ㅤㅤㅤㅤㅤㅤㅤㅤ𝐯𝐢𝐢. beaver dam.
─ CHAPTER SEVEN
o dique dos castores.
SEGUIRAM APRESSADOS ATRÁS DO MAIS novo amigo, que os guiava pela floresta enquanto tentava andar o mais rápido que conseguia com suas pequenas patinhas. Já andavam iria fazer mais ou menos uma hora e, a essa altura, as crianças vez ou outra já soltavam resmungos exaustos e sussurravam um para o outro, declarando que estavam com fome e coisas do tipo. Os cinco ansiavam que, ao chegarem na casa do castor, lá tivesse algo do que pudessem se alimentar. Estavam famintos.
De súbito, várias árvores começaram a aparecer com menos frequência, indicando que já estavam se despedindo da floresta. Começaram a descer uma colina íngreme e, minutos depois, Bella abriu a boca em êxtase com a paisagem maravilhosa que presenciava, assim como os outros, menos Edmundo. Se localizavam num vale estreito, no fundo ao que antigamente corria um rio, já que agora se encontrava congelado.
Há vários metros deles havia um pequeno dique coberto de neve.
── Oh, que maravilha! Parece que a minha esposa já esquentou a água para uma xícara de chá.── comentou o castor ao avistar sua casa.
Os estômagos das crianças agradeceram por sua fala, já se acalmando sabendo que em breve seriam saciados.
── Que gracinha!── exclamou Lúcia.
Todos notaram que o castor inflou o peito orgulhoso e passou a possuir um ar modesto, o mesmo ar que as pessoas assumem quando visitamos o jardim que fizeram ou lemos as histórias que escreveram.
── É um dique modesto. Ainda não está pronto, vai dar um trabalho danado.── respondeu mas Bella notou que tentava esconder um sorriso bobo e isso fez a Evans soltar uma risadinha nasalada que, aqueles ouviram, nada disseram.
Desceram a pequena colina onde antes estavam e logo adentraram ao quintal da casa, que era rodeado de estacas de madeira. Lúcia, temendo escorregar, agarrou a mão de Bella (que era a que estava mais próxima) e passaram a falar sobre as coisas que notavam em meio a paisagem, logo Susana se juntou a elas e entrou na conversa. Estavam tão absorta e encantadas com o local que nem notaram quando já estavam perto o suficiente do dique para escutarem mais uma voz se aproximando:
── Castor! É você? Quase morri de preocupação. Se eu souber que saiu com o texugo outra vez, eu…── e a voz se calou de súbito.
E lhes foi revelado outro animalzinho, idêntico ao seu novo amigo mas aparentemente era uma fêmea. Parecia perplexa ao ver os cinco humanos ali, trocando sua atenção entre eles e o seu, provável, marido, este que sorria largamente, como se tivesse acabado de dar uma surpresa das boas.
── Bem, eles não são texugos…── fez um comentário meio óbvio.── Oh, eu nunca pensei que viveria para ver esta cena. Olhe meu pêlo── virou-se para o marido.──, podia ter me avisado para que eu pudesse me arrumar.
── Eu teria avisado uma semana antes se fosse adiantar.── brincou e fez todos soltarem gargalhadas alegres.
── Podem entrar. As batatas estão cozinhando e a chaleira está quase cantando! Será que o sr. Castor poderia nos arranjar uns peixinhos?
── Já estou indo. Cuidado, olhem onde pisam, cuidado com o degrau.── avisou o sr. castor ao observar as meninas entrando. Logo ele e Pedro seguiram até o rio onde iriam atrás dos peixes.
Enquanto isso, as meninas ajudavam a sra. Castor a encher a chaleira, arrumar
a mesa, cortar o pão, pôr os pratos. Em um barril que havia num dos cantos da
cozinha, encheram uma grande caneca de cerveja para o Sr. Castor e, por fim,
puseram a frigideira no fogo para aquecer a gordura.
Bella achou que os castores tinham uma casinha bem aconchegante, mas não lembrava em nada a caverna do sr.
Tumnus, e Lúcia também notou isso. Ali não existiam livros nem quadros pendurados, e, em vez de camas, havia beliches nas paredes, como nos navios. Do teto pendiam presuntos e réstias de cebola; encostados às paredes viam-se botas de borracha, oleados, machados, tesouras, pás, colheres de pedreiro, vasilhas de argamassa, caniços de pesca, redes e sacos.
A toalha da mesa, embora limpa, era meio grosseira. A frigideira começava a chiar quando Pedro e o sr. Castor voltaram com os peixes, abertos a canivete e limpos lá fora. Imagine você agora o cheiro bom dos peixes fritando, e como as crianças, azuis de fome, esperavam ansiosamente que ficasse tudo pronto, e a fome aumentando a cada segundo!
── Está quase prontinho!── disse a sra. Castor.
