Mas nós persistimos. Insistimos. E arriscamos. Porque valia a pena. Ela valeu a pena. E mesmo quando o amor não parecia o suficiente, ainda ficamos juntos, porque o nosso amor vale a pena. E arriscar tudo o que tínhamos foi o que construiu nossa família.
Estou processando suas palavras quando um serzinho saltitante surge na nossa frente.
- Vovô, você prometeu que ia dançar comigo! - Freya começa a puxar Enrico, fazendo-o rir.
- Você está certa. Vamos lá. - De pé, ele olha para mim. - Você vai ficar bem?
- Sim, obrigada.
Assente, mas depois de um passo, ele muda de ideia e me encara por cima do ombro.
- Arrisque-se, Kate. Não tenha medo, menina.
Pelos próximos minutos depois que eles vão embora, eu fico sentada nesse tronco, ouvindo a festa acontecer.
Khalil ainda está dançando com a Cabeça de... Er, Harper? Ele a levou para algum lugar? Estão se agarrando nesse momento? Por que pensar nele fazendo essas coisas me deixa mal do estômago? Literalmente sinto que posso vomitar de novo se continuar seguindo essa linha de pensamento. Por que ele não insistiu para sermos exclusivos? Quer dizer, ele aceitou muito rápido, não é? Uma hora ele diz que quer apenas a mim, que gosta de mim e fala sobre relacionamentos, mas no outro, ele está aceitando a ideia de sair com outra pessoa, dançando com ela como se eu nem existisse.
Você dançou com outras pessoas também. Ele só seguiu os seus passos.
Não gosto disso. Não quero que ele dance com a Harper Cabeça de Vento. Não quero que ele faça qualquer coisa com ela.
Por que, de todos os homens com quem me envolvi, apenas Khalil desperta esse lado possessivo meu? Ele literalmente me disse que ama outra pessoa, caramba. Onde diabos eu me meti? Por que tinha que ser logo ele?
Em vez de tentar ficar respondendo essas perguntas, fico de pé e respiro fundo.
Arrisque-se, Kate.
Não chegarei a pedir o homem em casamento, mas posso começar com passos de bebê e revogar os meus termos.
E se ele não aceitar? E se agora que ele lembrou como é sair com outras pessoas, ele não quiser mais ser apenas seu?
Engulo de volta a bile. Não tenho tempo para pensamentos pessimistas.
Decidida, volto para a festa - só dei alguns passos para sair de trás da tenda. Faço uma pausa para roubar um morango do bar, esperando que isso melhore meu hálito.
Procuro Khalil com meus olhos, precisando ficar na ponta dos pés algumas vezes, mesmo de salto, mas não o encontro.
- Viu seu irmão por aí? - Cutuco Anthony, que está definitivamente encarando Lorelei, mas desvia o olhar rapidamente. O idiota acha que eu sou idiota?
- O que casou ou o que você está pegando?
A audácia desse homem.
- O mal humorado.
- Bem, isso faz dois deles.
- Anthony! - Belisco seu braço. Rindo, ele afasta minha mão, esfregando o lugar que belisquei.
- Acho que o vi entrando na casa.
Sinto um aperto no estômago.
- Ele estava sozinho?
- Isso eu já não sei dizer.
Mordo meu lábio, pensando nas possibilidades, nos "e se"... Então ligo o botão de "foda-se" e caminho até a casa.
Meu coração bate descontrolado em meu peito. Ele tem feito isso constantemente quando se trata de um certo bad boy. Pobre coração, ele não podia escolher alguém menos complicado, não é?
Rindo de mim mesma, paro em uma janela na sala quando vejo uma luz vindo do lado de fora.
Meu sorriso cai, no entanto, porque lá fora, montando uma moto, é Khalil.
E na garupa está Harper, abraçando-o enquanto a moto ganha vida e os dois vão embora, adentrando a noite escura e fria, como de repente ficou meu coração.
☠️
MEU DEUS, MEUS BEBÊS PRIMOGÊNITOS REALMENTE CASARAM😭😭😭♥🤧🤧🤧
Não sei vcs, mas estou emocionada com isso
Adorei trazer um pouco mais da relação da Kate com o Enrico também. Ele é um querido 💘
Sei que tá dando vontade de esganar a Kate, mas tenham CALMA
Espero que tenham gostado do capítulo!
Já passamos da metade doa história, daqui a pouco acaba😭😭😭💔
Até sexta💋🖤
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2bjs, môres♥
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