Capítulo 27. Vida
Os corpos não paravam, o sangue, o cheiro da podridão só aumentava. Itadori cerrou os punhos quase quebrando o próprio pulso, ele passou por cada um pisando forte no chão buscando por qualquer sinal de Mahito.
— Itadori. Espera. — O alcancei, avistamos uma maldição, ele era tão grande que mal conseguia andar.
— Ele me disse. Disse para matar todos. — Ele dizia carregando uma cabeça, um inocente com sangue ainda quente escorrendo pelo seu pescoço. Segurei o braço de Itadori, notei as marcas de Mahito no monstro.
— Por que você tem que matar todos? Quem te mandou fazer isso? — Perguntei, ele se aproximou com a vontade de matar crescendo ainda mais. Conseguia sentir a energia de Mahito vindo dele, a manipulação que ele havia usado para comandar aquele monstro com facilidade. — Itadori.
— Ele fez isso, é culpa dele esse monstro estar matando inocentes. — Yuji me disse com o corpo tão tenso que poderia se quebrar ali mesmo.
— Só... me deixa tentar uma coisa. — Pedi, Itadori me encarou nos olhos, sabia que valia a tentativa, e então se afastou.
Me aproximei do monstro com as mãos estendidas, senti a energia amaldiçoada de Mahito o corrompendo. Tentei usar minhas habilidades para trazê-lo de volta, ele parou no mesmo instante, bem diante dos meus olhos, e começou a se contorcer. Itadori recuou, sem saber o que estava acontecendo. Fiz contato com o monstro e minha pele começou a ferver de dentro pra fora. Itadori avançou para tentar me ajudar, estava aterrorizado.
— Akiko!
— Espera! — Gritei, comecei a gritar ainda mais, o monstro fez o mesmo.
Seu corpo aos poucos fora voltando ao normal, até cair em estado vegetativo no chão, caí ao seu lado. A energia de Mahito podia se parecer com a minha, mas era corrompida de alguma forma.
— Akiko! — Itadori correu na minha direção e me ajudou a levantar, suspirei.
— Ele... — Olhei para o corpo do inocente, estava morto de qualquer forma, e havia me usado muita força.
— Ele morreu, você tentou salvá-lo. Mas não dá pra salvar todos eles. — Itadori disse, olhei em volta notando todos os corpos e o sangue decorando o ambiente. Sentimos uma presença, era ele, Mahito.
— Pensei que fosse mais forte, mas não esperava que viessem juntos. — Ele disse se referindo ao monstro.
— Por que está fazendo isso?! Matando inocentes! Foi ele que te mandou fazer isso? Por que Geto quer matar tantos inocentes?! — Gritei, Mahito riu e jogou os cabelos pra trás.
— Porque é divertido.
— Você é doente. — Recuei, Itadori passou na minha frente pronto para iniciar a luta com Mahito. Me preparei atrás dele.
— Não. Eu não sou humano. E você também não é. — Ele disse, senti uma tira avermelhada me envolver e me prender completamente. Ele me levantou no ar, Choso, suas habilidades dependiam do sangue.
O sangue me envolvendo me deixava eufórica, a energia de Choso fluía pelo seu poder tão facilmente, sentia que poderia pegá-lo ali mesmo com apenas uma mordida. Era o que imaginava antes de me arremessar do outro lado da estação, Itadori gritou e me verificou de longe, me levantei.
— Eu vou te matar! — Gritei, Choso se preparou para atacar novamente. Mahito disparou mais a dentro da estação, Itadori confirmou comigo mais uma vez antes de correr atrás dele. — É sua chance de desistir. Vou te dar apenas uma.
— Por que não morre logo? Assim posso me vingar de Itadori o quanto antes. — Afirmou se aproximando com os punhos erguidos.
— Ele nem sabe quem você é. Isso não faz diferença. — Expliquei, Choso cerrou os punhos com mais força.
— Ele matou meus irmãos.
— Eu sinto muito, mas se morreram nas mãos de Itadori, provavelmente mereceram. — Me preparei, parti para cima de Choso, ele desviou do primeiro golpe me deferindo outro na costela.
