ㅤㅤㅤㅤㅤㅤㅤㅤ𝐯𝐢𝐢𝐢. the betrayal of edmund
─ CHAPTER EIGHT
a traição de edmundo.
AO OUVIR A PERGUNTA SAIR DOS lábios do castor, Bella e Lúcia trocaram um rápido olhar, logo capturando a atenção de Pedro que pairava sobre si, como se esperasse uma afirmação delas. Não foram precisas palavras, tudo estava tenso demais para alguma frase ser dita por alguém ali; os olhos castanhos como cascatas de chocolate chocaram-se como com o azul do céu numa manhã ensolarada. Pedro havia entendido, com pesar, o que Bella queria dizer. Sim, Edmundo já havia estado em Nárnia como Lúcia havia dito há um tempo atrás, isso era verdade.
Sem esperar mais respostas, Pedro saiu em disparada para fora do dique, sendo seguido por Bella que havia se arrependido amargamente por tê-lo revelado. Sabia que ele fazia muitas coisas por conta do calor do momento, mas não sabia que era tanto assim. Pedro era muito movido pelos sentimentos, extremamente impulsivo. Bella deveria ter imaginado isso, mas já era tarde demais para voltar no tempo.
── Pedro, espere!── arfou a menina, sentindo seus pulmões arderem em dor, por causa do ar gelado que entrava com rapidez por eles. Parecia que já estava congelando, sentindo o nariz entupir aos poucos.
As outras meninas vinham atrás dos dois e não pareciam estar muito diferentes de Bella, já o castor estava até bem, por ter se acostumado com o clima hostil.
Pararam em cima de uma espécie de morro. A frente eles, a muitos metros, puderam notar um enorme castelo parecido com um de cristal. Bella, por mais que estivesse muito cansada e concentrada em controlar sua respiração, se sentiu relativamente tentada a entrar ali dentro. Parecia que uma aura mágica o rodeava. Por mais que sentisse curiosidade em desbravar o lugar até então desconhecido, um calafrio estranho e incômodo passava por seu corpo ao imaginar quem morava ali dentro.
Todos pareciam encantados com o castelo e principalmente por verem, muito ao longe, um pontinho preto adentrar as portas. Bella não teria certeza que seria Edmundo, já que não estava enxergando nada com tanto branco que havia por ali, além de estarem muito distantes do local. Porém Lúcia gritou assustada, tentando chamar o irmão:
── EDMUNDO!
── Xi!!── sibilou o castor.── Vão ouvir você!
Pedro tentou correr para ir até o castelo, tentando impedir seu irmão de fazer a maior burrada de sua vida. Mas Bella havia sido mais rápida. Como num instinto, ela pulou em cima dele e fez-o cair, com ela por cima de suas costas. Sorte que ali tudo era neve, assim a queda não doeu tanto, porém Pedro ainda estava relutante.
── Me largue, Evans!── ele exclamou, alto, tentando se livrar da garota.
── Não! Você só vai até aquele castelo por cima do meu cadáver!── rebateu a garota, dando um tapa na nuca do amigo.
── Não faça isso, Pedro está fazendo o que ela quer.── avisou o castor.
── Não podemos deixá-lo entrar.── disse Susana, temerosa com o que poderia sair como consequência de tudo isso.
── Ele é nosso irmão.── acrescentou Lúcia.
── Ele é a isca. A feiticeira quer vocês cinco!── exclamou o castor, como se fosse óbvio.
── Para que?!
── Oras, para que! Para impedir que as profecias se realizem, claro! Para matá-los!
E um ar de enterro e angústia se instalou em meio a eles. Bella aos poucos foi saindo de cima de Pedro e se ajoelhando na neve branca e macia. Seus olhos estavam vidrados no grande castelo de cristal. Um temor se instalava em seu coração e temia com o que aconteceria com Edmundo; como o sr. castor havia dito, ele era a isca, então a feiticeira poderia muito bem acabar com ele e depois ir atrás dos outros quatro. Não havia simpatizado com Edmundo no início de seu recesso, mas acreditava que tudo aquilo provavelmente o marcaria, afinal, não é todo dia que lidamos com uma feiticeira má que tudo que quer é nos ver mortos.
Observaram o portão do castelo se fechar lentamente num silêncio profundo. Mas é claro que não durou muito, pois no segundo seguinte Susana já estava dissertando, irritada.
── Isso é tudo culpa sua!
── Minha culpa?!⚊ questionou Pedro, indignado, este que já estava de pé.
── Para começar nada disso teria acontecido se tivesse me escutado.
