Capítulo 28
Meus olhos insistiam em ficar abertos, mas as pálpebras começavam a pesar. O rosto assustado de Hayden por cima de mim, movendo meus ombros com agressividade era persistente.
— Aly! Aly! — Sua voz saía lenta através da boca, senti meus batimentos diminuindo.
Quando virei o rosto o corpo de Theo estava na maca ao meu lado, encarei o teto e desisti de resistir, minha respiração ficou fraca e o coração foi diminuindo até a quase morte. De repente pulei da maca, a respiração desregulada mas o coração batendo forte no meu peito.
— Você acordou. — Theo estava de pé ao lado da maca, olhei em volta, estava tudo quieto. — Bem-vinda ao mundo dos mortos.
— É isso?
— O que esperava? Fantasmas e zumbis? — Deu de ombros, ele estava irritado em ter que se arriscar tanto.
— Vamos, não sei quanto tempo temos até... algo acontecer. — Segui até a saída, Theo correu para me alcançar.
— Quer dizer até morrermos de verdade, não é? — Resmungou me seguindo.
A floresta era duas vezes mais fria que o normal, uma neblina estranha se dispersava pelo ambiente. Mesmo enquanto Theo resmungava logo atrás de mim, ouvi algo diferente, parecia alguém em um cavalo.
— Cala a boca e escuta! — O puxei pelo braço, Theo parou e focou na audição.
Parecia um cavaleiro, fazia um som estridente enquanto cavalgava na nossa direção.
— Corre. — Theo me puxou pelo braço, começamos a correr para a cidade.
Theo me levou para a escola, sua versão obscura era abandonada e cinzenta. Fechamos as portas logo atrás de nós, parei para recuperar o fôlego, o garoto virou de costas e sentou no chão.
— O que era aquilo? — Sentei do seu lado exausta, o mundo dos mortos parecia exigir o dobro de energia que o mundo normal.
— Aquilo era um cavaleiro fantasma, se eles nos encontrarem aqui teremos um fim pior do que a morte.
— Temos que ir. — Levantei e continuei seguindo o corredor.
— Ir aonde? — Theo levantou e disse alto, parei e cerrei os punhos.
— Eu não sei, o que viemos fazer aqui? — Levantei as mãos e argumentei, Theo desviou o olhar.
— O que aconteceu com você? Porque está tão... assim. — Apontou, ele parecia decepcionado.
— Eu não sei. — Dei de ombros, senti meu estômago embrulhar na mentira. — Achei que tudo voltaria ao normal, mas aí me lembro que estamos em Beacon Hills e nada nunca será normal. Quero dizer, você tentou roubar o meu coração.
— Eu vi você morrer, não pode me culpar de tentar ficar com algo que você não ia usar. — Theo falava sobre roubar órgãos com tanta normalidade, sua caretice me fez gargalhar. — Senti falta desse sorriso.
— Não começa. — A seriedade voltou, Theo me seguiu pelo corredor até a saída pelo outro lado do campo.
— O Liam é um garoto descontrolado, o que você vê nele?
— Coragem. — O confrontei, Theo parou tão perto que consegui sentir sua respiração quente. — Ele não pensou duas vezes para correr esse risco por mim.
— E porque eu to aqui, e não ele? — Confrontou-me, virei de costas pensativa. — Você realmente quer morrer, não quer?
— Estão vindo. — Puxei Theo até o vestiário masculino, haviam dois cavaleiros no campo, procurando.
— Seu irmão sabe que está querendo voltar para o túmulo? — Perguntou no meu ouvido, soltei seu braço e me afastei.
— Por que se importa? Eu quero saber porque o Theo Raeken babaca, idiota, careta e galinha. Se importa. — Me aproximei e apontei com raiva, Theo arqueou as sobrancelhas surpreso.
— Porque gosto de você, não eu não morreria por você. Mas mataria por você. — Ele se aproximou e segurou meus braços, senti meu rosto ferver e o coração acelerar.
— Eu o amo. — Me afastei, não hesitei em falar, Theo assentiu levemente decepcionado.
— Ele tem sorte, espero que saiba valorizar isso. — Concordou e apenas respeitou o meu espaço, o encarei da cabeça aos pés.
— Ual. É a primeira vez que não insiste. — Acrescentei, Theo esticou os lábios.
Senti um arrepio na espinha, aquela sensação estranha de novo, por algum motivo eu sabia o que queria dizer.
— Ele está aqui.
— Vamos correr. — Theo me puxou, hesitei, ele tentou me puxar outra vez e hesitei de novo. — Alycia.
— Viemos aqui matá-lo. — Expliquei, Theo arregalou os olhos, estava mais assustado que eu. — Não podemos fugir.
— Aly. Não.
— Eu preciso tentar. — Me soltei outra vez e corri na direção do campo, ele estava lá no meio.