Susana e Bella prepararam as batatas, enquanto Lúcia ajudava a sra. Castor a colocar as trutas na travessa. Cada um puxou o seu banquinho (na casa dos castores só havia banquinhos de três pés, além da cadeira de balanço da sra. Castor, junto da lareira), prontos para se fartar. Havia um jarro de leite cremoso para as crianças (o sr. Castor, fiel a seus princípios, preferiu cerveja) e, no centro da mesa, um bom pedaço de manteiga, de que eles se serviam à vontade para passar nas batatas.
Aí as crianças chegaram à conclusão – e eu concordo inteiramente com elas – de que não há nada melhor do que um peixinho de rio, que ainda há meia hora estava saltando na água, tirado da frigideira há menos de meio minuto. E, depois do peixe, a sra. Castor tirou do forno um rocambole muito fofo, ainda fumegando, e pôs no fogo a chaleira. Depois de tomarem o chá, todos inclinaram os banquinhos para trás, para se encostarem à parede, e deram um profundo suspiro de satisfação.
── Não há nada a fazer para ajudar Tumnus?── perguntou Pedro certa hora, querendo logo a resposta para seu longo o problema.
── Foi levado para a casa da feiticeira e, você sabe o que dizem: são poucos os que entram pelo portão e que voltam de lá.── disse o sr. Castor num tom sombrio.
Bella suspirou profundamente, deixando o ar nervoso sair dentre seus lábios. Ela fechou os olhos ao sentir um arrepio passar pela sua espinha. Não gostava da ideia de seu amigo estar em perigo, precisava ajudá-lo, mas ainda não sabia como.
── Mais peixe com fritas?── questionou a sra. Castor, soltando uma risadinha sem graça. Estava claramente tentando acalmar a tensa situação que instalou. Ao ver que ninguém a respondeu, ela apenas acariciou o braço de Lúcia, como se quisesse a tranquilizar.── Mas ainda há esperança, querida. Muita esperança!
O castor pareceu lembrar de algo muito importante, tanto que deu um sopapo em sua cadeira e cuspiu a cerveja.
── Ah, sim! Muito mais esperança.── e olhou para os lados, como se procurasse algo que estivesse os vigiando. Por fim, esticou-se sobre a mesa e disse baixinho:⚊ Aslam está a caminho.
E aí aconteceu uma coisa muito engraçada. As crianças ainda não tinham ouvido falar de Aslam, mas no momento em que o castor pronunciou esse nome, todos se sentiram diferentes. Talvez isso já tenha acontecido a você em sonho, quando alguém lhe diz qualquer coisa que você não entende mas que, no sonho, parece ter um profundo significado – o qual pode transformar o sonho em pesadelo ou em algo maravilhoso, tão maravilhoso que você gostaria de sonhar sempre o mesmo sonho.
Foi o que aconteceu. Ao ouvirem o nome de Aslam, as crianças sentiram que dentro deles algo vibrava intensamente. Para Edmundo, foi uma sensação de horror e mistério. Pedro sentiu-se de repente cheio de coragem. Para Susana foi como se um aroma delicioso ou uma linda ária musical pairasse no ar. Lúcia sentiu-se como quem acorda na primeira manhã de férias ou no princípio da primavera. Já Bella sentiu-se na rua do restaurante Evans! novamente, onde costumava passar a tarde correndo e brincando com os amigos; bem que ela sentia falta de escorregar na lama quando chovia.
── Quem é Aslam?── a voz de Edmundo acordou os outros de seu pequeno transe.
O castor passou a gargalhar, como se Edmundo tivesse acabado de contar uma piada. Todas as crianças trocaram olhares confusos mas permaneceram em silêncio absoluto.
── Quem é Aslam?!── repetiu a pergunta, como se repetisse a resposta de uma piada muito engraçada.── Ele é muito engraçado!
A sra. Castor deu alguns tapinhas em seu braço e o marido a olhou confuso, perguntou o que havia acontecido e parou de rir, instantaneamente. E foi aí que o sr. Castor voltou a olhar as crianças que, por sua vez, o olhavam de maneira esperançosa que as explicassem do que ria e para que respondesse a pergunta feita por Edmundo.
── Vocês não sabem quem Ele é, não é?── questionou o sr. Castor.
── Bom, é que não estamos aqui a muito tempo.── respondeu Bella, sorrindo fraco.
── Ele é só o senhor dos bosques. O maioral! O verdadeiro rei de Nárnia!
── Ele está fora há algum tempo.── a sra. complementou a fala do marido.
── Mas ele voltou!── exclamou animado.── E aguarda todos vocês na mesa de pedra.
── Ele nos aguarda?── perguntou Lúcia, confusa.
── Só pode ser brincadeira! Eles nem conhecem a profecia.── parecia realmente desacreditado.
── Bem, então os conte.── disse a sra. Castor, de maneira muito simplória e óbvio.