── Ah, então você sabia o que iria acontecer?
── Eu não sabia o que ia acontecer. Nós devíamos ter saído enquanto podíamos!
── PAREM!── gritou Lúcia, assustada.── Nada disso vai ajudar Edmundo.
── É, será que dá para vocês dois pararem?!── questionou Bella, se erguendo.── Ninguém aqui tem culpa de nada, estão me ouvindo? Nenhum de nós sabia que daria na telha de Edmundo ir atrás de uma mulher com poderes de gelo. Céus! Parem de quererem tentar achar um culpado para tudo isso, ouviram? As coisas não vão se resolver em brigas.
── Ela está certa.── disse o castor.── Só Aslam pode ajudar o irmão de vocês agora.
── Bom, ótimo, se ele é nossa última e única opção…
── Nos leve até ele.── Pedro completou o raciocínio de Bella.
E, após uma última olhada no castelo, os Pevensie e a Evans deram meia volta e seguiram caminho para o dique novamente.
Andavam muito tristonhos e cabisbaixos, além de alguns estarem sentindo uma leve irritação com todas as coisas que vinham acontecendo desde que decidiram meter-se dentro do guarda-roupa.
A cada passo que davam sentiam mais dificuldade, seus pés afundavam na neve, estava sendo cansativo mas não tinham a intenção de parar. Susana apoiou-se em Bella e a segunda citada fez o mesmo com a amiga, passando seu braço pela cintura dela. Mais a frente estava Pedro ajudando Lúcia, enquanto o castor liderava a tropa.
── Estou com medo.── revelou Susana após alguns segundos de caminhada. Bella a lançou um olhar rápido, antes de voltar a prestar atenção por onde andava.── Tenho medo de que algo aconteça com o Edmundo ou, bom, com a gente. Mamãe ficaria muito decepcionada se algum deles se machucasse e não quero vê-la triste. Já parou para pensar no que acontece se morrermos aqui? Mamãe não aguentaria perder mais alguém.
── Eu também tenho medo, Susie. Tenho medo de nunca mais ver meus tios, sabe? Eles são minha única família. Mas não temos opções, Susie não podemos controlar tudo isso, não temos esse poder. A nossa única opção é… bom confiar em Aslam.── deu de ombros.
── Acredita mesmo nesse tal de Aslam?
── Bom, se ele existe ou não eu não tenho certeza. Mas é tão gratificante ver o sr. e a sra. castor ou até o sr. Tumnus falarem sobre ele, dá para sentir o amor deles por Aslam apenas em seu olhar. Parece que eles têm total confiança em Aslam, mesmo sem nunca tê-lo visto pessoalmente. Isso é legal de se ver e de se ouvir, é como se me desse uma comprovação de que Aslam existe. E, se ele for o único que pode salvar Edmundo e nos fazer voltar para casa, acreditarei nele. Tudo está nas mãos dele e creio que vai dar tudo certo.
Susana nada mais falou, ficou quieta todo o restante da trajetória.
Tudo ia bem até escutarem uivos cheios de maldade — como o sr. castor disse mais tarde. Todos ali sentiram os pelos eriçarem e o medo passar pelo seus corpos, por isso apressaram o passo e logo se viram correndo, lutando para não escorregarem. Ao chegarem no dique, entraram aos tropeços e isso assustou bastante a sra. castor.
── Rápido querida! Estão atrás de nós!── exclamou o sr. castor.
── Muito bem, muito bem.── arfou a sra. castor, parecendo ter entendido a situação por completo. Ela correu até os armários, os abrindo e retirando coisas de dentro deles o mais rápido que suas curtas mãos lhe permitiam.
── O que está fazendo?!── questionou Pedro, afobado.
── Vai me agradecer mais tarde. É uma longa viagem e o castor fica de mau humor quando está com fome.── retrucou, indo até a mesa com os braços abarrotados de comida.
── Eu já estou!── gritou o sr. castor.
Susana se apressou para ajudar a sra. castor, todo o resto estavam atordoados demais para ajudar em algo, ficavam apenas andando por dentro do dique, tentando acalmar seus corações que rápido batia e suas gargantas que começavam a secar de tanto nervosismo.
Bella, escutando mais alguns uivos, agarrou a mão de Lúcia num instinto e virou-se para a porta de entrada. Seus olhos castanhos cravados na porta de madeira, apertando a mão da pequena Pevensie com mais força a cada minuto que se passava. Lúcia também estava com medo, portanto devolvia o aperto de Bella na mesma intensidade. Ambas buscavam conforto naquele momento, o que sinceramente estava sendo muito difícil de se achar.
