𝐂𝐇𝐀𝐏𝐓𝐄𝐑 𝐓𝐄𝐍 - 𝐓𝐇𝐄 𝐏𝐇𝐎𝐍𝐄
NORTH DENVER
1978
O TELEFONE tocou a noite toda, sem parar e sinceramente depois de algumas tentativas apenas desistimos de tentar atender.
Conseguimos dormir por duas horas só, o medo de acordar do nada e não estar mais vivo era pior do quê uma noite mal dormida.
E então o telefone tocou de novo, mais baixo e nossas visões turvas mal davam a visão correta do telefone preto.
—— Quer parar —— Finney murmurou na direção do relógio.
—— Parar com o quê? —— A voz de Grabber foi ouvida. Ele estava sentado no chão quase perto da cama.
Sua voz vez com que Finney e eu acordasse em um pulo assutado, olhando para o homem que nós observava fixamente.
—— Eu tô com fome —— Eu disse baixo.
—— Como está sua cabeça? —— Grabber perguntou.
—— Doendo —— Respondi.
—— Não posso trazer nada para vocês comerem, vão ter que esperar —— Grabber respondeu se levantando do chão.
—— Alguém lá encima não pode te ver trazendo comida? —— Finn insistiu em perguntar.
—— Não se preocupe com isso —— Grabber respondeu.
—— Se não venho nós dar comida, desceu aqui para quê? —— Eu perguntei.
—— Só para olhar pra vocês... —— Grabber soltou com uma voz de choro.
As palavras de Grabber tinham dado um arrepio, e naquele momento Finney ficou na minha frente como se tentasse me proteger.
Grabber apenas fechou a porta deixando o escuridão consumir tudo novamente.
—— Não vamos sair daqui —— Eu disse.
—— Não, não pode pensar assim —— Finney respondeu.
(...)
Quando a tarde chegou, e a fome continuava a consumir quem nós éramos, por um segundo eu acreditei estar alucinando.
O telefone tocou novamente, e dessa vez Finney levantou pegando o telefone e esperando lá quem fosse.
—— Alô? —— Finney completou esperando alguma resposta.
E então Finn se afastou do telefone assustado e com medo não entendendo o quê àquilo era.
—— Finn? O quê aconteceu? —— Perguntei indo na direção do garoto.
—— Tinha alguém... No telefone —— Finney respondeu assutado.
—— Finn, ele disse que o telefone não funciona —— Eu respondi.
Finney negou com a cabeça e então o telefone voltou a tocar. Andei lentamente até o telefone preto e então atendi ele em silêncio esperando qualquer coisa.
—— Não desliga —— A voz dele disse do outro lado.
E então eu continuei em silêncio, sentindo minhas mãos tremendo, eu nunca pensei que voltaria a ouvir ele de novo.
—— Quem é? —— Perguntei esperando alguma resposta. Talvez não fosse ele, talvez eu estivesse enlouquecendo.
—— Eu não lembro —— Ele respondeu. —— É a primeira coisa que você perde, mas eu ainda lembro dela.
—— Bruce? —— Perguntei em voz de choro. —— Você é o Bruce Yamada.
—— É, Bruce... Eu sou o Bruce —— Bruce respondeu leve.
—— O telefone tocou pra você não é? —— Perguntei.
—— É, mas nenhum de nós ouviu —— Bruce respondeu e eu apenas concordei em choro. —— Suzie...
—— Sim?
—— Tem um trecho de terra no corredor com um ladrilho solto —— Bruce completou. —— Tenta cavar pra fora da casa, eu tentei... Mas não tive tempo.
—— E vai dar tempo? —— Perguntei.
E então desligou, o silêncio voltou a ser mortal e então eu entrei em desespero, eu queria ouvir a voz dele mais uma vez.
—— Bruce? Bruce? Por favor! —— Eu gritei no telefone tentando alguma resposta.
E então Finney correu até a minha direção segurando meus braços enquanto eu estava tendo um ataque.
—— Era o Bruce! Finn! —— Eu gritei me sentando no chão.
—— O quê ele disse? —— Finn perguntou ansioso.
Eu não conseguia responder, eu só queria ouvir Bruce mais uma vez, e saber que ele estava alí novamente.
E então Finney tocou meu rosto tentando me fazer manter contato visual com ele, naquele segundo juntei nossos corpos em um abraço forte.
E então naquele momento eu sabia, não sairia por mim... Mas sim por Bruce Yamada.
—— Tem um... Ladrilho solto no corredor... —— Foram as únicas coisas que eu consegui dizer.
Finney apenas concordou e então foi em direção ao corredor do lugar, encontrando o ladrilho solto e o buraco incompleto no chão.
Finney e eu continuamos a cavar e jogar a terra no vaso, parecia nunca ter fim e o buraco continuava igual. Pegando um tapete imenso que estava jogado ao lado do vazo e usamos para tampar o buraco para que Grabber não visse.
Ainda estávamos cansados, sentados no chão olhando para doidos para o relógio esperando algum sinal, qualquer um que fosse.
—— Você acha que ele vai ligar de novo? —— Perguntei me referindo a Bruce.
—— Eu não sei —— Finney respondeu.
—— Acha que estão nos procurando? —— Perguntei.
—— Eu espero que sim —— Finney respondeu.
—— Acho que minha mãe não está me procurando —— Dei de ombros.
—— Por que acha isso?
—— É apenas um sentimento... —— Respondi encostando minha cabeça no ombro de Finney.
(...)
Enquanto isso minha mãe entrava em colapso, talvez estivéssemos competindo para ver quem ficaria maluca primeiro.
Ela ficava sentada de frente para o telefone o dia todo, esperando alguma ligação que fosse da polícia.
Ela discou o número do meu pai mais uma vez no telefone esperando até que ouviu sua respiração do outro lado.
—— Jeremy? —— Glenda perguntou inquieta.
—— Glenda? É você? —— Jeremy perguntou do outro lado da linha mais surpreso ainda.
—— A Suzanne sumiu, preciso que venha até Denver... —— Glenda completou.
—— Ela fugiu de casa? —— Jeremy perguntou.
—— Estou teorizando que seja um sequestrador... —— Glenda respondeu.
—— Eu sempre soube que ela deveria ter ficado comigo —— Jeremy completou.
—— Entre um ex presidiário que traficava e a mãe dela... Acho que eu sei qual a melhor escolha —— Glenda completou.
—— Não quando a mãe dela é uma viciada —— Jeremy respondeu. —— Eu vou até Denver, e eu juro que se encontrarmos a Suzanne, ela vai embora comigo.
—— Faça o quê quiser, eu não quero mais problemas com essa garota —— Glenda completou terminando seu cigarro. —— Eu volto pra São Francisco e fico com meu ex namorada de novo, e você pode levar ela até pro fim do mundo se quiser.
—— Suzanne não merece mais o sofrimento que você tem feito ela passar —— Jeremy completou antes de desligar o telefone.
Glenda desligou o telefone furiosa, andou até a cozinha lentamente e então pegou outra garrafa de bebida.
Ela sabia que era uma pessoa ruim, ela sentia isso até mesmo quando eu não estava lá para ela atacar. O ódio que ela sentia por si mesma, não havia mais ninguém para culpar.
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