Com seu capuz preto descendo até os pés, ele usava uma máscara de caveira que cobria todo o seu rosto. A sua presença me dava calafrios, era como se uma toda a solidão e esquecimento do mundo estivesse sobre mim, como os holofotes de um show.
— Aycia... — Quando me viu, ele me fez congelar completamente.
Vi minha vida passar diante dos meus olhos, desde que nasci, minha infância com minha mãe até o acidente. Lembranças nas quais não me lembrava que existiam, um dia chuvoso quando meu pai brigou com Melissa e foi direto até o seu carro, aquela foi a primeira vez que vi Scott parado na frente da porta da sua casa.
E então vi Stiles, meu primeiro amor... depois Liam, e todas as memórias que criamos, noites dormindo juntos, jantares divertidos, filmes, dever de casa, amassos. Caí de joelhos na grama úmida, senti todo o meu corpo latejar de dor.
— Sai da minha cabeça! — Rugi, os outros dois cavaleiros me prenderam com cordas de couro.
— Veja. — Ele colocou as mãos na minha cabeça, os olhos completamente negros.
Vi imagens nas quais nem pensaria em sonhar, lembranças que não eram reais e que nem deveriam existir. Ele me fez acreditar que tudo o que estava vendo um dia foi real, e agora acabou, tudo acabou graças à mim.
— Solta ela! — Theo usou suas garras para atravessar o peito do ceifador, quando retirou a mão do peito do monstro estava coberta de sangue preto envolvendo um coração tão escuro quanto a noite.
O ceifador se desfez em escuridão, os cavaleiros o amarraram bem diante de mim, Theo sorriu mesmo lutando.
— Volta pra casa. — Ele disse antes de desaparecer, pulei da maca gritando, Liam correu para me segurar.
— Tudo bem, tudo bem Aly. Você voltou, eu to aqui. — Segurei seu braço com força, enquanto recuperava o fôlego.
— Aly, o que aconteceu lá? — Hayden perguntou, ela parecia bem mas preocupada.
Senti um líquido úmido no buço, era sangue. Olhei em volta, havia um corpo na maca ao lado, Theo... ele se sacrificou por mim. Liam ajeitou meu cabelo para poder ver meu rosto, não conseguia imaginar como ainda estava viva e diante de todos eles.
— O-o Theo. — Tentei falar, Scott veio até mim sério e irritado.
— Ele morreu, e você também podia ter morrido. Não sabe o quão perigoso foi o que você fez?! — Scott me repreendeu claramente preocupado, assustado.
— Acabou. O Theo me salvou, ele matou o ceifador. — Desci da maca, tentei confrontar Scott mas ele tinha o dobro do meu tamanho.
— Liam, Hayden, levem ela pra casa. — O mais velho pediu, Liam me guiou pelo braço até a saída.
Olhei para trás uma última vez, avistando o corpo pálido e sem vida de Theo, sem culpa ou remorso.
— Você está bem? — Liam perguntou me guiando até o carro.
— É claro que não está, ela voltou dos mortos pela segunda vez. — Hayden respondeu por mim, apenas me mantive quieta até chegar no carro.
— Eu sei, é que, como foi lá? O que você viu? O que aconteceu? — Ele parecia curioso, Hayden lhe acertou um soco no ombro.
— Era frio, cinzendo, o oposto daqui. — Falei, chamando a atenção dos dois. — Quando eu o vi... ele me mostrou coisas, mostrou toda a minha vida, mostrou coisas que sequer vivi.
— Tipo o futuro? — Hayden disse, sua pergunta foi certeira.
— Acho que ele queria me assustar, por isso me mostrou um futuro bonito. — Olhei para Liam e então desviei o olhar, aquelas imagens insistiam em repassar na minha cabeça como lembranças boas.
— Então ele te mostrou toda a sua vida? Ele pode ter inventado. — Ela deu de ombros, tentando ser positiva.
— Não tem como ele saber de tudo que me mostrou, não se não estiver lá.
— Está dizendo que ele te acompanhou a sua vida toda? — Hayden sugeriu, dei de ombros confusa.
— É loucura, mas talvez seja esse o seu trabalho. Eu só não entendo...
— O que? — Liam perguntou.
— Por que me mostrou todas aquelas imagens, se eu deveria sstar morta?
— Você mesma disse, vai ver ele queria te assustar. — Hayden apenas reafirmou e ligou o carro, a garota nos levou até em casa.
Liam entrou comigo em casa, meu pai estava apagado no sofá. Enquanto o garoto ia até o segundo andar, fui até a sala e deixei meu pai confortável.
— Já cheguei. — Sussurrei no seu ouvido, vê-lo naquele estado deixava-me levemente preocupada. Meu pai sempre tinha que se esforçar tanto no trabalho, sua vida e a de Melissa nunca foi simples.
— Ele dormiu? — Liam me perguntou sentado na cama, fui até ele e o beijei diretamente. — Eu gostei disso.