── Vamos precisar de geleia?── perguntou Susana. Ela jogava algumas comidas na mesa, enquanto a sra. castor as envolvia com um pano branco.
Bella moveu sua cabeça de volta para a cena e franziu o cenho.
── Bom, só se a feiticeira servir torradas.── ela e Pedro disseram ao mesmo tempo, o que os fez trocarem um olhar surpreso, o que também deixou o restante dos residentes bem confusos. Mas só durou alguns segundos, logo todos voltaram a seus afazeres e tanto Bella quanto o Pevensie decidiram ignorar aquele acontecimento.
Os uivos e latidos passaram a ficarem mais altos dessa vez. A respiração de Bella estava ficando descompassada e ela sentia sua garganta ir fechando aos poucos, como se um bolo se formasse ali dentro. Sentia-se tonta e teve que se segurar por um tempo na parede para não cair. O medo lhe consumia e tinha certeza que aquele era seu fim. Suas mãos passaram a tremer e Lúcia, notando isso, segurou a mão de Bella o mais forte possível, como se quisesse a dizer sem ser por palavras que ela estava ali e não iria embora, eles iriam se salvar e tudo daria certo mas Bella parecia não notar as atitudes de Lúcia.
Bellatrix abaixou a cabeça e passou a encarar o chão, fechando os olhos por alguns segundos enquanto ouvia as garras dos lobos penetraram nas paredes de madeira. Ela tentou lembrar-se de coisas boas, sempre fazia quando aquele tipo de coisa acontecia. Lembrou-se dos contos de sua tia, histórias que ela mesma havia escrito mas nunca publicado, porém contava-as todas as noites antes de chegar o horário de Bella dormir; gostava de quando seu tia a chamava de Thulile, não sabia porque mas era como se aquela palavra fosse um feitiço e, assim que dito, fizesse a acalmar; recordou-se do dia em que ela é Roberta fizeram um bolo de cenoura para uma feira que ocorreria na escola de Bella, ainda sentia a farinha grudada em seu cabelo; lembrou de todas as vezes que já ganhou de George no xadrez e amava isso, afinal, ela amava ganhar e se sentir vitoriosa.
Todas essas memórias passaram pela mente de Bella em questões de segundos, por mais que não parecesse. Era como se ela estivesse assistindo a um filme de sua vida. Desde quando a guerra começou a se instalar com vigor em sua cidade, os ataques aéreos vinham acontecendo com muito mais frequência e isso significava que teriam de se esconder no refúgio. Mas Bella nunca esqueceria o primeiro dia que aquilo aconteceu. Não falo especificamente de como ocorreu mas como que Bella se sentiu na hora. Em sua cabeça era tudo só um borrão mas os gritos em seus ouvidos são muito ensurdecedores e lembra de escutar sua tia chorar. E essas memórias sempre apareciam no momento em que Bella estava angustiada e assustada, e definitivamente não ajudava. Portanto passou a imaginar coisas boas quando isso acontecia, era a única forma de a acalmar e a trazer para a realidade.
── Bella, vamos! Precisamos ir.── escutou a voz chorosa de Lúcia.
Abriu os olhos lentamente e se viu novamente no dique. Todos a olhavam preocupados e ela apenas suspirou, tentando retornar a sua postura.
── O que vamos de fazer?── perguntou Susana, percebendo o quanto a amiga já estava incomodando-se com os olhares.
── É… venham, por aqui. Acho que sei um atalho.── informou o castor.
Ele correu até um cantinho da cozinha e lá ergueu um alçapão. A sra. castor pareceu erguer uma sobrancelha e lançar um olhar de censura ao marido, que apenas sorriu amarelo, não desejando uma bronca.
A sra. castor bufou e agarrou seu pano recheado de comida, apressando o passo para descer pelo túnel. Em seguida o próprio sr. castor desceu, depois foi Susana e Lúcia e, por fim, iriam Pedro e Bella.
── Hey, está tudo bem? Precisa conversar?── perguntou Pedro, acariciando o ombro da amiga.
Escutaram os arranhões nas paredes pela quase vigésima vez e Bella olhou para o local, estava temerosa, ainda não sentia-se cem por cento recuperada. Voltou seu olhar para Pedro.
── Está tudo bem agora mas acho que não temos tempo para conversas.── ela disse, soando séria e desceu pelo local o mais rápido que conseguia, com Pedro em seu enlaço.
