10 | Sentimentos novos?
- Tudo bem que a vida não vai acabar sem você, mas ela perde o brilho sem você nela...
CAIM NÃO SOUBE QUANDO, mas em algum momento ele havia adormecido. O sono foi profundo, mas, apesar disso, ele se sentia melhor, por assim dizer. Era manhã, e o sol já brilhava intensamente. Ele se levantou, seguiu para o trailer, escovou os dentes e apenas passou as mãos pelos cabelos, tentando ajeitá-los minimamente para que não ficassem uma completa bagunça.
Não havia ninguém por ali, então ele imaginou que todos estivessem ocupados com alguma coisa. Sem muito o que fazer, voltou para a barraca e se deitou na cama, encarando o teto.
Antes, ao acordar, a primeira pessoa que ele procurava era Carl, mas agora não queria vê-lo tão cedo. Não gostou do sentimento novo que descobriu ontem e pensou que, se mantivesse distância, talvez não precisasse senti-lo de novo.
Mas ficar longe dele estava completamente fora de cogitação. Ele não conseguiria, nem se quisesse. Suspirando, frustrado, observou a pequena faca em cima da mochila de Daryl. Se levantou e a pegou.
Saiu da fazenda, caminhando sem rumo. Para garantir que não se perderia, começou a marcar as árvores com um "X" à medida que avançava. Após alguns minutos de caminhada, encontrou uma árvore maior que as demais, de tronco grosso e longos galhos.
Uma súbita vontade de subir ali surgiu, e ele não hesitou. Se concentrou e, em instantes, seu corpo começou a levitar até que alcançasse um dos galhos mais altos e resistentes. Com cuidado, se acomodou ali e observou a paisagem.
O cenário era lindo. Havia muitas árvores ao redor e um pequeno rio não muito longe dali. O céu estava limpo, sem nuvens, e o calor intenso dominava o ambiente.
Sentado no galho, Caim refletiu sobre a reviravolta que sua vida deu desde que saiu do laboratório. Se sentia estranho ao pensar em tudo o que aconteceu. Agora, tinha alguém que cuidava e se preocupava com ele. Era um sentimento bom, e ele jamais permitiria que machucassem Daryl. Mesmo que precisasse sacrificar sua própria vida.
Além dele, havia outras pessoas de quem gostava. Glenn e Maggie eram bons e gentis com ele, e pessoas gentis sempre conquistavam seu coração.
E, claro, havia Carl Grimes.
O garoto que o fazia sentir coisas novas e confusas.
Algumas sensações eram boas. Outras, nem tanto.
Ele sentia uma necessidade constante de proteger Carl, de ficar ao lado dele o tempo todo. Tudo o que estava acontecendo era confuso demais.
Preso nesses pensamentos, nem percebeu o tempo passar. Foi desperto apenas quando ouviu uma voz conhecida gritar seu nome:
— Caim!
Ele olhou para baixo e viu Carl, pequeno àquela distância. Se concentrou e, em segundos, o corpo do garoto começou a levitar. Um pequeno grito escapou da boca dele enquanto Caim o trazia para cima. Assim que o colocou em pé no galho, Carl estava de olhos fechados.
— Pode abrir. — Caim disse, diretamente em sua mente.
Lentamente, Carl abriu os olhos. Assim que olhou para baixo, arregalou os olhos azuis e, antes que escorregasse, Caim o puxou para que se sentasse ao seu lado.
— Por que sumiu? — Carl perguntou, após alguns minutos de silêncio.
— Carl estava ocupado demais para Caim. — Ele revirou os olhos. — Caim não quis atrapalhar você e a loira.
— Loira? — Carl franziu o cenho. — Beth? Ah, ela estava me ensinando a pentear os cabelos. — Explicou. — Eu queria pentear os seus direito.
Caim sentiu as bochechas queimarem ao perceber o quão tolo foi por pensar demais. Envergonhado, virou o rosto para o lado.
Ouviu uma risadinha vinda de Carl.
— Então fugiu de mim porque estava com ciúmes?
Caim bufou e cruzou os braços.
— Não precisa ficar. — Carl o abraçou de lado.
Caim se virou para ele e sorriu de leve. Olhou no fundo de seus olhos e, num impulso, roubou um selinho, que deixou Carl vermelho.
O garoto piscou algumas vezes, surpreso, mas então sorriu, abraçando-o de volta.
Ali, sentados juntos sobre o galho da árvore, apenas olhando o céu, ambos estavam felizes por estarem lado a lado mais uma vez.