— Quando ele entrou na minha mente não colocou só a minha vida lá, na maior parte do tempo era você quem estava comigo. No presente, no futuro... — Segurei sua mão, ele sorriu, seus olhos brilharam. — Eu te amo Liam.
— Eu também te amo. — Liam segurou o meu rosto e deixou um beijo carinhoso, o abracei com toda a força que pude.
— O Theo fez aquilo por minha causa, e-eu fui estúpida demais. Não queria arriscar a vida de vocês e acabei fazendo pior. — Comecei a chorar, Liam me abraçou com firmeza enquanto sentia meu choro abafado em seu peito.
— Você não tem culpa Aly, você tentou e conseguiu, venceu ele.
Por mais que tivesse acabado, a sensação de derrota era persistente. A sensação de ferida aberta, de que algo maior ainda estava por vir... eu só não sabia quando.
— Eu não me sinto assim, parece que estou cavando um buraco sem fim. — Sentei-me do seu lado, Liam segurou minha mão. — Obrigada por estar aqui comigo.
— Eu sempre vou estar com você. — Ele segurou o meu rosto, tirando-me um sorriso.
Quando deitei, Liam fez questão de me envolver em seus braços para me fazer sentir que não estava sozinha. Sentir seus braços forter em volta de mim sempre me deu conforto, mas naquela noite nada me impedira de sonhar com o cadáver de Theo, com sua morte, com os cavaleiros bizarros.
— Aly me ajuda. Aly! — Ele estava diante de mim, amarrado pelos cavaleiros e implorando pela vida.
Acordei com um susto no meio da madrugada, Liam estava em um sono profundo. Levantei da cama e me vesti, saí para correr no meio da noite, precisava parar de pensar no que havia acontecido. Coloquei meus fones e ouvi música alta enquanto corria pela rua, minha cabeça estava distante, pensando sem parar no garoto e em sua morte sobrenatural.
Quando parei para recuperar o fôlego percebi que estava em um lugar, a clínica de Deaton, nem percebi que havia pego o caminho até sua clínica. Senti um cheiro conhecido, era por volta de três da manhã certamente Deaton não estava trabalhando. Aproveitei para entrar, ele não ia se importar de uma pequena invasão no meio da madrugada, afinal meu irmão era seu funcionário.
Deaton era inteligente, mas não tanto, guardava sua chave reserva perto de um vaso de planta ao lado da porta. Abri a clínica e entrei, antes mesmo de cruzar o balcão avistei o corpo em cima da maca. Scott havia levado Theo para a clínica, minhas mãos estavam coçando para entrar e verificar, mesmo com hesito passei pelo balcão e fui até a sala.
O corpo de Theo estava coberto por um lona preta, parado e frio feito estátua de gesso, minhas mãos tremiam ao me aproximar da lona. Engoli em seco, os lábios rachando com tamanha secura, de repente ouvi algo.
— O que... — Me aproximei mais, coloquei o rosto bem perto do peito, tudum. — Theo!
Rasguei a lona com pressa, seu corpo estava pálido e os olhos fechados como se realmente estivesse morto. Mas Theo estava vivo, o seu coração ainda batia bem fraco. Dei uma volta na sala tentando pensar em algo, tentando imaginar como e quando Theo conseguiu escapar da morte para sobreviver, eu o vi morrer bem na minha frente mas talvez as coisas não sejam assim no mundo dos mortos.
— Mas que merda. — Resmunguei depois de esquentar a cabeça pensando, fui até a mesa e alcancei o desfibrilador.
O liguei na tomada e aproximei de Theo, levantei sua camiseta, o corpo estava frio como pedra. Coloquei os pinos no seu peito e liguei a máquina na maior potência, Theo era um lobisomem também, ele sobreviveria à isso. Congelei com os dois pedaços de metal nas minhas mãos, não era certo arriscar sua vida outra vez, não era certo fazer as coisas por impulso sem pedir ajuda ou conselhos.
— E-eu sinto muito. — Me afastei, peguei meu celuar e disquei o primeiro número que vi. — Scott... sou eu, preciso de ajuda.
Scott me perguntou onde estava, ele acordou Liam no meu quarto e em plena madrugada foi até a clínica. Quando chegou, Liam veio diretamente em mim perguntar o que estava acontecendo.
— Você ta bem? Por que não me contou que vinha aqui? — O mais novo perguntou, Scott passou diretamente por nós.
— Ele ta vivo.
— Eu sei. Tive outro pesadelo e saí pra correr, mas tudo me trouxe até aqui. — Olhei para o corpo em cima da mesa. — Quando entrei ouvi as batidas, mas é impossível, eu vi ele morrer.
— Talvez tenha acontecido o mesmo com você, quero dizer, você era quimera. — Liam se aproximou, neguei na mesma hora.
— E se ele estiver preso lá? No mundo dos mortos... quero dizer, eu vi eles levarem ele.
— Eles? — Liam perguntou, Scott olhou para mim esperando uma resposta.
— Os cavaleiros.
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