Ao chegarem lá embaixo, começaram a correr. Seus corações estavam na mão, prestes a caírem no chão. Pedro passou correndo na frente de Bella, das irmãs e da sra. castor. Era ele que iluminava o local com uma grande tocha.
── O texugo e eu cavamos. Vai sair perto da toca dele.── avisou o castor.
── Você nos disse que iria sair na casa da sua mãe!── arfou a sra. castor.
E nesse momento Lúcia tropeçou nos próprios pés. Todos pararam de correr e Susana e Bella se agacharam perante a garotinha, preocupadas. E ficaram em silêncio por um tempo. Escutaram os uivos de novo. Evans, por um instinto, agarrou o braço de Susana com força ao sentir o chão começar a tremer, como se uma manada de elefantes estivesse por ali por perto.
── Estão no túnel…── sussurrou Lúcia.
── Rápido! Por aqui!
── Rápido!
Bella e Susana ajudaram Lúcia a se levantar e não demorou para voltarem a correr assim que viraram uma curva. Agora corriam mais rápido do que da última vez, se antes estavam com medo, agora eles estavam apavorados.
Passaram por muitas curvas, tropeçaram em muitas pedras e gritaram "corra" e "rápido" com intervalos de cinco segundos cada. Qualquer um dos humanos teriam se perdido ali dentro, não eram acostumados a andarem sob a terra, se sentiam formigas de formigueiro.
Por fim chegaram a um buraco que os levava de volta para a superfície.
── Devíamos ter trazido um mapa!── repreendeu a sra. castor.
── Era um mapa ou a geleia.── retrucou o castor, sarcástico.
Com um pulo, ele conseguiu escalar o buraco e a sua esposa foi logo em seguida. As meninas foram na frente e por último Pedro que, ao subir, colocou um barril na saída com a ajuda do sr. castor; aquilo atrasaria os lobos.
Bella deu alguns passos para trás, sentindo suas pernas falharem mas esbarrou em algo duro e gelado, se virando rapidamente e encontrando uma estátua de gelo brilhante a luz da lua, como se tivesse acabado de ser esculpida. Arregalou os olhos, estava assustada. Desviou sua atenção assim que escutou a exclamação de Lúcia, vendo que a menina havia caído sobre algumas outras estátuas mas de animais menores.
O sr. castor, com medo, adentrou a floresta a fundo acompanhado da esposa que não exitou em seguí-lo. Bella e os irmãos Pevensie, não querendo ficar sozinhos, foram atrás deles. Em um certo ponto escutaram o sr. castor choramingar baixinho enquanto acariciava uma estátua. Era uma cena de cortar o coração.
── Sinto muito, querido…── disse a sra. castor.
── Era meu melhor amigo…── sussurrou o sr. castor.
Os Pevensie e Bella foram se aproximando de maneira lenta do casal de castores; sua curiosidade alternava entre várias outras estátuas que por ali estavam, eram muitas e isso os assustou. Os animais nem devem ter sentido o que lhes atingiram a tempo.
Agora tinham suas almas petrificadas em seus corações.
── Meu Deus…── sussurrou Bella, sentindo os olhos encherem-se de lágrimas. Não chorava fácil mas, com o acontecimento anterior, muitas lágrimas haviam sido estocadas em seus olhos e agora implorava para escorregarem pelas maçãs de seu rosto. Porém a garota suspirou, tentando segurá-las.
── O que aconteceu aqui?── questionou Pedro.
── Este é o destino para aqueles que ousam cruzar o caminho da feiticeira.── uma sétima voz havia sido escutada e todos ergueram os olharem, notando que uma pequena raposa os observava, estava em cima de uma pequena rocha coberta pela neve.
── Dê mais um passo traidor e eu te deixo em pedaços!── murmurou o sr. castor, tentando avançar na raposa mas sendo parado pela esposa.
A raposa apenas riu.
── Relaxa, eu sou um dos mocinhos.── desceu da rocha.
── Bem, você se parece muito com um dos maus.── sibilou o sr. castor.
── Ah, uma infeliz semelhança familiar mas falamos de raças depois.── suspirou.
Pedro, não querendo saber se ele era do bem ou do mau, abraçou Lúcia pelos ombros e a trouxe para mais perto de si. Bella colocou sua mão direita no ombro do amigo e com a esquerda agarrou a mão de Susana, que retribuiu o aperto.
── Agora temos de ir.
E escutaram os uivos mais uma vez.
── O que você sugere?── perguntou Pedro.
A raposa apenas sorriu e Bella percebeu que ele já tinha um plano.
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