O sr. Castor suspirou.
── Bem, escutem. O retorno de Aslam, a prisão de Tumnus, a polícia secreta… tudo isso só está acontecendo por causa de vocês!
── Está nos culpando?── perguntou Susana, arqueando uma sobrancelha em clara indignação pela suposta acusação.
── Não, culpando não. Agradecendo.── a sra. Castor rapidamente corrigiu o pensamento da garota de olhos azuis.
── Existe uma profecia.── declarou o sr. Castor.── “Quando a carne de Adão, Quando o osso de Adão, Em Cair Paravel, No trono sentar, Então há de chegar ao fim a aflição.”── recitou.
── Essa rima não é muito boa.── comentou Susana, segurando o riso.
── Eu sei que não é muito boa mas será que não percebem…
── Há muito tempo foi previsto ── a sra. Castor interrompeu, para que o marido não se exaltasse, até porque já estava a flor da pele.── que dois filhos de Adão e duas filhas de Eva derrotaríam a feiticeira branca e trariam paz a Nárnia.
── Então…── Bella irrompeu com sua voz, chamando a atenção de todos.── bom, se você souber interpretar textos, a profecia claramente fala sobre quatro irmãos, duas garotas e dois garotos. Edmundo, Lúcia, Pedro e Susana.── disse, os pensamentos absortos em tamanha confusão.── Então eu fui um erro? Quer dizer, eu entrei de penetra em Nárnia? Não tenham medo de falar a verdade, a profecia é clara, não cita uma terceira filha de Eva. Talvez, quando eu e Lúcia estávamos fugindo de Dona Marta, Nárnia abriu as portas para Lúcia e se fechou assim que passei, faltando um risquinho para me deixar do lado de dentro. Seguindo a lógica, não era para eu estar aqui, não é? Hora errada, local errado, é claro!
── Oh, pela juba do leão, não fale bobagens, menina!── exclamou o sr. Castor.── Nada acontece por acaso, bote isso em sua cabeça. Tudo tem um propósito, meu próprio avô costumava falar isso. Há uma segunda profecia se quer saber.
── “Uma heroína perdida que para casa há de voltar, seu legado e sua história a todos imprecionará, pois não se engane, a coroa na sua cabeça voltará a ficar.”── citou a sra. Castor.── Está vendo? Não é e nunca vai ser um erro, querida. Nada acontece por acaso.
Bella sorriu, extasiada com as emoções que borbulhavam entre si. Sinceramente? Bella nunca esperou que acabaria entrando num mundo mágico e descobrindo que havia uma profecia sobre si. Normalmente essas coisas só aconteciam nos livros que lia. Estava muito animada para a provável aventura que se seguiria a partir daquele dia.
── Bom, mas vocês acham que somos nós?── perguntou Pedro, duvidoso.
── É melhor que sejam. Aslam já preparou o exército de vocês!── o sr. Castor praticamente cuspiu as palavras.
── Nosso exército?⚊ questionou Lúcia, lançando um olhar aos irmãos e a Bella.
── Mamãe nos deixou para não nos envolver-nos numa guerra e acho que os tios de Bella fizeram o mesmo.── pontuou Susana, olhando seriamente para Pedro.
── Ham, acho que vocês se enganaram.── disse Pedro, incerto.── Não somos heróis.
── Somos de Finchley.── Susana completou, como se quisesse provar que eram apenas crianças normais, como todas as outras.
── Bom, eu vim de Liverpool e lá não se costuma ter heróis, infelizmente.── falou Bella, deixando bem claro de onde vinham suas raízes.
Os castores trocaram olhares desnorteados, provavelmente não sabiam onde ficavam nenhum dos dois lugares que as garotas citaram.
── Escutem, agradecemos a hospitalidade mas nós temos mesmo que ir.── disse a mais velha Pevensie, se levantando.
── Mas vocês não podem sair assim!
── Ele tem razão. Temos que ajudar o senhor Tumnus.── disse Lúcia, ainda preocupada.
── Não podemos fazer nada!── Pedro rebateu.── Lamento mas está na hora de voltar para casa.
Bella se inclinou cautelosamente para o lado, tentando observar atrás de Susana e Pedro. Ninguém parecia notar seus movimentos ainda. Tinha a testa enrugada e os lábios franzidos, como se tentasse descobrir um mistério ou o resultado do x. Finalmente perguntou:
── Onde está Edmundo?
Pedro e Susana arregalaram os olhos, se virando para não o encontrando. O chamaram várias vezes e seus olhos vasculhavam em cada cantinho do dique. Por fim, quando tiveram a certeza de que ele não estava ali, Pedro suspirou pesadamente e encarou Susana de maneira irritada.
── Eu mato ele.
── Talvez não será preciso.── comentou o sr. Castor, soando misterioso.── Edmundo já esteve em Nárnia antes?
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