Caí no chão sentindo a manipulação de sangue torcendo meu corpo de dentro para fora, Choso segurou-me pelo pescoço.
— Isso vai ser rápido. — Ele dizia. Segurei seus braços contra o meu pescoço, cravei minhas unhas e usei minhas presas para morder ele.
Choso arregalou os olhos e então gritou feito uma criança, seus olhos se encheram de lágrimas. Ele me empurrou pelo pescoço, bati a cabeça no chão. Quando abri os olhos, minha visão estava levemente turva mas consegui vê-lo de longe, cambaleando. Choso apontou as mãos na minha direção e começou a absorver todo o sangue escorrendo por entre meus dentes afiados.
— Não seja burra, ataque ele primeiro! — Aoi bateu o pé, torci meu corpo no lugar, senti calafrios na espinha enquanto Choso absorvia seu poder de volta me enfraquecendo aos poucos.
— A-Aoi. Me ajuda! — Cerrei os punhos, caí de joelhos enquanto sentia meu corpo se contorcer de dentro pra fora. — Eu vou morrer. Eu vou morrer se não me ajudar!
— Vadia estúpida. — Ela disse e escorreu pelo meu corpo como um dos monstros de Mahito, uma criança maldita, uma praga. — Você me deve.
Não me movi, fiquei parada no lugar, estática. Aoi olhou para mim para ter certeza do que estava prestes a fazer e me puxou pela nuca para o seu lado.
— Você pediu minha ajuda, não pediu pra fazer tudo sozinha. — Ela disse e posicionou os pés no chão. — Você é minha hospedeira, se porte como tal.
— Por que está... me ajudando? — Abracei meu ombro, Aoi cerrou os punhos.
Choso se preparou para contra-atacar, fizemos contato visual e partimos juntas para cima dele. Aoi saltou por cima e o acertou nas costas, Choso foi empurrado para frente, o segurei pelo pescoço. Ele era mais alto e mais forte que eu, mas com Aoi do meu lado as coisas ficavam mais fáceis. Ela passou por baixo do seu braço e o puxou pelos cabelos para frente, fiz o processo inverso passando por cima do seu ombro e me preparando para morder sua nuca.
Estava sedenta, lambi os lábios pronta para absorver sua energia rapidamente. Por um segundo, Aoi também se sentiu realizada, como se toda aquela situação a deixasse excitada. Senti tentáculos me envolvendo em um abraço tão apertado que deixou meus membros dormentes. Tentei me mover, senti alguns ossos quase se quebrando.
— Aki! — Aoi rosnou, Choso a segurou pelo pescoço e a levantou no ar, Aoi lutou para se soltar.
— Não. Aoi! — Tentei falar, mas estava sentindo uma dor dilacerante se espalhando pelo meu corpo.
— Me solta. Me solta porra! — Ela continuou, ouvi o som do seu corpo se abrindo, congelei. As mãos de Aoi relaxaram enquanto ela engasgava com o próprio sangue.
— AOI! — Gritei, senti meu rosto quente feito o inferno, meus olhos se encheram de lágrimas. Aquela maldição, aquela maldição que estava com Geto esse tempo todo, ele havia atravessado sua mão pelo peito de Aoi e havia lhe arrancado o único coração que bombeava sangue para o seu corpo amaldiçoado.
Aoi caiu morta no chão, o corpo ainda quente, e o sangue ainda escorrendo por entre seus lábios. Ela estava morta.
— Eu vou te matar. — Afirmei, ele olhou para o coração em sua mão ainda cheio de sangue, e o soltou feito um objeto sem importância.
— Não entendo como alguém como você tem sentimentos tão humanos por um ser não humano. — Se referiu a Aoi, olhei para o seu corpo no chão.
Ele estava certo, ela me atormentou pelo tempo em que esteve viva. Mas eu me tornei a vilã quando descobri que roubei sua vida a partir do momento que a consumi. Eu me tornei sua maldição. Me tornei a vilã que roubou sua vida.
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