— Acho que é melhor voltarmos antes que percebam nosso sumiço — disse Carl, enquanto Caim estava deitado em seu ombro.
— Tudo bem — respondeu o garoto, segurando firme na mão de Carl e se impulsionando para frente.
Os dois começaram a cair, e Caim ria enquanto o outro soltava um grito fino e esganiçado. Antes que se espatifassem no chão, Caim usou seus poderes para garantir um pouso seguro.
Eles caminharam de volta ao acampamento calmamente. Todos pareciam tão perdidos em seus próprios pensamentos que ninguém notou a ausência dos garotos, exceto Daryl, que, assim que os viu de mãos dadas, correu até eles.
— Não desapareça assim de novo — disse o mais velho, abaixando-se para ficar na altura de Caim. — Você não faz ideia do quanto fiquei preocupado.
— Tudo bem, Caim promete — respondeu o garoto.
Daryl assentiu, bagunçou os cabelos dele e voltou para a barraca.
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U
ma semana se passou lentamente, carregada de tristeza para todos. Beth entrou em estado de choque, recusando-se a comer e beber, apenas deitada, imóvel. Maggie, desesperada, brigou com o pai. Pouco depois, a loira tentou tirar a própria vida.
O garoto que Glenn, Rick e Hershel haviam trazido estava se recuperando, mas Caim vinha sentindo uma sensação estranha, a mesma que teve quando Daryl se feriu. Era algo cada vez mais frequente, e ele passou a tomar ainda mais cuidado com todos.
Nesse tempo, ele se aproximou de algumas pessoas, como Maggie e Carol. Usando seus poderes sem que percebessem, absorvia parte dos sentimentos ruins delas, tornando-se um ouvinte silencioso para ambas. Também observava Rick sempre que podia. Sentia que o homem estava prestes a desmoronar e, algumas vezes, sugava algumas de suas emoções para ajudá-lo.
Agora, Caim estava sentado sob uma árvore, com Carl deitado em seu colo. Ele olhava para o céu distraído, enquanto acariciava os cabelos do amigo, mas sem tirar a atenção de Daryl, que interrogava o garoto dentro do celeiro.
Os sons das agressões ecoavam, acompanhados de perguntas sem resposta. Aquilo o inquietava. Ele sabia o que era ser torturado.
— Vai ficar tudo bem — disse Carl, tentando tranquilizá-lo.
Caim baixou os olhos para o rosto do amigo.
— Caim pode ajudar.
— Acho que Daryl não gostaria de ver você perto dele — respondeu Carl.
Caim suspirou, e antes que o outro percebesse, roubou-lhe um selinho. Carl ficou vermelho, e Caim sorriu divertido.
— Caim quer de novo! — declarou o garoto, antes de atacar Carl com beijos pelo rosto e selinhos rápidos.
Por aquela manhã, os dois puderam esquecer o perigo do mundo lá fora. Viviam, por um instante, dentro de uma bolha que ninguém teria coragem de estourar.
Mais tarde, já sentados em cadeiras diante do trailer, Carl lia em voz alta enquanto Caim, quase adormecido, se apoiava em seu ombro. O momento de paz foi interrompido quando Daryl se aproximou, segurando a besta com uma mão e com a outra ensanguentada.
Caim deu um pulo e correu até ele, pegando sua mão e olhando diretamente em seus olhos. Concentrou-se, tentando sentir algo, mas não havia dor — o que significava que aquele sangue não era dele.
— Tá tudo bem — disse Daryl, percebendo a preocupação do garoto. — Esse sangue não é meu.
Ele bagunçou os cabelos de Caim com a mão limpa. O menino estava exausto, alheio à conversa ao redor. Sentia o corpo pesado, e o sono o dominava. Notando isso, Daryl o pegou no colo, e Caim repousou a cabeça em seu ombro, abraçando-o pelo pescoço.
As vozes ao redor pareciam cada vez mais distantes.
— O rapaz tem uma gangue. Trinta homens — disse Daryl. — E estão bem armados. Não parecem do tipo que quer fazer amigos.
O mundo de Caim começou a escurecer enquanto ele lutava contra o cansaço.
— Se vierem pra cá, nossos homens vão morrer… e as mulheres, bom, será ainda pior…
Um arrepio percorreu a espinha de Caim antes que seu corpo cedesse. Ele dormiu profundamente pelo resto do dia. Usara seus poderes em excesso e se alimentara muito pouco. Agora, seu corpo exigia descanso.
Revisado.
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